Dizem por aí que o torcedor só enxerga o que quer. Não há teoria capaz de fazer um cabra enxergar o que não está a fim. Pois acho que não foi e o caso do árbitro da partida entre Botafogo e Palmeiras que abriu a última rodada do Brasileirão. Mas não é do pedido de anulação aventado pelo time carioca que alega que a decisão veio depois do jogo já reiniciado que quero falar. Sei que talvez eu compre uma briga danada com os palmeirenses que estão cheios de motivos pra querer ver o que o árbitro no calor do jogo não viu. Ocorre que pra mim, sem o aparato da tecnologia, ele tinha visto tudo muito bem.
Talvez o cartão amarelo para Deyverson pudesse ser colocado na conta dos exageros ou na conta do estilo do homem do apito, notadamente chegado ao uso indiscriminado do aparato. O lance do palmeirense com Gabriel estou convencido não se tratou de um pisão. Mas foi assim que narrador, comentaristas e afins envolvidos com o lance o descreveram. Caso não tenha visto o mesmo não cometerei a indelicadeza de deixa-lo boiando. Mas espero que ao fim da leitura, curioso, o leitor se ponha atrás da imagem para descobrir se olhando você terá visto o que eu vi ou se só vi mesmo o que eu queria ver. Fato é que chamado pelo pessoal da cabine do VAR para rever o ocorrido o árbitro se mostrou convencido de que tinha visto tudo ao contrário.
Anulou o cartão amarelo que tinha dado ao atacante palmeirense e deu o para o zagueiro Gabriel do Botafogo e marcou pênalti. Pra mim não se tratou de um pisão. Houve um choque de pés? Houve. Mas estou convencido de que ao sentir o toque Deyverson dá uma forçada e cai. O que teria num primeiro momento provocado o cartão. Eu sei, não é fácil no turbilhão de uma partida de futebol, sendo induzido a uma interpretação, acabar não errando. E se fiz questão de destrinchar o lance é pra apontar um erro, e não o da marcação. Mas se é verdade que o árbitro em campo segue sendo o soberano para decidir as coisas do jogo é preciso acabar com essa conversa do pessoal lá da cabine chamar pra rever algo que o árbitro de campo já decidiu. Se for um lance flagrante, um impedimento ou algo que o valha, tudo bem. Faça-se o uso da tecnologia. Agora pra um lance interpretativo como esse que se deu no estádio Nilton Santos, não faz sentido. É decisão que joga contra a credibilidade do VAR, que nasceu tão cheio de boas intenções e viveu mais um final de semana terrível.
O lance do Rodrygo na partida entre Santos e Internacional é outro exemplo. A boa imagem do aparato nesse momento de implantação passa muito pelo desafio da galera que está com o brinquedinho na mão ser capaz de ficar quieta. Claro que usado de maneira comedida algo vai escapar. Mas alimentar a ambição ou trabalhar com olhos de lince achando que será possível livrar o futebol de todos os erros que os homens sempre cometeram não passa de ilusão. Começo a achar por isso que o maior desafio de quem controla esse VAR é tomar consciência de que, infelizmente, será preciso aceitar certos erros do homem do apito, de outra forma matarão a pretensa soberania que ainda juram dar a ele. E aí, ou mudam a lei, ou estarão fazendo um tremendo mal para o futebol brasileiro.