sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O futebol e a Raimunda


Foi a Raimunda, minha empregada, quem deu o veredicto assim que o juiz apitou o final da partida lá em Toyota. "Que joguinho feio", cravou. E não foi tudo, na sequência ainda disparou " Se pegar um melhorzinho que esse daí, já era". Tá certo que se trata de uma cearense que ao chegar a São Paulo há mais de três décadas se encantou pelo Palmeiras. Certa vez, em uma de nossas conversas travadas no início das manhãs me contou com entusiasmo como gostava de ir ao estádio com o marido, coisa que já não faz mais.

Seja qual for o time dela a análise pode ter soado seca mas está longe de ser descabida. A semifinal do Mundial de Clubes entre Corinthians e Al Ahly pode ser um exemplo claro do futebol atual, mas beleza que é bom não teve. E quanto a dizer que se pegar um adversário melhor já era, ela também tem lá sua razão, só esqueceu de levar em conta que o Corinthians na final pode mostrar outra postura e parecer ser até outro time. E terá que ser outro time porque o adversário é o Chelsea, bem melhorzinho que o Al Ahly.

E não venham me dizer que o Al Ahly é considerado o time africano do século XX, que é experiente em mundiais. Nada faz diferença. Passado o susto dos corintianos ainda acho que se o Al Ahly tivesse eliminado o time de Tite estaríamos todos diante de uma zebra monumental. Uma zebra tão grande que aquela zebrinha antiga e com cara de boazinha do Fantástico nem teria coragem de anunciar.

O que sei é que o olhar desprovido de maiores pretensões analíticas da valente Raimunda me deixou cara a cara com a simplicidade do futebol num momento em que a minha cabeça fervilhava para tecer teorias sobre ele. Além disso, gostaria de compartilhar com vocês a alegria de ver Messi fazer tudo o que anda fazendo.

Não gosto da injustiça das comparações, nem costumo ser seduzido por essas estatísticas que nascem para adornar manchetes, mas confesso que nos últimos dias acompanhei com atenção a possibilidade de Messi bater a marca do alemão Gerd Muller que fez oitenta e cinco gols na temporada de 1972. No final de semana quando o jogador do Barça chegou ao gol de número oitenta e seis diante do Bétis não foi exatamente o número que me causou espanto, foi a maneira nobre que ele chegou até a marca, sem alarde, com aquele jeitão de trabalhador incansável, como a Raimunda.

sábado, 17 de novembro de 2012

O Palmeiras no Bar do Zé


Fazia muito tempo que não ia ao mítico Bar do Zé Ladrão. Falo visita de verdade. Não conto aí as vezes em que voltando da feira dou uma parada pra filar um cafézinho. Mas como ia dizendo, estive lá dia desses. Na chegada, depois de cumprimentar figuras como Edson Santista e Alfredinho Juventino, percebi que ao fundo o distintivo do Palmeiras estava colocado sobre o do Corinthians. Talvez um modo velado que o Zé encontrou de equacionar o momento atual.

Não perguntei na bucha pra não provocar assunto explosivo, mas a conversa acabou indo parar no time palestrino. Percebi que o Zé foi respeitador. Mas quando o bar esvaziou um pouco ele encostou do outro lado do balcão e retomou o assunto. Fez considerações sobre o que levou o Palmeiras a essa situação dramática e, para minha surpresa, abriu o coração. Deixou escapar imensa mágoa.

Disse não ter esquecido o que fizeram com ele quando o Corinthians viveu drama parecido. Olhou os que ainda estavam presentes, disse que perdoava o Vavá - torcedor do Galo - e também os ppalmeirenses Luiz e Papagaio, para em seguida lembrar o sarro que na época lhe foi imposto por outros frequentadores, digamos, mais cruéis, como Ricardo Caricato, figura que pela força do apelido vocês podem imaginar. A esse, palmeirense fanático, não sugiro frequentar o Bar nos próximos dias.

Seo Zé, na condição de antiquíssimo morador do bairro, se mostrou até preocupado com a nova Arena do Palmeiras. "Fizeram piscinão? O rio passa ali. Você sabe, né?", disse o Zé. Para quem não conhece, o bairro da zona oeste paulistana tem ladeiras imensas que nos dias de chuva aceleram as águas... e é lá na baixada do estádio que elas vão desaguar.

Zé é corintiano, mas vivendo tantos anos em reduto palmeirense entende como poucos a alma italiana. Se um dia passar por lá peça pra ele te contar onde é que ficava a Calábria. E pergunte a ele se os caras que moravam lá levavam desaforo pra casa. É por isso que o Zé não estranha os ânimos exaltados, nem entre os conselheiros. " Os caras andam trocando sopapos, pernadas, veja só!", diz o setentão Zé Ladrão, ciente de que respeito nada tem a ver com divisão.

É! Mas é bom o tal Ricardo Caricato pensar duas vezes antes de aparecer por lá.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Pobres ricos


Onde está refletida a grandeza do nosso futebol além de na imensa paixão dos brasileiros pela arte de jogar bola? Nos quase solitários lances geniais de Neymar? Digo quase solitário porque entendo que poucas são as coisas e pessoas que podem lhe fazer companhia nesse sentido. Talvez o futebol destemido do tricolor Lucas ou os lances bonitos que têm sido desenhados por Bernard, do Atlético Mineiro. Ou quem sabe o futebol maduro de nomes como Juninho Pernambucano e Ronaldinho Gaúcho. E onde mais somos grandiosos?

Nossos estádios são de arrepiar. Mas não faltam especialistas tentando nos convencer de que o nosso futebol está em pleno desenvolvimento. Enquanto esse dia não chega vamos nos divertindo comendo um sanduíche de pernil na porta do estádio e engolindo uma média de público que em nada nos engrandece.

Dias atrás fiquei sabendo que o Flamengo estava recorrendo a um banco para pagar salários. Mas o que me chamou a atenção é que dessa vez o clube não iria recorrer ao BMG e sim a um outro banco que cobra juros maiores, isso porque o balanço de 2011 não tinha sido aprovado e nele já constavam mais de quarenta milhões de reais em empréstimos com o BMG. Se você acompanha futebol certamente já viu a marca por aí. E provavelmente estampada na camisa do seu time !

E a notícia sobre o Flamengo me fez lembrar que o banco BMG, que teve seu dono condenado a sete anos de prisão em um processo desmembrado do mensalão, tem nada mais nada menos do que duzentos cinquenta e três milhões de reais a receber só de clubes da série A. Valor que pode ser ainda maior já que alguns clubes apontam em seus balanços apenas os empréstimos sem citar o credor. Percebem como estamos perto de nos tornar primeiro mundo?

O BMG este ano está em seis dos vinte clubes da primeira divisão. No ano passado chegou a estar em trinta e nove camisas diferentes. Ok, endinheirados com grandes fatias do negócio existem em outros lugares. Mais preocupante então é saber que o Atlético Mineiro deve noventa milhões de reais ao dono do BMG, Ricardo Guimarães, que foi presidente do clube entre 2001 e 2006.

Uma mistura terrível de interesses que ao longo da história vem corroendo o balanço de muitos clubes brasileiros. E foi justamente aí que eu me peguei pensando: onde está refletida a grandeza do nosso futebol além de na imensa paixão do brasileiro pela arte de jogar bola? Nas cifras? Então, não passamos de pobres ricos.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Nem sempre foi assim

Não sei se vocês lembram mas houve um tempo em que o juiz entrava em campo carregando apenas o apito. Depois vieram os cartões, e com eles uma caneta para que o tal não acabasse traído pela memória. Naqueles tempos eles eram chamados de juiz e fim de papo, essa coisa correta de chamá-los de árbitro veio depois. Vestiam-se todos de preto, os trajes amarelos também estavam guardados em algum ponto futuro. Não eram infalíveis, mas não medravam.

Mesmo nas situações mais vexaminosas tinham que decidir no ato, sem titubear, tinham que ser homens, mesmo que o destino tivesse lhes reservado o infortúnio de mandar a bola para dentro do gol com a própria canela. Dirão os puristas: trata-se de um caso previsto na regra. Tudo bem! Mas vá lá assumir a bronca numa hora dessas.

Hoje está tudo mudado, carregam com eles pra dentro de campo uma parafernália sem tamanho. Spray, comunicadores. Exibem até patrocínios na outrora negra vestimenta. Ganharam mais dois auxiliares, um ao lado de cada baliza, e mesmo assim parecem cada vez mais perdidos. Muita facilidade amolece o espírito, ouvi certa vez.

O erro não me assusta, o que me assusta é a nossa pobreza para fugir dele. O que me assusta é ver o árbitro Francisco Carlos do Nascimento no meio do rebuliço sem saber ao certo o que fazer, dando uma bandeira danada de que foi-se o tempo em que cabia a ele decidir. Ligo o rádio do carro e o caso do Beira-Rio está sendo debatido, abro a internet e a manchete do jogo que ficou parado à espera de uma definição me toma o olhar, ligo a televisão e a mesa, subjetivamente redonda, se mostra indignada diante do ocorrido. E lá se vai quase uma semana de discussões sobre o fato.

Tivéssemos dois jogos de primeira pra comentar, teríamos ainda alguma possibilidade de neutralizar essa infecção arbitrária que invadiu o jogo. Mas quem entre nós, ditos modernos, acredita que hoje em dia o juiz - com aquele seu fonezinho descarado colado no ouvido - é quem decide tudo em campo? Imagine um juiz tendo que proferir uma sentença nessas condições, e agora falo de um juiz mesmo! É uma bagunça tamanha que fica difícil dizer o que está certo e o que está errado.

Por exemplo, quando vejo hoje em dia um jogador esticar o braço pra conter a chegada de um adversário fico indignado. Quando me ensinaram a jogar futebol isso era falta e duvido que quem me ensinou, que foi a rua, tenha me ensinado errado. Portanto, não estranhe se dia desses você acordar tomado de saudade de um Romualdo Arpi Filho ou até de um Armando Marques.




quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Essa é boa



Poderia ser piada, mas não é. Dona FIFA a mais poderosa dama do futebol mundial está preocupada com o crescimento do viés teatral em seu bilionário negócio. E para que o citado avanço não descaracterize o espetáculo - o que poderia redundar em prejuízo - decidiu treinar seus árbitros selecionados para a Copa do Mundo para realizar com precisão algo que desde sempre fez parte das obrigações dos mesmos: indentificar simulações.

Gostaria muito de saber como e quais serão as aulas que levarão os homens do apito a esse desejado aperfeiçoamento. E mesmo sem a intenção de desanimar esses bem intencionados cartolas me sinto na obrigação de lembrá-los de que a atual epidemia do cai-cai é apenas a face mais óbvia desse problema. Também me sinto na obrigação de citar aqui que muito me intriga o fato de tal epidemia ter como vítimas potenciais alguns dos nossos melhores jogadores e como principal infectado, justamente, o rapaz que melhor sabe tratar a bola neste país.

Espero, por razão de justiça, que não façam do Brasil um exemplo, pois achar que esse lado ilusório do futiba só existe por aqui pode nos deixar em maus lençóis, o que além de injusto, por certo se transformará em trunfo nas mãos (ou melhor, pernas) dos gringos.

Essas cenas grotescas, mal interpretadas, que temos visto por aí nada mais são do que frutos da deselegância de gente repleta de má intenção e que não tem talento nem pra simular. O lado teatral do futebol exige astúcia, refinamento, é algo tão sútil quanto bater uma carteira.

Eficaz seria dar a esses senhores que abraçaram o ingrato ofício um pouco de malandragem e critérios, muitos critérios. Também não seria demais pedir que no futuro seja inventado um detector de bajuladores e de homens dispostos a fazer média com os poderosos, invento que faria o futebol melhorar muito. Sou capaz de acreditar até nisso, mas crer que alguém poderá se aproximar da perfeição a ponto de saber com enorme precisão o que é instinto e o que é intenção nos movimentos de um jogador, isso eu acho difícil.

Na Espanha, não sei se vocês viram, um grupo de teatro resolveu tirar proveito dessa onda e usou duas imagens para fazer uma propaganda. Nelas, os jogadores Busquets, do Barcelona , e Pepe, do Real Madrid, estão no chão com ares de dor, simulando contusões. Abaixo se lê o seguinte texto:

"Você gosta de atuar? Aulas de teatro para todos os níveis". Essa é boa.



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Treino é treino, jogo é jogo?


De tão surreal o momento atual da nossa seleção conseguiu destruir a lógica de uma das frases mais emblemáticas do nosso futebol. Falo de uma frase pra lá de famosa cunhada por mestre Didi, o inventor da folha-seca, e integrante do time que nos deu o primeiro título mundial em 1958. Pelo que li teria sido ao dar uma entrevista para a revista Manchete Esportiva em maio daquele ano, que Didi, acusado de não estar fazendo tudo o que podia durante os preparativos para a Copa da Suécia, em tom de desabafo, decretou: "treino é treino, jogo é jogo".

Sempre gostei de frases. Considero uma arte nobre condensar sabedoria. Ou vocês não concordam que quando alguém diz, como Millôr dizia, que " quem mata o tempo não é assassino mas sim um suicida", não estava sendo sábio?

O interessante é que a autoria da frase dita por Didi muitas vezes me driblou. Não foram poucas as vezes que a considerei obra de Neném Prancha, o lendário olheiro, massagista e treinador brasileiro que por sua capacidade ímpar de, digamos, sintetizar ensinamentos acabaria batizado por Armando Nogueira como o Filósofo do Futebol. Neném, dizem, tinha até uma frase sobre Didi. Ele teria dito certa vez o seguinte: "O Didi joga bola como quem chupa laranja, com muito carinho".

Creio que a razão dessa confusão foi o fato de saber que Neném, sem alcançar sucesso entre profissionais, acabou se envolvendo com o futebol de praia. E em que lugar mais do que na praia uma frase dessas faria sentido? Lembro bem da minha época de moleque quando os jogos nas areias pareciam muitas vezes um sem fim de treinos para um jogo importante que estaria por vir, e que muitas vezes demorava pra acontecer. É, só que quando chegava nos fazia viver outras emoções, outra realidade.

Mas voltemos ao ponto central de toda essa reflexão. Ao assistir o jogo entre Brasil e China já tinha ficado com essa impressão. Aí veio o contra o Iraque e me convenceu de vez. Aquilo não era um jogo, era um treino. Só podia ser. Como classificar o que se viu? Contra o Japão, tudo bem, a coisa pode ter mudado de figura. Os japoneses podiam não estar em dia dos mais inspirados. Mas a partir de agora não ousarei mais usar a famosa frase de Didi. Estou convencido de que um jogo pode, sim, ser um treino. Pode até ser menos do que isso. E não há rancor na observação.

Reconheço a evolução no time brasileiro, modesta, mas reconheço. Como não temos eliminatórias e as principais seleções não podem nos enfrentar por várias questões, padecemos nesse mar de treinos, com todo mundo tentando nos convencer de que são jogos. Enquanto isso as agendas das outras seleções continuam tendo adversários mais expressivos do que os nossos. Por que será? Neném Prancha, que muita gente chegou a achar que era um personagem inventado, teria dito também que "jogador bom é que nem sorveteria: tem várias qualidades". Ora, adversários também

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sobre a nossa condição de torcedor



Um país como o nosso que diz ter deixado para trás anos de chumbo deveria se sentir um tanto traído quando um árbitro de futebol se sente com autoridade suficiente para mandar retirar uma faixa das arquibancadas. Sabemos que quanto menor a autoridade mais problemático costuma ser lidar com ela.

Acredito que o caso da torcedora do Náutico que teve a sua faixa censurada no jogo contra o Atlético Goianiense deveria ser levado às últimas consequências. Precisamos saber a exata dimensão do quanto somos livres nas arquibancadas. Ao menos, se ficasse decidido que o torcedor só tem o direito de fazer por lá o papel de animador de auditório, estendendo sobre a cabeça cartazes de conteúdo idiota, os descontentes poderiam se mobilizar para tentar acabar com essa mordaça.

Pois se irão mexer no Estatuto do Torcedor para liberar bebidas alcoólicas e atender aos interesses da FIFA, seria possível nos garantir por lá esse direito. A arquibancada, afinal, pode ser a nossa maior e mais retumbante tribuna. O Speakers' Corner tupiniquim, onde reivindicaríamos o que bem quiséssemos.

Depois do episódio no Recife ouvi de tudo, e de gente muito esclarecida. Ouvi, por exemplo, que havia coisa mais importante a ser dita do que " não irão nos derrubar no apito". Mas e se o assunto fosse mais sério poderia? E se eu fosse ao estádio com uma faixa dizendo "Os políticos do meu país me dão nojo"? Passaria?

Também ouvi gente dizendo que liberar qualquer faixa transformaria as arquibancadas num circo. Não creio. O bom senso acabaria fazendo uma seleção natural. Uma faixa imbecil seria vaiada. Só o pertinente teria força para ocupar esse espaço, ou o cômico, mas haveria uma seleção. Outra versão para diminuir a importância da faixa foi a de que elas não são necessárias, pois o torcedor tem a voz e pode muito bem dizer aquilo que pensa.

Ora, pobre dos que não perceberam no episódio o poder da palavra escrita. Deveríamos lutar pelo direito à livre manifestação nas arquibancadas. No último final de semana os torcedores da Catalunha, no clássico entre Real Madrid e Barcelona, usaram o nobre espaço para defender a polêmica causa separatista e mostraram muito bem o poder do que é estampado ali, mostraram que estão cientes dessa possibilidade. Mas as oportunidades passam, e rápido.



quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Carta ao deus do futebol II


Tu bem sabes que não sou de pedir. Na maior parte das vezes contento-me em dividir contigo, em silêncio, minhas aflições ludopédicas. Aflições que, reconheço, são muitas. Mas és a mais venerável das testemunhas que em todos esses anos por aqui uma única vez ousei transformar estas linhas numa espécie de súplica. E já não estou certo de ter tomado a atitude correta uma vez que urgente mesmo me parece que é essa causa que te trago agora.

Entendo que à luz dos dias passados aquele meu outro pedido se revela até carente de sentido. Prometo passar longo tempo sem voltar a lhe pedir prioridade, só não digo que será pra sempre porque nunca se sabe o tamanho da pendenga que o amanhã pode trazer no ventre. Leve em conta o fato de que o que venho lhe pedir nada tem de egoísta. Uma vez atendido, estou convicto, muitos ficarão felizes.

E não precisa ficar aí se ajeitando na cadeira ao ler essa breve carta porque sou um sujeito que não costuma confundir as coisas. Não vou te amolar com questões que envolvem o homem, como aquela selvageria de intimidar uma garotinha e seu pai só porque ela decidiu pedir a camisa do jogador do time adversário, muito menos teria a petulância de te pedir que amansasse os homens que obrigaram um certo escocês desavisado no Pacaembu a tirar da frente deles sua camisa verde e branca, de um time de uma terra distante vale lembrar, só porque ela trazia as cores do maior rival do que time se apresentava ali. Essa questão dos homens devem ser endereçadas a outro Deus, e não a ti. Afinal - estou ciente - esta é uma carta para o deus do futebol.

O que lhe rogo, no entanto, não deixa de ser uma tarefa também hercúlea. E antes, que desista de ler isso aqui, por descobrir entre estas linhas alguém tão hesitante em pedir...lá vai! (E espero que ainda estejas sentado). Aí meu deus ! Bom, eu, em nome de muitos, imploro: nos dê, por clemência, um rodada que seja, sem que os juízes cometam erros. Um rodada, uma só, com os juizes fazendo apenas o seu papel. Uma rodada sem que eles sejam mais analisados do que os jogos.

Claro, não sou louco de te pedir que eles não errem, posto que errar é dos homens. Mas uma rodada em que eles com seus apitos não desviem as pelejas de suas trajetórias, criando vitórias e derrotas claramente injustas. E se o problema formos nós, que nos cure dessa mania ranzinza de ficar procurando pelo em ovo. Mas não é o que me parece. Veja os teipes. O senhor há de concordar, descambamos para o desatino. Estou certo que do alto de vossa sabedoria jamais dirás que a regra é clara. Como disse um amigo outro dia, juiz também precisa ser analista. E, me perdoe a falta de modéstia de vir à ti, descaradamente, pedir um milagre.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Meu Brasil, brasileiro


Não sei se é do conhecimento de todos mas dias atrás o tal de Jérôme Valcke por pouco não voltou a causar certo desconforto entre nós. Jérôme, pra quem não lembra, é aquele secretário-geral da FIFA que sugeriu dar um chute no nosso traseiro pra ver se os preparativos da Copa de 2014 não entravam nos eixos.

Cafu, capitão da nossa seleção em 2002, perambulava pela Suiça participando de uma campanha de um patrocinador esportivo quando a FIFA o chamou para reencontrar a taça erguida por ele dez anos atrás. E não é que o tal Jérôme antes de colocá-la nas mãos de Cafu o alertou para não perde-la, pois isso já havia acontecido por aqui? Mas ainda bem que não voltaram a querer a cabeça do secretário pois seria um tormento reviver esse blá bla blá. Desconfio que ele escapou disso justamente graças ao seu histórico de indelicadezas que...cansou.

Mas o que eu acho, pra valer, é que esse é o tipo de coisa que deixa transparecer a imagem que se faz do nosso país naquelas rodas que ele frequenta. Sei que o episódio ficou pra trás. Mas é que voltei a pensar nele ao ler as notícias sobre o roubo de informações sigilosas do Comitê Olímpico de Londres por parte de funcionários do Comitê Organizador dos Jogos do Rio 2016. Uma notícia que pouco ecoou por aqui mas que foi amplamente divulgada no exterior. Notícia considerada por veículos dos mais diferentes países como vergonhosa para a imagem desse Brasil que se pretende organizador de grandes eventos.

Será que alguém poderia avisar o secretário, ao menos, que ninguém aqui perdeu a Taça Jules Rimet? Que ela foi roubada e que essa é uma história muito mal contada e que segue mexendo com a cabeça dos mais desconfiados? Conhecendo tão bem como conhece nossos dirigentes não deveria se espantar com o fato deles terem conseguido transformar o nosso país no único capaz de permitir que uma taça de campeão do mundo desaparecesse? E será que ele sabe que por aqui até mala de dinheiro já caiu de avião?

Por outro lado, ele provavelmente não desconhece que somos um país surreal que nos últimos quatro anos deu ao Comitê que cuida dos nossos esportes olímpicos quase um bilhão de reais só em repasses feitos pelas loterias, e quase outro meio bilhão em renúncias fiscais. E que a nossa Confederação de Atletismo mesmo estando entre as que mais receberam recursos - cerca de 129 milhões- voltou de Londres sem uma única medalha, o que desde 1968, no México, só tinha ocorrido nos Jogos de Barcelona, em 1992.

Essa, afinal, deve ser uma informação preciosa para o secretário, a de que não costumamos cobrar duramente os milhões que gastamos com o esporte. E diante disso é fácil entender porque Jérôme vê o Brasil como um país que se pode tratar sem medir bem as palavras.


*artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos - 25.09.2012




quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Aurora boreal, em Nordland Fylke - Noruega



* Foto: Arild Heitmann - segunda colocada em um concurso sobre fotografia espacial  

E o Felipão?


Dizem que ter em si algo do cotidiano é a alma de toda boa crônica. Sem isso as linhas, ainda que elaboradas com esse intuito, podem se transformar em tudo, até num venerável texto literário. Crônica, jamais.

Tal pensamento me ocorreu diante da ideia de dividir com vocês uma dificuldade. Não uma dificuldade que todo cronista, às vezes, é levado a dividir com o leitor. A de escrever. Outro dia mesmo li uma bela crônica do Veríssimo. Era sobre musas, mas no fundo, no fundo, era sobre o vazio que vez ou outra toma a cabeça de quem escreve.

Mas a dificuldade que ora irei lhes revelar é outra. Não sei ao certo como interpretar a última passagem de Felipão pelo Palmeiras. E desde o início foi assim. Questionava a qualidade técnica do time mas em seguida o via vencer um time que considerava muito melhor. E quando o Palmeiras venceu a Copa do Brasil a coisa complicou de vez.

Como não exaltar um grupo que depois de tantos anos consegue voltar a colocar o clube em uma Libertadores? Seria pura teimosia minha? Acreditaria mais no discurso dos descontentes de agora se eles tivessem se pronunciado antes da queda do comandante. O insucesso também não deve servir como prova de que Felipão não é mais um cara, digamos, familiar.

Se até famílias de verdade dão errado imaginem as que nascem de pessoas com histórias e interesses dos mais variados. E tem mais, nunca considerei o futebol profissional inclinado a ter ambiente familiar. Uma confraria, ou uma turma daquelas que - de tão porretas - marcam nossas vidas pode até ser, mais do que isso...é rótulo.

Estou longe de acreditar também na teoria de que foi a falta de intimidade com a glória que tornou o Palmeiras campeão da Copa do Brasil tão vulnerável. Muitas vezes vi nesse Felipão atual um profissional sem paciência para viver certas dificuldades. Há um ditado que diz que não devemos voltar a um lugar onde fomos muito felizes. Tal ditado não nasceu do futebol, mas pelo jeito pode servi-lo.

Bom, algumas linhas depois de começar a escrever esta pretensa crônica tudo me parece mais claro. A Academia, desde o início, já não era o lugar perfeito para Felipão, como tinha sido uma vez. E por falar em técnico, gostei muito das entrevistas pós rodada dadas por Muricy e Fernandão. O primeiro por não ter pudor de dizer que o futebol anda muito chato, e o segundo por ter a coragem de dizer que teve vergonha ao ver seu time em campo.




quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Boca no trombone

A falta de brilho do clássico entre Santos e São Paulo foi claramente um sintoma do nosso calendário que rouba - e continuará roubando - nossos jogadores mais brilhantes de seus clubes toda vez que a seleção precisar estar em campo. E, é óbvio, que o Sr Moheyddin kamel, que comprou os direitos de organizar os amistosos do nosso escrete até a eternidade de 2022 irá colocar a boca no trombone se alguém por aqui ousar ter a lucidez de achar que Neymar ou Lucas não precisam estar num jogo qualquer, ainda mais se for contra um adversário inexpressivo, como a China.

Não tenho certeza de que com Neymar, Arouca e Lucas em campo teríamos visto uma partida sensacional mas tenho a convicção de que desse modo teríamos tratado a torcida e o futebol brasileiro de maneira mais respeitosa. A pobreza do confronto também me pareceu decisiva para vitimar o lateral esquerdo Léo. Teria sido bom para todos se a crônica esportiva tivesse um mar de bons lances para analisar. Mas o que restou foi um deserto de acontecimentos. E esse deserto amplificou o discurso indignado do jogador.

Sem querer, Léo incrementou o ar de novela mexicana que ronda a Vila Belmiro. Nesse sentido foi perfeito na análise. Louvável também seria sair em defesa do amigo, não fosse a prepotência de achar que desse jeito ajudaria a fazer a novela chegar ao fim. Tenho o maior respeito pelo lateral, um dos nomes de  destaque na história recente do clube. Diria até mais. Léo tem uma capacidade de se comunicar com a torcida que é impar, e sabe disso. Basta olhá-lo em campo.

Mas acreditaria mais no discurso dele, de pedir respeito, se esse não fosse insistentemente usado para falar de si mesmo. Louvável a atitude que se seguiu de reconhecer que o tom não tinha sido apropriado. E que ele não deixe de falar o que pensa por causa do episódio. É normal que um jogador, vencedor como Léo, se sinta ferido com certas observações, principalmente quando do alto dos seus trinta e sete anos ainda tem a capacidade de entrar em campo e ser decisivo como foi contra o Velez recentemente na Libertadores.

Outra coisa é se incomodar com o fato de que o Santos precisa, sim, pensar em encontrar um jogador capaz de cuidar daquela posição como ele cuidou. Sua experiência segue sendo de grande valia. E tomara que apesar de todos os desafios que o tempo impõe ainda tenha fôlego para dar e viver alegrias com a camisa do peixe. Mas não há como lutar eternamente contra o fato de que os clubes costumam durar mais do que os homens.


* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Os fiéis das arquibancadas


Estamos todos em plena era dos fiéis torcedores. Assimilamos o bendito jargão como se os torcedores de outrora não passassem de uma cambada de infiéis. Mas foram eles, os de outros tempos, que pagaram as maiores penitências. Estou certo de que não há nesse Brasilzão afora um apaixonado pelo jogo que em nome dele não tenha perecido numa fila cujo fim não se avistava ou que não tenha sido extorquido por um cambista. E mesmo debaixo de todo esse destrato o futebol brasileiro se fez grandioso, cultuado. 

Quem hoje chora a beleza das gerais demolidas sob o argumento do progresso e do fino trato, chora um pouco também aquela beleza atravessada onde o dinheiro gasto no mais barato dos ingressos sugeria que mais tarde ele iria fazer falta. Mas isso era coisa pra se pensar só depois de terminado o espetáculo. Sim, a beleza das gerais era um pouco a beleza da entrega.

Não duvido da eficácia comercial dos planos de fidelização. Duvido apenas que sejam compatíveis com a democracia que o futebol sempre pediu. Perceba. Hoje paga-se para se ter direito a comprar um ingresso. É isso, ou o que resta é o purgatório reservado aos comuns. Mais cruel ainda é começar a perceber a necessidade que passamos a ter de salvar o futebol da própria torcida.

Dias atrás enquanto o Rio de Janeiro criava um núcleo para cuidar desse tipo de problema, a Federação Paulista de Futebol readmitia duas das maiores torcidas organizadas de São Paulo nos estádios, como se elas um dia estivessem estado fora. E como se tivesse a capacidade de expurgá-las quando bem entendesse. Diante da notícia a imprensa se apressou em ouvir o Ministério Público, e aí está a parte mais rocambolesca de toda essa história.

O Ministério Público prontamente negou ter dado o aval para que as mesmas fossem reintegradas. O promotor, Thales Cezar de Oliveira, um do envolvidos lembrou que reuniões semanais com a presença de representantes da Polícia, das torcidas e tal, vinham sendo realizadas mas que não tinha sido feito acordo algum. " Isso é uma questão interna da Federação Paulista de Futebol", afirmou de maneira categórica. E diante de tamanho ruído nada mais foi dito.

A pergunta que fica é: quem deverá ser responsabilizado pela próxima ocorrência? Conhecendo a história é difícil acreditar que os clubes não tenham agido nesse sentido. Eles todos, de certa forma, são reféns, são cúmplices, e sem precisar. Não dependem desse amor minado de interesses. Deveriam aproveitar o momento e declarar independência desse tipo de gente. 

A impressão que tenho é a de que os cartolas, que se acham espertos, acreditam estar explorando quando na verdade estão sendo barbaramente explorados. Mas ao fechar os olhos para esse mal estão dando um tiro no pé, pois em algum momento a presença desses dois tipos de fiéis na mesma arquibancada se fará inviável.  

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O futebol e os homens


Desde aquele dia em que, em pleno jogo decisivo da Libertadores entre Santos e Corinthians, o bandeirinha Altemir Hausman não segurou a onda e gastou boa parte do seu spray desenhando um imenso círculo no gramado com modos festivos para apontar a distância que os jogadores deviam manter da bola, tenho olhado os árbitros e seus auxiliares com mais atenção. Isso porque dos gandulas já abri mão, boa parte deles parece ser caso perdido.

Mas voltemos ao tema principal. Levando adiante esse meu "treinamento do olhar" um outro comportamento me chamou a atenção dias atrás. E pelo visto passou desapercebido pela maioria. Foi na partida entre Botafogo e Atlético Mineiro, no Independência. Diga-se de passagem um bom jogo. Lá pelas tantas o senhor Anderson Daronco, o dono do apito, apontou uma falta bem perto da linha de meio de campo.

Logo formou-se um pequeno tumulto com jogadores se peitando, bate-boca, enfim, um verdadeiro bafafá. E para a minha surpresa o árbitro, ao invés de usar da autoridade para - como dizem por aí - colocar ordem no barraco, optou por um método bem menos indicado. Saiu empurrando os jogadores mais exaltados para evitar que chegassem perto uns dos outros. Não contei, pois espantado que me encontrava acabei deixando passar esse detalhe. Mas estou certo de ter visto qualquer coisa entre quatro e meia dúzia. Empurrões, pra valer.

Ainda que tenha dúvidas com relação a esse clamor que se faz cada vez mais forte por aí, pedindo para que as punições aos árbitros sejam públicas, morri de vontade de saber se a nossa nobre comissão de arbitragem teria, ao menos, notado o fato, já que alimentar esperança de que o ocorrido redundaria em advertência seria abusar da ingenuidade.

Que vida de juiz não é fácil todo mundo sabe, inclusive eles. Ou alguém aí é capaz de imaginar um juiz ou bandeirinha falando que se soubesse que a realidade da profissão era essa teria ido fazer outra coisa? Se tem uma coisa que o futebol não é é inocente. Ficar pedindo pra que jogador não simule, que não tente enrolar o juiz beira a piada. Que atire a primeira pedra o sujeito que, uma vez com a bola no pé, não tentou levar o homem do apito no bico.

Desde sempre fez parte das obrigações do árbitro punir os ditos malandros. E malandro em matéria de bola era o Dadá Maravilha, o Chulapa, e não o Kleber gladiador. Faça-me o favor. Pensar que o jogador atual é mais mal intencionado que o de outros tempos pode fazer sentido, mas dizer que eles ficaram mais espertos não dá, não. Nesse caso prefiro defender a tese de que foram os árbitros que hoje andam menos atentos, pra não cometer a indelicadeza de dizer que hoje em dia andam sendo mais facilmente ludibriados. Otários, jamais.

Vejam o caso de Cruzeiro e Atlético Mineiro no final de semana. Será que o time celeste teria alcançado o empate se não tivesse feito do confronto a batalha que fez? Pressionado ao extremo o árbitro pernambucano Nielson Nogueira Dias foi sendo levado ao erro. Por outro lado, o Júnior César depois de fazer toda aquela cena dentro da área, a essa altura, deve ter se convencido de que nem sempre a simulação dá resultado, e que pode sair pela culatra.

O futebol, meus amigos, são os homens, e isso explica quase tudo. Não há como negar a transcendência e o fascínio dos dribles e dos gols. Mas o jogo só é o que é, e virou o que virou, porque ali está estampada toda a nossa dramaticidade, a nossa paixão, as nossas carências, o nosso lado sacana e a nossa imensa riqueza.










quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Jogar em casa


Afinal, que tipo de torcedor somos nós? O que nos satisfaz? O que nos move? As perguntas me assolam agora que estamos prestes a viver um momento pouco comum. Mano Menezes convocou hoje a seleção para os jogos com a África do Sul e a China. Dentro de algumas semanas o escrete nacional voltará a se apresentar em solo pátrio. A aventura irá começar pelo Morumbi, onde a seleção não joga faz cinco anos.

 Portanto, apesar do esforço da dita nova direção da CBF de aproximar time e torcida, é fácil perceber que a outrora seleção canarinho ainda continua mais parecida com um desses papagaios desenhados em estúdios de Holywood. Até aí nenhuma novidade. Mas o que me fez abrir esse nosso encontro com perguntas foi ter lido que Mano Menezes estaria, de certa forma, sendo assombrado pelo encontro com a torcida no Morumbi, onde as vaias ao longo do tempo têm sido uma constante.

Seria a torcida destas plagas mais contestadora do que outras? Gostaria de acreditar nessa versão, mas não acredito. A mim soa exagerado. Até porque quando jogou contra a Holanda por aqui ano passado o time brasileiro teve de ouvir um irritante "olé" quando a bola tocava nos pés adversários e, nesse caso, estava muito distante de São Paulo. Estava em Goiânia.

Foi o próprio Mano que lembrou a passagem dizendo que se tratava da Holanda vice-campeã mundial e que o empate em zero zero foi obtido com um jogador a menos. Ramires tinha sido expulso. " Isso não tem o menor cabimento", disse ele. Entendo a colocação do treinador. Mas, por favor, em se tratando de futebol quem decide o que cabe e o que não cabe é a massa. E a massa, como todos sabem, é docemente indomável.

Achar que um discurso do tipo " Já que a Copa é nossa, todo mundo tem de contribuir de alguma forma para que o resultado final seja o melhor possível", na minha opinião, não tem a menor chance de acalmar os ânimos ou gerar simpatia. Isso sem falar nas matérias de viés histórico que serão preparadas e que irão relembrar as incômodas passagens da seleção por São Paulo deixando o torcedor pra lá de consciente de que ele tem esse trunfo nas mãos.

Diante desse discurso oficial sou perfeitamente capaz de imaginar um torcedor levantando lá no meio para disparar:

_ O Mano, não vem com essa conversa fiada, não! Se todo mundo tem de contribuir, faz esse time jogar bonito!

A preocupação de Mano Menezes, por outro lado, faz sentido. Seria muito bom que a relação entre torcida e seleção melhorasse já que seremos os anfitriões da próxima Copa e não teremos saída, vamos ter de jogar diante da nossa torcida, ainda que tenhamos boas razões para imaginar que não serão exatamente os brasileiros maioria nas arquibancadas.

O interessante nessa história toda é que há escondido nas arquibancadas um desejo insaciado que gera boa parte dessa insatisfação e que talvez atenda pelo nome de beleza. " Queremos que todos tenham orgulho da seleção", foi outra frase emblemática dita por Mano. Emblemática porque esclarecedora. A massa pode ser cruel, mas é instintiva. Jamais vaiaria algo que lhe causa orgulho. Diante disso, tudo me leva a crer que o treinador da seleção, cada vez mais perto de pisar o gramado do estádio Cícero Pompeu de Toledo, deveria se preocupar menos com as vaias e mais em descobrir um jeito de cativar a torcida, o que pode envolver táticas e atitudes.

Mas a coisa não parece caminhar nesse sentido. O fato de os jogadores se negarem a usar a camisa preparada especialmente para o jogo comemorativo entre Brasil e Suécia é prova disso. Se negar a vesti-la usando o argumento de que ela era pesada, ou não é verdadeiro, ou é um melindre desses que nos fazem enxergar ali um time mimado. Poderiam dizer que era responsabilidade demais, ou dizer que perder usando uma camisa daquela teria um simbolismo maior. Poderiam até dizer que não se sentiam tão nobres pra isso... que seria mais simpático.

Nossos jogadores esquecem que a torcida é como o olhar do grande irmão que tudo vê e interpreta. Enfim, gostaria de acreditar no nosso poder de contestação, mas sou levado a crer, infelizmente, que nossa indignação raramente vai além das arquibancadas.


           Foto: Weimer Carvalho/O Popular/Folhapress


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Lembranças de ouro


Sei que a seleção fez o que fez na Suécia, que a situação do Mano vai continuar na boca do povo, que o Santos a noite  promete ser outro, mas não tem jeito. Hoje, senhores, venho aqui expressar minha nostalgia. E foi a nossa seleção de vôlei feminino que a provocou. Aquele duelo inesquecível com o time dos Estados Unidos me revirou e eu me peguei com os olhos cheio d'água, grudados na TV.

Segurei a onda direitinho até que num determinado momento, num corte de câmera, vi, no detalhe, as joelheiras de uma das jogadoras. A partir dali veio uma avalanche, uma avalanche de lembranças que elucidou o que eu estava sentindo. Lembrei, com uma saudade doída, do tempo em que elas, as joelheiras, fizeram parte da minha vida. Um tempo bom e nem tão curto assim.

 Descobri o vôlei muito antes dos quinze anos. Fui treinar no São Vicente Praia Clube, sob orientação de um técnico chamado Marcelo, que como meu professor de violão, jamais esqueci. E graças a uns primos mais velhos que todo final de semana montavam uma rede ali no José Menino, atrás dos prédios construidos na faixa de areia, fiz dele quase coisa séria. Era sagrado.

Além dos treinos no clube, todo final de semana e feriado chegávamos no meio da manhã, montávamos a ta l rede, e jogávamos até cansar. O limite, em geral, era o meio da tarde. O voleibol brasileiro ainda não tinha pisado em nenhum degrau do pódio olímpico. De repente, vendo aquele duelo incrível me surpreendi alimentando a vaidade de ver o nosso vôlei conquistar o ouro no feminino e no masculino, coisa que até hoje só a extinta União Soviética havia conseguido. Não poderia haver desafio maior.

Naquela época distante eram justamente os soviéticos o modelo. Lembro da cara da molecada quando alguma revista gringa chegava às nossas mãos com fotos do time deles. Ficávamos todos de boca aberta. Até hoje não esqueci de uma foto do Xandó que encontrei em uma dessas revistas. Corpo totalmente arqueado pra trás, esticado ao extremo, fazendo uso de toda a sua envergadura, pronto para se contrair no sentido contrário e disparar o tijolo que nos enchia de orgulho. Tinha também o Badalhoca, um jogador de estilo cativante. Isso pra não falar nos caras que se tornariam protagonistas da nossa ascensão. Willian, Montanaro, Renam. 

Virado do avesso pelas nossa meninas de ouro, lembrei dos amigos que dividiram comigo aqueles momentos. O Pipa, levantador fino, de cintura nem tanto, mas de uma precisão incrível. Maurício Magoo e seu cabelo de bicho-grilo batendo as bolas lá no alto. Os improváveis homens de meio de rede que moldavam nossas formações inusitadas e até inapropriadas, mas que nos deram tantas alegrias.

 Senti até uma ponta de orgulho de ter mantido em mim o esporte assim tão intocado. De ter mantido comigo a lembrança da curtição de virar uma bola da linha dos três, ou de cravar uma de meio. Justo eu que faz tempo me divirto tão pouco com o esporte, já que ele se misturou com meu ofício, resultando, às vezes, numa liga estranha.

No domingo, liguei a TV para cumprir a derradeira parte do ritual. Estava confiante. E quem não ficou confiante ao ver o Brasil fazer dois a zero na Rússia e partir para o terceiro set sem dar pista de que iria perder o pique? Aí a possibilidade de ver o que mais me envaidecia acontecer foi se dissolvendo, dissolvendo, até que o adversário soviético, agora chamado de russo, se revelou um gigante. De certa forma, eles estavam de volta para nos assombrar. A diferença era que agora nós eramos o time a ser batido. Pela primeira vez na história uma seleção masculina fazia a terceira final olímpica seguida, e era a nossa.

 Tudo bem, deixamos escapar os match-points, tivemos o jogo na mão. Que  importa? Graças ao nosso voleibol sigo até agora imerso nessas lembranças nobres e baratas, mas que me são tão caras. Jamais imaginei que um dia veria o vôlei brasileiro virar o que virou. Jamais imaginei que um dia uma partida de vôlei iria me causar tamanha nostalgia. Não foi da noite pro dia, mas por um momento pareceu. E se um dia a nossa nação se envaideceu por saber que tínhamos o melhor futebol do mundo, hoje, ela também já pode se  envaidecer por ter tido o melhor voleibol do mundo. Ainda que não tenha sido no último domingo.  

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Deu no NY Times


O despejo de moradores é uma realidade quando se fala de grandes eventos como Copa e Olimpíada.
Recentemente estive conversando com os moradores que vivem nos arredores do Itaquerão. Depois de passar por lá, fiquei com uma forte impressão de que esse "custo social" será inevitável. A prefeitura de São Paulo não se manifesta. Os moradores sabem que se trata de uma estratégia para evitar que eles se mobilizem. A falta de informações e a incerteza sobre o futuro tiram o sono.  No Rio, pelo visto, está ocorrendo o mesmo. Veja no link abaixo matéria sobre o tema publicada no UOL. As críticas ao Rio de Janeiro são duras.




    

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Beleza olímpica !


Quem anda "imaginando coisas" ao ver os Jogos Olímpicos de Londres... vai gostar do texto escrito por Antonio Prata. Veja se não é o seu caso.


http://www1.folha.uol.com.br/esporte/1134881-corpos-olimpicos-sao-catalogo-para-diversas-fantasias.shtml



* Nadadora italiana, Federica Pelegrini - Foto: AP Photo/Michael Sohn

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Forever vira-lata



Nelson Rodrigues que me desculpe mas tenho comigo sérias dúvidas sobre a extinção do nosso complexo de vira-lata. E já que estamos neste agosto em que ele completaria cem anos, que essa suave discordância seja tida como homenagem. E como não quero envolvê-los nisso, chamo a responsabilidade pra mim.

Ao ver o espetáculo de abertura dos jogos de Londres me foi quase instintivo pensar: o que faremos depois de tudo aquilo? Como será possível deslumbrar os olhos do mundo? Não que eu ache que nossa música mais expressiva, de Tom Jobim ou Villa-Lobos, seja menor do que as músicas dos Sirs da terra da rainha. E não quero nem pensar que em nome da "modernidade" podemos acabar sendo representados pelo Latino ou por um desses tchá-tchum aí que o Neymar insiste em ajudar a propagar. E a dança da boquinha da garrafa? Caramba, que pesadelo! Faria eu me sentir o próprio vira-lata.

Mas como ia dizendo, não é a música em si a minha diferença, a minha preocupação, é o todo, o espetáculo, a precisão, que nunca me pareceu nosso maior talento. Se lá os quinhentos mil turistas esperados viraram pouco mais de cem mil e as disputas de certas modalidades ficaram às moscas, como será por aqui? Veremos.

Olha, a coisa por lá me impressionou tanto que mesmo ao saber que a brincadeira da abertura tinha custado quase cem milhões de reais não cheguei a ficar abismado, ainda mais agora que passamos a ser lembrados de quanto pode custar um mensalão. No mais, vou me divertindo com os tais jogos de verão. Afinal, por estas bandas vira-lata também é gente.

Por exemplo, gostei muito da sinceridade da norte-americana LoLoJones que tempos atrás deixou de fazer segredo de sua virgindade e agora, em Londres, voltou a dar nova demonstração de transparência admitindo que " é mais difícil seguir virgem do que treinar para a Olimpíada", pudera.

Na minha pobre cabeça ( de vira-lata) foi preciso fazer certo esforço para compreender que as pessoas são muito diferentes umas das outras. Prova disso é o jamaicano Usain Bolt, o corredor mais rápido do mundo, que acaba de se tornar bicampeão olímpico dos cem metros. Usain, enquanto os adversários se mostravam travados momentos antes da final da prova, preferia fazer caretas para as câmeras, brincar. Mais tarde explicaria que se tratava de uma tática, pois sabia que não conseguiria chegar ao seu melhor se não estivesse relaxado, leve. Aí fiquei pensando na Lo Lo Jones, aos trinta anos, tendo de segurar a maior onda. Ao menos foi fácil entender porque ela acabou fora do pódio nos 100 metros com barreiras. Será?

Queria registrar aqui também o meu fascínio por essa que é, insistentemente, chamada de a prova mais nobre da Olimpíada. Creio que o segredo dos cem metros é a simplicidade. Dizem que o futebol se tornou o que é porque pode facilmente ser praticado em qualquer lugar. Basta uma bola. Uma bola que esse duelo de gigantes esnoba. Basta um risco aqui e outro cem metros pra lá para desafiar a nossa capacidade. Que maluquice interessante!

Ah! Só não concordei muito com os jornais que no domingo amanheceram enaltecendo a norte-americana Serena Willians por ter conquistado um "Golden Slam" - que significa vencer os quatro mais tradicionais torneios de tênis do mundo e ainda conquistar a medalha de ouro olímpica -  se nas entrelinhas faziam questão de frisar que antes dela apenas a alemã Steffi Graff, em Seul 1988, tinha alcançado o feito, mas com um detalhe, as conquistas de Graff tinham sido todas no mesmo ano e as de Serena, não. Ora, então elas continuam em lugares diferentes, ao menos na minha cabeça estão. Afinal, uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Não que o feito da americana não seja grandioso, não é isso, mas sob certa ótica é muito diferente.

E, meus amigos, não dá pra deixar de saudar, em especial, a nossa judoca Sarah Menezes e o nosso ginasta Arthur Zanetti e suas inéditas medalhas de ouro, que soam pra mim como verdadeiros remédios tarja-preta para tratar esse meu complexo de vira-lata. Meu, ou nosso? A eles e aos que ainda irão me fazer continuar acreditando na beleza e transcendência do esporte deixo aqui registrada a minha sincera admiração. E aos que ficaram pelo meio do caminho também, é lógico. Estou longe de imaginar que só vencedores saibam honrar nossa condição humana.

Tem coisa mais vira-lata do que isso?

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ô seu juiz !!!


No meu tempo de menino quando meu pai me levava para assistir as exibições da gloriosa Portuguesa Santista em Ulrico Mursa eu gostava mesmo era de ver o jogo saboreando uma porção de tremoços ou outra guloseima qualquer. Eram complementos perfeitos para as alegrias sugeridas pelas manhãs e tardes de domingo. Mas desde o início percebi que para muitos a grande diversão ali não tinha nada a ver com o homem do amendoim ou do sorvete. A curtição era pegar no pé do juiz.

Quando o futebol era pra valer, conclui, os únicos que podiam rivalizar com os árbitros eram os bandeirinhas. Só eles eram capazes de tirar os juízes da alça de mira dos descontentes e dos insatisfeitos. E nessa hora como era cruel o destino dos bandeiras, condenados a passar o jogo inteiro correndo pra lá e pra cá na paralela dos alambrados, perto do indesejável e perigoso calor da torcida. E a penitência daqueles sujeitos não era só ter suas decisões eternamente contestadas, era o sarro. Um sarro ácido e cruel.

Aí do juiz que tivesse semelhança com alguém ou algo. Poucas profissões escancaram tanto nossos erros e pecados, ainda mais agora que as câmeras estão por todo lado. Não creio que tenha existido um tempo em que os juízes de futebol tenham sido respeitados, gozado de boa reputação. Fomos eternamente perversos, duvidamos deles mesmo antes de o jogo começar. Tremenda injustiça, eu sei, com aqueles que conseguiram estar acima da média.

Durante muito tempo imaginei que toda essa discussão em torno dos erros de arbitragem fosse causada pela ampliação dos recursos tecnológicos disponíveis. Na minha santa complacência era capaz de levar em conta que os erros sempre existiram, a única diferença para os tempos atuais é que agora podíamos ver todos eles, no detalhe, em replay, em câmera lenta, com ampliação. Mas temo estar errado. Diante do que vem acontecendo sou levado a crer que a arbitragem piorou pra valer.

Nas últimas rodadas a coisa foi um tanto escandalosa. Quando um juiz como o gaúcho Fabrício Neves Correa e seu trio de assistentes transforma uma falta fora da área em penalti e, ainda na mesma partida, permite que um jogador impedido leve o Cruzeiro ao segundo gol, está prejudicando o Palmeiras. Mas quando o senhor Rodrigo Braghetto e seu trio de assistentes invalida o gol marcado por Fred no jogo contra o líder Atlético Mineiro - ainda que os torcedores do Galo façam questão de dizer que um lance anterior tornaria o gol ilegal - mais do que prejudicar o time carioca o tal juiz está prejudicando o campeonato, tirando dele um pouco do sempre saud´vel equilíbrio.

Com uma vitória o Fluminense estaria nesse momento apenas com três pontos a menos do que o primeiro colocado. Sem o erro descrito aqui os torcedores do Flu poderiam sonhar com um tropeço do Galo diante do Flamengo, poderiam sonhar em ter o mesmo número de pontos de quem lidera, mas com essa pisada na bola não terão direito de sonhar nem em roubar a vice-liderança do Vasco. Falo aqui de situações com as quais vocês podem até não concordar. Mas o que penso vai além.


Uma arbitragem assim, de jeito que estamos vendo, sem critérios, que muitas vezes se omite diante de jogadas violentas, é uma ameaça ao nosso futebol. Como diria o Mano Menezes, "penso que" existe alguma coisa errada nisso tudo, alguma orientação ou falta dela, que está colocando o futebol brasileiro em risco.

Aproveito para dizer que pouco tempo atrás, quando o mundo desabou na cabeça dos árbitros por causa das cenas que induziram um bom número deles ao erro, como aquela papagaiada do Ibson, do Flamengo, no jogo contra o Bahia, ninguém cobrou dos homens que estão lá pra fazer valer a regra um pouco de malandragem. Sim, porque pedir que os boleiros não tentem levar o juiz no bico é quase tão ingênuo como estar na arquibancada e pedir pra que não xinguem a mãe do juiz. A arbitragem, meus amigos, tem sido de doer.

Vê se dá um jeito nisso aí... ô seu juiz!


quinta-feira, 26 de julho de 2012

Verdades, mentiras e interesses


Nós, na condição de debutantes e futuros anfitriões de uma edição dos Jogos Olímpicos, devemos prestar muita atenção no desenrolar dos fatos em Londres. Copiar nem sempre é pecado. Não devemos ter pudor nesse sentido. Fato é que os britânicos deram uma banana para o espírito olímpico e decidiram impedir o presidente da Síria e uns certos ditadores de entrar no país, ainda que eles tenham atletas inscritos nos jogos.

Um dos ditadores impedidos é Robert Mugabe, do Zimbábue. Aquele mesmo que tempos atrás recebeu a seleção brasileira para um amistoso e fez valer o cachê de dois milhões de dólares pago ao nosso escrete, fazendo questão de ir a campo cumprimentar nossos jogadores. Presidente desde 1980, Mugabe atravessou as últimas décadas com seu governo sendo acusado internacionalmente de violenta perseguição contra opositores políticos e representantes de outras etnias.

Durante esse período, pelo que já li, a população branca do Zimbábue minguou severamente. Descendentes dos colonizadores britânicos perderam terras e empregos e milhares bateram em retirada. Ainda que os laços históricos nesse caso sejam mais estreitos, essa decisão recente tomada pela Inglaterra não deixa de revelar uma nova dimensão do papel vergonhoso aceito pelos nossos cartolas. Num país dito sem memória nunca é demais lembrar.

Se iremos sentir orgulho, ou não, da nossa custosa Rio 2016 só o tempo dirá. O que sei é que a cúpula do Comitê Olímpico Brasileiro estará na capital inglesa com a missão de fechar novos patrocínios. Nesse quesito somos um sucesso absoluto. Nossos organizadores esperavam chegar aos 700 milhões de reais com patrocínios mas essa quantia foi superada e agora se fala 1,2 bilhão.

Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB afirma que " há uma percepção no mercado de que os jogos de 2016 representam uma oportunidade única de crescimento não só para o Brasil, como para toda a América do Sul". Único, Sr Nuzman, seria ver nosso país crescer como crescem países que levam educação, infra estrutura e oportunidades a sério. Único seria ver nosso país, um ano ao menos, apresentar uma taxa de crescimento parecida com a deles.

Nem é preciso conhecer economia a fundo para saber que não anda assim tão fácil encontrar um mercado otimista por aí. Sem dizer que quando o assunto é fazer valer o quase um bilhão de reais investidos pelo governo federal na preparação da equipe nacional nos últimos quatro anos esse otimismo desaparece. Aí se fala em quinze medalhas, ou seja, repetir o que foi feito em Pequim.

Saber o que é verdade, o que é mentira e o que é interesse em matéria de olimpíada é um desafio. Por exemplo, quando ouço Sebastian Coe, presidente do Comitê Organizador dos Jogos de Londres falar sobre o uso das ferramentas sociais da internet, dizendo acreditar que existe uma relação entre o número de mensagens enviadas durante a competição e o baixo rendimento de um atleta, não consigo acreditar que ele não esteja sendo corporativista.

Todo mundo sabe que existe uma censura no uso dessas ferramentas por parte dos atletas nas Olimpíadas. Coe, que foi bicampeão olímpico dos 1500 metros, disse que quando corria queria se
"concentrar apenas na competição. Sabia que aquele momento era único". Que descoberta, não?
O que ninguém fala é que Sebastien Coe, depois de deixar as pistas, se tornou político, filiado ao Partido Conservador. Ele era rápido, mas pelo visto foi ultrapassado pela modernidade.

Será que Michael Phelps fez uso das redes sociais em Pequim? E Mark Spitz teria virado o nadador incrível que virou se tivesse feito uso "indiscriminado" da internet? Se a Olimpíada quer o melhor dos homens, porque não dar a eles o direito de escolha, liberdade?

Ouvindo Sebastien Coe, e até Mano Menezes, que preferiu fazer da Vila Olímpica apenas um passeio para nossa seleção (para entrar no clima) fico com a impressão de que as maiores ameaças aos atletas não são mais os adversários e suas incríveis capacidades físicas e mentais, mas sim as tentações da internet ou da dita profana Vila Olímpica.


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Os cartolas e os meninos


I


Não é de hoje que os números me causam arrepios e não se trata apenas de resquícios de um trauma por ter sido reprovado em matemática quando cursava a distante quinta série. E isso num tempo em que levar bomba significava ter de refazer todas as matérias novamente, inclusive, aquelas em que sua nota média anual girava em torno de nove ou dez. Não riam, elas existiam. Pior ainda quando lembro que a reprovação veio depois de uma recuperação exaustiva que me deixou a apenas 0,25 de passar. Até hoje desconfio que mais terrível do que a matemática era a professora. Mas...passou, ou quase.

E o problema não é exatamente a matemática, que considero fascinante. Difícil pra mim é enxergar os números como um reflexo da verdade, seja na vida e, principalmente, no futebol. O jogo e o viver são muito mais ricos e complexos do que qualquer estatística. Aí abro o jornal e fico vendo todo o bafafá em torno do sigilo que foi quebrado na Suiça e que deixou João Havelange e Ricardo Teixeira como que de cuecas em praça pública.

Até que ponto as cifras, os números estampados nos jornais refletem o tamanho do delito desses dois cartolas do futebol brasileiro e mundial? Por anos, decisões importantes do futebol aqui e no mundo passaram nas mãos desses dois senhores e a conta ora exposta diz apenas das falcatruas da ISL. E mesmo assim quem acredita que isso é tudo que eles levaram? A vida, além de tudo, sempre é mais expressiva do que os números.

Agora vem o Blatter dizer que "suborno é inaceitável". Ora, acreditar que exista um inocente nesse teatro é para mim tarefa tão árdua quanto acreditar nos tais números. E é tudo tão maluco que já não sei nem de onde vem tamanha indignação se já estávamos cansados de saber o que os jornais só puderam estampar alguns dias trás.

E onde encontrar razão para crer que os bastidores do Comitê Olímpico Internacional são mais íntegros que os da FIFA? Havelange mesmo, até outro dia estava lá e cá. A situação de todos nós que gostamos de esporte acaba sendo um pouco a do cara que não quer aceitar que foi traído. Por amor, ou seja lá o que for, preferimos acreditar que o esporte está a salvo da cobiça dos homens, que através da história o enalteceram e o dilapidaram. Só pode ser porque insistimos em acreditar que há algo de tão puro nele que nenhuma mazela ou maldade irá ferir. Não pode haver outra razão.


Vejo o desembarque do nadador Cesar Cielo no aeroporto de Heathrow, em Londres, citando Walt Disney, dizendo que prefere acreditar no impossível pois é uma maneira eficaz de eliminar vários concorrentes e percebo que ali, de alguma forma, a alma do esporte resiste.

II


Já no caso da nossa jovem seleção a coisa é um pouco diferente. Mano Menezes está certo quando diz que o futebol é um mundo à parte na Olímpíada. É mesmo e, de tão grande, ao longo da história foi colocando à prova a honestidade dos homens. Deu no que deu, no que está dando.

Por falar na nossa jovem seleção que amanhã faz amistoso com a Grã-Bretanha, Mano dá todas as pistas de que está no foco, ciente da chance que tem nas mãos e faz de tudo para aproveitá-la. Terá minha torcida, não que eu tenha entendido tudo que ele quis fazer até aqui, mas o vejo como um profissional desfrutando de um momento que conquistou de maneira legítima.

Por outro lado não deve estar sendo fácil para os meninos. Além das cobranças, ainda houve esse período de treinamento na escola de educação física do exército antes de embarcar e, como se não bastasse, os guris ainda ficarão longe da Vila Olímpica.

Segundo disse o treinador da seleção "não vamos ficar nela por causa dos problemas que pode nos trazer, e não estamos atrás de problemas e sim de benefícios." O treinador brasileiro prometeu apenas uma visita para entrar no clima olímpico.

Mas poxa Mano, logo agora que a molecada já tinha dito que estava louca para conhecer a Sharapova? O que não se faz por causa de uma medalha olímpica que nenhum boleiro brasileiro jamais teve no peito, hein?

Vida de jogador não é fácil. Mas a de cartola pelo visto é.



sexta-feira, 13 de julho de 2012

Chegadas e partidas



Chegadas e partidas vão dando o tom do futebol brasileiro depois deste inverno ter nos brindado com um caloroso e colorido veranico. A chegada do consagrado Clarence Seedorf ao Botafogo deixa no ar a esperança de que colocamos um ponto final num tempo em que os torcedores daqui podiam sonhar apenas com craques de outras agremiações ou, quem sabe, com um ou outro patrício já muito rodado além das nossas fronteiras.

Mas não é prudente esquecer o papel do destino em tudo isso. O holandês Seedorf é casado com uma brasileira, fala português, chegou a ter um apartamento no Rio, portanto, tudo indica que essa proximidade tenha pesado mais do que a grana na hora de bater o martelo. E como o destino foi generoso com o futebol brasileiro. Mais do que suas qualidades técnicas, Seedorf tem sido reconhecido ao longo da carreira por sua formação e comportamento. E, sejamos sinceros, isso nos faz muita falta também.

Longe de ter a mesma relevância por questões que vão muito além do jogo a chegada de Forlán ao Internacional reforça a tese de que os cofres dos clubes brasileiros nunca tiveram tanto a oferecer. Alimento apenas um temor com relação a contratações desse porte. Não é de hoje que os nossos dirigentes defendem com unhas e dentes a tese de que não é possível montar um grande time sem gastar. E como uma estrela faz a roda do faturamento girar!

A chegada de Ronaldo ao Corinthians algum tempo atrás e seu sucesso dentro e fora de campo serviram de alavanca para os entusiastas desse modelo gastão. Nesse momento ninguém lembra que o Botafogo é o clube que mais deve no Brasil, trezentos e oitenta milhões de reais. O velho argumento de que o time não vai gastar nada volta a ser usado, como sempre. Difícil é acreditar que o clube irá ganhar, como poderia e deveria, se a ele pedem apenas para entrar com a marca.

No caso da chegada de Ney Franco ao São Paulo o lado menos explorado e nebuloso a meu ver é outro. Quer dizer que o presidente da CBF acha que tudo bem perder um profissional como Ney? Escutei várias versões, inclusive, a de que a competência de Ney Franco teria virado um problema para Marín. Encontro mais motivos para acreditar em uma outra possibilidade.

Há tempos se fala que Mano Menezes não é a pessoa que Marín enxerga como ideal para comandar a seleção. Logo, ao permitir que Ney Franco deixasse de ser coordenador de base para assumir o comando técnico do São Paulo o presidente da CBF, que é tricolor e todo mundo sabe, não apenas ajudou o time que lhe é caro como conseguiu criar - no mínimo - um desconforto para o diretor de seleções, Andres Sanchez, e ainda por cima enfraquecer Mano Menezes.

Talvez todos os envolvidos neguem o fato mas basta dar uma rápida pesquisada nas notícias de outubro de 2010 para se certificar de que Ney tinha sido uma indicação de Mano Menezes, aliás, uma belissíma indicação. Que Marin aos poucos vai levando o barco pra onde quer, isso me parece muito claro. Como parece evidente também que Mano fica cada vez mais dependente da medalha de ouro.

Depois de tantas chegadas, uma partida chama a atenção, a do clássico Paulo Henrique Ganso. Tão grande quanto o talento do jogador tem sido o desencontro de interesses entre ele e o Santos, entre o Santos e os representantes do atleta. E pensar que há pouco tempo quando por brincadeira alguém perguntava: Ganso ou Neymar? Não foram poucas as vezes em que ouvi optarem pelo primeiro. Diante disso tudo resta torcer pra que ele, o Santos e todos os envolvidos saibam, ao menos, onde querem chegar.



quarta-feira, 4 de julho de 2012

O passe é pop


O passe é uma realidade. Sem ele o futebol seria inviável. Ou, talvez, com alguma licença poética, seria possível afirmar que sem ele o jogo acabaria reduzido a uma diversão para uns poucos iluminados, desses que têm o dom de sair correndo com a bola dominada em direção ao gol adversário sem que ninguém os consiga parar. Coisa pra Ronaldo, Maradona, Neymar.

O passe está na moda, como se fosse uma cor ou um corte de roupa - manjados - que sem ninguém conseguir explicar porque voltam a ser a sensação da estação. O estilo de jogar da seleção espanhola contaminou o futebol europeu. É o que sugerem as estatísticas. A louvável média de quatrocentos e cinquenta passes certos durante uma partida, patamar exclusivo da Espanha campeã da Eurocopa em 2008, agora é também virtude de outras cinco seleções que disputaram o torneio este ano.

Uma moda tão forte que teria tido, inclusive, o poder de mudar o estilo dos italianos. Só acho estranho que o Barcelona tenha sido colocado de lado na hora de falar da questão, pois foi a força do time catalão nesse quesito que acabou ditando moda para a "Fúria" e praticamente obrigando-a a se enquadrar, a aceitar o padrão.

Pelo que sei e andei conversando por aí, os que acompanham o futebol há muito tempo são capazes de enxergar com facilidade que se trata mesmo de um resgate, um revival desses que vira e mexe permitem que a gente vá buscar algumas coisas no fundo do armário. Os mais velhos lembram bem que décadas atrás os argentinos, mais do que os brasileiros, mostravam vocação muito parecida. O toque de bola irritante era uma das coisas que se tinha de aturar durante um encontro com eles.

Olhando atentamente o futebol brasileiro é possível perceber que não estamos alheios a essa moda, ainda que o modelito mais moderno usado por aqui esteja longe de ser considerado de ponta. Não sei o que as estatísticas dos times brasileiros mostrariam, mas não é difícil perceber que times como o Santos têm demonstrado muita vontade de seguir essa tendência. E não deve ser por acaso.

Ninguém por aqui sentiu tão de perto a eficácia de uma troca de passes constante e precisa como o time da Vila. Mesmo avesso a impregnar o discurso com argumentos táticos e técnicos tenho a impressão de que o país do futebol está diante de um enorme desafio já que a troca de passes para ser eficaz exige duas outras condições que não são exatamente nossa especialidade. A movimentação e a obediência tática.

Já disse e não custa repetir. Na falta de atitude nesse sentido, que muitas vezes contamina nossos jogadores, a troca de passes intensa permite que se faça do passe uma espécie de escudo. Ter o passe como prioridade evita a responsabilidade de criar, de partir pra cima. E nem vou falar das nossas evidentes deficiências quando o assunto são os fundamentos. Esta aí outra grande lição da Espanha. Ter um número considerável de jogadores acima da média, com capacidade de partir pra cima ou de brilhar individualmente, mas que mesmo assim preferem fazer da movimentação e da troca de passes suas maiores armas.

 Na esteira do sucesso a Espanha acabou comparada à seleção brasileira de 1970 e não tardaram em apontar que se trata da maior hegemonia do futebol já que o Brasil campeão do mundo em 1958 e 1962 foi apenas vice na Copa América disputada entre aquelas duas copas. Calma lá. O modelo é sedutor mas não perco a fé no nosso improviso e na nossa ginga, mesmo que um número cada vez maior de especialistas diga que virtudes exaustivamente planejadas, ensaiadas, possam ser páreo para o talento em estado bruto.




sexta-feira, 29 de junho de 2012

À moda antiga


Não bastasse o apelido - que tem um quê de futebol das antigas - ele também tem porte clássico e certo ar retrô.O futebol moderno que costuma transformar jogadores em figuras midiáticas não lhe pegou. E olha que não estamos falando de alguém que brilhou nesse mundo da bola pelas beiras. Foi campeão da Libertadores com o Cruzeiro, campeão Brasileiro e do Mundial de Clubes com o Corinthians. Sem falar das glórias com a camisa do Milan, time pelo qual conquistou duas Copas dos Campeões da Europa e um Mundial.

Dida, que está de volta pra defender o gol da Lusa, é um sujeito original. Sobre ele o que mais ouvi no meu tempo de repórter é que era um tipo muito tímido, o que pelo visto reflete a verdade, mas e daí? O que pouca gente sabe é que ao longo da história a timidez foi e tem sido a marca de grandes homens. Ainda outro dia li um artigo muito interessante sobre isso. E quando um grande homem exerce seu ofício a coisa costuma mudar de figura.

Pra corroborar essa tese basta recordar o que Geninho falou depois da vitória sobre o São Paulo. O treinador da Portuguesa considerou a vitória, entre outros detalhes, fruto da calma e da orientação que o arqueiro passou para a defesa. Ora , se orientou, não ficou calado. Ainda que tenha falado pouco, disse o que se fazia necessário, e pelo visto foi o suficiente.

Goleiros sempre pareceram ser um capítulo à parte na história do futebol e Dida reforça essa sensação. Foram duas temporadas longe dos gramados. E até as declarações que ele deu no pós-jogo foram de certo romantismo. Dida confessou que estava com saudade e talvez justamente aí resida o segredo do retorno em grande estilo. A saudade costuma provocar o que a gente de melhor. Sem falar, de novo, na originalidade, pois a maioria dos boleiros aos trinta e oito anos já não tem paciência alguma para as coisas do futebol.

Sem paciência anda também o torcedor santista que já pressente a dureza dos meses que estão por vir. Afundado na tabela do Brasileirão, com horizonte turvo e tendo que lidar com o fato de que precisará emprestar seus maiores talentos à seleção, diretoria e comissão técnica estão, sem sombra de dúvida, diante de um grende desafio. Elano está na berlinda e outros atletas terão que mudar muito se quiserem sair da mira da torcida.

Superar essa fase de transição colocará à prova a estratégia administrativa em curso. Neymar, não resta dúvida, tem feito valer cada centavo que recebe. E lembre-se de que ele atua em vários campos. Mas a estratégia poderá se mostrar fragilizada na ausência de dinheiro suficiente para manter o clube no nível competitivo que tem apresentado, que é consideravelmente alto.

Sim, porque uma coisa é ter recursos, outra é ter quem se disponha a investir no clube, situação que por mais que esteja incorporada ao nosso futebol, está longe de ser a ideal. Se alguém duvida basta perguntar a qualquer gerente de futebol sério. E há outro aspecto,  manter Neymar aqui exige que o Santos tenha outros jogadores, não como ele, o que seria pedir demais, mas jogadores com técnica suficiente para dialogar com aquele que é a referência do time. Em outras palavras, jogador caro.

Seria bom até trazer para o Santos alguém reconhecidamente talentoso para que os adversários já não pudessem se preocupar apenas com Neymar. Olhando o passado recente do time da Vila dá pra dizer que o que o torcedor quer ver em campo é um time, um pouquinho, à moda antiga também.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

E deu Corinthians !

Serei breve para falar do confronto que em matéria de futebol....

O jogo de volta, sob certa ótica, reforçou a impressão que tive do primeiro, quando o
Santos, de tão pouco agressivo, permitiu que o Corinthians se visse confortável em plena
Vila Belmiro. Na ocasião, mesmo depois de ter levado um gol demorou mais quinze minutos para construir um bom lance de ataque.

Fez um segundo tempo mais vivo, é verdade, mas longe de ser um time brilhante.

Por mais que se fale das limitações do Corinthians, não resta dúvida de que vive um momento melhor que o do adversário, e colhe os resultados da lucidez de ter mantido, além do treinador, um time base.

Ontem, com um toque de bola, que mais ludibria do que glorifica, o Santos se mostrou novamente pouco agressivo. Só alguns segundos antes do cronômetro apontar meia hora de jogo atacou pra valer. Se houve um mérito no time de Muricy foi conseguir chegar ao intervalo em pé de igualdade com o Corinthians.

Tivesse conseguido fazer a pressão sobre o time de Tite ir além dos dois minutos da etapa final, teria aumentado consideravelmente as chances de ter mudado a história. Mas enquanto o Santos ia padecendo da falta de brilho, de criatividade, saltava aos olhos a maior das virtudes corintianas: ser uma equipe combativa.   
           

quinta-feira, 14 de junho de 2012

É o camisa dez


Ainda trago aqui comigo um certo deslumbramento por ter visto Lionel Messi fazer tudo que fez no final de semana diante da nossa seleção. Pois nesse imenso purgatório de finalizações bizarras que temos sido obrigados a testemunhar a precisão cirúrgica do craque argentino na hora de concluir uma jogada chega a me impressionar.

E como é cruel, diante de uma exibição dessas, dizer, como ouvi e costumo ouvir por aí, que o sujeito estava num dia inspirado e todas as chances que apareceram ele transformou em gol. Muitos de vocês já devem ter ouvido esse tipo de explicação. Trata-se de um cacoete, um modismo, ou algo que equivalha. Um jeito simplista que certos torcedores adotaram para explicar uma bela exibição, em geral de jogadores de outros times, raramente do seu.

Driblar o goleiro, por exemplo. Messi é capaz de executar esse movimento sem perder o ângulo, sem deixar a bola se encaminhar para um lugar do qual mandá-la para o gol passe a ser improvável. Neste exato momento tenho dificuldade para lembrar de um lance em que ele na hora de colocar a bola pra rede tenha contado com a sorte. E minha explicação para isso é muito simples: sua maestria em lances conclusivos praticamente anula as chances de que ele dê azar.

Que nosso talentoso Neymar tenha em mente uma coisa: iguais são os cabeças-de-bagre, craques são sempre singulares, por mais que se pareçam, e em geral se parecem muito. Puro disfarce. E não me venham cobrar coerência.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Jornal Velho

 
 
Leio aqui num jornal do fim de semana - mania terrível essa de ler jornal velho - que um vírus que andou causando terror pelo mundo pode ter sido gerado nos computadores de uma instituição brasileira. Mas o que me causou maior espanto foi o seu poder. De acordo com a matéria uma vez instalado no computador o bendito teria a capacidade de invadir microfones e gravar conversas mesmo que o microfone estivesse desligado. 
 
Foi inevitável. Passei a achar até romântico imaginar que um dia as câmeras de vídeo espalhadas por aí foram a maior ameaça a nossa privacidade. Não é tudo!
 
Duas páginas mais tarde dei de cara com um artigo versando sobre nosso pavor do fim do mundo. Calendário maia, asteróides em rota de colisão com a terra, essas coisas. Bom, dessa vez o que me deixou pensativo foi um entrevistado dizer que daqui a quatro bilhões de anos haverá  um choque de galáxias. Andrômeda se jogará nos braços da Via Láctea, ou algo assim. Mas calma.
 
O portentoso encontro de  modo algum irá colocar em risco a vida na terra. O único efeito colateral, segundo o entendido, será um céu mais cheio de estrelas. Vocês, que são muito bem informados já deviam saber de tudo isso. Mas eu, eu fiquei aqui... saboreando a felicidade de saber que daqui a alguns bilhões de anos até nessa paulicéia desvairada teremos um céu mais estrelado. 
 
 
* O título é homenagem ao amigo Marco Aurélio, o Cara do Céu. Maior leitor de jornais velhos do mundo.
 
 
 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Façam suas apostas


Ronaldinho Gaúcho vestindo o uniforme do Atlético Mineiro por um momento me pareceu miragem. E antes que eu me aprofunde no tema quero dizer que secretamente carrego comigo um medo danado de ser visto como moralista. Do ponto de vista filosófico social poucas coisas me causam tanto pavor.

Estou longe de fazer parte do time dos que vivem apontando a queda que Ronaldinho Gaúcho tem para a aproveitar a vida como o veneno que anda matando seu futebol. Digam o que quiser de Ronaldinho Gaúcho, menos que ele está velho.

Mas é verdade que, do alto dos seus trinta e dois anos, naquele depoimento dado ao Fantástico me passou a sensação de estar meio perdido, tomado de assalto pela avalanche dos fatos. Quem, no entanto, nunca se viu assim nessa vida?

Ser craque sempre foi benção e penitência.Triste daqueles que acreditaram em outras dádivas. Gostaria muito de ver aquele Ronaldinho Gaúcho, sinônimo de alegria e excelência futebolística, renascer nos gramados do nosso país. Se não for possível, desejo que ele tenha a lucidez de colocar um ponto final nessa sandice toda. Isso sem falar que ter uma mãe adoecida como ele é motivo mais do que suficiente para se perder e querer dar uma banana pro mundo. Motivo, inclusive, pra que eu mude de assunto.

Semanas atrás falei da tabelinha que estava se desenhando entre cartolas e políticos com a intenção de achar uma saída para ajudar os clubes a darem conta de suas dívidas que chegam a quatro bilhões de reais, e que Romário, na condição de vice-presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, despontava como nome forte para fazer essa ponte.


Novo lance se deu. Em audiência pública realizada na nobre Comissão de Turismo e Desporto foi debatida a ideia de regulamentar as apostas via internet. Os interessados em defender a causa alegam que as apostas feitas em outros países em times brasileiros movimentaram 600 milhões de dólares.
 
Dizem que a França criou uma agência para monitorar as apostas em jogos de futebol e só no primeiro ano de funcionamento arrecadou 500 milhões de euros, cerca de 1, 2 bilhão de reais. Só esqueceram de dizer que, talvez, os bem intencionados da França sejam mais bem intencionados do que os nossos.
 
A aposta online pelo que leio aqui foi considerada por um dos deputados como " uma possibilidade espetacular". Será que eles têm acompanhado como a manipulação de resultados para privilegiar certos apostadores tem corroído o esporte pelo mundo?
 
Incentivados pelos vultosos acordos feitos pela venda dos direitos de transmissão os clubes brasileiros bateram recorde de dívidas em 2011. E podem acreditar, o Atlético Mineiro, novo time de Ronaldinho Gaúcho é o quarto time brasileiro com maior dívida tributária, cento e oitenta e sete milhões de reais. Só perde para o Fluminense, para o Flamengo e para o Botafogo, que nesse quesito se mostra insuperável, com inacreditáveis trezentos e dezoito milhões.
 
Para completar toda essa minha desilusão a Portuguesa Santista, a Briosa, ainda foi derrotada pelo Jabuca no inigualável "Clássico das praias". Aí já é demais. Até a semana!

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Na ausência de uma rodada

Esta semana que atravessamos é uma verdadeira ameaça ao nosso ritual cotidiano. Estamos de futebol até a tampa mas não deixamos de sentir a falta dele. Uma semana atípica como essa, sem um joguinho para quebrá-la ao meio, se faz no mínimo, estranha. E, cá entre nós, joguinho é a melhor maneira de descrever o que temos visto com mais frequência.

E a seleção? A seleção é outra história. E não vai ser um embate contra os Estados Unidos a cura pra essa nossa abstinência. Sem falar que no geral a seleção apesar do bom primeiro tempo contra a Dinamarca e do placar elástico mas questionável de ontem está longe de proporcionar a dose cavalar de futebol que nos habituamos a consumir.

Não estamos acostumados com esse vazio, não estamos acostumados a respirar entre uma rodada e outra, a ter tempo de olhar a vida em volta entre um apito e outro. Os efeitos colaterais dessa ausência serão inevitáveis. Imagino que a essa altura deve ter muita esposa por aí que, sem se dar conta do recesso ludopédico, ficou meio sem entender por que  o maridão parecia tão perdido na noite de ontem.

 Mal sabem elas que é bem capaz que boa parte deles volte a apresentar os mesmos sintomas nesta noite, mais precisamente entre oito e meia noite, e que os tais sintomas têm tudo para voltar com maior intensidade ainda no final de semana quando não teremos também rodada do Campeonato Brasileiro. 

Por essas e outras eu vou me divertindo como posso. A frase " eles (FIFA) devem mais ao Brasil do que o Brasil a eles", dita pelo nosso Ministro do Esporte me tomou um tempão. Fiquei imaginando quanta gente não deve ao Brasil e, mais ainda, quanto o Brasil não deve a sua gente.

E sorri, quase sem querer, ao ficar sabendo dos dotes culinários do lateral santista, Fucile, que de tão seguro na cozinha decidiu colocar no Facebook uma receita de "camarões". Corre o risco de ficar um bom tempo em banho-maria. E a veemência de Muricy ao falar do meia Felipe Anderson depois do jogo com o Sport?  "Jogador de time grande tem que saber que aqui não pode ser promessa pra sempre. Aqui não tem espaço para ser mais ou menos". 

Felipe Anderson, que já viu Neymar fazer milagre, sabe que não é de hoje que Muricy anda de olho nele. Meses atrás o técnico santista chegou a dizer que o rapaz " é bom jogador, tem velocidade, bom chute, mas é muito desligado", e Muricy, rodado do jeito que é sabe que tá mais do que na hora de "ligar" todo mundo. Quem também precisa se ligar é a diretoria do Santos. A regra para se escolher o local de um jogo deveria ser uma só: quanto mais importante e decisivo o momento, mas se deve respeitar a vontade dos jogadores e da comissão técnica. A Vila Belmiro fio, desde sempre, a melhor escolha. Nem era preciso pensar.

Também gostei dessa história da Dilma Roussef ter sugerido por aí que o presidente da CBF, José Maria Marín, é um homem identificado com a ditadura. Nada pode ser tão cruel com certos homens quanto atirar na cara deles seu próprio passado. Essa nossa presidente, às vezes, viu? Mais parece um zagueirão dos bons, e pelo jeito também não brinca em serviço na hora de mandar pra escanteio. Na ausência de uma rodada... sugiro ao nobre leitor cuidar bem do coração porque ele em breve será muito exigido. 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Futebol não é só paixão

O Chelsea gastou em contratações a ninharia de novecentos milhões de euros, e triunfou. Não que o futebol só por suas cifras possa se fazer bonito ou respeitado, por suas cifras jamais. Mas achei interessante notar que a nobre decisão do campeonato europeu de clubes foi capaz de evidenciar um abismo silencioso que existe entre torcedores.
 
Um abismo que separa os que se entregam ao jogo de corpo e alma aceitando praticamente tudo em nome dele - de retrancas insanas a ataques enervantemente comedidos -  e aqueles que não conseguem encarar o futebol sem emprestar a ele, digamos, um viés sócio-ideológico.
 
Embora confesse maior afinidade com o segundo tipo, a mim bastava/bastou o futebol mais vistoso do Bayer para torcer por ele, ainda que me fosse impossível ver aquele time de azul e não pensar na máfia russa, nos bilhões de uma privataria despudorada, no futebol inglês tão organizado, tido sempre como exemplo, virando a cara, sem querer saber de onde vem o dinheiro que lhe garante a pompa.
 
Trata-se de uma preocupação inglória, como se houvesse no mundo um time de primeira linha construído só com dinheiro inocente. Que dinheiro é capaz de trazer felicidade não resta dúvida, o detalhe é outro, a impossibilidade nesse caso sempre residiu no fato de que há um certo tipo de felicidade que não se compra. Talvez por isso o Chlesea seja o Chelsea e o Barcelona o Barcelona. Ao menos até que um sheik decida arrematar o Camp Nou.
 
O dinheiro, no entanto, não deve receber todas as culpas. O cultuado futebol europeu tem nos mostrado mais do que qualquer outro que em determinado momento, com tanta coisa em jogo, um time mais limitado pode acabar sendo visto como exemplo de inteligência por se mostrar ciente de seus limites. Olha, não é de hoje que jogos desse quilate correm esse perigo. 
 
Na ausência de um time que nos encha os olhos em finais da Copa dos Campeões da Europa o enredo, muitas vezes, é tão igual que a emoção gerada pela partida pode quase ser intuida. Mas o glamour é tamanho, o nosso respeito de colonizados tão grande, que alguns gols raros marcados em tempos de jogo quase findos acabam sendo encarados como o supra-sumo da arte de jogar bola, coisa que não serão nunca.
 
 A Didier Drogba dispenso o mesmo reconhecimento que faço questão de dar ao trabalhador que em seu ofício se exaure em suor, mas que não está livre de dar de cara com a foto de seu patrão estampada nas páginas polícias de um jornal no dia seguinte. Drogba, que agora já se sabe, deixará o time do magnata russo Roman Abramovich. 
 
O dinheiro, senhores, montou um belo time não há como negar. Quem ousará dizer que um goleiro como o tcheco Petr Cech não merecia um título dessa envergadura? Ou um Lampard? Não é de hoje que o futebol tem o poder de cravar o nome de certos homens na história, mas também não é de hoje que muitos times poderiam ser derrotados por sua própria história.
 
Antes de se posicionar sobre essa questão, de dizer o quanto seu futebol tem de sociologia, de ideologia, pense primeiro quantas coisas já o fizeram torcer contra um determinado time que não eram exatamente ligadas ao futebol. Creio que não tenham sido poucas. Do Real Madrid afinado com a ditadura de Francisco Franco, até aquele jogador ou técnico que você nunca foi com a cara. 
 
O que és afinal ? Um idealista ou um passional da bola?  

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Vélez x Santos (anotações de jogo)

Velez x Santos (anotações de jogo)


Primeiro tempo


6 Muricy parece pilhado

20' Bom lance, Ganso quase faz belo gol

27' Ganso erra feio pela segunda vez

29' Papa leva CA

30 Chute de Martinez, depois de tabelar

31' Rafael faz bela defesa

32' Santos toca bola, sem sobressaltos

35 Virada de jogo para esquerda. Bola fica com Papa que cruza. Óbolo marca. 1x0 (Elano? Não chegou.Rafael não se mexeu...)

Segundo tempo

4' Elano cobra escanteio, e quase faz gol olímpico

12' Kardec sai /Borges entra

14'Óbolo aparece livre de novo

16' Peruzzi, o marcador de Neymar leva CA ( quinta falta dele)

17' Elano cobra falta, mal (Devia ter deixado pro Ganso?)

Obs - Henrique mal, Ganso também


21' Fernandes bate de primeira, Rafael defende !!!

29' Elano sai/F.Anderson entra

35' Juan visivelmente caiu de produção, impreciso.Cansado?

39' Cabral chuta bonito, Rafael!!!

40' Cabral,que acaba de chutar, sai pra dar lugar a Bella

43' Bella que acaba de entrar solta uma sapatada.Uh! Por cima

45' Dracena dá baita canelada no adversário e leva CA

46' Gareca, tecnico do Velez faz questão de fazer a terceira substituição dele (tava gostando do resultado então?)

Obs -Neymar, totalmente sem brillho, irreconhecível
Obs - O árbitro Carlos Amarilla é metido a durão, mas é justo /Aos 23 do segundo tempo vê jogador dar carrinho forte na frente dele e, seguro, não marca nada.Ninguém reclama



Palavras de Neymar no fim / resumo perfeito : " Hoje foi um dia em que o Santos não conseguiu jogar"