sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O futuro vem aí

Estes dias que nos aproximam da fronteira dos anos são sempre introspectivos. Fosse para filosofar, diria que pode ser um efeito colateral, causado pelo encerramento das competições esportivas. Sem o suspense do mata-mata, sem a imponente seleção do Bernardinho em quadra, sem ginastas nos impressionando com suas piruetas, sem o escrete de Dunga a nos pregar sustos, dispensamos atenção maior aos nossos próprios desafios. E quem dirá que não é a hora certa de cuidar das próprias táticas, e bolar a estratégia mais adequada para desfrutar dos novos dias?

Há uma frase de Shakespeare que eu gosto muito - corro até o risco de já tê-la citado aqui - que diz o seguinte: "Nós sabemos o que somos, mas não sabemos o que podemos vir a ser". As manchetes esportivas que acompanhei nos últimos dias deixaram essa frase ainda mais sugestiva. Que o digam Ronaldinho Gaúcho, o calunga Robinho e Júlio Baptista.

Depois de ser eleito duas vezes melhor jogador do planeta, Ronaldinho agora é visto com desconfiança pela imprensa e pelos torcedores. Vá lá, a fase não é das melhores. Mas ele com certeza não esqueceu como é que se joga bola, e dizer que sua saída irá ajudar o Barcelona reagir, parece coisa de quem passou da medida nas comemorações do Natal.
Por outro lado, o futuro, esse senhor sempre enigmático, tem transformado destinos, o que não é novidade, eu sei.

Eis que Robinho, depois de encarar um mundo de olhares desconfiados, agora desfila com a camisa número 10 do Real Madrid na condição de comandante do time merengue. Júlio Baptista, que ajudou a esquentar a chapa de Ronaldinho, depois de marcar o gol da vitória do Real sobre o Barça, em pleno Camp Nou, é outro bom exemplo do enredo caprichoso que o futuro guarda. E esse tempo que anda a frente do presente ninguém alcança, nem mesmo tendo o fôlego privilegiado de um Júlio Baptista.

E por falar em condição física, pelo que anda sendo dito, não será ela que impedirá o atacante Ronaldo de defender o Flamengo. O namoro é antigo. Todo mundo sabe que os dirigentes do rubro-negro adoram uma transação milionária, como todo mundo sabe também que o "fenômeno" se desmancha pelo time da Gávea. A transação, se concretizada, seria sem dúvida notícia com lugar de destaque nos dias vindouros, como diriam os mais clássicos.

Peço licença, nessa derradeira crônica de 2007, para não comentar os casos em que o futuro foi de todo sombrio. Exemplos não faltam. Campeões marcados pelo doping, cartolas acusados de crimes, e por aí vai. Acredito, por uma questão de princípios, que em momentos reflexivos é preciso conservar a boa vibração. Ainda que seja impossível desvendar o futuro, ele será o resultado da nossa atitude.

Viva 2008!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Os novos comandantes

De todas as perguntas que ouvi nos últimos dias, a que sugeria resposta mais rica em detalhes era a que pedia para comparar a chegada de Mano Menezes, Luxemburgo e Leão aos seus novos clubes. No caso dos dois últimos, nem tão novos assim. Qual teria sido a melhor escolha?

A história fez de Mano Menezes um personagem sob medida para as necessidades do time do Parque São Jorge. Apesar da envergadura profissional Luxemburgo e Leão não escaparam, durante as apresentações, de perguntas sobre o relacionamento com algumas estrelas como Edmundo e Fábio Costa. Por hora, o gaúcho que acaba de chegar do Grêmio não precisa se preocupar com isso. À frente de um time ofuscado, Mano Menezes brilha sozinho.

Com relação a Vanderlei Luxemburgo e Emerson Leão, as contratações se revelaram uma boa oportunidade para alimentar, de maneira saudável, a rivalidade que ronda os dois treinadores, e que a mídia não cansa de abastecer.

De volta ao comando do time da Vila, Leão terá uma ótima chance de se impor pelos resultados. Luxemburgo deixou o Santos ostentando dois títulos estaduais e um vice-campeonato brasileiro, um desempenho que está longe de ser insuperável e, inevitavelmente, será usado para medir o sucesso do ex-goleiro, campeão brasileiro com o time santista em 2002, e responsável pelo amadurecimento profissional de dois dos principais jogadores revelados pelo Santos nos últimos anos, Diego e Robinho.

Luxemburgo, por sua vez, mostrou muita lucidez na chegada à Academia, ao afirmar, sobre o fato de querer ser mais do que treinador, que conhece "algumas coisas que são importantes para a empresa", e que "as pessoas não acham bom isso".

Realmente, tenho visto esse sentimento em muitos torcedores. Há no ar um certo receio de que ele domine tudo, o que não deixa de ser um reconhecimento de eficácia. As palavras do lateral sugerem que ele não só entende do riscado (quem seria capaz de duvidar?) como também parece estar ciente desse sentimento que o torcedor tem cultivado.

Ainda que Santos e Palmeiras tenham optado pela repetição, e não por um caminho novo, a troca mostrou que o faro de Luxemburgo para os negócios segue apurado. O treinador desembarcou na Academia em um momento crucial. O Palmeiras acaba de anunciar a transformação do Palestra Itália em uma Arena multiuso, além da milionária parceria com a Traffic, de J.Hawilla. Luxemburgo foi a cereja no bolo dos investidores, e terá, é óbvio, o direito de se servir dele. Quanto às comparações, creio, não cabem. Cada um tem sua história e seus desafios.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Elas mereciam mais

Outro dia, lendo um livro sobre a França do final do século dezenove me surpreendi com os relatos sobre as condições das mulheres em algumas regiões. Afinal, não se trata de uma época tão distante. Em alguns casos elas faziam as refeições de pé, não podiam sentar à mesa.Entre camponeses, por exemplo, não era raro contarem apenas os filhos do sexo masculino como sua prole. Faço essas citações para deixar evidente que o avanço feminino é um bom parâmetro para medir nossa evolução e, ao mesmo tempo, uma ótima medida para deixar claro o quanto nossos cartolas são retrógrados.

No final do ano passado a atacante Marta recebeu da FIFA o troféu de melhor do mundo. Naquele momento nossa seleção feminina já havia conquistado a medalha de prata na Olimpíada de Atenas, em 2004, fazendo uma partida em que a disposição demonstrada dentro de campo deveria servir de exemplo ao time masculino. Não falo da equipe olímpica, que não teve competência para se classificar mesmo contando com Diego e Robinho. Falo em exemplo para a seleção principal, tantas vezes acusada de fazer corpo mole.

Nessa impiedosa trajetória marcada por uma determinação incrível, e pelas minguadas cifras do bolsa-atleta, nada tem sido capaz de frear as meninas. A única retribuição à altura parece ter sido a conquista da medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, diante de um Maracanã lotado. Um dia em que, pelo menos a torcida, se encarregou de tratá-las da maneira merecida. Meses depois, lá estavam elas na Copa do Mundo, disputada na China. A derrota para a Alemanha na final, de certa forma, fez o futebol obedecer à lógica, afinal, as campeãs do mundo tinham aprimorado suas jogadas em um mega campeonato nacional, e eram parte de uma estrutura milionária.

O vice-campeonato mundial, no entanto, bastou para gerar nova dose de reconhecimento e promessas. Dinheiro... um campeonato nacional. Mas como acreditar? Se nem mesmo a premiação pelo ouro pan-americano tinha sido paga? Sem o menor constrangimento a CBF alegou que faria um único pagamento pelas duas conquistas. A do Pan e a da Copa. As meninas rasgaram até uma carta com reivindicações, já escrita. E o que era para alegrar indignou. O prêmio de dezessete mil reais ficou muito distante dos 290 mil dados a cada jogador vencedor da Copa do Mundo de 2002. E o torneio nacional, chamado de Copa do Brasil, também esteve longe do ideal. Em menos de um mês e meio, trinta e duas equipes se enfrentaram. O mata-mata, que não respeitou certos critérios, colocou frente a frente, já nas primeiras rodadas, alguns dos clubes mais fortes do país, comprometendo a qualidade técnica.

A Copa terminou no último sábado. A final foi disputada no estádio Mané Garrincha, em Brasília, com as arquibancadas vazias. O Campeão foi o Mato Grosso do Sul, defendido pelo tradicional SAAD, de São Caetano, no ABC paulista.Ouço muita gente por aí dizer que o brasileiro não se interessa por futebol feminino. Será? Esta semana, alguns clubes que disputaram o torneio, endividados, acusaram a CBF de não pagar o prometido. Nenhuma novidade. Ao negar às nossas atletas um tratamento digno, o futebol brasileiro, repleto de conquistas, ainda conserva uma mentalidade muito parecida com aquela do século dezenove. E, apesar de tudo, as mulheres, neste momento, me parecem mais perto da sonhada medalha de ouro olímpica do que os comandados de Dunga. 2008 promete! Mas não ouse falar em promessa perto delas.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Cara-de-pau

Entre outras tantas, duas declarações registradas nesta semana que está chegando ao fim merecem destaque.

Uma saiu da boca do Kia, o tal da MSI, que perguntado sobre o que
achou do rebaixamento corintiano, disse: "Meu coração se partiu".

A outra foi do Renan, o tal do Senado: "Eu saio de cabeça erguida".

O incrível é que se a gente colocasse uma na boca do outro, ainda assim elas fariam sentido, e ainda assim o título continuaria sendo pra lá de apropriado.

O futebol e os números

Ao escolher o tema dessa coluna foi inevitável lembrar da minha inesquecível professora de matemática. Que outro adjetivo poderia cair tão bem para alguém que, depois de uma penosa e esforçada recuperação, te reprovou por meio ponto? E numa época em que isso significava ter que passar um ano inteiro revendo todas as matérias. Um castigo muito além dos números. Talvez isso ajude a explicar o fato de eu ser tão reticente a respeito deles na hora de interpretar o esporte.

Seja como for, foram os números os inspiradores dessa crônica que vos chega. Na última segunda-feira, quando recebi de José Renato Sátiro Santiago Júnior, os números atualizados da história do Campeonato Brasileiro, não resisti. Olhei, olhei. Vocês estão cansados de saber que a história não muda assim...de uma hora pra outra. O que justifica as pequenas alterações de posições.

A campanha do São Paulo, em 2007, o transformou na equipe com maior porcentagem de vitórias (45,55%), e desbancou o Palmeiras. Em pontos acumulados, a desastrada campanha corintiana deixou escapar o terceiro lugar, que agora é do Santos, com 1282.
O time da Vila, em compensação, perdeu o posto de terceiro colocado para o Cruzeiro em números de gols pró. Para reforçar a euforia tricolor, o São Paulo passou a ser, também, o time com a menor porcentagem de derrota. Proeza que até o ano passado pertencia ao modesto Santo André. Para provar que a matemática segue sendo cruel, e que poucas são as coisas que resistem aos números, vejo aqui que o Flamengo, cuja torcida esta semana virou até patrimônio cultural, é o dono do maior número de derrotas acumuladas, 293.

Mas quero deixar claro que, muito maior, é minha precaução com outros tipos de números. Os que me chegam desse modo, das mãos de um pesquisador, com precisão indiscutível, salvo engano, ainda que não tragam um sentido direto, não podem ser tão traiçoeiros. Já aqueles que encontramos cotidianamente nas manchetes, nas chamadas, a respeito desses é que guardo enorme desconfiança. Fico imaginando o que não há por trás das grandes negociações. A quem interessa aumentar? A quem interessa diminuir? Não me soa improvável a cena de certos senhores, em ambientes nobres, com seus charutos, a brindar números muito diferentes dos que desfilam nas páginas dos jornais. Todos alegres, e mais ricos, rindo das cifras que os diários estamparam. A realidade por trás de tudo isso tem outros números, é o que a intuição faz crer.

Não, aqui não existe nada de “dois mais dois”. É só olhar bem e perceber como nesse universo os números dançam. Não há consenso. Setecentos mil reais para Vanderlei Luxemburgo. Como acreditar que a contabilidade de um clube suporte? A intrigante pergunta sugere uma resposta que pertence, apenas, aos que verdadeiramente sabem o que é possível lucrar com um grande time. Trezentos e sessenta mil reais para Mano Menezes comandar o Corinthians. Multa de 160 milhões de reais para levar o menino Alexandre Pato, já comprado pelo Milan e, de tão novo, impedido de jogar pela lei italiana. Segredos de uma matemática própria, guardada a sete chaves.

Agora chega! Que hoje é sexta, e eu já passei da conta.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Para os que andam preocupados com o futuro

Tenho um amigo muito estimado, que nas horas de preocupação coloca em ação uma tática inteligente: não sofrer por antecipação. A justificativa, antes de ser óbvia, é inteligente. E só é viável para pessoas que conseguem manter a mente um tanto "fresca". Diz ele:

"Se o que não quero, realmente acontecer, terei começado a sofrer antes. E, se não acontecer, terei sofrido por nada".

Bom, bem antes dele, Cícero, famoso estadista e escritor romano, já tinha sacado algo parecido, e deixou o pensamento resumido em uma frase:

"Em verdade, não é útil saber qual será o futuro, pois é uma desgraça angustiar-se sem nada poder remediar"

Deu pra sacar, ? Deixa a bola rolar...

Tudo tem um preço

A frase é velha, mas pelo visto não corre o mínimo risco de perder o sentido. Acredito que a nossa experiência cotidiana impedirá qualquer divergência nesse sentido. Lembrei da mesma, porque há tempos venho adiando um comentário sobre a nadadora Rebeca Gusmão, cujo exame antidoping com resultado positivo virou até caso de polícia.

Na última terça-feira Rebeca quebrou um silêncio que já durava duas semanas, e as palavras da primeira mulher a conquistar uma medalha de ouro para a natação brasileira (ela, por sinal, conquistou duas no Pan do Rio) revelaram uma atleta disposta a “pagar o preço”. Nada a ver com o resultado do antidoping, que isso é assunto para especialistas. Quem viu Rebeca Gusmão nos últimos tempos, muito provavelmente, ficou impressionado com o porte físico da nadadora, o que sem dúvida contribuiu para acelerar opiniões a respeito do caso.

Aos vinte três anos de idade, Rebeca não deixou no ar a menor preocupação estética. Disse que faz doze refeições por dia, e que não tem medo de engordar. “Quem quiser ser alguma coisa tem que fazer de tudo”, afirmou em seguida. E ao dizer que as outras atletas deveriam “se preocupar menos com a aparência e mais com performance”, deixou no ar, reforçada, a possibilidade de ter sido seduzida por um outro tipo de vaidade, a da vitória.

O caso de Rebeca Gusmão nos aproximou ainda mais dessa face perversa do esporte. Na próxima segunda-feira, o exame da mostra B será feito em um laboratório de Montreal, no Canadá. O preço de tudo isso ainda é desconhecido, e pode se revelar bem maior do que o previsto.

Isso sem falar na declaração do responsável pelos exames antidoping no Pan do Rio, Eduardo De Rose, que declarou que estava à caça de Rebeca e que sua aparência era suspeita. Nada me tira da cabeça que só pode ter sido inveja daquele delegado-geral da Polícia Civil do Pará que, ao falar sobre a menina de quinze anos que ficou presa com homens na mesma cela, ainda culpou a vítima, alegando que ela só podia ter alguma “debilidade mental”.
Tudo... sem ficar vermelho de vergonha.

E por falar em preço, o Comitê Olímpico Brasileiro apresentou um projeto em Brasília para receber mais 27 milhões de reais para a preparação olímpica de Pequim 2008. Outros 57 já estavam garantidos. Nunca é demais, ?

Nesse nosso cenário, de bem com o preço só o atacante Lulinha, do Corinthians. Mesmo sem marcar um único gol como profissional, a jovem promessa teve a multa rescisória do contrato elevada para astronômicos cinquenta milhões de dólares, quase cem milhões de reais. A pergunta que não quer calar neste momento é: quanto deveríamos cobrar pela nossa paciência?

terça-feira, 27 de novembro de 2007

O risco de estar na arquibancada

A tragédia que matou sete torcedores na Bahia trouxe com ela um recado muito claro: se você gosta de futebol, e costuma frequentar estádios, tem corrido um sério risco. Ainda que ninguém seja tão ingênuo a ponto de achar que acompanhar da arquibancada um jogo de futebol seja tão seguro quanto assisti-lo de casa, estamos longe de admitir que ao comprar o cobiçado bilhete estamos, ao mesmo tempo, nos dispondo a correr risco de morte. Pode parecer exagero, mas pelo que vimos não é.

Os quase trinta e um mil torcedores que pagaram para ver o duelo entre Sport e Cruzeiro no último final de semana, no estádio da "Ilha do Retiro", podem até ter levado em consideração a possibilidade de precisar fugir de uma briga, ou até de um grande tumulto. O que eles talvez não tenham percebido é que aceitaram pagar para assistir a um jogo no terceiro pior estádio do país, segundo um levantamento feito por arquitetos e engenheiros, que percorreram outros vinte e oito estádios, nas dezoito cidades que se candidataram a receber jogos da Copa do Mundo de 2014, que terá o Brasil como sede.

Amanhã o Atlético Mineiro recebe o Goiás no tradicional Mineirão, o estádio "Governador Magalhães Pinto. Milhares de torcedores estarão lá, antes de tudo, correndo um risco, talvez, ainda maior do que aqueles que foram à "Ilha do Retiro" dias atrás. Inaugurado no dia 5 de setembro de 1965, o Mineirão aparece na "lista dos piores" em segundo lugar, vencendo apenas o já condenado estádio da "Fonte Nova". Perdoe, nesse momento o melhor é dizer, "perdendo", uma vez que nessa triste tabela não há vencedores.

Mesmo os mais de oitenta e um mil torcedores que foram ao Maracanã testemunhar a classificação do Flamengo para a Libertadores do ano que vem, com a vitória sobre o Atlético Paranaense no último domingo, não podem dizer que viveram plenamente essa condição. A superlotação do Maracanã, cuja reforma consumiu mais de duzentos e quarenta milhões de reais, obstruiu as vias de acesso e elevou ao máximo a possibilidade de acidentes. É bem provável que diante de um estádio reformado a sensação de segurança fosse maior. Ilusão.

Mas como sempre, o "show deve continuar". A "Fonte Nova" será demolida, o Campeonato Baiano vem aí, e o futebol fará de outras praças sua fonte de renda. Não sejamos ingênuos a ponto de achar que esses estádios estarão em condições plenas de receber a multidão de torcedores baianos que já deram grandes demonstrações de devoção ao futebol.

Seja onde for, por hora, tudo continua, e continuará, por um fio.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A seleção é o país

A passagem da seleção brasileira por São Paulo revelou uma vibração diferente entre o escrete nacional e a torcida. Havia no ar um “que” de reivindicação. Uma cobrança. Em outros tempos o time era a arma para manipular o povo. Nos últimos dias, em muitos momentos tive a impressão de que dessa vez era o povo que estava querendo usar a seleção pra mandar recado. Entrou em campo um descontentamento. Todo mundo exigindo mudanças.


E já que a seleção e o país parecem cada vez mais uma coisa só, imagine se na hora do jogo, tomado por essa emoção das coisas que não andam, pela angústia desse futebol que não diverte, todos decidissem levar ao estádio uma faixa. Nada de “beijos pra tia” ou “Olha eu aqui Galvão”.
Em papéis, tecidos, frases como “Eu não aguento mais a CPMF”...
“O hospital da minha cidade tá caindo aos pedaços, não dá! ”...
“Chega de impostos”
“ Nós somos de “não sei onde” e só temos 20 por cento de saneamento básico”.


Ah! Era bem capaz da “ cartolagem” baixar uma norma dizendo que cartazes são proibidos. Ou talvez, destacar um funcionário pra falar o que pode e o que não pode ser escrito.
Uma espécie de censura, como em outros tempos.
O futebol e a Nação têm mesmo muito um do outro. Levam embora nosso minério, nossas riquezas, como levam embora nossos craques. No comando do país, assim como no comando do time, a possibilidade da vaia pode aterrorizar. Pode fazer repensar agendas.
Um momento agudo em que todos os artifícios param de funcionar.


Há algo na engrenagem, no entanto, que impede a total imobilidade.
E tudo vai andando, mesmo com Wagner Love, mesmo com CPMF.
Tudo vai sendo salvo. Dunga tem a sorte de ter Kaká ... Robinho...Ronaldinho, e agora Luis Fabiano .Lula tem a sorte de encontrar o mundo num tremendo vento à favor. Tudo segue. Temos a jazida de Tupi, com seus bilhôes de barris de petróleo e gás, temos milhares de garotos sendo preparados em “escolinhas” para mais tarde adornar os grandes clubes de futebol da Europa.
Apesar de toda essa possibilidade, apesar dessa insatisfação, tanto com o futebol quanto com o país, o que se tem dos dois é o mínimo. E não me venha pedir escolas...hospitais...e ainda mais segurança.


Com relação ao mundo da bola a constatação também é cruel. Até o direito de ver nossa seleção nos é tirado. Treinos secretos, veja só! Será que o torcedor não merecia ser recebido de “portões abertos” já que a seleção se denomina do Brasil? Nada disso.
Como se não bastasse, demora muito pra voltar, só faz amistosos no exterior.


Para aqueles que apreciam as táticas, os esquemas de jogo, a maneira de tratar cada adversário, para aqueles que sempre pensam que têm razão, que poderiam mudar tudo tirando um daqui, colocando outro ali, pra esses eu digo, sem querer “secar”, que tenho a mais pura convicção de que não há como mudar a seleção, sem mudar o país.


De minha parte, entre as tantas placas que levaria ao estádio, vocês sabem, não esqueceria de incluir uma mais amena, onde traria escrito:
“Aproveite sempre da melhor forma as sextas-feiras”

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Desafinado

A falta de harmonia começou na cerimônia de abertura, com fogos estourando em cima da orquestra que tocava o hino nacional.
Em campo a coisa também não se harmonizou. Não havia meio de acertar o ritmo.
Mas Luis Fabiano, num exemplo impressionante de fé, correu atrás da bola e usou a força pra começar a salvar a exibição diante do Uruguai.
Da torcida, que foi acusada de impaciente, o que se viu uma dose extrema de benevolência. Resistiu sem reclamar até os quarenta minutos.
Quase uma atitude budista, tendo em vista o que acontecia em campo.
Como negócio a noite foi um sucesso. Faturamento de quatro milhões e trezentos mil reais.
A maior bilheteria da história do futebol brasileiro.
O time de Dunga só tomou a frente, e construiu o placar de dois a um, quase na metade do segundo tempo. De novo Luis Fabiano, que se encarregou de fazer esse Brasil desafinado dar samba.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O futebol em sua versão mais surpreendente...

... foi visto no início da noite desta quarta-feira, no mítico estádio Wembley, na partida entre Inglaterra e Croácia. O resultado por si, vitória croata por 3 a 2, já diz quase tudo.
Um grande duelo, que tirou o “English Team” da fase final da Euro 2008 e mostrou ainda que, uma vez em campo, o risco da vaia é parte do jogo.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Manager

Aconteceu na cidade de Bituin, que fica entre Nossa Senhora do Bom Senso e o Vale dos Pecados, no norte de um imaginário país tropical. Digo país tropical, porque assim fica mais fácil do leitor entrar de vez nessa história, pensada para ser de sucesso, mas que acabou atrapalhando ferozmente seu principal protagonista.

Enquanto ele levou adiante sua tremenda paixão pelo jogo de bola, tudo foi se encaixando de maneira perfeita. Mesmo distante da cidade em que nasceu, o tal não teve dificuldade para encontrar os caminhos para crescer, até porque o futebol nunca conseguiu disfarçar que lhe cai muito bem uma dose acertada de malandragem.

Um dia percebeu que o momento de deixar a bola havia chegado. Pensou ir além, mas sua astúcia não permitiu que ele desobedecesse o sugerido pelo destino.
Passou a jogar com os amigos, só pra se manter.

O próximo capítulo era óbvio. Virar treinador. Ele só não esperava que essa acabasse sendo a sua grande glória. Transformou times pequenos. Encheu elencos humildes de personalidade. Triunfou. Desafiava os críticos com um respeitável número de conquistas.

O que mais um treinador poderia querer?
Comandar a seleção nacional? Pois ele o fez.
Desta feita não concluiu a tarefa como esperava, teve problemas, e naquele seu mundo a ausência de resultados era fatal. Precisou mudar de direção. Passada a tormenta - um tanto espantado - foi mais além.

Atravessou o atlântico, ganhou uma invejável chance no charmoso e sedutor futebol europeu.
Um universo novo que exigia outras habilidades. Lá, escutou pela primeira vez, de modo claro, a tal palavra: “manager”. Percebeu no homem que a carregava um encanto do qual ele não conseguia bem entender a razão. Rodava com sua esquadra pelo velho continente e, em todos os lugares por onde passava, o “manager” era sempre quem dava as cartas.
Era instigante. Na pessoa desse negociante travestido de executivo, o futebol não se resumia a táticas e concentrações. A ele já não interessava só a vitória, interessava vencer com lucro.
Seguiu contornando a curva do destino.

Voltou pra sua terra.
Afinal, o cotidiano podia ter armadilhas, mas sua trajetória era sólida.
Seguia com grandes clubes lhe cortejando. Escolheu um. Nem precisava ser o campeão. Era o mais bem pago. Aquela velha palavra, no entanto, não o havia abandonado. E nem importava que em seu velho país tropical ela soasse imprecisa e vaga.

Nas entrevistas, vez por outra, a palavra, meio sem querer, saltava da sua boca, como se o estivesse rondando os pensamentos. Às vezes, ele a usava para explicar certas situações.
Na cidade de Bituin todos percebiam que para ele, “Manager”, era “o” sinônimo do sucesso profissional.

Quando os jornalistas o queriam adular, iam logo colocando um “Manager” na pergunta. Quando os cartolas o queriam seduzir, revestiam suas lorotas com a tal palavra.
Naqueles dias era assim, estava entre os melhores, sentindo a pressão do ofício, tendo que manter sua esquadra respeitável. Já não era um tempo em que se podia pensar somente no jogo. O futebol lhe colocou pra participar de compras e vendas. Passou a se tratar de um jogo mercantilista. Se tratar de negócios. Não foi pouca coisa o que o destino o ofereceu. Reconhecimento profissional, posição de destaque.

Mas o velho lateral de Bituin jamais conseguiu tirar essa bendita palavra da cabeça: Manager.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Entender o mundo é "jogo duro"

Se você anda olhando o mundo e não consegue entender um monte de coisas não estranhe, nem pense que isso é motivo para maiores preocupações. Faz tempo que boa parte do acontecido carece de explicação mais convincente. Veja, por exemplo, esse nosso campeonato de pontos corridos. Não faz muito tempo era o símbolo da disputa leal.
Por isso mesmo acabou usado como uma bandeira pelos cartolas na tentativa de nos convencer, ou dar a impressão, de que bastaria uma nova fórmula de disputa para consertar a dilapidada paixão nacional. Como apaixonados nem sempre primam pela boa visão, um certo entusiasmo se fez presente.
Passadas algumas poucas temporadas, o que sinto é uma imensa insatisfação com esse modo de revelar o time campeão. A regularidade do São Paulo, claro, contribuiu pra isso. Mas o que a maioria dos meus interlocutores alega é uma imensa saudade do mata-mata. Vai entender.
Todos parecem ter esquecido o fato de que, em outros tempos, não era anormal assistir ao oitavo colocado na fase de classificação papar o título, enfurecendo a torcida do time que havia cumprido a primeira fase do torneio de maneira inconteste.
E não é tudo. Tem ainda aquela discussão sobre se o time campeão poderia, ou não, se dar ao luxo de, uma vez conquistado o título, colocar em campo outra equipe, recheada de reservas. Isso como se alguém pudesse garantir que os jogadores titulares, já cansados da longa temporada, fossem mesmo complicar a vida dos adversários.
Qualquer torcedor é capaz de lembrar de um bom exemplo em que a vontade foi muito mais eficaz do que a qualidade.
Sinceramente, não me recordo de ter ouvido algo semelhante sobre os torneios pelo mundo que, como o nosso, foram decididos antes da derradeira rodada. Já aqui, até o Internacional, que não ganhou nada, sugeriu adiantar as férias dos seus atletas de olho em um torneio rentável no exterior.
É a nossa velha brasilidade, nosso modo original de encarar as coisas, acentuado pela lógica perversa que dissimuladamente envolve o esporte.
Por favor, não vamos resumir tudo isso a uma já alardeada falta de qualidade nossa.
Não é impressão, não, a compreensão dos fatos vai se tornando cada vez mais desafiadora. Veja o caso envolvendo uma das nossas principais nadadoras, Rebeca Gusmão, pega em um exame antidoping realizado pela Federação Internacional de natação, a FINA.
Diante das águas agitadas da acusação, justificou o ocorrido alegando que seu organismo, em razão de uma disfunção hormonal, produz mais testosterona que o normal, ainda que o exame da FINA tivesse deixado claro que essa testosterona havia sido produzida fora do corpo.
Rebeca me pareceu mais sensata ao alegar que os exames feitos por ela durante o Pan do Rio - quando conquistou a medalha de ouro nos 50 e nos 100 metros livre - não apresentaram problemas. Eis que surge um membro Comissão Médica da ODEPA, a Organização Desportiva Pan-americana, dizendo que ela não poderia dizer isso, porque a entidade ainda iria se pronunciar sobre o assunto.
Tento encontrar razão para o resultado de um exame que já foi feito há mais de três meses, e que pode ter tido o resultado positivo, demorar tanto, mas não acho.
Agora, com a reverência já confessada que tenho pelas sextas-feiras, deixo aqui um convite para que durante o fim de semana, que já começa a dar o ar da graça, você não tente entender o mundo, se dê o direito de simplesmente desfrutá-lo. E o faça da melhor maneira possível. É preciso.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O futuro do tricolor

A derrota para o Juventude não muda absolutamente nada.
O que pode mudar é não contar com Muricy Ramalho em 2008.
Técnico de alto nível é artigo de luxo, e as propostas do exterior, tentadoras.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O que faltou falar

Acredito que a grande sedução dos programas de televisão que discutem o universo esportivo, além de instigar o telespectador a refletir sobre o que está sendo dito, é levar até ele a nítida impressão de que está participando de modo direto da conversa. Prova disso é que não são tão raros os momentos em que, mesmo estando sozinho na sala, o telespectador não resiste e defende em voz alta o seu ponto de vista. Discorda do apresentador, do comentarista, acrescenta outro detalhe. E é exatamente sobre esse detalhe que quero falar. Veja, trata-se de uma verdadeira confissão de quem está do outro lado. Na maior parte das vezes termino o programa com a sensação de que algo ficou sem ser dito. Não sei o que me faz ter a ilusão de que seria possível esgotar um assunto, ainda mais quando em pauta está o futebol. Mas contra minha própria vontade cultuo essa pretensão. O programa desta segunda terminou, e deixei de dizer que essa questão da legitimidade em reconhecer o São paulo como o primeiro time brasileiro a conquistar cinco vezes o Campeonato Brasileiro - que encheu a nossa paciência nos últimos dias - mostra, antes de tudo, que faz muito, mas muito tempo mesmo, que nosso futebol se divide por outros motivos que nada têm a ver com a bola. Há muito tempo os campeões precisam atender aos interesses dos cartolas, e o resto é detalhe. Os tais cartolas contam com essa multidão de apaixonados somente para encher os estádios, pagar ingressos, e legitimar todas as tramas que bolaram.Aproveito pra contar outra coisa. Antes da vinheta do segundo intervalo rodar eu disse que a diretoria do Palmeiras tinha a obrigação de esclarecer o que se passou com seus atletas no aeroporto de Recife na volta para a capital paulista. Com o programa já fora do ar, nosso convidado, o cineasta Ugo Giorgetti, me lembrou que não era possível esperar algo coerente de uma diretoria que não tomou uma atitude digna nem mesmo quando um treinador das categorias de base do clube apanhou do pai de um de seus jogadores por ter tirado o menino de campo. Verdade absoluta.Além disso, faltou dizer que é lamentável acusar jogadores de terem bebido demais sem ter apurado o caso, e citando como fonte os integrantes de uma torcida organizada. A diretoria nega quase tudo que foi dito em um primeiro momento. Quem mente? Enquanto isso, a CPMI, que pretendia investigar a parceria entre o Corinthians e a MSI vai agonizando diante de outros interesses. Faltou dizer também que foi triste ver uma de nossas principais nadadoras, a Rebeca Gusmão, campeã pan-americana dos 50 e 100 metros livre, ser suspensa provisoriamente por causa de um exame antidoping que deu positivo.Faltou dizer que é bom o Santos se cuidar. Faltou dizer que não me soou bem a declaração de Luxemburgo afirmando que o time santista não teve a postura que ele esperava. Quem, afinal, poderia resolver esse espantoso dilema?Antes de encerrar aproveito pra fazer uma outra confissão. A de que essas linhas aliviaram parte dessa insistente sensação que me faz achar que faltou falar alguma coisa.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Na era da "zapiada"

O mundo moderno tem mesmo dessas coisas, quando a gente vê, nosso cotidiano já se transformou. O planeta depois do controle remoto nunca foi o mesmo. E esse assunto vem a calhar porque não se trata apenas de uma questão de canal, o futebol já se encarregou de mostrar dois canais ao mesmo tempo. Houve época em que ligar a televisão era assistir a um só jogo. O mundo acelerou, o Brasileirão passou a ser de pontos corridos, e agora é preciso saber de mais de um resultado.

Esta última quarta-feira, por sinal, foi sintomática, e estranha. O time que decidia o título estava em campo, só que boa parte dos torcedores queria mesmo é saber de outra peleja. Acompanhada de perto por mais de 60 mil.

E, de repente, na ânsia de acompanhar tudo, nos encontramos divididos entre dois canais, coisa de torcedor moderno. E a modernidade, como destaquei no início, transforma mesmo nosso cotidiano.

Fica aqui um pedido encarecido aos diretores de televisão: Lembrar que é sempre de “bons modos” dividir a tela se quiser mostrar outro jogo. Pensem na possibilidade do telespectador estar mesmo a fim de continuar vendo tão somente o jogo que escolheu.

Bom, na verdade durante o primeiro tempo inteiro não houve nenhuma “zapiada” de minha parte.

Foi difícil desgrudar do Maracanã.

O Goiás vencia.O Náutico vencia.

Todos os resultados eram favoráveis ao Fla, menos o que se desenhava no Rio de Janeiro. Depois de um lindo balão de Lulinha, o Corinthians fez um a zero.

Dentinho quase virou mito aos trinta e oito. Acabou traído pela ilusão prepotente do gol.

Enquanto isso o São Paulo ia reafirmando o título.

Na última parte do espetáculo, Obina e Roger ganharam um lugar na história.

Aos vinte, “zapiei”! Só pra sentir o clima do “Morumba”.

Na volta vi Roger, o velho conhecido corintiano, se encher de confiança, avançar e soltar o pé, colocando o estádio mais representativo do país em festa total.

Mantendo a veia de sofredora, a massa corintiana testemunhou o time perder uma chance incrível nos acréscimos.

Futebol, às vezes, é puro drama e euforia.

Na capital paulista o tricolor se sagrava bi, desenhando a imponente marca de cinco títulos brasileiros, adornada por três sul-americanos e três mundiais.

No final de semana tem mais. Com certeza vamos querer saber dos resultados de outros duelos. Como torcedores modernos teremos que voltar a dividir nossas atenções.

A modernidade é assim, tem sempre muita coisa pra mostrar. Essa é sua tática.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Copa 2014 - Capítulo 1 "De onde você é?"

O anúncio do Brasil como sede da Copa do Mundo teve o enredo esperado. Até o argumento do presidente da FIFA pouco antes de abrir o envelope com o nome Brasil - estampado com Z - não poderia ter sido outro. Joseph Blatter, vivendo a inédita situação de não poder fazer suspense a respeito da nação que iria revelar, foi obrigado a confessar que, diante de um candidato único, restou ao comitê executivo da entidade decidir se considerava, ou não, o Brasil em condição de arcar com tamanha responsabilidade. Muita gente por aqui duvida, mas eles não deixaram transparecer a mínima dúvida.
Com muita pompa permitiram-se colocar a Copa de 2014 no nosso futuro nem tão distante assim. Fico aqui pensando como vamos encarar esse momento quando a hora chegar. Sete anos podem não representar uma eternidade, mas muda muita coisa.
Jogada completa, entrou em cena a delegação brasileira. O microfone era passado de um para o outro como se faz com a bola.
O ponta-pé inicial coube ao Presidente da República. Lula só me pareceu cheio de razão ao dizer que o que pode surpreender os estrangeiros é o povo brasileiro. Perfeito. Até porque todas as nossa mazelas eles estão cansados de conhecer. O povo não, porque o medo impede muitos de ter a coragem necessária para desembarcar por aqui. Romário e Dunga, breves, fizeram o papel que se espera de ex-jogadores em ocasiões como a desta terça-feira. Já Paulo Coelho, me frustrou, pegou carona nas palavras de quem já havia falado. Não proferiu nada profundo. Nada que sugerisse encontrar naquele momento algo transcendente. Já ouvi pessoas dizerem que ele, como Mago, tem até poder para controlar a chuva. E, olha, esse tipo de poder seria muito apropriado para uma final de Copa do Mundo.
Mas bastou chegar a hora da "coletiva", minutos depois do meu país ter sido anunciado como sede de uma Copa futura e eu já estava passando vergonha. Ao ouvir a primeira pergunta, incômoda, o Sr Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, sem um pingo de gentileza quis saber de quem se tratava. Disse ele: De onde você é?
Isso como se a sede da FIFA fosse um lugar aberto, uma mercearia onde teria sido possível qualquer um entrar só para estragar a festa dos outros. A identificação não demorou. Se tratava de um profissional da agência Associated Press, que eu duvido que Ricardo Teixeira conheça, e se por acaso já ouviu falar, não faz a mínima idéia do que representa. A resposta do dirigente brasileiro não mereceria nem comentário, mas eu não resisto. Ricardo Teixeira questionado sobre o problema da violência, disse que se trata de algo que existe em todo o mundo. E, desenvolvendo um raciocínio daqueles, afirmou que até os Estados Unidos têm aluno matando alunos em escolas, e isso o Brasil não tem.
Mas a briga para saber quem faria o papel mais ridículo estava quente. O "mestre de cerimonia", ao testemunhar o fato, pediu mais respeito ao futebol, como se falar verdades ali fosse uma espécie de heresia. E talvez fosse exatamente isso.
Se você perdeu a chance de ver ao vivo tal espetáculo, vai ficar ainda mais chateado.
A pergunta seguinte partiu de um jornalista brasileiro, de quem mais se esperava algo pertinente.
O que se ouviu pouco depois, foi uma sequência de elogios, que teve como ponto final uma pergunta que mais pareceu uma sugestão.
"Será a Copa do povo?". Brilhante, não?. A coisa foi tão forte, que o próprio Ricardo Teixeira se mostrou constrangido e preferiu dizer que será a "Copa do Brasil"
A palavra voltou a ficar com um estrangeiro, de outra agência de notícias renomada, a Reuters. A resposta que ele provocou provavelmente era esperada pela maior parte daqueles que acompanham o futebol.
"Onde estava Pelé?"
Teixeira nunca foi camisa 10, mas ao que tudo indica havia treinado essa resposta. Apontou Dunga e Romário como os grandes nomes da sua era à frente da CBF.
Por fim, um novo acontecimento me chamou a atenção. O número mínimo de aplausos no momento em que o nome de Pelé, o maior jogador do mundo foi proferido.
Conclusão, a FIFA é uma coisa, o futebol é outra.
E, veja, você não precisa concordar comigo, não precisa ser "igual eu", como disse o Lula durante o discurso lá nessa entidade honrada, com sede na Suiça e tudo.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Detalhes da história

Olho uma vez mais o livro que passou a ocupar um lugar na base da estante nos últimos dias. Acabei de folheá-lo, mas ao colocá-lo novamente em seu lugar tive a ânsia de voltar às histórias ali retratadas. Na capa, uma foto antiga toma a página. O homem estampado nela tem o olhar sério, não dá pistas do senhor bonachão e bem humorado que se tornaria.
Lembro como se fosse hoje o primeiro dia que entrei na Vila Belmiro na condição de repórter. Era uma tarde bonita, clara, os repórteres em pequenos grupos esperavam o treino começar.
Eu e o jornalista Eduardo Silva estávamos mais próximos à saída do túnel. Eis que surge a figura do treinador santista. Risonho, Pepe chegou na altura do gramado, Edu me apresentou a ele e, depois da rápida apresentação, Pepe interrompeu repentinamente a conversa em tom de brincadeira, e disse:
_ Essa é pra você Edu! – e mandou o pé na bola.
E emendou em seguida:
_ Vai parar na linha do meio de campo!
Bons tempos aqueles em que como jornalistas não estávamos confinados em salas de imprensa como hoje. Seguimos a conversa caminhando no gramado, e ao chegarmos na linha divisória vi que o chute tinha sido de uma precisão admirável, a bola havia passado apenas uns três dedos da linha.
Mais incrível do que constatar a precisão foi perceber que Pepe, muitos anos depois de parar de jogar, com outro peso, outra potência, deixava transparecer talvez o grande segredo do sucesso de seus chutes lendários, e famosos pela força. Precisão!
A conversa ainda se estendeu um pouco mais, e fazendo soar o apito, Pepe se despediu e chamou os jogadores. Mas voltou a brincar. Soltou a bola sem pensar e disparou:
_ Essa vai parar na linha do gol.
Como queríamos ficar vendo o treino na trave do fundo - naquele tempo repórter ainda podia escolher onde queria ficar - caminhamos na direção do chute. Não resisti, antes de deixar o campo, olhei na direção da bola e conferi. Dessa vez a distância entre a bola e a linha tinha sido menor. Dois dedos, sei lá! .
Mas, voltando à capa do livro, há nela também uma foto menor no alto do canto direito, é de Pepe prestes a concluir um chute. Nos encontros entre nós nos anos que se seguiram, seus velhos cadernos sempre me encantaram. Pepe foi zeloso com sua memória, escreveu à mão durante anos, informações importantes, escalações e detalhes, embora esses pareçam estar mais na sua cabeça mesmo. Uma tática que ajudou o ponta-esquerda a preservar suas histórias mais ricas.

A Copa de 2014

Com o Brasil como candidato único... tudo será resolvido na base do "sim" ou "não".
E essa nossa grande questão não deve tomar muito mais do que uma hora dos homens que integram o Comitê Executivo da FIFA.
Gostaria muito de me alegrar com a possibilidade de ver o meu país como anfitrião das melhores equipes de futebol do mundo, mas não consigo.
Tenho a nítida sensação de que na próxima terça-feira, por volta das 12 horas e trinta minutos, só mesmo os cartolas brasileiros terão motivo pra comemorar.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Zap !

O lance mais visto nesta noite de quarta foi a “zapiada”.
Acabei dividido entre o duelo no México e a estréia do baixinho como jogador-treinador do Vasco, que teve um final de primeiro tempo engraçado. Perguntado sobre o que havia mudado no time, que afinal vencia por um a zero e jogava bem, Leandro Amaral respondeu:
“O que mudou no time foi a atitude” “Acabou aquele sono”. Ah!tá!
Ou seja, Romário, tão famoso por se movimentar pouco em campo colocou todo mundo pra correr. Mas o Vasco precisava de mais um gol, e o baixinho resistiu até pouco antes da metade da etapa final. Aí Romário decidiu colocar Romário em campo.
Isso enquanto em Bogotá, na Colômbia, um Ciciliano tomava a vaga do São Paulo.

Voltei pra São Januário!
Tive notícia do segundo gol “milionário”.
Zapiei!E vi!

Bom, Romário mudou o time, mas não o suficiente pra mudar o rumo da nau vascaína.
Ao lado do São Paulo, o Vasco aportou entre os desclassificados da Copa Sul-Americana

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Crônica sentimental

Em mim as lembranças da bola se confundem com as mais distantes memórias dos tempos de menino. Mas apesar de ter sido seduzido pela magia da bola da maneira mais pura e romântica possível, hoje em dia me ocupo, na maior parte das vezes, com aquilo que existe além da vitória e da derrota. O jogo visto somente de modo técnico e tático, embora complexo, é dono de um horizonte menos amplo.
São os nossos sentimentos que multiplicam e agigantam as possibilidades e a sedução do esporte.
O novo livro escrito pelo jornalista André Ribeiro, que conta a história da crônica esportiva do Brasil, me deu a impressão de que, passadas tantas narrações, discussões, opiniões, tantas notícias, esse segmento da nossa mídia encontrou um equilíbrio.
Criamos um jeito brasileiro de interpretar o futebol, e ele é uma mescla de pragmatismo e sentimento.
Lembro de um dia em que fui destacado para entrevistar o mestre Armando Nogueira. Tentado a dividir com ele as impressões sobre essa preferência pela parte mais humana do esporte, ouvi dele o seguinte:
_ Olha, eu jamais me preocupei com tática e técnica.
Soou, sim, como uma licença poética. Mas com o tempo pude entender quanta verdade aquela declaração escondia.
Passando os olhos pelas páginas da obra escrita por André Ribeiro fiquei feliz em perceber que a história reservou um espaço justo aos homens que assumiram essa veia sentimental.
Digo isso, não pleiteando um lugar no time, quem sou eu, mas confessando minha admiração. Confessando a minha intenção seguida de buscar ali inspiração.
E tem mais, já percebi que muitas vezes essa maneira de encarar o jogo serve como uma espécie de antídoto. Diante da derrota do time querido é possível encontrar outras alegrias. Ensaiar um drible pra cima do peso da derrota. E o melhor de tudo, não achar nunca que o torcedor adversário é um inimigo, ou que os duelos devem se dar em outro espaço que não seja o campo de jogo.
Quando vejo as histórias de violência entre torcidas, dentro dos estádios, dirigentes se dando bem, gente tirando proveito dessa planetária paixão, vou logo pensando que se trata de gente sem sentimento suficiente para entender a grandiosidade do esporte.

* O livro citado, está sendo lançado neste momento em São Paulo.
Livro: "Os donos do espetáculo" - histórias da imprensa esportiva do Brasil
Autor : André Ribeiro
Editora: Terceiro Nome

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O Brasil de volta ao Maracanã

O Maracanã lotado acordou Vagner Love.
Não que ele tenha perdido aquela cara de sono.
Seja como for, estava acordado.
A torcida ensaiou uma vaia aos dezoito.
O time brasileiro respondeu com uma bela trama.
Maicon honrou o belo passe que recebeu de Robinho,
e merece ser dono de metade do gol marcado por Love.
Perto dos quarenta uma tarja preta invade a tela da minha televisão.
Trazia escrito: N?N?N?N?N?N?NL (?)
Pouco depois, no Equador, a torcida se revoltava, cheia de razão,
com um impedimento que não existiu e um penalti não marcado.
O time de Dunga começa o segundo tempo
com o velho toque de bola irritante, tão característico.
Enquanto a torcida pede Obina, Kaká solta o pé.
No meio do caminho Ronaldinho corrige a trajetória da bola, e bate o goleiro adversário.
Mais um caso de gol que deveria ter a autoria dividida. Meio pra Kaká. Meio pra Ronaldinho.
Kaká, claro, merecia um gol com maior dose de plasticidade. E faria em breve.
Em poucas palavras. Um chute...uma curva...uma bola no ângulo
Já o quarto gol brasileiro é fruto da mais pura molecagem de Robinho.
Mesmo concluindo o lance Elano é quase um coadjuvante.
Aí o arqueiro do Equador decidiu garantir um lugar na história do jogo.
E encenou um frango.

Alguém empolgado diria: foi lindo.
Eu digo: o Brasil cumpriu muito bem seu papel.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Maracanã, um assombro

Se fosse possível enxergar o Maracanã apenas pelo vértice do futebol, ele já seria imenso. Mas a verdade é que o estádio Mario Filho, ao longo do tempo, tomou proporções ainda maiores.
E foi por causa dessa grandiosidade que se tornou palco de uma exibição de basquete dos lendários Globetrotters, muitas décadas atrás, e permitiu ao vôlei nacional viver uma noite grandiosa na década de oitenta, ainda que fosse debaixo de chuva. Lembrar outras modalidades não basta.
Em 1980, o solo sagrado do futebol recebeu o Papa João Paulo II para uma missa campal. O eclético e popular Maraca, também abrigou de Madonna a Frank Sinatra.
E, se deu ao jogo entre Brasil e Paraguai, em agosto de 1969, o recorde de público (183.341), em 1988, entregou a Tina Turner o recorde mundial de público pagante num show de cantor solo, ao registrar a presença de mais de 188 mil pessoas.
Essa tal grandiosidade, no entanto, não livrou o Maracanã de uma de nossas grandes mazelas: não tratar os mais velhos com a devida reverência, com o devido cuidado e importância.
De outro modo, o nosso Maraca não teria ficado sem receber a seleção brasileira por sete anos. Não teria sido descartado na hora de escolher os estádios para uma, muita provável, Copa em terras brasileiras.
Alguns dirão que a história não é bem assim, que o estádio acaba de ser reformado. Mas de que adianta gastar mais de duzentos milhões de reais para embelezá-lo e, ao mesmo tempo, não lhe dar o direito de resgatar a devida importância? O seu lugar na história!
Tenho lido que nossos "homens da seleção" andam usando o sucesso de bilheteria como álibi.
De fato, os ingressos se esgotaram rapidamente. Algo fácil de entender quando um time nacional volta a jogar em casa depois de vinte e uma partidas no exterior.
Aos dirigentes vale lembrar que, ao contrário deles, o público não está nem um pouco interessado nesse sucesso comercial.
E o Maracanã, como sempre, não está pra brincadeira.
Nosso presidente que esteve por lá na abertura dos Jogos Pan-Americanos, com certeza não esqueceu disso.
Como nos últimos tempos Dunga só esteve nesse templo da bola para conferir o gramado e gravar os pés na calçada da fama, não custa lembrar, ?

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Para descontrair na véspera do feriado

Já que as últimas postagens do blog foram sobre assuntos indigestos, divido com vocês um "pensamento" do humorista italiano Gandolin.

" O repórter deve ser dotado da alma robusta dos carteiros, do rosto imperturbável do caixeiro viajante, da calma paciente de um guarda civil em sentinela. Naturalmente quando um homem reúne em si estas mui eminentes e raras qualidades seria excessivo exigir dele um certo conhecimento da sintaxe e da gramática"

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O poder das palavras

Não é de hoje que a violência que ronda o futebol me preocupa.
E, ontem, ao acompanhar a eleição do “novo” presidente do Corinthians sai de lá com esse sentimento mais vivo.
Testemunhei o momento em que o Paulinho, que muita gente conhece por causa do blog, precisou de um segurança pra deixar o clube, e mais tarde de uma viatura.
Para quem não sabe de quem se trata sugiro uma visita ao seguinte endereço: oblogdopaulinho.zip.net
As palavras que no início lhe rendiam ameaças esparsas, segundo ele, hoje lhe rendem ameaças quase que diárias.
Claro, o Paulinho não foi o único a despertar a ira de certas pessoas que frequentam o clube.
Testemunhei também a saída de alguns conselheiros sob o coro de “ladrão”, mas para esses estranhamente ninguém ousou levantar a mão.
Gostaria de ser inocente a ponto de poder me deliciar com a hipótese de que as palavras têm mais força do que certos atos. Mas é óbvio que não se trata disso.É óbvio também que não dá para encarar ameaças diárias como algo normal

Novo presidente, um velho conhecido

Andrés Sanchez queria tanto ser presidente do Corinthians que colocou por terra a idéia de unir os homens que dão as cartas no clube em torno de um outro nome.
Derrotou Paulo Garcia por 175 votos a 158, e acordará nesta terça-feira depois de ter visto seu sonho realizado.
Estará cercado, no entanto, por uma realidade que mais parece um pesadelo. Para dar conta de todos os desafios que aceitou precisará de muita disposição. Precisará mais, precisará também lembrar a todo instante que, ocupar tal cargo levando em conta outros interesses será sinônimo de fracasso.
No calor da vitória Andrés prometeu até dar entrevista coletiva toda semana, o que seria algo sem precedente entre os presidentes de grandes clubes.
Tal atitude honraria parte do slogan da chapa que encabeçou: transparência.
Já com respeito a "renovação", precisará ser mais criativo, já que todos sabem que, por hora, não se trata disso.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Maracanã vivo

O Maracanã cheio já é motivo de alegria.
E quando ele além de vibrar se torna palco de um grande acontecimento,
aí dá ainda mais gosto de ver.
Para o tricolor a derrota por um a zero não muda quase nada .
Já a pegada dos rubro-negros, com certeza, poderá ser outra.
Na noite desta quinta-feira, o futebol brasileiro, com direito a uma pequena
dose de surpresa e casa cheia, respirou.
E como é bonito um estádio com direito a bandeiras.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Nosso primeiro campeão Pan-Americano

Recentemente a repórter Laís Duarte, que trabalha comigo na TV Cultura, fez uma matéria com o nadador Tetsuo Okamoto, medalha de ouro nos 400 e 1500 metros livre no Pan de Buenos Aires, em 1951.
Nela, o senhor de 75 anos, que faleceu nesta terça-feira, lia um antigo jornal que descrevia o momento em que a bandeira brasileira foi vista pela primeira vez no mastro, "batida pelo vento dos pampas e com o Rio da Prata ao fundo".
Tetsuo encerrou a matéria com uma frase repleta de saudade, dizendo:
"Só se tem dezoito anos uma vez na vida"

Tetsuo Okamoto é um desses homens que o esporte cravou na história

sábado, 29 de setembro de 2007

Sobre as nossas meninas

Antes que elas entrem em campo amanhã, gostaria de dizer algumas coisas. A primeira delas, é que me espanta a evolução técnica do futebol feminino nos últimos tempos. Mesmo os menos atentos já devem ter percebido. E não falo só do time brasileiro, não, claro. Outra coisa, é a promessa que a CBF voltou a fazer de criar uma "Liga Nacional". Enquanto não virar verdade encararei como piada.
Marta, brilhante como sempre, foi o centro das atenções, merecidamente. Mas quem viu o jogo contra os Estados Unidos teve a chance de constatar que, muito antes de começar a tornar real a inesquecível vitória, nossas meninas já davam um show de disposição, que deveria servir de exemplo pra muito marmanjo. Roubavam uma bola...vibravam! Faziam um corte...vibravam! Empolgante.
Vencendo, ou não, amanhã, tenho certeza que elas nos darão aquilo que o futebol tem de melhor: a virtude de divertir!
Confesso, torço pra elas de peito aberto, de uma maneira que nem sempre consigo fazer pelo nosso esquadrão masculino.
Sorte!!!

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Ô meu! Olha isso.

Certas situações me fazem lembrar muito de ter ouvido uma vez que a fala nos devia ser dada em metros. Assim, as pessoas pensariam mais antes de usá-la. Ou o certo seria dizer gastá-la?
Desse modo, talvez, o lance entre o lateral Dyego Rocha (Coelho), do Atlético Mineiro, e o meia Kerlon, do Cruzeiro, tivesse ocupado na crônica esportiva apenas o espaço que merecia.
Hoje, ao ler que o encarregado da defesa atleticana, ao comentar a decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, disse que o caso “merecia ter tido a oportunidade de ser mais profundamente discutido”, senti um calafrio.Chega!
O mesmo advogado chegou a alegar que Kerlon fez “malabarismos”.
Bom, o Houaiss diz que malabarismo é, antes de tudo, coisa de artista. E nosso futebol não anda em condição de dispensar artistas pelo que eu tenho visto.
Não vou comentar a suspensão de 120 dias imposta ao jogador do time mineiro, porque cabe recurso, e tá na cara que não vai ficar nisso.
Agora, o que me impressionou mais do que o ocorrido e o decidido foi a linguagem usada pela procuradoria do tribunal, que pediu a punição para evitar “a vitória de Coelho sobre a Foca, consagrando a vitória dos brucutus”.
Sem dúvida, obra de um craque das letras. Mas, infelizmente, adepto de palavras tão toscas quanto a entrada do lateral do Atlético.
Antes de encerrar, agradeço a atenção do meu colega de redação Bi Ribeiro, que podendo fazer uso de uma linguagem coloquial, chegou ao meu lado e disse:
-Ô meu! Olha isso!
Pois é, Bi Ribeiro!

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Parceiros

Não é de hoje que os times de futebol mais do que correr atrás de bons jogadores, correm atrás de bons negócios. Mas o que é um bom negócio?

No começo da década de noventa Palmeiras e Parmalat se uniram. Juntos deram o ponta-pé inicial na era das parcerias. Os resultados vieram muito antes do esperado. Títulos, fim de um longo jejum, euforia. Isso sem contar que os torcedores alviverdes falavam o nome da multinacional italiana com o carinho normalmente reservado aos ídolos.
O sucesso do Palmeiras sem dúvida teve papel decisivo para lançar outros clubes do país em verdadeiras aventuras. Vasco...Flamengo...Vitória da Bahia, e o próprio Bahia, entregaram-se de corpo e alma aos "parceiros".

O tempo se encarregou de tornar explícito o resultado dos investimentos. Centenas de milhões de reais, ao invés de salvar os clubes, os levaram ao fundo do poço.
Até o Palmeiras que parecia lucrar no início da parceria com a Parmalat acabou no prejuízo, afinal, é impossível dizer que o rebaixamento para a segunda divisão não foi, de certa forma, uma espécie de efeito colateral da união.

E ninguém mais se revelou tão propenso a esse tipo de casamento do que o Corinthians. Pretendentes nunca faltaram. Banco Excel, HMTF.

Os momentos felizes vividos ao lado do parceiro Excel quando os anos noventa caminhavam para o fim até serviram de álibi, quando o Corinthians se deixou seduzir por um novo pretendente, que todos sabiam, não era dono de bons antecedentes.
O resto da história todo mundo conhece, e o pior é que o final além de não ter nada de feliz, deixará marcas profundas por um longo tempo.

Cercado de dívidas, movido talvez pela cobiça, o Corinthians se entregou a um parceiro como quem, isento de caráter, aceita uma relação alimentando outros interesses.
Com as entranhas desse tipo de jogada cada vez mais escancaradas, resta aos torcedores duvidar daqueles que se apresentam como parceiros, como se duvida daquele jogador que acaba de ser contratado vindo de não sei onde.

A dona FIFA, com seu jeitão de senhora muito bem intencionada, está cheia de afilhados espalhados pelo mundo aceitando receber dinheiro de origem desconhecida. Só na Inglaterra tem um monte.
E mesmo sabendo que eles estão todos lá, de braços dados com parceiros que protagonizaram negociatas, violaram direitos humanos...

Dona FIFA prefere fazer de conta que não viu nada.

Ou seja, nesse mundo realmente não há antídoto para o mau casamento.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Só uma dica!

Se você é do tipo que além de gostar de futebol se preocupa com ele, saiba que neste momento o programa "Observatório da Imprensa", exibido pela TV Cultura, leva ao ar uma discussão que, com certeza, lhe interessa.
Não se acanhe, está dada a licença.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

De olho na Sul-Americana

Ao São Paulo
faltou uma dose a mais de raciocínio na hora de pensar o jogo.
Rogério esteve constante como sempre e ainda evitou um pra lá de evidente terceiro gol argentino aos quarenta e sete do segundo tempo.
O precoce Campeão Brasileiro de 2007
não conseguiu passar pela sempre viva La Bombonera
sem provar da derrota, o que nunca é pouca coisa.
Acabou vencido por 2 a 1.
O equilíbrio entre defesa e ataque
que falta ao time tricolor sobra ao Boca.
Ainda assim a equipe do Morumbi está viva na disputa.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Sobre a condição de viajante

"Viajei como um ser humano interessado principalmente em seres humanos, mas convencido também de que todas as coisas merecem ser vistas - o sublime e o sórdido, o trivial e o raro - porque tudo é expressão da vida, e um homem não deve voltar as costas à vida"

(Erico Veríssimo)

Por aí...

É isso, estou de férias. Mas o futebol está em qualquer lugar.
Passo pela porta de uma velha casa em Ouro Preto. Dois garotos conversam. Meus passos são decididos e, por essa razão, um pouco apressados. Mesmo assim dá pra ouvir um fragmento da conversa que os dois travam. Um deles diz: “O Santos é time bom, mas não segura ninguém. O São Paulo segura mais”. O bate-papo sobre quem ficará com o título brasileiro continua. Eu passo. Estou à procura da Capela do Padre Faria, que dizem, é singela e linda.
Peço que vocês me perdoem, por hora, essa falta de compromisso.
E, olha, me mandem notícias do mundo.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Levantando a bola

exatos vinte anos morria Carlos Drummond de Andrade, que na qualidade de poeta traduziu como poucos a sutileza do dia-a-dia dos homens. E, talvez até por isso, tenha se rendido ao futebol. Esbanjou lucidez ao comentar a intenção do Brasil em sediar o Mundial de 1986. Disse o grande nome da nossa literatura:
“Grande pedida para acalmar impaciência e sofrimento popular é a idéia da Copa do Mundo no Brasil... Mas até lá viveremos ao abrigo da inflação, do desemprego, da dívida externa, da confusão política e de tudo o mais que atrapalha, chateia, assusta e torna impossível a vida cotidiana. Viva a Copa”
Drummond falou da paixão nacional com candura e frieza. Diante da tragédia de 1982, terminou seu texto, depois de enaltecer Telê e aquela geração, com uma reprimenda. Já corria o mês de Agosto quando a Itália de Paolo Rossi nos eliminou, e dizia ele:
“E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano está na segunda metade?”
Enfim, saudade de um craque de quem não dá pra não levantar a bola.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Promessa de cartola

O Corinthians foi até São Januário.
Vampeta disse que iria comer bacalhau.
Saiu derrotado pelo Vasco por 2 a 0.
Ou seja, fez da entrevista pós-jogo algo indigesto.
Teve que confessar para os repórteres que estava com a espinha do bacalhau entalada na garganta.
Nada que os duzentos e cinqüenta jogos pelo clube não o tenham ensinado a tirar de letra.
A minha impressão é a de que no meio do turbilhão alvinegro esqueceram até do time, de volta à zona do rebaixamento.
Mas, a derrota ficou feia mesmo quando o Seo Rubens, o vice-presidente, afirmou de maneira categórica que “o Corinthians vai brigar pelo título”.
Aí foi demais!

O horizonte santista

O Santos teve meia hora de Petkovic na Vila, contra o Paraná.
Mas a partida passou por outros pés.
Os de Marcos Aurélio, por exemplo, autor do primeiro gol.
Como 1 a 0 no placar não garantia nada, nas arquibancadas cinco mil pagantes respiravam curto. A peleja não estava nem ganha, nem fácil. A trave livrou o Santos de levar um gol do artilheiro Josiel aos trinta da etapa final. Salvadora foi também uma defesa de Fábio Costa três minutos depois.

Há tempos o time opcional do Luxemburgo me convence mais do que o de saída. Definitivamente não entendo o futebol do Carlinhos.
Que futebol? Dirão alguns.
Bom, já corriam os acréscimos quando os pés de Kleber Pereira entraram de vez para a história do jogo. 2 a 0, fim da apreensão santista.

O time da Vila Belmiro não empolga, mas tem um elenco de boa técnica. Nas mãos de Luxemburgo pode ser o suficiente.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Um instante de graça

O "Botafogo e São Paulo", no Maracanã, chega com a virtude dos jogos que causam ansiedade.
Nobreza de peleja que você espera chegar.
Que os dois times façam jus a essa aura. Uma pena que o duelo não tenha o bom futebol do Zé Roberto, que esgotou a paciência dos dirigentes do Bota.
Até que, enfim, o Campeonato Brasileiro de 2007 gerou um fato futebolístico notável.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

A primeira impressão é a que fica

O time de conselheiros do Corinthians acaba de sair de campo. Jogou pro gasto. Com o placar de 264 a 5 aprovou o afastamento por tempo indeterminado de Alberto Dualib. Pra usar um velho chavão, "fez a lição de casa".
Se a expectativa era a de ver um bom lance, o jogo complicado deixou claro que será preciso ir além, descobrir alguém que chame a responsabilidade, alguém disposto e com fibra para fazer o papel principal. É missão dura.
Os nomes que se destacam não são revelações.
O momento mexe com o passional. A torcida se exalta, mas precisa sacar que é hora de atuar sem tumultuar ainda mais o jogo

Se conselho fosse bom...

O Corinthians não entrará em campo nessa terça-feira, 07 de agosto, mas viverá uma noite decisiva. O espetáculo, dessa vez, será obrigação do time formado pelos conselheiros alvi-negros. Se o elenco que disputa o Campeonato Brasileiro não tem sido motivo de orgulho, vale lembrar que a atuação dos homens que decidem o futuro de um dos maiores times de futebol do país também não tem se notabilizado pelo brilho. Isso porque as medidas que estão sendo colocadas em andamento nesse momento são, antes de mais nada, tardias. É preciso apressar o passo.A expectativa para esse novo encontro é de que o Conselho Deliberativo vote o impeachament do presidente afastado, Alberto Dualib. Avançar, no entanto, exigirá bem mais do que isso, até porque o Conselho corintiano parece nesse momento uma grande retranca. A prioridade é não deixar as coisas piores, ficar de bem com a torcida. Cuidar de armar a vitória que é bom, nada. Na última reunião, uma vitória esmagadora marcou a decisão de acabar com a parceria entre o clube e o fundo de investimentos, o MSI. E o que foi feito até agora, depois da decisão? Nada!Não criaram um grupo para cuidar do caso, não contrataram uma auditoria, nem sequer comunicaram o fundo sobre o final da parceria. Diram os mais espertos que isso só poderá ser feito depois de tais providências, quando o clube tiver uma estratégia jurídica definida.Claro.A torcida, que sabe muito bem cobrar os jogadores, deve fazer o mesmo com o Conselho Deliberativo que também não tem demonstrado um bom toque de bola, nem muita habilidade e, o pior de tudo, é um grupo dividido.Resta saber quem, nessa noite tão importante, será capaz de um lance de efeito -como aquele do Vampeta - pra cima dessa "situação".

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Alguém vai pagar o "Pato"...

...e não será o Milan.
O clube italiano, pelo contrário, deve fazer muito dinheiro com o investimento.
Nunca o futebol brasileiro esteve tão vulnerável. Por isso, cada promessa que sair daqui para entrar pela janela do futebol europeu fará muita falta. Será como um golpe.
O que vai ficando são clubes endividados, cartolas cheios de má intenção, rodadas repletas de jogadores medianos.
O garoto Alexandre Pato, comprado pelo Milan por 56 milhões de reais, ainda não completou um ano como profissional. Não precisou mais do que alguns meses para provar o talento e atiçar a cobiça dos dirigentes.
Estamos nesse jogo dos negócios do futebol como um time batido, goleado, sem poder de reação.
O menino, orgulho do Internacional, vai amadurecer em outras terras.
Mais uma vez quem paga o “Pato” é o torcedor.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Álcool na fogueira

Durante muito tempo a torcida e a imprensa esportiva tentaram encontrar uma explicação para o fiasco da seleção brasileira na Copa da Alemanha. Quando o assunto já era parte do passado, o próprio presidente da CBF, Ricardo Teixeira, se encarregou de reacender a polêmica jogando uma boa dose de álcool na fogueira.
Teixeira, sem citar nomes, disse que vários atletas voltavam para a concentração depois das folgas, por volta das quatro, seis horas da manhã, bêbados.
O presidente da CBF também se mostrou indignado com a forma física de Ronaldo.
Quem presenciou o "desabafo" do presidente da CBF, no lobby de um hotel em Zurique, foi o correspondente do jornal "O "Estado de São Paulo", Jamil Chade.
A matéria promete ressuscitar também a sempre indesejável "ressaca".

terça-feira, 31 de julho de 2007

Quase inacreditável

Imagine! Você está ao Norte do Deserto de Mojave, na Califórnia, quase na fronteira com o estado de Nevada, nos EUA. Um lugar onde as noites de verão facilmente atingem trinta e sete graus, principalmente no mês de julho. Um lugar onde em 1913 foi registrada a temperatura mais alta das Américas. A segunda mais alta do planeta. 56, 6 graus.
Não é por acaso que esse pedaço do Mundo ganhou o nome de “Vale da Morte”.
Agora, imagine que a única maneira de você sair dali é percorrer duzentos e dezessete quilômetros. Seu ponto de partida é o ponto mais baixo da América do Norte, 85 metros abaixo do nível do mar. Seu distante ponto de chegada está 2533 metros acima do nível do mar.
Foi esse o cenário da prova vencida na terça-feira passada pelo santista Valmir Nunes, que era um novato no desafio batizado de “Badwater”. Valmir tem quarenta e três anos, é bi-campeão mundial de ultramaratona e detentor de outras tantas marcas incríveis.
Ele não apenas venceu, melhorou em duas horas a melhor marca da prova. Cruzou a linha de chegada depois de 22 horas 51 minutos e 29 segundos.
Para se parecer um pouco com os normais, dosou a força, contornou problemas físicos, caminhou nos últimos dezessete quilômetros.
Chega a ser difícil de acreditar.

Plebiscito já!

Ricardo Teixeira convocou Romário e Paulo Coelho e foi à Suíça colocar o Brasil de vez na condição de candidato a anfitrião da Copa do Mundo de 2014. Uma festa para a qual nem o Maracanã será convidado. Muito menos o Morumbi.
Gostaria de saber quem foi o responsável pelo projeto da reforma que custou mais de duzentos milhões de reais e, ainda assim, não deixou o "Maraca" em condição de receber uma partida de Copa do Mundo. O projeto sem dúvida deu trabalho, talvez só explicá-lo seja mais trabalhoso.
Como dizem, se pênalti é algo tão importante que deveria ser cobrado pelo presidente do clube, digo que a decisão de sediar uma Copa, ou uma Olimpíada, deveria exigir um plebiscito. E não me venham com essa história de que o dinheiro não virá do governo. Posso até fingir que acredito. Mas, se vão usar o nome do nosso país, como fazem há tempos com a seleção, deveriam, ao menos, buscar legitimidade pedindo permissão.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Nada mudou

Em 2004, depois da medalha de prata em Atenas, acompanhei de perto o futebol feminino. Ainda no embalo da boa campanha nos Jogos Olímpicos a imprensa foi generosa na cobertura do Campeonato Paulista organizado logo depois, o que alimentou a esperança de mudanças no cotidiano das nossas jogadoras.
Estive em alguns jogos, senti nelas o entusiasmo, afinal, o que se propagava era que o torneio serviria como um “laboratório” para a criação do tão merecido Campeonato Brasileiro.
Elas, de novo, fizeram a parte delas, aceitaram um calendário espremido, com intervalos mínimos entre os jogos. Ignoraram as condições precárias, a falta de torcida.
E tudo deu em nada.
A realidade dos salários mínimos e de um horizonte promissor podendo ser vislumbrado somente muito longe de casa permaneceu.
Depois de todo o suor nossas meninas podem se dar ao luxo de não acreditar em mais nenhuma promessa. É perfeitamente compreensível.
Mas, continuem acreditando em vocês, e isso eu desconfio que vocês sabem fazer muito bem. Não acredito que haja campeões sem confiança.
Cristiane, Marta, Pretinha, Simone, Elaine, Aline, todas vocês, olhem pra dentro, se sintam cheias de honra. Cheguem perto do espelho, olhem bem nos seus próprios olhos, esqueçam o batom, esqueçam qualquer tipo de maquiagem, olhem somente nos seus próprios olhos e se reconheçam como as verdadeiras campeãs que são.
Lembrem dos primeiros chutes, da trajetória rebelde da bola que insistia em não desenhar a curva que vocês imaginavam, é sempre assim, até para os homens, não se iludam.
Lembrem do passado, quando vocês sonhavam com um Maracanã lotado jogado aos seus pés. Estão vendo? Aconteceu.
Tudo o mais é crueldade de uma sociedade que não aprendeu a tratar nada de maneira igual.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Uma nação ameaçada

Trata-se, sim, de uma nação. Uns, orgulhosos da lendária invasão ao Maracanã protagonizada em 1976. Outros, orgulhosos de uma certa democracia instaurada nos idos de 1983. Uma democracia cujos ídolos eram, antes de tudo, craques.
Uma nação que sofreu junta por mais de duas décadas, e se redimiu com o eterno "gol do Basilio".
A beleza da história corintiana não merecia um capítulo sobre lavagem de dinheiro, formação de quadrilha. É demais para um torcedor cuja grande aspiração era receber em troca o direito de poder se divertir, e ser feliz, vendo um jogo de bola. O fim da parceria com o fundo de investimentos MSI, aprovado pelo Conselho Deliberativo do clube na última terça-feira, promete se transformar em uma monstruosa batalha judicial que cansará ainda mais essa nação já saturada de amargas notícias extra-campo.
A próxima trama a se desenrolar, o afastamento do presidente Alberto Dualib, que insiste em se manter na presidência mesmo depois de quase uma década e meia, mexerá ainda mais com as vísceras alvi-negras.
Há tempos as jogadas políticas do time do Parque São Jorge tornaram o risco muito maior do que o de sofrer uma goleada, ser derrotado dentro de casa ou ficar oito jogos sem vencer.
As negociações galácticas se transformaram em uma enorme conta devedora. Nesse momento um time inteiro de jogadores do Corinthians está nas mãos do parceiro investidor. Nunca a música feita em homenagem ao clube pelo meu querido Carlinhos Vergueiro, que é torcedor do Fluminense, soou tão nostálgica, ou melancólica.

"Briga
sacode a poeira
levanta a bandeira
tribo soberana
mais que brasileira
és corintiana
tú és
a mais bonita das nações"

Diante de toda essa confusão, e da dívida milionária, resta a esse grande símbolo do futebol brasileiro, a esperança de uma torcida fiel, a história, a tradição. Coisas que ninguém rouba.

Adeus tabu

Nós escalamos a seleção sub-17 no futebol
Os EUA a sub-22 no basquete, e ainda eram favoritos.
Mas, do outro lado da quadra, encontraram um time Uruguaio disposto a vencer.
Restavam quarenta e seis segundos, e a desvantagem era de seis pontos, quando o juiz “achou” uma falta antidesportiva para os EUA
Nem assim. Vitória Uruguaia por 81 a 72
Jogo com emoção até o último segundo.
Foi a primeira vitória do Uruguai sobre os Estados Unidos na história do Pan, e ajudou a dar um clima para o torneio de basquete masculino.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Ouro e acrílico

Nas competições esportivas a medalha é a parte palpável da glória. O suor secará, os olhos no futuro já não poderão mirar o adversário, as testemunhas todas hão de se dispersar pelo mundo. Alguém esquecerá de guardar a manchete do jornal, as lágrimas da vitória não serão mais do que memória. A medalha, não.
Será tratada por cada campeão como relíquia. Nas mãos de cada vencedor será a principal prova do feito heróico, da superação, do êxito. Cansei de vê-las, penduradas, com seus cordões bem cuidados, em caixas de veludo, sem jamais perder o ar de tesouro.
De certo surgiram porque, um dia, o homem se viu diante da necessidade de materializar o que o espírito sentiu de maneira triunfante. Nasceu, então, a medalha. Forjaram-na de metais diferentes e reservaram o mais nobre deles para os melhores.
Por isso, tem me intrigado demais ver medalhas revestidas de acrílico, ou sei lá o que. Algum designer sábio, com apenas um traço na prancheta, isolou esse pedaço de metal repleto de simbologia da pele de cada campeão revelado no Pan do Rio.
Será que nenhum vencedor, tomado pela vibração insana de uma conquista, teve o ímpeto de tentar descascá-la?


* Até agora, pelo que li, cinco medalhas recebidas pelos atletas no Pan quebraram.

terça-feira, 24 de julho de 2007

orgulho ferido

Tenho uma sugestão sobre o refrão que a torcida consagrou

“sou brasileiro/ com muito orgulho/ com muito amor”

Como o país não está jogando bem...

Sai: com muito orgulho

Entra: “Sou brasileiro.../com muito amor”

É isso!

Nosso vôlei em quadra

Sem moleza até os 17 a 17
e tendo que agüentar o braço pesado dos cubanos
Tranqüilidade, vibração, e muito jogo
25/23 Brasil
1 a 0

Set dois.
Giba dando aula de tempo de bola
Cuba 8 a 5
Dante acerta a mão no saque
Rede no saque seguinte!
Largadinha pra fazer 23 a 18 é sempre bom
Na seqüência, um rally fenomenal
bola de Cuba
set do Brasil
25/20



O terceiro set começa com boa vibração
Rodrigão e Giba mantém o ritmo
Brasil, 11 a 8
Tempo
Cubanos se olham com cara de interrogação
Brasil, discretamente se impõe
20 a 15.
Daí pra frente foi só mais um embalo
O placar adversário nem se mexeu
O nosso se repetiu
25 a 20Brasil
três a zero em cima de Cuba

Estamos na semifinal

É fogo...

Quer dizer que onze dias depois de ter sido acesa a pira pan-americana apagou?
Sei.
Como a organização do evento não queria se queimar, foi logo dizendo que não era bem assim. A "pira" só estava em manutenção para a festa de encerramento, e por isso, mantida no mínimo. Mínimo mesmo, né? Não dava nem pra ver.
Agora, a justificativa foi o máximo.

sábado, 21 de julho de 2007

O Pan e a democracia

Nesses últimos dias, em que as páginas dos jornais se encheram de outros esportes, e nomes tão pouco pronunciados, como Diogo Silva, Rebeca Gusmão, Kaio Marcio, Jade Barbosa, nos chegaram aos ouvidos ditos com uma vibração geralmente reservada só aos que costumam brilhar pelos gramados do país, ficou claro, podemos ir muito além da bola de futebol.
Se você é do tipo que gosta de esporte, e arrumou um tempinho pra parar diante da TV, seja onde for, com certeza neste momento traz na memória a lembrança de uma emoção que nasceu com uma bola de handebol, no tatame ou na piscina. Por um breve instante que tenha sido, ver aquela toquinha verde e amarela avançando dentro da água foi como ver o atacante do seu time caminhando com a bola dominada em direção ao gol. Por um instante, as piruetas cheias de ousadia dos nossos ginastas o fizeram prender a respiração, como se faz no momento em que a bola explode na trave.
Não sou um deslumbrado, nada disso. Faço parte do time daqueles que esperam que a promessa de um certo senador, de que a batata do Pan irá ao forno tão logo se apague a pira olímpica, seja cumprida. É uma questão de saber cuidar bem do nosso “ouro”. Mas, aí se trata de um outro jogo, que também farei questão de acompanhar.
A minha torcida, por enquanto, é para que novos campeões e ídolos ganhem fôlego, afinal, nesse país em que o futebol reina sozinho, para alegria dos cartolas, um pouco de concorrência não faria mal.
Acredito que hoje, os cadernos de esportes recheados de tantas modalidades, desfrutando de espaços incomuns, carregam consigo um exercício de democracia.
E a democracia, como já ficou claro desde a abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio, nos dá o direito de cobrar e vaiar.

O dia...

Atendo o pedido de um grande amigo, e publico abaixo um texto que narra algumas memórias sobre futebol que trago da infância.


O dia em que me tornei...



Quando penso na minha infância percebo como a bola foi a minha grande companheira. Uma realidade que eu acredito me aproxima de muitos meninos do meu país, e do mundo. Não sou capaz de dizer, nem mesmo, quando se deu o primeiro contato com essa coisa redonda, provavelmente de tão cedo que o fato ocorreu. Mas, posso lembrar perfeitamente como se deu o encantamento por ela. E nesse processo de descobrir a bola, você sabe, é possível imaginá-la em qualquer objeto que tenha essa forma. Quem já não ensaiou um drible ao se deparar com uma bolinha de tênis? Uma bola de meia? Uma bola de papel, e até uma laranja?
No prédio que eu e meu irmão morávamos havia outros dois irmãos, Vitor e Marcelo. Os três foram os amigos com quem mais joguei bola na vida. Dividiram comigo todas as fases dessa descoberta, a bola de meia, a de tênis, e também os momentos em que o bate bola foi se revelando despretensiosamente sério. Vieram, então, os rachões na rua, os duelos com a rua de trás. Foram, por sinal, os duros duelos com a “rua de trás” que me fizeram descobrir a satisfação plena de vencer uma partida de futebol. Nem sempre acontecia, mas quando acontecia...era demais. O sorriso no rosto de cada um, a conversa depois relembrando os lances. Vencer significava também uma superação física, já que os jogos eram, muitas vezes, cheios de empurra-empurra. O time da rua de trás não era só vigor, não. Tinha uns caras bons de bola, o Claudinho era um deles. Nossa esquadra também tinha lá seus nomes. Lembro de um em especial, o Zé Carlos, um mestiço de pernas tortas que era complicado de encarar. O Zé, além de marcar os jogos, era quem guardava a bola doada pra garotada pelo famoso árbitro Romualdo Arpi Filho. Romualdo, quando não estava apitando, tocava sua imobiliária que ficava perto da linha do trem, ao lado da padaria.
Depois vieram as peladas na praia, os jogos “clássicos” disputados aos sábados. Na praia, muitas vezes as turmas de amigos acabavam misturadas na hora de formar os times.
Agora, o auge das peladas da minha infância foi enfrentar o temido Pireli, time que tinha campo e tudo. O campo ficava muito abaixo do nível da rua, em um terreno baldio. Era preciso descer um barranco pra chegar até ele. Era uma espécie de Bombonera feita de barro. Bom, essa era a arte de jogar bola. Mas, foi com meu pai que eu descobri a arte de apreciar o jogo. Era programa certo! No final de semana, em geral depois do almoço, Seo Ary pegava eu e meu irmão e procurava uma partida de várzea pra assistir. Não eram poucos os jogos de várzea naquela época, dava pra escolher, se sabia qual era o time sensação, onde estava o artilheiro, que partida era importante pra decidir a temporada. Na várzea, a maior parte dos campos ficava em lugares abertos, meu pai então chegava, estacionava o carro perto da lateral e sentávamos no capô, o que evitava problemas caso o clima esquentasse. Lembrando, hoje, tenho até a sensação de que o capô da velha Brasília era confortável.
E lá íamos nós atrás do Itararé... do Paulistano... do Beija-flor...do Continental...
Como muitas das ruas em que joguei quando criança eram de terra, isso de certa forma parecia me aproximar das emoções descobertas naqueles campos de barro vermelho.
Nas décadas seguintes a expansão imobiliária tomou o espaço, e muitas equipes da várzea foram obrigadas a migrar para as areias da praia. Estou contando esses detalhes, porque o time que escolhi pra torcer é praiano e, de certa forma, esconde, na essência, um pouco de tudo isso. Evidente, como todo santista já fui chamado de viúva do Pelé, mas devo confessar que naquela época, nos idos de 1978, minha inocência me impedia de compreender a importância do Rei do futebol. Pelé era pra mim apenas um jogador famoso que vira e mexe aparecia no “Canalonga”, um alfaiate que trabalhava em uma casa na Praça do Correio. O que eu sabia era que toda vez que o Pelé pintava por lá causava um reboliço danado na porta da escola. Seja como for, cheguei a dar um aperto de mão nele, levado pela minha mãe.
Como é bom recordar. Veja só! A praça da escola tinha uns bancos que eram, na verdade, duas traves perfeitas. Só não via quem não era moleque, ou não gostava de futebol. Osvaldo, chegava todos os dias com sua pasta e seus óculos quadrados enormes, e com uma disposição tremenda colocava aquele campo quase imaginário pra funcionar. Ele se encarregava também de trazer a bola (de meia). Essa bola tinha que ter um tamanho perfeito, porque precisava ser guardada no final, quando soava o sinal de entrada. Tinha que ir pra classe com a gente.
Cresci ainda mais, e os finais de semana de futebol com meu pai já não se limitavam à várzea. O Jabaquara e, principalmente, a Portuguesa Santista passaram a fazer parte do roteiro. Ir ao estádio da Caneleira, a casa do Jabuca, em dia de chuva exigia determinação. O apogeu do time amarelo e vermelho tinha ficado pra trás, a equipe oscilava, mas levava na alma o que faz qualquer clube se encher de orgulho: os duelos eram apaixonados e apaixonantes. Já Ulrico Mursa era um campo de verdade, arquibancadas grandes de alvenaria, todo murado, e repleto de tremoços, muitos tremoços, uma semente amarela cozida e conservada em sal. A pipoca perdia de goleada por lá. No estádio Ulrico Mursa a emoção se tornava ainda maior, torcedores desesperados andavam de um lado para o outro, quase sempre sem conter o palavrão, e eram o espírito da Portuguesinha, ou “Briosa”, como muitos preferem. Hoje, entendo porque meu pai talvez não fizesse muita questão de me levar à Vila Belmiro. No fundo, no fundo, ele torcia para um clube da capital. Mas quem não queria ver um jogo de uma equipe que tinha ficado conhecida no mundo inteiro?
Ainda bem que nem meu pai resistiu a essa tentação, e meu dia de entrar na Vila Belmiro chegou.
O jogo era de noite, o que já mudava muito a atmosfera. Como mágica, as luzes dentro do estádio faziam parecer dia claro. Jamais imaginei que a entrada de um time em um gramado pudesse ser tão grandiosa.
Não, não era um clássico! O adversário era o modesto Comercial, de Ribeirão Preto. Não importava, meus olhos viam um brilho especial em tudo, e me fizeram acreditar que eu estava diante do maior evento futebolístico do planeta. Em campo, Pita, Nilton Batata e Juary. Aquele time chamado de “Meninos da Vila” era a visão do que o futebol representava pra mim, brincadeira, emoção, magia.
Pô, e ainda tinha o Juary, o jogador do momento, motivo de exaltação da torcida, que gostava de comemorar seus gols dando voltas frenéticas em torno da bandeirinha de escanteio. O Santos venceu por cinco a zero. Juary fez dois.
E pensar que outro dia entrei no site oficial do Santos e nome dele nem estava na lista de ídolos do clube.
Tudo era espetacular, o som do apito do juiz, a expectativa gerada por uma iminente cobrança de falta, aquela coisa de todo mundo levantar repentinamente das cadeiras quando a bola se aproximava do gol. Todos esses detalhes davam ao jogo de bola uma dimensão que eu jamais havia imaginado.
Hoje, entendo que o fator decisivo pra eu virar santista foi o fato de que sentia todos os outros times, por maiores que fossem, totalmente distantes de mim. Mas, o Santos, não. O Santos estava ali, ao meu alcance. É o time que eu acompanhei e o time que me acompanhou. Naquele dia, antes de me levantar para ir embora, olhei bem ao redor, sabia que aquelas jogadas frescas na memória virariam inspiração para tratar a bola pelas ruas nos dias seguintes.
Passei pelo portão de saída de maneira reverente. Meu pai me levou à Vila Belmiro outras vezes, mas aí eu já tinha “um” time. Hoje, aqui no futuro, sei que o dia em que eu virei santista foi o dia em que descobri o futebol por inteiro.