terça-feira, 31 de julho de 2018

Felipão, Cuca, Neymar !




Desde aquela velha questão, pra sempre sem resposta, que nos incita a dizer se técnico ganha ou não ganha jogo até as mais elaboradas e modernas teorias sobre o papel e a importância deles há a realidade nua e crua a se impor sobre o assunto. Falo de algo evidente,  o fato de que mesmo contra a vontade deles muitos são vistos como um remédio infalível para aplacar certas dores de barriga. Em suma contrata-se , acima de tudo, a figura, o personagem. Daí vir a ser normal que os mais indicados para esse tipo de uso tenham perfil disciplinador, personalidade forte. E como não é possível adequar tudo, boa parte das vezes, o contratado não se mostra afinado com a proposta de jogo e de administração que o clube vinha praticando até a chegada dele. 

Na minha modesta opinião talvez esta seja a melhor forma de explicar a contratação de Luiz Felipe Scolari. Não se trata de dizer se esse tipo de escolha dará resultado. Até porque, ao menos por aqui, o remédio verdadeiramente infalível para todas as dores, inclusive as de cartolas e treinadores, atende por outro nome: resultado. É sabido que Scolari tem uma longa  história com o Palmeiras, mas é justamente essa história que explica e justifica o descontentamento e a desconfiança de parte da torcida alviverde neste momento. Estão lá guardadas no tempo as conquistas e seu peso enorme, como lá estão também muitos outros detalhes para se levar em conta, inclusive, aqueles que se deram além dos limites da própria Academia.


Mas se a contratação de Luiz Felipe Scolari tem entusiastas e descontentes a contratação de Cuca, para comandar o Santos pelo que senti fez a maior parte dos torcedores santistas respirar aliviada. A apreensão pelo anuncio do novo treinador só se agigantava  e tinha ares de temor. Ainda que seja preciso admitir, contudo, que a figura de Cuca tenha também certo ar medicamentoso. Na década que separa a primeira passagem dele pela Vila e esta volta Cuca se consolidou como um dos grandes treinadores do país. Conquistou a Libertadores com o Atlético Mineiro, o Brasileiro com o Palmeiras, foi trabalhar no futebol chinês. Mas quando passou pela Vila na primeira vez viu o time entrar na zona de rebaixamento logo depois da primeira partida e foi embora quatorze jogos mais tarde sem vê-lo sair de lá. Jair Ventura também parecia uma contratação certeira dirão os pessimistas. Mas seria imprudente não reconhecer que Cuca tem muito mais janela, está nitidamente em outro patamar. A semelhança reside apenas no fato de que uma vez mais ele chega ao time santista quando a situação exige um trabalho como um quê de salvamento. 


E o mesmo pode ser dito de Neymar que precisa ser salvo, urgentemente, dessa sequência de bolas fora que parece não ter fim. Sei que o jornalismo soa cada vez mais como um intruso no mundo do futebol, mas jamais vou considerar normal que alguém tido como o grande nome do futebol brasileiro na atualidade não tenha tido a hombridade, ou dignidade, de conceder uma entrevista coletiva até agora, quando já se faz tarde demais. Porque falar com a imprensa quando se está em um evento do próprio Instituto ou tentar dialogar com o mundo através de uma propaganda ou do Instagram é outra coisa. E visivelmente não é a solução. O remédio aliás, nesse caso, é um só também: jogar muita, mas muita bola. 

quarta-feira, 25 de julho de 2018

O reino do futebol

 
O reino do futebol profissional é impiedoso. Dado a fazer pouco caso da lógica. Cruel com os inocentes. Se é que eles existem por lá. Tudo bem, há alguma verdade escondida nas entrelinhas quando se diz que hoje em dia não tem de essa de amor pela camisa, que o vai e vem de jogadores não deixa nem os torcedores saberem de cor qual a escalação atual do time para o qual torcem. Mas infinitamente mais certeiro, no entanto, seria apontar o dedo para os homens que comandam o jogo. A nenhum deles interessa verdadeiramente que um jogador permaneça durante toda a carreira no mesmo clube, e muito menos que a rotação de atletas sob sua tutela se modifique tão lentamente que permita ao torcedor reviver a sensação de ter seu time titular na ponta da língua. O motivo é simples e vale pra qualquer coisa em que esteja sob os efeitos dessa entidade abstrata e poderosa chamada mercado: a roda tem de girar. 

O desmanche que maltrata o torcedor é o mesmo que enriquece os homens da bola. Até porque quando se desmonta um time é preciso refazê-lo. E a possibilidade de faturar ocupa as duas pontas do negócio. Nos últimos dias, quando se falou muito sobre a saída de Rodriguinho do Corinthians, ouvi gente aqui e ali fazendo questão de lembrar que em boa parte das vezes o próprio jogador tem interesse em sair. Difícil resistir a tamanhas cifras. Mas nesse caso também vale fazer certas ressalvas. A realidade que se impõe no caso é aquela na qual quem pode mais chora menos. Poucos são os atletas com cacife para encarar esse jogo em pé de igualdade. Em linhas gerais a coisa só se decide de maneira boa para a parte dita mais fraca quando se junta a fome com a vontade de comer. Ou seja, quando os interesses do cartola ou do clube coincidem com os do jogador. 

Esta aí o Dudu do Palmeiras pra provar a teoria. Dias atrás o atacante palmeirense confessou que gostaria de ter tomado outro rumo depois de ter recebido uma sedutora proposta do futebol chinês. Tão logo fez a confissão tratou de ressaltar ao repórter que o entrevistava que tinha ficado triste, sim, não que estava. Era coisa pra fazer a vida. É claro que o clube deve ver o lado dele. Notem que estamos aqui falando de dois casos de natureza diferente. Mas se defender posições é do jogo o que quero salientar é que enquanto uns lamentam outros esfregam as mãos. 

E não quero me despedir sem falar da saída de Jair Ventura do Santos. Fosse eu dirigente na época teria feito exatamente o mesmo. O trabalho dele à frente do Botafogo foi de encantar. E era mais do que suficiente para avalizar a contratação. Jair cometeu erros, não deu liga, sei lá, mas também foi prejudicado por essa realidade de mercado. De partida, fez questão de lembrar que do ano passado pra cá vinte e três atletas deixaram o Santos. Outra coisa que pouca gente percebeu é que aquele Botafogo, além de bem dirigido viu certos jogadores, não uns, mas vários deles, vivendo momentos que muito provavelmente foram os melhores que tinham vivido até então. Comparando um elenco com o outro era possível concluir que uma vez na Vila Belmiro o jovem treinador teria tudo para ir mais longe. Ocorre que o momento de alguns jogadores do elenco que ele chegava para comandar viviam um momento totalmente oposto, mostrando  um futebol opaco como jamais tinham mostrado. Por isso achar que o Santos poderá ir muito longe  com o elenco jogando o que jogou até o último final de semana beira a ilusão. 

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Sentimento pós-Copa


É engraçado que  esteja tão viva em mim a sensação do bode que se apoderou da torcida brasileira depois de terminada a Copa do Mundo que foi disputada por aqui. Nem de certos jogos restou recordação tão duradoura. E olha que depois do que vivemos diante da Alemanha seria para dar graças a Deus por ter o Brasileirão de volta. Mas não foi o que se viu e sentiu, como talvez o nobre leitor também lembre. Nos últimos dias, em momentos diferentes, me perguntaram ou me instigaram a dizer o que tinha achado da Copa que acaba de entrar para a história. Dizer que foi melhor que a disputada por estas bandas poderia se revelar impreciso. O calor do momento pode causar sérias distorções na análise. Ouso dizer, no entanto, que o Mundial da Rússia, foi simpático, exalou um magnetismo. Amparado provavelmente nos cenários e na história local riquíssima.  

Do ponto de vista técnico e tático me parece distante de conseguir  um lugar de destaque na história. Se analisado com algum rigor talvez tenha sido na verdade mais o ocaso do que a aurora de certas ideias a respeito do futebol. O jogo cadenciado e a veneração pela posse de bola são alguns exemplos do que tento dizer. Fato é que desde a última segunda-feira quando os principais times do país voltaram a campo há uma suave angústia nos cercando. Ou seria impressão? Sem contar que o período da Copa, no fundo, serviu para tornar evidente como são tratados com infinitas diferenças os campeonatos brasileiros de  outras divisões. Davam o futebol brasileiro como parado quando na verdade sua versão B seguia adiante. 

Se escolho o tema é porque alimento aqui comigo certa curiosidade sobre o sentimento que nos aguarda nos próximos dias. Na teoria o futebol deveria melhorar depois do tempo que  as equipes tiveram pra treinar. Mas sabemos todos que o jogo de bola não é uma ciência exata. A rodada que o Brasileirão nos reservou parece com vigor para não deixar que certo bode volte a se abater sobre nós pós- Mundial. Depois de clássicos como esse que se deu ontem à noite no Maracanã entre Flamengo e São Paulo, hoje a outra metade da rodada se desenrolará.  E se Vasco e Fluminense nesse volta partirão de posições na tabela que não temperam muito o embate, Santos e Palmeiras devem ter sobre si um pressão considerável. O time da Vila que descansou este tempo todo em um incômodo décimo quinto lugar enquanto o Palmeiras seguirá tendo sobre si uma cobrança que há tempos tem feito qualquer mínimo percalço ter um ar de tragédia. 

E pra fechar essa rodada de retomada  a Arena da Baixada será palco de um encontro do Atlético Paranaense com um Internacional que ao sair de cena era promissor e passou esse período de Copa com lugar garantido no respeitável G4.  Já o Atlético, um dos primeiros a voltar a campo, mandou embora o técnico Fernando Diniz nessa parada e três dias atrás foi eliminado da Copa do Brasil, além de ocupar a penúltima posição da tabela no Brasileirão, minando a proposta de jogo sempre muito original de seu ex-treinador. Pedir à torcida do Furacão que reconheça a coragem de Fernando Diniz, que poderia muito bem ter aberto do mão do que pensa para manter o emprego, seria pedir demais. Ou seja, a fatia mais cortejada do futebol brasileiro está de volta, seduzindo o grosso da mídia. Resta saber se terá brilho suficiente pra não nos fazer sentir de novo aquele velho sentimento vivido por muitos de nós há quatro anos.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Futebol na Casa das Rosas


Dia Mundial do Rock






                                                                           Assista
                                                                      Led Zeppelin

quarta-feira, 11 de julho de 2018

O árbitro de vídeo

Rivellino me disse outro dia que considera o VAR, o árbitro de vídeo,o grande personagem desta Copa. Eu fiquei matutando. Fato é que o futebol nunca saiu do controle dos poderosos. E seu instrumento-mor de comando sempre se chamou arbitragem. Um mecanismo capaz de domar até o que é o grande diferencial desse esporte: a capacidade de fazer triunfar um escrete improvável. Qualidade que o faz ainda maior e que a torcida venera, ainda que reze pra que não venha a vitimar seu time. Há também os sorteios, os regulamentos, mas esse é outro papo.  

Pensem se haveria alguma possibilidade de um árbitro um tanto rebelde vir a ser um árbitro FIFA. Ter certo comando da arbitragem não é algo que se dá de modo claro, obviamente. E pra bom entendedor meia palavra basta. O futebol pela sua natureza talvez dispense até as palavras. Acho até que já propus cena parecida aqui em outra ocasião. Mas imagine o Infantino, presidente da FIFA, em uma recepção oficial, pouco antes de uma grande decisão conversando sobre o confronto e deixando claro que seria muito bom se tal seleção ganhasse. Depois, como quem não quer nada, na hora de se despedir do árbitro que em breve apitará tal contenda se despedisse dele dizendo - simplesmente -  que espera que ele faça um bom trabalho. 

O que uma frase dessa poderia sugerir? O que teria a intenção de comunicar? Colocaria em risco a tranquilidade de queM estará com o apito? Por essas e outras, penso eu, se quisermos um árbitro de vídeo verdadeiramente justo o ideal seria tirar o poder de decidir quando ele será usado das mãos daqueles que sempre foram os donos dessa possibilidade. E nem vem ao caso aqui lembrar de certos lances, como aquele pênalti escandaloso do alemão Boateng em cima de Berg, jogador da Suécia. O tipo de lance que qualquer um revendo a imagem daria o pênalti. Mas não deram. Eu, de minha parte, digo que usado desta maneira o árbitro de vídeo, no mínimo, seguirá sendo visto com reservas.  

Talvez o jeito seja dar aos times a possibilidade de pedir a revisão. O que foi sugerido por um outro amigo interessado no tema. Acho que a maior prova de que o árbitro de vídeo pode ser manipulado reside, por exemplo, na  constatação de que o mesmo foi infinitamente menos usado a partir do momento em que a Copa entrou numa fase, digamos, mais delicada. Talvez tenha sido por prudência. Vá lá. Mas uma certa hibernação é evidente. Trata-se, neste caso, da velha necessidade de não só ser mas parecer correto. Ainda que a CBF e os clubes não tenham chegado a um acordo sobre a conta a pagar, mais cedo ou mais tarde o futebol brasileiro terá de lidar com ele. Não custa ir refletindo sobre. 

No mais, da Seleção Brasileira teremos tempo pra falar. Deixo claro que sou do time que daria mais uma Copa ao Tite, com ressalvas, mas daria. Já o vivido por Neymar deixa no ar, sugere, que na ausência de um futebol grandiosos, o comportamento de um craque pode lhe corroer a imagem. A lembrança de Maradona me faz crer que  só quando o futebol é maior do que as pisadas de bola há alguma possibilidade de perdão. Mbappé, menos, mas também. Agora, não esperem que eu venha a dizer um dia o que é bom comportamento, ou como alguém deve se comportar. Neymar parece estar pagando um preço caro pelo seu.   

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Futebol moleque


Teve gente que se incomodou quando em um dos gols do Brasil o lateral Marcelo chegou no autor do mesmo, Philippe Coutinho, dando um tapinha seco no pescoço dele.  Eu me lembrei dos meus tempos de menino. Achei interessante. Tudo que o futebol tem mostrado é que não permite pontes com o tempo em que o jogo de bola era só uma diversão. Coisa que em algum momento, ainda que breve, ele foi pra muitos de nós e para qualquer um dos que defendem a camisa do Brasil na Rússia neste momento. Poderia ter sido coincidência, mas não. 

Eis que no jogo entre Dinamarca e França vejo uma verdadeira roda em volta do garoto Mbappé lhe enchendo de petelecos. A imagem recuperada em câmera lenta escancarava a brincadeira. Mostrava que eram petelecos daqueles pra valer. A orelha do camisa dez francês ia se dobrando ao toque de cada dedo. O peteleco talvez seja a maior prova de que um time anda bom de astral. É um ato que exige cumplicidade. Intimidade. De outro modo vira briga. Ou virava na minha época. 

Mas a fase de grupos se foi. Os jogos foram ficando cada vez mais sérios, pesados. De modo que não voltei a ver nada nessa linha de lá pra cá, nenhum sinal que pudesse me fazer manter a crença de que no fundo, existe sim, algo que liga o mundo do futebol endinheirado à sua versão mais simples. Algo que sugerisse que de alguma forma o futebol moleque resiste, apesar de tudo.  Interessante destacar que que esses lances foram protagonizados por duas seleções que podem vir a se encontrar em uma das semifinais e não deve ter sido por acaso. 

Rápido e leve o time francês envolveu os argentinos tendo como alma as disparadas de Mbappe que, de certo modo, não deixam de ser um tipo de travessura. E o cascudo time brasileiro, se bem observado, deixa transparecer também certa meninice, especialmente na ginga insistente de outro camisa dez, Neymar.  Um Brasil e França, portanto, me faz crer que teria muito mais a oferecer do que um encontro com os uruguaios, de onde é bem provável veríamos ( ou veremos) brotar um jogo mais bruto, repleto de cenas, verdadeiros teste para a verve dramática e teatral de jogadores como Suárez e Neymar. 

Mas pra chegar lá será preciso amanhã à tarde tirar de cena o time belga. Apesar do rosto de menino do talentoso De Bruyne, a quem tempos atrás dediquei todo este espaço, há ali algo de pragmático. O que faz o jeitão de Bruyne parecer mais um disfarce. Até porque ele tem vinte e sete anos e um futebol de gente grande, muito grande. Detalhes técnicos e táticos à parte, a Bélgica tem alma inglesa. E no futebol inglês como é possível notar, muitas vezes até os mais jovens tem ares de senhores. Uma da provas é o outrora cortejado Wayne Rooney.  E não é por acaso. 

Roberto Martínez o espanhol que comanda a seleção belga jogou e consolidou a carreira como treinador na terra da rainha. Além disso, é lá que atua a maioria absoluta de seus titulares. Martinez assumiu o cargo três dias depois de Tite e como ele sofreu até aqui apenas uma derrota. Não fosse essa Copa tão surpreendente diria com mais convicção que o Brasil carrega certo favoritismo, como não é digo que o desafio de Tite para seguir adiante será provar que foi capaz de encontrar a medida ideal de racionalidade para um futebol que sempre teve alma de moleque.