sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Quem precisa de Olimpíada?



A intenção pode ter sido das melhores. O Barão de Coubertin pode merecer absolvição. Mas que os Jogos Olímpicos há tempos tomaram outro rumo não resta dúvida. Talvez para lhe resgatar o espírito, fosse necessário lhe dar um quê da várzea.  Um jeitão simplório que realmente nos convencesse de que se trata de algo feito para todos. Mas vimos de perto do que se trata. Os elefantes brancos andam por aí na outrora irresistível paisagem carioca. Sem falar no fato de que uma vez apagada a chama olímpica o COI lava as mãos. Uma postura coerente e cidadã seria se sentir de algum modo responsável quando o legado não vem ou quando as contas saem do controle. 


É claro que o tema me fisgou por conta do descontentamento que os japoneses vão fazendo questão de mostrar com relação aos Jogos de Tóquio, adiados para o ano que vem por conta da pandemia. E mais recentemente pelas declarações descabidas e insensíveis do vice do COI, John Coates, e depois da Ministra da Olimpíada de Tóquio, Seiko Hashimoto. O primeiro afirmou que a Olimpíada será realizada "com ou sem covid". E a ministra, que os Jogos serão realizados "a qualquer preço".  Aos poucos  vamos vendo que nem os japoneses, que reconhecemos entre outras virtudes pela honestidade e pelo pragmatismo, são capazes de não se macular por esse tipo de evento. Ou pelo que ele virou. 


Vejam, a previsão inicial de gastos era da ordem de seis bilhões de dólares, cerca de trinta e seis bilhões de reais. O adiamento trará novos gastos. Mas na última vez que se falou nisso por lá - pois não se fala sempre - foi em dezembro de 2018. E a conta já havia saltado para assustadores doze bilhões e seiscentos milhões de dólares, ou sessenta e cinco bilhões e meio de reais.  Semanas atrás a capital japonesa foi palco de um protesto. Inversamente proporcional a essa conta. Cerca de uma centena de pessoas se reuniram e pediram não só o cancelamento da edição marcada para Tóquio, mas também das próximas marcadas para as cidades de Paris e Los Angeles. Isso mesmo! Pediram o fim dos jogos, por considerá-los desnecessários aos cidadãos do mundo. 


Posso ter dúvidas sobre acabar com eles, mas não tenho nenhuma sobre a necessidade de se colocar de uma vez por todas um fim em gastos dessa dimensão. Confesso que no último ciclo olímpico quando cidades importantes desistiram da candidatura tive a impressão de que veríamos algum movimento nesse sentido.  Sensação que encontrava amparo também na realidade que estávamos vivendo ao ver a conta dos jogos do Rio e suas promessas não cumpridas pairando como fantasmas sobre nossas cabeças. Pensei que o mundo tivesse tido uma boa prova de que era preciso mudar. 


Mas a máquina olímpica é insaciável. Mesmo com todos os engasgos econômicos do planeta os nossos mais de quarenta bilhões de gastos com os jogos já foram ultrapassados com larga margem. Um recorde de cifras que enche os olhos de alguns mas que soa infinitamente descabido. Uma realidade que elucida o que virou o esporte. Uma realidade que desvirtua. Enquanto a beleza resiste. Ou alguém duvida que ver um dia um homem conseguir correr os cem metros abaixo de nove segundos e cinquenta centésimos deixará de ser raro e belo só porque o estádio que abriga a pista em que ele corria não foi reformado ou é velho?   

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

A Libertadores é o que parece?



Eu gosto desse papo sobre a importância que a Copa Libertadores ganhou nos últimos anos. Por uma razão simples: vejo nele a possibilidade de entender melhor o que seduz de verdade o torcedor.  Como é que a emoção se processa na cachola de quem ainda gasta tempo e saliva com o jogo de bola. Não teço teorias mirabolantes, de modo que considero a enorme exposição na mídia capaz de  explicar em boa parte o que temos visto. Essa quase febre. Que os clubes a tenham comprado no sentido literal e figurado é óbvio. E se trata de reação intimamente ligada aos cofres. A bolada que cai na mão do campeão é considerável. 

Some-se a isso a possibilidade de figurar ao lado do campeão da Europa no Mundial de clubes e a fórmula da sedução talvez esteja desvendada. O verbo figurar nesse caso foi escolhido a dedo, não foi usado à toa, pois sempre correremos esse risco. Com já vimos acontecer. E a coisa só vai mudar no dia em que o futebol que se joga aqui for de alguma forma parecido com o que temos visto ser jogado na Europa. Enfim, lembro que tempos atrás a fase de grupos da Libertadores era encarada com certo desdém.   Um jogo aqui, outro ali, prendiam a atenção do torcedor. Mas era na reta final que a coisa dava liga. Hoje em dia, não. Os tambores rufam desde a chamada pré-Libertadores. Região da disputa que, se merece alguma fama, é mais por ter sido local de naufrágios improváveis de times ditos favoritos do que propriamente por sua importância. 

Digo mais, acho que essa volta - da maneira que está proposta - um tanto absurda. Dá a impressão de relevar totalmente o momento que o mundo atravessa. Manter a tabela assim, com jogos de ida e volta, obrigando delegações a frequentar aeroportos e outros locais, a fazer deslocamentos internacionais, é de uma insensibilidade enorme.  Certamente não foi por amor ao futebol que se decidiu desse modo, muito menos por respeito à saúde dos atletas e suas famílias. Sem contar que o formato com jogos únicos se mostrou capaz de contribuir bastante para aumentar a emoção em torno das partidas. Sem contar que estamos falando de uma edição que mal tinha começado. O que , em outras palavras, significa manter um número significativo de jogos num cenário que segue sendo de pura incerteza.E se falo dessa questão dos jogos únicos é não só porque seria um modo de poupar a parte física dos jogadores, mas também uma maneira de favorecer a melhora da qualidade técnica. Ainda que na cabeça do torcedor, tudo leva a crera emoção seja ingrediente capaz de suprir a falta de beleza muitas vezes


Longe dos mata-matas considero a Libertadores tecnicamente um torneio que deixa muito a desejar, pra não dizer que em alguns momentos apresenta um nível capaz fazer  um entendido no assunto corar de vergonha. E é de se esperar que a pandemia, frequentemente acusada por aqui de complicar o padrão de jogo e o trabalho das comissões técnicas, torne essa edição da Libertadores um tanto  mais opaca. Sem contar que cada país viu seu futebol voltar a cena em um momento. Dando aos times brasileiros alguma vantagem nesse sentido, já que voltaram a treinar já faz algum tempo. Enfim, acho a Libertadores um pouco uma metáfora desse nosso tempo em que, como dizem, quase tão importante quanto ser é parecer.     

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

O VAR só perde pro PIB



Tenho tentado driblar o assunto. Juro. Mas ele teima em se impor. Nas últimas rodadas do Brasileirão foi de longe o que provocou as discussões mais fervorosas. Nem em momentos de pura cornetagem em cima desse ou daquele jogador  foi possível notar veias tão estufadas. E não é pra menos. É coisa que mexe com o humor não só do torcedor, mas com o de todo mundo que de uma forma ou de outra está envolvido nesse circo. Enfim, cedi. Mesmo ciente de que de chato já nos basta o jogo, com exceções cada vez mais raras.  E não se trata de falar mal do árbitro de vídeo, não. 

Temos padecido de algo, creio, que já sabíamos, mas que de alguma forma nos envolvia numa fantasia. A fantasia de que o VAR teria a desejada virtude de ser conclusivo a respeito do jogo. Essa é a primeira questão que gostaria de abordar. Seria preciso - como diria meu amigo Xico Sá - fazer a geringonça tecnológica vestir as sandálias da humildade. Admitir, em certos casos, que mesmo dispondo de tantos recursos não é possível chegar a conclusão alguma. Essa deveria ser a lição deixada pela imagem que levou à anulação do gol de Luciano para o São Paulo diante do Atlético, em pleno Mineirão. Como aquele já estivemos diante de outros lances da mesma complexidade. 

A pena de não ter a coragem de em certas situações tomar tal atitude, aceitar que não é possível ser preciso na análise, é nos condenar eternamente a essa ladainha, que vai se repetir fatalmente. Vira e mexe virá nos assombrar. O tema é complexo. Lembrarão alguns que na jogada em questão o bandeirinha tinha apontado impedimento. Ou seja, sem o árbitro de vídeo o desfecho teria sido o mesmo. A  menos que o árbitro de campo tivesse tomado a decisão de desautorizá-lo. Ato que o faria comprar uma briga daquelas. Um outro detalhe merece reflexão. A forma como tem sido feita a escolha que define quem irá ocupar o posto de árbitro de vídeo. 

Se o escolhido tem trajetória e reputação mais expressivas, mais nome do que aquele que terá a missão de estar no gramado, a situação inevitavelmente fica desconfortável para o dono do apito. E a indução a uma certa forma de ver o ocorrido muito provável. Questão fácil de ser identificada pela Comissão que cuida da arbitragem. No mais, não deve nos causar surpresa que as decisões oriundas da cabine, muitas vezes, deixem transparecer uma quedinha para os grandes. A vida dos times pequenos nunca foi fácil. 

Imaginar que o VAR iria neutralizar essa (como definir?) tendência, pelo visto, é raciocínio tão ingênuo quanto imaginar que o árbitro de vídeo teria o efeito milagroso de arrefecer as polêmicas. O VAR, esse nosso pelo menos, que segundo levantamentos demora quarenta e seis por cento mais tempo do que recomenda a FIFA para tomar decisões, e cujas intervenções da última temporada para essa cresceram bizarros sessenta e oito por cento, precisa urgentemente de um bom analista. Ou quem acabara no divã seremos nós. Mais assustadores do que  esses números do nosso VAR tupiniquim só mesmo os que indicaram a queda vertiginosa do nosso PIB. 

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Fla-Flu (Djanira/1975)

 




  • Dimensões
    • 96.00 cm x 161.50 cm
  • Acervo
    • Museu Nacional de Belas Artes/ RJ

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Era uma vez o Itaquerão?

                                                          Foto: Wander Roberto /2019

Se você gosta de futebol e nunca leu algo escrito por Mário Filho a respeito do jogo de bola não tem ideia do que está perdendo. Sou suspeito para falar pois chego a gostar mais dele do que do irmão, Nelson Rodrigues, coisa que se a memória não me falha não faz muito tempo confessei. Não me entendam mal, tenho Nelson em altíssima conta. Mas tomarei a liberdade até de brincar um pouco com o tema. Vira e mexe alguém lembra que Nelson não enxergava bem. Mário enxergava muito, cada mínimo movimento. que pode ser facilmente percebido com a leitura de um texto escrito por ele sobre Telê Santana. Linhas em que Mário o define como sendo o ponteiro dos segundos, jamais o das horas. Isso em virtude do  jeito de Telê se movimentar em campo, destar em todo canto do gramado. Sem nem sempre ser percebido . Portanto, não poderia haver injustiça maior do que subtrair do estádio mais importante do nosso país o nome dele. Subtrair é figura de linguagem, seu nome está lá estampado em letras grandes. Mas só os mal arrazoados acreditam que se trate de tema sobre o qual alguém deva ou possa legislar. O Mário Filho é o Maracanã, e ponto. 

Essa questão do nome sempre foi um fantasma que rondou o novo estádio corintiano.  O que se fez ainda maior pelo fato de o atual presidente do clube ter se mostrado desde sempre incomodado com a alcunha: Itaquerão. Eis que horas atrás, enfim, o Corinthians anunciou quem dará nome ao estádio. Um patrocinador, óbvio. Poderia ser o fim de uma novela mas, digamos, tem tudo pra ser o início de uma nova temporada dela. Isso porque talvez não seja tarefa fácil convencer os interessados por futebol desse nome de batismo. A coisa se arrastou por mais de meia década, o que certamente serviu para sedimentar na cabeça dos torcedores o apelido. Os desgostosos com esse nome, Itaquerão, vira e mexe sugerem chamá-lo de Arena Corinthians. Compreensível. 

Mas como profissional de  comunicação posso fazer uma observação. Há um consenso de que palavras repetidas empobrecem o texto jornalístico.  E quando o estádio tem o nome do time a repetição se torna inevitável.  Os mais atentos terão notado que o estádio palmeirense era chamado muitas vezes, no início, não de Arena Palmeiras mas de nova casa palmeirense. Nesse sentido sempre considerei uma ótima sacada chamá-lo de Allianz Parque, o que de certa forma o ligou ao antigo nome, que sempre frequentou  o imaginário do torcedor.  Ainda que o nome oficial do Parque Antártica fosse Estádio Palestra Itália. Quantas vezes aquele seu amigo torcedor do São Paulo lhe disse que iria ver um jogo no Cícero Pompeu de Toledo? Ele diz que vai é no Morumbi e acabou.   Mesmo que muitos adversários gostem de lembrar que o estádio fica na verdade é no Jardim Leonor. 

Tenho a mais absoluta certeza de que Mário Filho, conhecendo o futebol como conhecia, jamais se sentiria desrespeitado ao ver, ouvir, seu nome substituído por Maracanã. É literalmente do jogo. Fazer com que um estádio passe a ser chamado assim ou assado pode ser uma questão de negociação, quando se trata de veículos de comunicação. Mas colocar um nome na ponta da língua do torcedor, pelo que a história mostra, não é exatamente uma questão de negociação. Muito menos de imposição.