quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Brasileirão rodada 31 - Segue o jogo

O momento de decisão colocará uma dose de Brasileirão na sua sexta-feira. E a decisão da qual eu falo é a eleição, não vá se confundir. O São Paulo estará em campo amanhã às sete e meia da noite, no Barradão, correndo contra o relógio pra mostrar ao seu torcedor que se o título tinha mesmo um quê de sonho a vaga na Libertadores ainda não lhe escapou das mãos. Garantir-se no torneio continental será uma espécie de tabua de salvação, um antídoto para não se afogar em águas revoltas e, de quebra, se livrar daquele tipo de torcedor que gosta de dar a certas metas  o peso de uma obrigação. Do outro lado estará o Vitória que eu diria tem como principal trunfo seu treinador. Carpegiani é o tipo de comandante que sabe muito bem como dar alma a um time. E nada mais capaz de complicar a vida de alguém do que um oponente que pode contar com esse tipo de virtude. 

Quando os dois estiverem saindo de campo Vasco e Internacional estarão entrando no gramado de São Januário.  E depois do empate colorado no Beira-Rio não soa exagerado dizer que o time vascaíno, se quiser sair melhor do que entrou, precisará fazer uma exibição quase redentora depois de ter naufragado na última rodada na Ilha do retiro.  O Santos, nas mãos do técnico Cuca, ganhou horizontes e pelo que se desenhou até aqui fará um duelo um tanto particular com o Atlético Mineiro pelo direito de jogar a Libertadores do ano que vem. E se tem alguém que pode provar o potencial do atual técnico santista é justamente o time mineiro que com ele  chegou onde jamais havia chegado. Como não é exagero dizer que o time da Vila anda melhor do que o clube. Mas permanência de Cuca, que ao que tem sido visto aumentaria as chances de um sucesso futuro, desafia o presidente santista, até o momento mais hábil em aumentar do que em diminuir a temperatura ambiente.  No sábado o Santos recebe o Fluminense, na Vila Belmiro, e  depois de fazer sua parte terá de esperar a noite de segunda, quando nosso país já terá um novo presidente, para saber a quantas ficará essa queda de braço. O Atlético Mineiro fará, em Fortaleza, contra o Ceará, a partida que fechará a rodada. 

Da parte dos dois imagino que caiba muito bem aí uma torcida para o Grêmio continuar se distraindo com a Libertadores depois de ter conseguido um grande resultado anteontem no Monumental de Nuñez  diante um River Plate pintado pela crônica como um bicho papão. O que dá ao jogo entre Grêmio e Sport um ar de obstáculo. Malandro, Renato Gaúcho sabe que é bom não dar bobeira e  exigir de um provável time reserva que faça do encontro com o time pernambucano o jogo de suas vidas.  Mas a cereja do bolo será o aguardado Flamengo e Palmeiras que se dará no Maracanã. Um tira teima interessante entre o líder e o vice-líder. Que façam um jogo a altura do que a partida representa, espero. Ao Flamengo a vitória dará um certo ar de renascimento e ao Palmeiras uma aura de ainda mais imbatível na luta pelo título. Sinceramente, até entendo a grita de Felipão e companhia, mas se alguma ausência lhe tirar o Palmeiras do caminho, não creio que terá sido a Deyverson, Lucas Lima ou Mayke, a de Bruno Henrique, talvez


* artigo escrito para o jornal " A Tribuna", Santos

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Um modo sublime de ver e encarar o futebol


César Menotti, campeão do mundo com a Seleção Argentina em 1978, está prestes  a completar 80 anos. Se você gosta de futebol e da complexidade que os homens dão ao tal... não se arrependerá de visitar o link abaixo. 


Frases celebres de Cesar Menotti

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

A velha casa e a Seleção


O fato se deu no dia em que o time de Tite voltou a campo. Atendi a um chamado da família que organizava um almoço na velha casa em que meus avós maternos passaram boa parte da vida. Uma construção que beira os noventa anos e que em breve dará lugar a uma nova. Um encontro simbólico para reverenciar um cenário tão presente nas nossas memórias e que daqui alguns dias só existirá mesmo nelas. Junto com a feijoada vieram um sem fim de cenas. As noites à espera dos balões que pudessem cair por perto para nosso divertimento, as reuniões de meninos na esquina contando casos de assombrações. Um clássico passatempo na época. E, claro, as muitas peladas travadas ali na rua, que nos tempos áureos trazia pintada no asfalto as linhas de um campinho. 

Situada na Zona Leste profunda da capital, não exatamente no sentido geográfico, mas no sentido cultural, cravada em reduto corintiano, a velha casa tem como um dos moradores, desde que meus avós partiram, meu Tio Afonso, sem sombra de dúvida o boleiro-mor da família. Daí ter me causado estranhamento que terminada a feijoada ele não tivesse se colocado em frente à TV para acompanhar a Seleção. Esquisito, muito esquisito. Quando entrei na sala, depois de ter apressado um pouco as últimas garfadas, o homem estava de costas pra TV, sentado na escada que dá pra calçada. Trata-se de uma construção muito antiga, como disse, dessas em que a sala de estar acaba quase no passeio. 

Mais surpreendente que isso foi notar que os dois filhos da minha prima, garotos na flor da idade, para usar uma expressão quase da idade da casa, não estavam nem aí pro jogo.  De celulares em punho se divertiam em paragens virtuais. Por um momento pensei que estava sendo duro demais ao interpretar a cena. Afinal, quem hoje em dia consegue vencer a tentação de colar os olhos nessa maquininha sedutora?  Que nada. Nem o tom notadamente exagerado do locutor -  para lances que estavam longe de empolgar - era capaz de fazer os dois tirarem os olhos das pequenas telas.  Pensei comigo: mas por que te surpreendes? 

Levantei e fui na direção do meu tio, quem sabe numa prosa rápida tiraria dele uma justificativa original pro descaso com o escrete nacional. Eis que me deparo com outra cena. Ao chegar ele se despedia do vizinho ao lado que saia de casa com os filhos. Pelo que deu tempo de ouvir deduzi que meu tio, mesmo tendo ignorado o jogo, havia perguntado se ele não ia ver.  O cara também sempre amou futebol. O que ouvi foi o boleiro-mor da família respondendo à própria pergunta com ar compreensivo. Você só quer saber do Corinthians, dizia. O riso discreto disparado de longe soou como um sim imenso. 

Detalhe, antes que o vizinho entrasse no carro vi que vestia a camisa dez da seleção, a camisa do Neymar. Isso mesmo. A realidade do futebol brasileiro me espanta, já não deveria, eu sei.  E o jogo foi  tão inexpressivo do ponto de vista técnico que nem o Tite, com aquele seu vocabulário rebuscado, se viu em condição de criar qualquer teoria para lhe agregar algum valor. Parti pouco depois com a nítida sensação de que a casa era de alguma forma uma metáfora da nossa seleção. O que talvez fique mais claro quando eu voltar, daqui algum tempo, e constatar que ela passou a ser outra, sendo ao mesmo tempo, aquela casa  de sempre. 

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Duelos e Sereias


Chego na área outra vez empolgado com o que o Brasileirão nos reserva.  Mas por mais que o grupo dos cinco primeiros colocados ostente pontuação que os coloca em outro patamar, pois há um verdadeiro degrau no número de pontos  de tais times e os que vêm depois,  é preciso incluir o clássico entre Santos e Corinthians entre as partidas que contribuem para essa dita empolgação. Mesmo porque um Santos e Corinthians nunca deixará de ser bom tempero a qualquer rodada que seja. Pelo que tenho sentido, do lugar em que estão os santistas olham pra cima. E os corintianos, um tanto escaldados, olham pra baixo.  É aquela coisa, vamos nos divertindo como é possível. 

E já que citei a tradição de um Santos e Corinthians, dá para dizer que a rodada trará diluída em si também a tradição do Gre-Nal. Isso porque o Palmeiras, exibindo fôlego de intimidar adversários e fazer sonhar sua torcida terá a missão de receber o Grêmio, no Pacaembu. E o tricolor gaúcho, na condição de quinto colocado sabe muito bem o que significará sair triunfante desse encontro. Não só por questões matemáticas mas, principalmente, por questões morais.  Conseguir dificultar a vida do time palmeirense tem sido algo raro.  Deixo aqui a minha solidariedade ao torcedor gremista que daria tudo pra poder contar com o futebol empolgante de Everton, o Cebolinha, que por causa de uma lesão não se apresentou à seleção brasileira que amanhã fará um nada atraente  amistoso com a insípida seleção da Arábia Saudita, cuja importância no mundo do futebol está infinitamente mais ligada à grana do que ao talento para lidar com a bola. 

Falo numa diluição do Gre-Nal porque teremos também o São Paulo indo ao estádio do Beira-Rio encarar o Internacional. O  vice-líder, que na última rodada foi vitimado em parte pelo desespero do Sport Recife em fugir da degola, se não mostra o fôlego de um Palmeira,  tem sido capaz de se segurar nessa disputa que tem sido ferrenha. Logo, aos gaúchos, colorados ou tricolores, está posta a possibilidade de se divertir não só com a vitória do próprio time como com um possível escorregão de seus grandes rivais.  É claro que o Brasileirão tem muito mais a oferecer, até porque a disputa na parte de baixo da tabela anda tão emocionante quanto, só não dá pra dizer que empolgue, mesmo em casos como o do Ceará que o Lisca Doido tratou de desatolar da zona do rebaixamento.  Embora por hora tenha voltado pra lá. 

E por falar em empolgação,  de empolgar também foram os capítulos finais do Campeonato Paulista de Futebol Feminino entre Santos e Corinthians, em especial o primeiro, que fez a Vila Belmiro receber o maior público da temporada. Não se trata num primeiro momento de ter uma modalidade endinheirada, mas ao menos com um calendário e um nível de organização que desperte a atenção de quem gosta de esporte e dê às meninas que vislumbrem nele um caminho a mínima possibilidade de um dia viver disso. Não suporto quando ouço alguém dizer que o futebol feminino não tem apelo, pois no fundo não se trata disso.  Se trata de cuidar de uma modalidade em que comprovadamente não nos falta nem vocação e nem talento. 

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

O futebol e seus caprichos

O futebol tem lá seus caprichos. E é bom que os tenha. Tivéssemos só o jogo jogado estaríamos perdidos. Houve um tempo em que um jornalista esportivo podia se gabar de ter um ofício de dar água na boca de muita gente. Tenho na memória um sem fim de ocasiões em que nós, do esporte, podíamos perceber na redação um certo olhar de inveja disparado pelos companheiros que tinham como missão falar dos fatos econômicos, de política ou de polícia.  O mundo pegando fogo e os folgados lá de caneta na mão e olhos na tela vendo um jogo nos monitores de televisão ou se preparando tranquilamente para se dirigir ao Morumbi ou ao Pacaembu para acompanhar um grande clássico. Mas é aquela coisa, como diz um dito popular, todo mundo vê as pingas que a gente toma, nunca os tombos que a gente leva. 

E se iniciei estas mal traçadas falando de caprichos foi por mirar no horizonte esse tão falado encontro entre São Paulo e Palmeiras,  amanhã. Uma rivalidade cheia de acontecimentos recentes, cujo próximo capítulo se vê adornado pela possibilidade de que represente também não só uma possível liderança, mas um passo fundamental para um triunfo nacional. E que o futebol tenha se incumbido de fazer o time comandado por Luiz Felipe Scolari  tomar a liderança tricolor justamente às vésperas do encontro dos dois só pode mesmo soar como capricho. Não tivesse todo torcedor uma fome insana, poderia aqui lembrar que para o são-paulino estar brigando pela ponta da tabela já deveria soar grandioso como uma vitória.  Como bem poderia o torcedor palmeirense se dar por satisfeito se visse o Palmeiras conquistar a Libertadores e o Brasileirão escapar. Mas a lógica que habita a mente de quem torce faz pouco caso da razão. De um lado e de outro as possibilidades de sarro diante do placar esperado são imensas. E isso é o que está por trás de toda as exigências de vitória. 

Mas, como ia dizendo, o tempo passou e as coisas mudaram. Hoje em dia ter de assistir um jogo por obrigação virou castigo. Como se não bastasse a escassez de talento há ainda um sem fim de  detalhes jogando contra. A arbitragem , por exemplo. Os homens do apito e seus comparsas parecem decididos a testar nossa paciência. Chego a pensar em motivos extremos como sabotagem e, em última instância, alucinação mesmo. Só isso explicaria. E essa fase brava ainda tem vindo acompanhada da pretensa modernidade do árbitro de vídeo. 

É de dar nos nervos ver o árbitro lá no meio, com cara de perdido, claramente incomodado com o equipamento de comunicação, dando a impressão de  estar dividido entre o que rola diante de seus olhos e da missa que andam lhe rezando no ouvido. O que semeia no ato de acompanhar a partida um  ar de dúvida e o incômodo de se saber que uma surpresa pode pintar a qualquer momento ditada por algo que só o pessoal que andou vasculhando o ocorrido em câmera lenta foi capaz de ver.  Daria tudo para ouvir essas conversas na íntegra. Não é à toa que negam. Mas há de chegar o dia em que teremos um futebol transparente. Por hora, temos de nos contentar com um caprichoso. O que diante de tudo que tem sido visto não é pouco, é verdade.