sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Messi, o grande



Nos últimos dias o jogador argentino, Lionel Messi, tem ocupado mais espaço nas manchetes esportivas do que quase todos os jogos que têm rolado por aí. Mais até do que muitos clubes. E não é pra menos.  Messi, faz tempo, se tornou o principal fiel depositário da magia do futebol. Isso num tempo em que ter alguém à altura de vestir com dignidade uma camisa dez é muita coisa. Por força do hábito muitos não conseguirão driblar o que virou mania. Comparar o futebol dele com o de Cristiano Ronaldo etc e tal.  Não caio nessa e em outros tempos já deixei aqui minha opção pelo argentino. Ainda que reconheça no português um atleta raro e com lugar garantido na história. Como também não quero especular sobre o destino do argentino. Pouco importa. 

Seja qual for a camisa que ele venha a vestir a minha torcida é apenas para que ele nos mostre que ainda não perdeu o entusiasmo com o jogo. E  que venha a aportar em um time com elenco capaz de lhe dar o suporte técnico que merece. O que não é fácil. A ausência dessas duas condições, ou uma delas que seja, pode redundar numa perda considerável  para o futebol como um todo. Enquanto batuco estas linhas um programa de TV coloca um correspondente no ar pra dizer que o caso Messi pode levar à renúncia do presidente do clube catalão. Ao mesmo tempo em que as páginas de esportes elencam os fatos que teriam levado o craque a enviar à direção do clube a fatídica carta na qual externava sua vontade de partir. 

Aliás, se há algo que mudou em Messi de uns tempos para cá foi justamente o fato de passar a falar, de deixar claro o que lhe incomoda e o que quer. E não só no clube catalão onde nos últimos tempos adotou uma postura dura até, mas também na seleção argentina. Basta lembrar o comportamento que teve na última Copa América. Ali parecia ter deixado de vez para trás o jeitão que durante tanto tempo o caracterizou. O de um cara tímido, calado. A idade, sabemos bem, costuma diminuir consideravelmente nossa paciência. E isso tem um lado bom pois se há alguém com envergadura nesse meio para comprar brigas esse cara é Lionel Messi. Enfim, na minha opinião, o que verdadeiramente importa neste momento não é o número de gols que ele marcou, os títulos que ganhou, as marcas incríveis que alcançou, muito menos os incensados seis títulos de melhor do mundo. 

É o que Messi passou a significar a sua maior contribuição. A sua marca verdadeira.  Um controle de bola mágico. Uma maneira de pensar o jogo que mais parece uma assinatura. A consciência disso, dessa condição tão distinta, se faz necessária, principalmente pra cortar pela raiz aquele tipo de comentário que nasce da falta de sucesso dele com a  camisa argentina, da ausência da conquista de uma Copa do Mundo. Coisa que poderiam fazê-lo maior, mas que certamente não o fizeram menor. Podemos pensar o inverso também, como é que esse argentino conseguiu ser o que é sem nunca ter se visto na condição de campeão de uma Copa? Como, que fórmula é essa?  Desconfio que o fato de ter nascido em Rosário é parte essencial dela.  

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

A quem interessa o jogo único?

 

Vivi sentimentos distintos vendo o Bayern de Munique  fazer o que fez com o Barcelona dias atrás, que longe de ser o que foi ainda é o Barça. O Barça de Lionel Messi, senhoras e senhores.  Senti certa angústia tentando lembrar qual tinha sido a última vez que aqui, ao sul do Equador, tinha visto uma partida de futebol ir além do que prometia. Por mais que a cada dia soe mais descabido tratar o que tem sido praticado por aqui como futebol.  Não só não lembrei quando uma coisa dessas tinha se ado por estas bandas como vi a angústia quase virar depressão. 

Primeiro porque o duelo Bayer e Barça já prometia muito e entregou algo quase inimaginável pra nós. E depois porque caí na real e percebi que os jogos ditos nossos não só não cumprem as mínimas expectativas como sistematicamente têm nos decepcionado entregando o mínimo. Mas acima de  tudo por perceber como temos acreditado que a tradição pode nos salvar dessa condição. Nos aproximamos de um clássico, como o recente entre Corinthians e Palmeiras que valia um título paulista,  e nos deixamos tomar por um sentimento que em outros tempos se dizia que costumava pertencer a mulher de malandro. Sabe? Uma certeza infundada de que tudo vai mudar? Santa ingenuidade. 

Vou lembrar por muito tempo como jogava o time alemão nas profundezas dos quarenta e três minutos do segundo tempo. Com a ânsia de quem precisava de um gol para respirar. Uma grande lição se esconde nessa disposição toda. Quem, ou o quê, consegue fazer esses caras agir assim, com tamanha fome de bola? Justo eles que já tem e tinham tanto. E como aprender nunca é demais não devemos deixar de notar também as condições e atitudes a que essa pandemia nos condenou. Entre elas essa de se resolver a coisa com jogos únicos.  Creio que depois do que vimos os torcedores por aqui deveriam organizar um movimento para reivindicá-los. Fazer barulho mesmo. 

O jogo único provoca o que o futebol tem de melhor. Um tudo ou nada. E não me venham dizer que isso pode gerar injustiças. Algo que nos últimos tempos virou quase um consenso entre os que são do ramo.  Estou convencido de que esse papo de resolver as coisas em mais de um jogo só é bom pra faturar e, por tabela, dar uma nova chance a quem por descuido ou incompetência deixou escapar a primeira. Um jogo a mais, desculpem a insistência, deveria ser algo banido. Dilui uma emoção que deveria desde o início estar concentrada em 90 minutos e ponto. Dois jogos é água no chopp,  é água no feijão. Estou convencido ! No mais, fico aqui tentando fazer as pazes com essa tristeza que nasceu por ter visto tudo o que vi nessa reta final do pomposo torneio de clubes da Europa. E que foi bonito, hein!?   

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Santos sempre Santos

 

                     Foto: Marcello Zambrana/Agif

Se tem uma coisa que permeou os debates sobre o Santos nos últimos tempos é essa questão sobre onde o time deve mandar seus jogos. Não que isso não tenha importância. Até porque esse tema deve fazer parte da estratégia e do planejamento do clube. Mas esse assunto pode ser visto por um outro viés. Como reflexo de um clube cuja história o levou muito além das fronteiras da cidade em que foi fundado. Detalhe que por si só faz  do Santos um clube singular. Mas tão importante quanto essa questão seria administrá-lo de acordo com essa magnitude. A própria eleição do atual presidente é fruto dessa condição distinta e fragmentada. Peres era o cara de fora, um legítimo representante da parte apaixonada que sempre esteve muito além da ilha.  Mas o tempo passou e mostrou que o Santos continua sendo um só. 

E  por mais que estejamos atravessando tempos pra lá de difíceis não pode existir argumento mais refutável quando se trata de um grande clube - e apesar dos pesares o Santos segue sendo parte desse grupo - do que dizer que se está sem dinheiro. Ora, qualquer um que tenha embolsado nos últimos anos algumas centenas de milhões de reais teria dificuldade para atestar sua miséria. Pode-se ficar mais ou menos rico, o que é bem diferente. E se o Santos segue em condição de figurar entre os tais é porque ao longo da história tem visto desabrochar em seus domínios o futebol de um sem fim de meninos talentosos. Cada vez mais rapidamente transformados num lucro que jamais encheu os cofres da Vila Belmiro. 

Como também mostra a história que se o Santos se tornou o que se tornou foi muito mais em razão daqueles que o representaram em campo do que fora dele. O que não é, claro, privilégio do Santos. Há muitos outros casos por aí aptos a corroborar essa minha teoria. E que me desculpem os que muito fizeram pelo clube, que não são poucos. Mas a seguir administrado como vem sendo os triunfos em campo não passarão de um tipo de anestesia, um paliativo. E não custa lembrar. Ao torcedor é dado esse direito de se contentar apenas com a alegria da vitória, mas a quem administra o clube nunca. Diante disso tudo acredito que falar sobre a saída de Jesualdo ou a volta de Cuca é algo menor. torcedor

Mas, tendo em vista que o time em campo é a atividade fim do Santos, se perguntar se é possível tudo dar certo sem uma solidez administrativa se faz inevitável. Será? A passagem de Jorge Sampaoli, de certa forma, sugeriu que sim. Seja como for, o sucesso de Cuca à frente do time é só uma parte do que o Santos precisa. E por falar em manchetes, uma recente  mostrava que o Santos foi o time que mais faturou com a venda de jogadores da base na última década. Uma montanha de mais de duzentos milhões de euros, ou pouco mais de um bilhão de reais. E, além do mais, elas, as manchetes, notem, voltaram a ter a respeito do time da Vila aquele tom de desconfiança que insistia em rondar o clube todo início de temporada, e que só se dissipou quando o treinador argentino conseguiu fazer o que fez.  Portanto, assim segue o torcedor do Peixe, sem nem sempre conseguir abrir o sorriso quando ouve alguém dizer: Santos sempre Santos 

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Triste, revoltada e admirável

(foto: reprodução)

Não se trata de tomar partido. Muito menos de querer decretar quanto deve durar a pena de alguém. Quero falar apenas de um lado dessa história. Da atitude tomada pela treinadora do time feminino do Rio Branco, do Acre. Rose Costa, simplesmente pediu demissão ao saber que o presidente do clube para o qual trabalhava havia contratado o goleiro Bruno, ex-Flamengo, que cumpre regime semiaberto domiciliar depois de ter sido condenado pelo homicídio triplamente qualificado da ex-companheira. Notícia que, lhe chegou pela imprensa, não de forma oficial. 

Poderia usar aqui o termo coragem, mas coragem sabemos todos até os injustos podem ter. O clube, por sua vez, cujo presidente tratou a contratação como uma das maiores da história não tardou a emitir nota dizendo que era inverídica a informação de que Rose comandava o time feminino.  Mas a versão oficial - se bem analisada - só reforça o perfil de mulher cheia de atitude de Rose, pois diz que ela é que foi procurar o clube propondo a criação da equipe feminina. Ideia analisada e aprovada pelo Conselho Deliberativo, mas que com a chegada da Pandemia teria ficado apenas no papel. Detalhes que não impediram o clube de divulgar a volta do seu time feminino depois de três temporadas.

E se Rose se mostrou convicta, o mandatário do clube também. Nada o demoveu da ideia da contratação. Nem a perda de seu único patrocinador, muito menos o clamor de boa parte de seus torcedores e diretoria. Mas nessa história Rose não deve ser confundida com ninguém. Em plena pandemia abriu mão de sua única renda em nome de se manter em sintonia absoluta com o que pede a profissão que escolheu. E está justamente aí o que deve merecer nosso olhar : a maneira nobre como enxerga o esporte. Um gesto de luta para manter intacto seu papel.  O que vai a partir daqui em síntese não são palavras minhas, é o modo de pensar de Rose, que ela fez questão de tornar claro. 

Disse ver o atleta não como mero profissional, mas como um exemplo para a sociedade e para os jovens. Profissional de Educação Física há mais de trinta anos, ela sabe que o esporte, o futebol, tem uma conotação importante na formação cidadã. Rose disse que fez o que fez porque não acreditava em outra saída. Resignada por saber que será difícil se recolocar, não deixou de pagar o preço por acreditar que o futebol, com seu papel social, não deva de forma alguma estar atrelado ao crime. Em tom de lamento, não de arrependimento, disse em alto e bom som: não posso manchar minha história no esporte, até porque, eu sempre digo, nunca será só futebol. 

E deixou mais do que claro que para ela é solidariedade, é sororidade também, muito além da prática esportiva. Se disse na obrigação de ser um exemplo para as atletas dela, e que esse foi o melhor exemplo que podia dar. Está com a consciência tranquila. De minha parte sei que, às vezes, o viés da história anaboliza o fato. Mas não consigo deixar de pensar: que mulher é essa! E na importância do recado que nasceu do que virou notícia. Vejam, sororidade é palavra recente que nem no dicionário está. Mas registre-se, em linhas gerais, é um sentimento de irmandade entre mulheres. Enfim, Rose se disse triste e revoltada. E eu digo: triste, revoltada e admirável.