sábado, 8 de dezembro de 2007

O futebol e os números

Ao escolher o tema dessa coluna foi inevitável lembrar da minha inesquecível professora de matemática. Que outro adjetivo poderia cair tão bem para alguém que, depois de uma penosa e esforçada recuperação, te reprovou por meio ponto? E numa época em que isso significava ter que passar um ano inteiro revendo todas as matérias. Um castigo muito além dos números. Talvez isso ajude a explicar o fato de eu ser tão reticente a respeito deles na hora de interpretar o esporte.

Seja como for, foram os números os inspiradores dessa crônica que vos chega. Na última segunda-feira, quando recebi de José Renato Sátiro Santiago Júnior, os números atualizados da história do Campeonato Brasileiro, não resisti. Olhei, olhei. Vocês estão cansados de saber que a história não muda assim...de uma hora pra outra. O que justifica as pequenas alterações de posições.

A campanha do São Paulo, em 2007, o transformou na equipe com maior porcentagem de vitórias (45,55%), e desbancou o Palmeiras. Em pontos acumulados, a desastrada campanha corintiana deixou escapar o terceiro lugar, que agora é do Santos, com 1282.
O time da Vila, em compensação, perdeu o posto de terceiro colocado para o Cruzeiro em números de gols pró. Para reforçar a euforia tricolor, o São Paulo passou a ser, também, o time com a menor porcentagem de derrota. Proeza que até o ano passado pertencia ao modesto Santo André. Para provar que a matemática segue sendo cruel, e que poucas são as coisas que resistem aos números, vejo aqui que o Flamengo, cuja torcida esta semana virou até patrimônio cultural, é o dono do maior número de derrotas acumuladas, 293.

Mas quero deixar claro que, muito maior, é minha precaução com outros tipos de números. Os que me chegam desse modo, das mãos de um pesquisador, com precisão indiscutível, salvo engano, ainda que não tragam um sentido direto, não podem ser tão traiçoeiros. Já aqueles que encontramos cotidianamente nas manchetes, nas chamadas, a respeito desses é que guardo enorme desconfiança. Fico imaginando o que não há por trás das grandes negociações. A quem interessa aumentar? A quem interessa diminuir? Não me soa improvável a cena de certos senhores, em ambientes nobres, com seus charutos, a brindar números muito diferentes dos que desfilam nas páginas dos jornais. Todos alegres, e mais ricos, rindo das cifras que os diários estamparam. A realidade por trás de tudo isso tem outros números, é o que a intuição faz crer.

Não, aqui não existe nada de “dois mais dois”. É só olhar bem e perceber como nesse universo os números dançam. Não há consenso. Setecentos mil reais para Vanderlei Luxemburgo. Como acreditar que a contabilidade de um clube suporte? A intrigante pergunta sugere uma resposta que pertence, apenas, aos que verdadeiramente sabem o que é possível lucrar com um grande time. Trezentos e sessenta mil reais para Mano Menezes comandar o Corinthians. Multa de 160 milhões de reais para levar o menino Alexandre Pato, já comprado pelo Milan e, de tão novo, impedido de jogar pela lei italiana. Segredos de uma matemática própria, guardada a sete chaves.

Agora chega! Que hoje é sexta, e eu já passei da conta.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vladir, você fará algum comentário sobre a reeleição do Sr. Marcelo Teixeira para presidente do nosso Peixe?
O que você acha da questão (apesar de eu já desconfiar da resposta)?

Por acaso você é sócio do Santos? Vota? Votou?

Grande abraço.

Ton
waguaru@hotmail.com

Vladir Lemos, jornalista disse...

Olha, Ton. Não sou sócio, não. Quanto a falar... será inevitável. Mas te adianto que estou acompanhando tudo atentamente, e como a negociação com o Luxemburgo é quase uma continuação dessa história...espero o desfecho.
Abraço!