quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Um recorte do Brasil atual

J.Ricardo / Estação Conteúdo

Dois episódios ocorridos nestes últimos dias do ano são exemplos da nossa realidade social refletida no futebol. O primeiro, a selvageria registrada nos arredores e na entrada do Maracanã no dia da final entre Flamengo e Independiente, da Argentina, pela Copa Sul-Americana. Onde vimos um descaso, um despreparo total das autoridades e instituições envolvidas para lidar com a crueldade desses dias que correm. Faz tempo que gente mal intencionada descobriu que invadir o Maracanã à força é possível.  Aliás, até os chilenos sabiam disso. Durante a Copa realizada aqui uns cem se reuniram por ali e simplesmente dispararam estádio a dentro via Sala de Imprensa, levando pânico aos que trabalhavam no local. 

Em agosto, num Flamengo e Botafogo, as cenas foram as mesmas de agora. Torcedores enfrentando a Polícia Militar, invadindo o estádio. Sem contar as confusões geradas por ingressos falsificados, outra constante. Em setembro se deu o mesmo. Na final da Copa do Brasil, antes de Flamengo e Cruzeiro entrarem em campo, balas de borracha, invasão e torcedores dentro do estádio colocando grades abaixo para mudar de setor. No caso mais recente, esse da Copa Sul-Americana, quando o clube rubro-negro e a Polícia discutiam para descobrir o menos culpado, ficamos sabendo que as barreiras montadas para impedir que torcedores sem ingressos chegassem até o estádio estavam fadadas ao fracasso porque era simplesmente impossível saber se os cartões que a multidão ia apresentando estavam, ou não, carregados com os ingressos. 

Tão lamentável quanto a falta de métodos eficazes para evitar que assistir um jogo de futebol não seja um risco de morte é a atitude selvagem de quem se apresenta ali para se aproveitar, para roubar, para brigar, deixando milhares de inocentes com a vida por um fio. Gente que, imagino eu, no cotidiano miúdo vive dizendo que o país precisa mudar. 

E o outro episódio pontual foi a punição imposta pela FIFA ao presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, impedindo o cartola de realizar por noventa dias qualquer atividade ligada ao futebol. Ora, nem o mais inocente dos torcedores é capaz de acreditar que o dirigente não segue mandando em tudo. O jatinho e helicóptero da entidade, como foi noticiado, seguem à disposição dele, replicando o mesmo teatro que se vê encenado em outras áreas. Na política, por exemplo. E assim a violência dos que roubam, dos que causam desordem, vão fazendo do nosso cotidiano algo cada vez mais bizarro. Quando uma sociedade adoece, como adoeceu a nossa, esperar que o futebol melhore beira quase o egoísmo. É preciso, bem antes disso, salvar de um colapso total este país que na próxima Copa será chamado de o mais vencedor da história. 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O melhor seria não dizer nada


A frase de Luigi Pirandello me voltou à memória quando lia sobre o burburinho provocado pelo técnico do Grêmio ao dizer que jogou mais do que Cristiano Ronaldo. Cristiano Ronaldo que, por sua vez,ao receber a quinta bola de ouro dias atrás afirmou ser o melhor da história. 

"Tem ideia de quanto mal nos fazemos por essa maldita necessidade de falar?"

E viva Pirandello!


   

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Ademir da Guia e Rivellino no Cartão Verde !


Hoje teremos o prazer de ver, lado a lado, dois dos maiores nomes que o futebol brasileiro já teve. O programa é exibido, ao vivo, pela TV Cultura, às 22h30. Venha bater uma bola com a gente?

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Futebol, quanto mais a gente conhece...

Martin Fernandez/GloboEsporte.com 

Uma coisa é se divertir com futebol. Outra, bem diferente, é tê-lo como matéria de ofício. E a diferença inquietante entre as duas coisas é que no primeiro caso podemos abstrair o todo, no segundo, jamais. Não foram poucas as vezes em que me senti como um perverso desses capaz de tirar um sorvete da boca de uma criança. E isso nunca foi premeditado. O que se dá é que muitas vezes o papo começa despretensioso e na empolgação você vai dividindo com o interlocutor detalhes que costumam ser esquecidos e quando se dá conta o papo já virou meio policial, com enredo que só a máfia sabe emprestar a eles. 

Foi por isso que cunhei a frase, cujo trecho usei acima como título. Frase que é a seguinte: Futebol, quanto mais você conhece mais difícil fica de gostar. Foi o jeito que encontrei pra tentar resumir o sentimento que me assola quando sou obrigado a lidar com esse lado nada nobre do mundo da bola. O que, devo dizer, costuma acontecer com frequência. Ainda mais agora quando temos um ex-presidente da CBF sentado no banco dos réus lá em Nova Iorque gerando manchetes quase diárias com novos detalhes sobre o que vem à tona toda vez que um dos envolvidos no caso é chamado pra se explicar. 

Creiam, nada disso causa espanto em quem está habituado a conviver com os detalhes desse universo. Agora, confesso ter sido surpreendido pelo fato de alguns meliantes terem sido levados para a cadeia por fazerem parte de um esquema de repasses de ingressos de futebol para torcidas organizadas. Pois se os papos sobre propinas milionárias sempre circularam por aí em tom de verdade esse esquema dos ingressos idem. E até hoje absolutamente nada de significativo tinha sido feito. Levada às últimas consequências isso significaria uma limpeza considerável no meio. 

Há muito pra ser feito. Inclusive, despertar em cada torcedor a importância de separar o  futebol da política. Evitar que ele seja usado com esse fim. Até porque está pra nascer um administrador no meio futebolístico com capacidade para melhorar nosso quadro politico. Ao menos entre os que usam o jogo de bola como trampolim. Vejam o caso de Andrés Sanchez, deputado federal e candidato a presidente do Corinthians. Ao ser perguntado se pedirá licença, caso seja eleito, afirmou que o faria no dia seguinte, para em seguida dizer que ficaria no comando do clube quatro, cinco meses e depois veria o que fazer. Um desavisado torcedor corintiano pode achar que de qualquer modo terá seus interesses cuidados. Se não como cidadão, como corintiano. Mas se alguém ainda é capaz de votar pensando no time que torce, como diria um velho amigo, parei.   

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

A arte de Jozef Israels - 1824/1911

Children Of The Sea Paintings


                                   *  clique na imagem

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Personagem: Jair ventura



A reta final do Botafogo nesta temporada soou como um desajuste. O futebol não prima pela justiça, todos nós sabemos. De outra forma o time carioca teria merecido mais. E quem dirá que deixar de contar, em momento chave, com um jogador vivendo a fase que vivia o Roger não é um baque ? E Jair teve de lidar ainda com outras sérias ausências. 

Lendo agora há pouco a entrevista do treinador botafoguense no globoesporte.com achei que seria merecido deixar aqui esse registro. Já escrevi neste espaço elogios sobre o conteúdo das entrevistas concedidas por Jair Ventura, a maneira de interpretar o jogo e tal. O discurso dele só destoou quando em agosto se mostrou reticente com a chegada de treinadores estrangeiros, usando pra isso a mais rasa das justificativas: " Estão tirando espaço".


Jair nem deveria se preocupar com isso. Pelo estilo - e pelo que o time comandado por ele mostrou - me parece ser o mais promissor dos treinadores que aí estão. E, ao contrário do que muitos pensam, não é exatamente uma revelação, como fez questão de lembrar a quem o entrevistou. 

"Cheguei em 2008 como estagiário de preparação física. No ano seguinte fui efetivado como quarto 
preparador. No final de 2009 virei auxiliar técnico do Ney Franco. Em 2010 fiz meu primeiro jogo 
como interino, com apenas 30 anos. Foi nessa época que fui trabalhar nas categorias de base da CBF, 
onde fiquei por três anos. Disputei três sul-americanos e um Mundial. As coisas começaram a andar. 
Parece que as coisas aconteceram muito rápido, mas meu primeiro curso de treinador foi em 2005. 
São 12 anos percorrendo nesse caminho. "     

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Juca Kfouri no Cartão Verde



O homem é quase fundador do time. Acaba de confessar as derrotas sofridas em um livro de memórias. Disse que vinha pra falar do hepta corintiano, quando isso ainda não estava sacramentado. Enfim, o papo começa às 22h30, ao vivo, na TV Cultura

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A mão de Maradona




O fato se deu certo dia quando me encontrava em San Martin de Los Andes, na Argentina. Ao voltar pro hotel, fugindo da neve que começa a cair, notei um corre corre. Curioso, perguntei o que estava acontecendo. Os funcionários tinham praticamente abandonado seus postos. Reorganizavam a sala de TV. Rapidamente alinharam poltronas e deram ao lugar um quê de sala de cinema. A resposta veio urgente:

_ É que vai começar o programa do Maradona.

Entendi tudo. Na época o craque tinha começado a comandar um programa de televisão," La Noche del Diez". Uma produção fantástica. Cenário grandioso. Não resisti. Arrumei logo um lugar pra partilhar da sessão. A certa altura do programa Maradona era convocado a relembrar alguma história que tinha vivido em campo. Naquele dia - pra minha sorte - escolheu reviver o famoso gol de mão marcado contra a Inglaterra na Copa de 86. 

Com seu jeito cativante disse que ao mirar a bola percebeu que usando a cabeça jamais chegaria nela. Resolveu apelar. Ergueu o braço e mandou a pelota pro gol. Estava certo de que o juiz anularia o lance. Mas ao aterrissar notou, incrédulo, que o bandeirinha corria pra linha de meio de campo. O gol tinha sido validado! Lembrou que quase foi ao desespero ao perceber que os companheiros de time tinham notado tudo e estavam paralisados. 

Discretamente com uma das mãos junto à perna fez sinal para que viessem imediatamente abraça-lo. E no instante seguinte lembrou que seu pai estava na arquibancada. Sabia exatamente onde costumava ficar. E se surpreendeu ao cruzar seu olhar com o dele. O pai tinha um semblante explícito de reprovação, que segundo Maradona dizia o seguinte:

_ Não acredito que você fez isso!

Bom, tanto ouvi e falei sobre esse lance, mas jamais esqueci dos detalhes e daquela versão detalhada e bem humorada dada pelo próprio Maradona. E a lembrança me veio de novo dias atrás durante o sorteio dos grupos da Copa do Mundo. Foi quando o inglês Lineker - que estava em campo naquele dia - ao ver o argentino mexer a mão para sacar uma bolinha de um dos potes, não deixou a chance passar e cravou:

_ Maradona, sempre bom com as mãos.


Uma estocada genial. Gary Lineker terminou o Mundial como artilheiro em 86. Mas viu o título literalmente ir parar nas mãos de Dieguito, o maior jogador argentino de todos os tempos. Não o mais honesto. Os adoradores de Di Stéfano que me perdoem.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Os clubes devem discutir a relação com a torcida

Ronaldo Theobald


Estamos vivendo aquela onda de final de temporada. Seleções do campeonato, premiações. Um mar de especulações sobre transferências de jogadores, sabe-se  lá com que intenções. E, no meio disso tudo, o Brasileirão vira e mexe é posto no divã. Mas há um outro viés, pouco, muito pouco analisado, que merece atenção. Falo de se pensar o futebol do país através do comportamento da torcida. A temporada que chega ao fim registrou um sem fim de ocorrências envolvendo torcedores. O número de times que se viram às voltas com ameaças feitas em nome dela, bem como o de jogadores, foi grande.Um reflexo da violência  que tem se instalado no nosso cotidiano e que tem tudo para se agravar. Portanto, exige alguma atitude. 

Hoje, no Congresso Brasileiro de Direito Desportivo realizado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, se falou sobre a relação que os clubes devem estabelecer com as torcidas. Leco, presidente do São Paulo, defendeu proximidade com as organizadas. Talvez, acuado por ter aberto as portas do CT do clube para elas duas vezes este ano. Defender o contrário não faria sentido. 

No link abaixo está a matéria de Marcio Porto e Willian Correia feita para o "Lance", que  traz ainda a posição defendida pelos outros presidentes dos grandes clubes de São Paulo. O papel da impunidade - que considero a chave para a solução de boa parte de nossos problemas - também fez parte das reflexões. Se o futebol brasileiro já anda sem brilho a atitude de alguns, em nome da torcida, tem tudo para torná-lo opaco de vez.  



Leco quer organizadas e clubes próximos; rivais focam em punição

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Dorival Júnior no Cartão Verde



O treinador do São Paulo será o nosso convidado desta quinta-feira. Passa lá pra bater um papo com a gente. O programa é exibido toda quinta, ao vivo, a partir das 22h30.  

Participe:  
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facebook.com/cartaoverde

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A cura pela literatura ( um convite )


terça-feira, 28 de novembro de 2017

O futebol como retrato de um país

Photo Premium/ Folha Press

O que dizer de um país em que torcedores inconformados com uma derrota ou um rebaixamento derrubam parte de um alambrado e colocam um time inteiro da primeira divisão pra correr? Confesso que, às vezes, me pego surpreendido por cenas como as que foram vistas no Moisés Lucarelli no último domingo não desaguarem numa tragédia de proporções imensas. Afinal, os atos que provocaram tudo são de uma selvageria inconcebível. De uma inconsequência terrível. E saber que ninguém pagará por colocar tantas vidas em risco é de doer. Ver nas arquibancadas crianças com os olhos ardendo de gás pimenta é triste demais. 
 
A impunidade é como um parasita que vai exaurindo nosso país. Fosse apenas o futebol sua vítima por certo estaríamos bem melhores. Meio otimista, meio realista, vira e mexe me flagro numa descrença monstruosa com o homem e o com o destino que ele vai dando ao mundo. Essas delações, por exemplo. Vão me dando a impressão de que no fundo, no fundo, feitas todas as contas, o crime por aqui compensa. Ora, ladrões não podem ter em juízes algo que se pareça com um padre, um confessor. Diante do qual assumem seus pecados para em seguida ouvir quanto devem pagar. Em espécie ou penitência. Penitência muitas vezes breve como um punhado de orações. 
 
O que estamos vendo é uma sociedade inteira se brutalizar. Não terá sido por acaso que a temporada do nosso futebol, esta que vai chegando ao fim, se revelou farta de casos de torcidas tentando intimidar não apenas jogadores, elencos inteiros. E assim, domingo após domingo, os mais atentos vão percebendo que o jogo de bola é só uma janela que costuma se abrir vez ou outra revelando o teatro absurdo que estamos vivendo. 

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Duas notícias de quase agora


O interessante é notar o "elo" que se descobre quando se lê as duas. Em resumo, na da FOLHA você ficará sabendo que o novo diretor da Polícia Federal desfrutou de mimos dados pela CBF. Na do Estadão que, segundo o site francês Mediapart, o FBI emitiu mandado de prisão internacional contra o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, suspeito de ter sido o intermediário no pagamento e distribuição de dinheiro do Catar para outros dirigentes da FIFA, e que a justiça brasileira estaria investigando o caso e o papel do brasileiro na transferência de recursos a partir de Mônaco.   


Novo diretor da PF tem elos com Sarney, Gilmar e CBF

Teixeira é suspeito de ter enviado dinheiro de propina do Catar a outros cartolas

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Se é pra mudar... aos atletas deve ser dado mais do que o mínimo !




Leia abaixo trecho da Carta publicada pelo Ministério do Esporte. Num primeiro momento pode soar sensível ao inaceitável ocorrido na votação do Novo Estatuto do Comitê Olímpico Brasileiro. Mas, pensando bem, " o mínimo" foi justamente o que deram aos atletas. E isso não basta pra mudar!


"...o Ministério do Esporte entende que é essencial uma maior participação dos atletas na representatividade das associações. E essa participação tem que se dar de forma efetiva, e não meramente burocrática.
Não se concebe mais um órgão importante de direção esportiva não atentar para princípios de governança, transparência e representatividade. Os atletas podem e querem contribuir para melhorar o esporte brasileiro. E o Ministério do Esporte apoia esse direito.

Nos próximos dias, adotaremos medidas para que essa participação dos atletas ocorra de fato e de direito. Caso não haja um mínimo de representatividade que garanta a participação deles, o Ministério do Esporte não poderá certificar as entidades esportivas, que deixarão de receber os recursos públicos, como, aliás, manda a lei."


Leia no link a íntegra da carta:

Carille, Jair Ventura...Roger Machado












Carille foi surpreendente. Mas, Jair Ventura, do Botafogo, merece menção honrosa. Por mais que o time dele não tenha conseguido manter o gás nessa reta final de Brasileirão. E os torcedores que se encarregaram de tumultuar o ambiente por lá dias atrás jogaram contra. Uma pena. Time e comissão técnica merecem ter o trabalho reconhecido. Os dois com seus trabalhos, sob certa ótica, ampliaram um pouco o horizonte do nosso futebol que anda sem brilho. 

E já que estamos falando em treinadores...

Sobre Roger Machado, achei interessante notar como o anuncio da contratação dele pelo Palmeiras  imediatamente neutralizou a euforia em torno do trabalho que desenvolveu nas últimas temporadas. Teria sido muito saudável se sobre essa escolha não pairasse a sombra de um convite anterior feito a outro treinador. De qualquer modo me parece uma boa aposta. Roger tem uma grande semelhança com esse Palmeiras de agora: soa tão promissor quanto o largo investimento feito no futebol do clube.


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

A força da grana


Atentem. O que vai aqui é uma constatação, não um julgamento. A veia mercantilista do nosso futebol está escancarada. Digo isso porque por mais que tenha se transformado num business, pra usar uma palavra da moda, não faz muito tempo ainda era possível notar certo pudor no mundo da bola. Nem que fosse  só pra inglês ver. Lembro bem que há alguns anos vira e mexe era notícia o esforço que o staff da seleção brasileira fazia quando os jogadores estavam reunidos para blindar os tais  do assédio dos empresários. Em época de Copa, então, nem se fala. 

Eis que dia desses passando os olhos pelas notícias leio que "na Europa o diretor de futebol do Palmeiras aproveitou o ambiente da seleção para encontrar empresários e discutir o futuro de seu plantel". Pode ser que o dirigente se justifique dizendo que o repórter carregou na tinta, ou até que o articulista aqui é um romântico, inocente, que insiste em não perceber que a essa altura se faz impossível separar uma coisa da outra. Fato é que dias depois o que virou notícia foi o esforço que o Palmeiras andava fazendo para evitar que o nome de um possível reforço do exterior vazasse, e que as conversas nesse sentido tinham se iniciado em Londres. 

Não estamos em uma Copa, mas estamos perto dela. E, seja como for, imagino que o ideal seria estabelecer regras nesse sentido. Se os empresários querem estar perto de seus atletas, tudo bem. Mas certo rigor durante o pouco tempo em que eles ficam juntos talvez os convencesse de que não seria tão produtivo, nem possível, exercer esse cuidado, esse cerco. Posso até ser inocente, mas não a ponto de achar que exibir certa intimidade com o poder não pese na hora de faturar, de fechar negócios. Aliás, um dia se quiserem mesmo corrigir o rumo do futebol será inevitável que se repense esse poder que a grana passou a ter sobre o jogo de bola. 

Quem duvida deve olhar o que o dito mercado fez com a nossa música, onde a cena - isso é muito fácil notar - foi dominada por verdadeiros pernas de pau. No futebol tá igual, o dinheiro, o lucro, têm falado muito mais alto do que o talento. E tá pra nascer o barão da bola que não se encarregue de fazer essa roda girar. Tudo sso torna óbvio, pra mim, o discurso do francês, Éric Cantona, que disse não entender porque Neymar foi jogar na França no auge dos seus vinte e cinco anos,  tendo um lugar garantido na Seleção e no Barcelona. Ganhar a Champions para Cantona, que sempre pensou muito bem o jogo de bola, é meio como condenar o talento de Neymar a treze jogos. Não é esse o ponto de vista que tenho de futebol e da paixão, disse o francês. E eu concordo totalmente com ele. 

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

O amigo do Rei... e as nossas leis


Para se defender da suposta acusação da compra de voto para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016, o ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, listou quarenta testemunhas. Entre elas, o Rei da Holanda e Pelé.  Mas não só. Estão na lista também o Príncipe Albert 2 de Mônaco e o presidente do COI, Thomaz Bach.  O juiz que cuida do caso pode aceitar, ou não, que sejam ouvidos.  E eu fico me perguntando o que a família olímpica, sempre tão lembrada por Nuzman na época dos Jogos, não deve estar achando de tudo isso.

Metade dos arrolados vive no exterior o que, claro,  só alongará o processo. Mas eu queria chamar a atenção para um outro detalhe citado pela defesa, que se mostrou  convencida de que "... quando o magistrado se detiver na história pessoal do deferente certamente perceberá o absurdo, a concepção cerebrina das imputações lançadas em detrimento" do acusado. Falo do pedido para que a ação penal seja extinta por considerar a suspeita de propina no COI um caso de corrupção privada, não previsto na lei brasileira.

Daí que não custa lembrar que há pouco mais de dez dias a defesa de José Maria Marin, que está sendo julgado nos EUA, pediu para que a lei do Brasil fosse considerada. Algo que outros dirigentes em situação parecida já tinham tentado, alegando que em seus países alguns dos atos dos quais são acusados não seriam crimes. Mas, lá nos Estates, os promotores cortaram logo o papo. Ora, diante disso soa óbvia a necessidade de rever nossas leis, ou corremos sério de vê-las usadas como escudo.

Mais estarrecedor, no entanto, é constatar que por aqui ex-Presidente, Governadores, Senadores e outros poderosos não conseguiram escapar das garras da justiça, enquanto os barões da bola seguem intocados. Ricardo Teixeira, réu nos EUA, investigado na Espanha e homem forte do futebol brasileiro por mais de duas décadas, pode ter esbanjado cinismo mas não errou ao dizer que "não há lugar mais seguro para estar do que o Brasil".        
Carlso Arthur Nuzzaman

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Diga-me com quem andas...


Mujahid Safodien/ AFP

Hoje o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, é notícia no mundo. Sete anos atrás, empolgado com a visita da Seleção Brasileira ao país dele para um amistoso, concedeu uma entrevista de menos de dois minutos ao repórter da FOLHA, Fábio Zanini. Foi quando o ditador deixava o Estádio Nacional de Harare, palco da partida. O Brasil venceu por três a zero mas os donos da casa, talvez no estilo Mugabe, não aliviaram nas divididas não. Foi o tempo suficiente para responder  secamente seis perguntas. Separei aqui a primeira e a última. Mas sugiro aos interessados acessar o link abaixo e ler tudo. Pois nada como uma notícia vista sob à luz da história. As questões:

Folha - O sr. gostou do desempenho do seu time?Robert Mugabe - Sim, claro! Nós demos a eles [Brasil] bastante trabalho.

Essa partida é um endosso ao seu governo?Claro, ajuda muito a imagem do Zimbábue. Pelo menos é o que eu espero   


Para ditador, jogo é honra, e Lula, aliado.

sábado, 18 de novembro de 2017

O Rei tá impossível!


Ontem o vi numa esquina da Paulista... hoje no SESC da 24 de maio! 


Série "Pelé beijoqueiro" - artista Luis Bueno


sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O flerte do Rei numa esquina da Paulista !

Série "Pelé beijoqueiro" - artista Luis Bueno

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Briosa, 100 anos


Sou do tempo do Kichute. Do Conga. Do bamba monobloco. Embora no final da década de 70 as peladas fossem travadas mesmo, na maior parte das vezes, de pés no chão. Nada sei destes dias em que a meninada se deixa seduzir por times de outros continentes sabe-se lá porque razão. Pra mim desde sempre a ligação com o futebol precisou de algo palpável. Ia ao futebol como quem frequenta uma igreja, vai a uma determinada sala de cinema ou tem seu botequim preferido. Neto de português que sou normal que acabasse nos domínios de Ulrico Mursa. Foram muitas as tardes e manhãs passadas por lá. 

Nutro por esta Portuguesa Santista que está prestes a fazer cem anos um carinho que não encontra paralelo - e jamais encontrará - em nenhum outro canto do universo futebolístico. Não tenho idade pra falar sobre a conquista da Fita Azul que tanto enobreceu sua história. Mas lembro bem do dia em que, repórter novato, recebi a missão de entrevistar o lendário Filpo Nuñez, comandante daquele esquadrão, que participava de uma festa no clube. Uma conversa que durou mais de hora e da qual hoje, pelo que me disseram, estão guardados apenas pequenos trechos. Os olhos claros e já de brilho cansado de Filpo me olhavam com paciência, mas devem ter visto nos meus a chance de revisitar um passado que o orgulhava e o papo seguiu como se fossemos íntimos. 

Também lembro muito bem de uma certa campanha que levaria o clube a ascender de divisão. O artilheiro do time era o Bahia, tinha jogado no México, figuraça, se não me engano estava com trinta e sete anos, e na reta final da temporada corria como um velocista. Lembro de tê-lo visto fazendo gol quase aos quarenta do segundo tempo dando pique de meio campo. Só vendo pra crer. Assim como jamais vou esquecer a imagem do meu pai, que se foi há tempos, e do meu tio Darci, que em determinado momento da vida morou ali perto, sorrindo em suas arquibancadas ao viver essas alegrias triviais que um time de futebol pode nos dar. 

Por isso vislumbro no vermelho de sua bandeira o sangue português que me corre nas veias. E no verde as memórias que de tão puras insistem em florescer em nós. Alegro-me imensamente de ver a Portuguesa Santista neste dias que correm tendo sua história contada em livro, em documentário. Tratada com reverência. Sei que o futuro é uma ameaça ao humildemente belo Ulrico Mursa. Mas enquanto o velho estádio da Pinheiro Machado estiver de pé atravessar o seu portal de entrada será como voltar no tempo para reencontrar a beleza de um futebol que já não temos mais. 

terça-feira, 14 de novembro de 2017

O "grosso" é um patrimônio do futebol


É só um devaneio. Mas, pense comigo, talvez o grande poder que o futebol tem de nos seduzir resida justamente no fato de que é totalmente inviável desvendá-lo . Em seu universo a palavra improvável carrega dose singular de possibilidade. E aí se esconde nobre curtição. Todos nós já provamos dela em maior ou menor escala. Ao mesmo tempo esse caos permite todo tipo de esperança. Mesmo o Íbis e sua torcida que tiveram a genial sacada de capitalizar em cima do infortúnio e fazer dele uma grande marca em segredo absoluto devem alimentar no mais profundo rincão de suas mentes a esperança de que um dia a eles seja dado o olimpo do ludopédio. 

Minha gente se a essa altura vocês estão olhando torto pra essa minha reflexão atentem para o Brasileirão que estamos testemunhando. Um dos mantras do jogo, pobre mantra aliás, não tem sido dizer que o futebol está nivelado? Não é assim que os entendidos costumam elucidar o triunfo de um pequeno atolado na zona de rebaixamento contra um grande candidatíssimo ao título? Que era uma vez o tempo dos esquadrões imbatíveis. Ora, se é assim alguém poderia me explicar porque é que o Corinthians no primeiro turno reinou com um aproveitamento pra lá dos oitenta por cento? Coisa com a qual nem o mais ególatra dos treinadores seria capaz de sonhar. Mas essa é só uma questão provocadora no meio de tantas. 

E por falar em possibilidade não é que, Kazim, o afro-inglês naturalizado turco (haja globalização), de longe o mais contestado jogador do elenco corintiano, tratou de garantir uma página pra ele na história do hepta brasileiro que o clube está acabando de escrever? Com todo respeito ao atacante. Vejo-me obrigado a dizer que ao marcar contra o Avaí prestou grande serviço. Nos fez lembrar que desde sempre o grosso foi um patrimônio do futebol brasileiro. Alguém a quem, apesar dos pesares, também foi dada a nobreza de enlouquecer a torcida. 

Sugiro, com a melhor das intenções - até pra que ele não entenda mal o que vai escrito aqui - marcar uma cerveja com o velho Dadá Maravilha, que nunca negou sua veia torta, e que é de longe o atacante que melhor conviveu com essa sombra que a ausência de uma técnica refinada costuma projetar sobre um boleiro. Não deve ser por acaso que Kazim é descrito pelos companheiros como um baita boa praça, o que sempre foi dito do velho Dadá também. E mais, se o atacante corintiano tem algum grilo com essa condição, dar de cara com aquele sorriso cativante e ouvir do homem que pairava no ar qual beija-flor que não existe gol feio coisa e tal, pode lhe servir como terapia. E das boas!

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Jogo é jogo

Gonzalo Fuentes/ Reuters

Já dizia o monumental Didi, bicampeão do mundo com a seleção brasileira, que treino é treino, jogo é jogo. Pois, então. Diante dessa divisão talvez fosse o caso de se perguntar pra que lado tendem os amistosos. Seria ele um jogo com alma de treino, ou um treino com alma de jogo? Pelos relatos que já ouvi, o que define isso é a situação em que o embate se dá. 


Rivellino, por exemplo, gosta muito de lembrar de um amistoso que a seleção brasileira fez pouco antes de embarcar para o México, onde escreveria algumas das mais belas páginas do futebol mundial. Na época alguém teve a feliz ideia de marcar a despedida do Brasil fazendo em um Maracanã com portões abertos uma partida entre o time A e o time B comandados pelo técnico Zagallo. 



Riva naquele momento integrava o time de baixo. Por mais que dizer isso soe totalmente herético nos dias de hoje. Conta o eterno Rei do Parque que antes de entrar em campo os supostos reservas olharam uns para os outros e tomaram a decisão de não dar mole não. Endureceram tanto que acabaram vencendo os titulares por quatro a um. É fato que por trás da negação à condição de sparing em pleno Maraca se escondia também uma chance de ouro pra mostrar serviço. Mas o melhor dessa história, o mais interessante, é notar o tamanho do orgulho que transparece nas palavras do tricampeão do mundo toda vez que ele conta o causo. 



Nem o Japão que o Brasil enfrentará amanhã pela manhã e nem mesmo a Inglaterra, adversário da próxima terça, dão pistas de que podem fazer essas partidas inesquecíveis. Mas jogadores que neste momento seguem por fora na disputa por um lugar no time devem ter motivos de sobra pra lembra-las daqui quarenta anos. Nem digo que é o caso de se dizer que este ou aquele não estará na Copa, mas sim o de saber que papel terão quando ela chegar. 



Dizem que Tite quer ver o time com Fernandinho e Casemiro juntos por mais tempo. Confesso que o futebol do Fernandinho sempre me soou um pouco pesado. Mas se o Guardiola já disse que o homem pode jogar em até dez posições e que se tivesse três Fernandinhos poderia garantir que faturaria um campeonato inglês, só me resta anunciar a rendição. No mais, Renato Augusto já não impressiona tanto como no início do trabalho com o atual treinador. As laterais parecem ter donos, mas depois deles não sei não. Mesmo nomes como Willian e, principalmente, Phillipe Coutinho, que me dá a impressão de tornar seu futebol evidente no momento certo, têm bons motivos pra encarar até os treinos como se fossem jogos. Mas, verdade seja dita, quem sou eu pra desdizer Didi ? 

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Aforismo



Futebol: 
quanto mais você conhece mais difícil fica de gostar.









quarta-feira, 1 de novembro de 2017

De volta para o passado


Sempre ouvi dizer que não devemos voltar a um lugar onde fomos felizes. Não é difícil entender a razão. E imagino que muitos que ousaram duvidar do dito se encontram hoje arrependidos. Mas o futebol, pelo visto, faz pouco caso disso. E os que o jogam também. No início desta semana li que o Santos não havia desistido de Diego e Robinho. Mas manchetes, como se sabe, muitas vezes desdenham da viabilidade da promessa que trazem consigo. E nesse caso mais complicado do que isso é crer na boa intenção dos que deixaram que ela nascesse. Afinal, depois de ter tido o coração maltratado nas últimas rodadas a notícia da volta da vitoriosa dupla santista de outros tempos pode funcionar como um remédio para as dores que os torcedores do time da Vila andam sentindo. E os interessados na volta dos ídolos - ou simplesmente na manchete sobre  -  estão cientes desse poder curativo.

Apostar em nomes que desfrutam de prestígio junto à torcida é estratégia das mais utilizadas pelos nossos cartolas. E está longe de ser uma exclusividade do time santista. Há um sem fim de exemplos nesse sentido. Kaká é um deles. Desde que se desligou do Orlando City os jornais sugerem quase que diariamente que num futuro breve o craque pode voltar ao tricolor. A medida de verdade e de interesse que se esconde nessa possibilidade é algo que nunca saberemos com exatidão. O que sinto, muitas vezes, é que a insistência é tamanha que se o especulado não se concretiza é como se o clube estivesse fechando as portas para um ídolo. E a questão não é essa todos sabemos.

Talvez fosse o caso da torcida evitar amores platônicos para não se ver à mercê de interesses outros. Mas por aqui parece que só não se sonha com aqueles que viraram realmente estrelas de primeira grandeza, e que sabidamente já não se sentiriam seduzidos pelo que o nosso futebol pode humildemente lhes oferecer. Não que não se deva acreditar na identificação de um jogador com um clube e sua torcida. Seria o fim do fim do romantismo, que um dia foi o principal tempero do jogo de bola. Hernanes está aí com seu bom futebol, sua vontade e sua dedicação para provar que é um caminho possível. Mas devemos admitir que essa não é uma relação que se valide apenas com entrega. E os que voltam deveriam ter sempre em mente, não o que vão ganhar, mas também tudo o que têm a perder. São os que mais se arriscam ao fazer pouco do dito que diz que não se deve voltar a um lugar em que se foi feliz. 

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Carlos Drummond de Andrade, 115 anos


"Confesso que o futebol me aturde, porque não sei chegar até o seu mistério. Entretanto, a criança menos informada o possui. Sua magia opera com igual eficiência sobre eruditos e simples, unifica e separa como as grandes paixões coletivas. Contudo, essa é uma paixão individual mais que todas."


Trecho da crônica "Mistérios de Bola", que faz parte do livro 'Quando é dia de Futebol'. Obra que reúne textos do poeta sobre o jogo. Fica aqui a  dica.  

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Más unidos que nunca




Os jogadores uruguaios estão dando um exemplo. 

No final de semana não houve futebol no Uruguai. E é interessante notar que a ação também vai contra o Sindicato que representa a categoria. Nos últimos dias até o ex-Presidente do país, José Mujica, figura das mais raras, esteve envolvido nas conversas para se tentar chegar a um acordo. Tá mais do que na hora de o "futebol" começar a pensar.  

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O futebol na boca do povo


Todo mundo sabe que onde se fala de futebol pra valer é na feira, na pelada com os amigos, no trabalho, na mesa do bar. O que se vê fora disso é ofício. Só o torcedor é verdadeiramente livre. E foi pensando nisso que lembrei do Jorjão, de quem até já falei aqui. O cara segue lá no almoxarifado, como bom corintiano, torcendo mesmo é pro Brasileirão acabar. Disfarça, mas tá numa contagem regressiva danada! Não é à toa que vira e mexe deixa escapar no meio do papo:

_ Faltam quantas rodadas mesmo?

O Zé Carlos, da manutenção, é da mesma estirpe. Polido, a seu modo, não é desse tipo de corintiano que costuma descer a lenha no Rodriguinho. O alvo da vez. Sempre teve um ar calmo e, gozando de boa vantagem, andava parecendo budista. Mas depois da derrota pro Botafogo não sei, não. O São Paulino Silviano, que também já citei aqui, gosta de consultar os astros. Parece conformado com o inferno astral que o time dele atravessa. E se o conheço bem não deve ter tido das estrelas sinal forte de a coisa pode mudar rápido. De olho no céu defende o seguinte:

_ O ano podia ser do leonino Rodrigo Caio, que é Galo no horóscopo chinês. E este é o ano do galo. Mas Dorival é ariano. E ariano e leonino sempre duelam pra ver quem manda mais. Aí Dorival anula o Rodrigo Caio. Quem tá num ano bom é o Petros, serpente no ano do Galo.

Já o santista, Manoel Viúdes, editor de imagem com bagagem no ramo  de fazer frente a vivência de um Zagallo tá que é só desgosto. Foi capaz, vejam vocês, de quase perdoar o tropeço diante da Ponte, que todo mundo sabe é time encardido. Mas depois do que aconteceu diante do Vitória e do Sport, pintou na redação no outro dia que até o olhar tava diferente. De tão desapontado foi sucinto:

_ O Santos tá melancólico.

Mas aí eu caí na besteira de sugerir que a vitória sobre o Atlético Goianiense trouxe alguma esperança. Pra quê? O homem deixou transparecer sua fúria: 

_ Era só o que me faltava! Empatar com o lanterna na Vila! Mas tá tudo uma bagunça mesmo. Não duvido de mais nada.   

terça-feira, 24 de outubro de 2017

A festa da FIFA...





...vista pelos olhos bem treinados de um jornalista de respeito


Festa da 'nobreza' da FIFA tenta provar que crise acabou

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Futebol, substantivo masculino


O amigo Celso Unzelte deu a dica ontem no Cartão Verde. Sabemos que o título do livro acima é muito apropriado. O tratamento dispensado ao futebol feminino está longe de ser condizente com sua importância, com sua história repleta de superação. Dias atrás vivi essa realidade ao ter uma dificuldade imensa para conseguir as imagens da final do Campeonato Paulista. Tínhamos a intenção de exibir as tais no Jornal da Cultura. Vejam! A final do Campeonato Paulista! Trata-se de uma invisibilidade que dribla até os mais comprometidos com a causa. Prova disso é termos deixado passar ontem, sem o tratamento devido, a notícia da vitória do time feminino do Corinthians/Audax sobre o Cerro Porteño, por três a zero, no Paraguai. Triunfo que valeu a vaga na grande final do torneio. A decisão, aliás, será no sábado, às nove e quinze da noite, contra o Colo Colo, do Chile, em Assunção.  Aos interessados o lançamento do livro será nesta sexta-feira, entre 19h30 e 21h30 na sala de vídeo do Departamento de História, a FFLCH, da USP, dentro da Cidade Universitária, com direito a bate-papo sobre o tema. E escrevendo agora me veio a lembrança de um texto do Tom Zé que também fala da invisibilidade das mulheres, mas no caso a das animadoras de torcida, não exatamente das jogadoras. Mas é algo de tamanha sensibilidade que faço questão de deixar aqui para a apreciação de vocês. Espero que não tarde o dia em que a imprensa passe a ser mais justa com as conquistas e com  o trabalho do nosso futebol feminino.




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As mulheres invisíveis do futebol - Tom Zé




Quando o cumprimento é dado ao lado esquerdo das arquibancadas, rapidamente as moças que agora lhes ficam à frente se acocoram. É a vez de as outras se levantarem. O esquema é rápido, sincronizado. Mais vistoso, impossível. Mas os jogadores não passam recibo: faz de conta que não existe mulher nenhuma nas imediações.  

A televisão, que filma o ritual dos craques, não pode varrê-las da cena; mas, tacitamente, não estão lá. É o apagão do feminino. Às vezes o sol as torra, nos campos diurnos de Campinas ou Rio Preto. Mas agora, que começa a fazer frio, dá vontade de chamar a campanha do agasalho, em socorro das pobres criaturas, vestidas de quase nada no gelo da noite paulista. Rádio, televisão, jogadores, comentaristas, repórteres de campo, ninguém lhes autentica a presença. Não são nem estão. 

Nunca vi jogador, torcedor, gente de imprensa sorrir pra elas, reconhecer-lhes a atuação comemorativa. Não há denotação que as torne – apesar de mulheres, não é, neguinhos? – partícipes da espécie humana. Elas lembram Ulisses apresentando-se a Polifemo: "Meu nome é Ninguém". São párias hindus, intocáveis, hansenianas, portadoras de maleita, erisipela e contágios. Nada indica que possam ter a mínima pretensão à semelhança concedida pela divindade – semelhança cuja primazia, pensando bem, foi concedida a Adão. 

 Agora, as moças começaram a usar uma peruca vermelha sensacional. Mas o estigma não arreda pé. Ninguém as vê, nem com os cabelos em fogo. A televisão dá closes em belas e feras: tá aqui um moço simpático, ali um velho sem dente, um torcedor mordendo o lábio, um japonês tocando samba. O diabo. Mas a individualização do close, essa caridade de um segundo, não as contempla. Se eu tivesse poder, faria uma campanha para convertê-las em gente como você e eu, leitor. No campo, beijaria a mão de cada uma. Ou faria uma canção pra elas. 


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O futebol também é obra do acaso

Foto: Gazeta Press

Uma vitória nem sempre é obra do acaso mas no futebol ele tem papel fundamental, como tem na nossa vida. A diferença é que quando o acaso decreta algo em nosso cotidiano na maior parte das vezes não temos como não aceitar que o ocorrido foi obra dele. Mas quando o papo é futebol a coisa toma outro rumo. A primeira razão é que aceitar o acaso, simplesmente, rouba a razão de parte das reflexões feitas em cima do jogo. Notem que se fala tanto de futebol atualmente que vira e mexe tenho a impressão de que não tardará o dia em que se falará mais do que se jogará futebol. Embora nosso calendário esteja aí à postos pra encarar a briga. 

A segunda razão, essa difícil de ser driblada ou esclarecida, é que há muitas coisas agindo no que se dá entre as quatro linhas. O que faz o argumento do acaso ser facilmente encarado como simplista. Tem mais, o acaso, obra sem assinatura, num primeiro momento sempre é tido como algo menor. Mas se enganam os que acham que ele não pode se revelar genial ou grandioso. Se os que analisam não o exaltam tampouco os derrotados se sentem à vontade com ele. Mesmo notando no acontecido algo de casual jamais farão questão de aceitar o fato de terem sido derrotados por tão incerto adversário. 

E, além disso, sabendo da reputação de que o acaso goza não querem correr o risco ver suas justificativas encaradas como mera desculpa. Mas nunca é tarde pra dizer - e notar - que o acaso não existe apenas de maneira óbvia. Não se revela só em lances sem mistério, como quando a bola bate na canela de um juiz e acaba dentro do gol, como já aconteceu, aliás. E a única que pode, talvez, disputar com o acaso o título de coisa mais ignorada pelos entendidos da crônica esportiva é a dúvida. Só ela desponta nesse cenário com tratamento semelhante ao acaso. Ambas tratadas quase com desprezo, vistas como algo capaz de diminuir seus defensores. 

Mas, queiram os homens ou não, o acaso é parte do jogo e quase sempre não ganha os créditos porque tudo que se passa entre as quatro linhas precisa ser creditado a alguém ou deixar transparecer uma razão. Por outro lado, há coisas que jamais poderiam ser explicadas pelo acaso. Como, por exemplo, o fiasco santista na missão de se aproximar da ponta da tabela ou o Corinthians não sacramentar esse título. Fato é que com esse jeitão de decidido, ou em aberto, o Brasileirão nos reserva clássicos de respeito neste final de semana. Caso de Cruzeiro e Atlético Mineiro, no Mineirão. E São Paulo e Flamengo, que na tarde do domingo estarão frente a frente no Pacaembu. Vedetes de uma rodada que promete durar uma eternidade porque o líder só a fechará na noite de segunda-feira quando for visitar o Botafogo.