quarta-feira, 7 de novembro de 2007
O que faltou falar
Acredito que a grande sedução dos programas de televisão que discutem o universo esportivo, além de instigar o telespectador a refletir sobre o que está sendo dito, é levar até ele a nítida impressão de que está participando de modo direto da conversa. Prova disso é que não são tão raros os momentos em que, mesmo estando sozinho na sala, o telespectador não resiste e defende em voz alta o seu ponto de vista. Discorda do apresentador, do comentarista, acrescenta outro detalhe. E é exatamente sobre esse detalhe que quero falar. Veja, trata-se de uma verdadeira confissão de quem está do outro lado. Na maior parte das vezes termino o programa com a sensação de que algo ficou sem ser dito. Não sei o que me faz ter a ilusão de que seria possível esgotar um assunto, ainda mais quando em pauta está o futebol. Mas contra minha própria vontade cultuo essa pretensão. O programa desta segunda terminou, e deixei de dizer que essa questão da legitimidade em reconhecer o São paulo como o primeiro time brasileiro a conquistar cinco vezes o Campeonato Brasileiro - que encheu a nossa paciência nos últimos dias - mostra, antes de tudo, que faz muito, mas muito tempo mesmo, que nosso futebol se divide por outros motivos que nada têm a ver com a bola. Há muito tempo os campeões precisam atender aos interesses dos cartolas, e o resto é detalhe. Os tais cartolas contam com essa multidão de apaixonados somente para encher os estádios, pagar ingressos, e legitimar todas as tramas que bolaram.Aproveito pra contar outra coisa. Antes da vinheta do segundo intervalo rodar eu disse que a diretoria do Palmeiras tinha a obrigação de esclarecer o que se passou com seus atletas no aeroporto de Recife na volta para a capital paulista. Com o programa já fora do ar, nosso convidado, o cineasta Ugo Giorgetti, me lembrou que não era possível esperar algo coerente de uma diretoria que não tomou uma atitude digna nem mesmo quando um treinador das categorias de base do clube apanhou do pai de um de seus jogadores por ter tirado o menino de campo. Verdade absoluta.Além disso, faltou dizer que é lamentável acusar jogadores de terem bebido demais sem ter apurado o caso, e citando como fonte os integrantes de uma torcida organizada. A diretoria nega quase tudo que foi dito em um primeiro momento. Quem mente? Enquanto isso, a CPMI, que pretendia investigar a parceria entre o Corinthians e a MSI vai agonizando diante de outros interesses. Faltou dizer também que foi triste ver uma de nossas principais nadadoras, a Rebeca Gusmão, campeã pan-americana dos 50 e 100 metros livre, ser suspensa provisoriamente por causa de um exame antidoping que deu positivo.Faltou dizer que é bom o Santos se cuidar. Faltou dizer que não me soou bem a declaração de Luxemburgo afirmando que o time santista não teve a postura que ele esperava. Quem, afinal, poderia resolver esse espantoso dilema?Antes de encerrar aproveito pra fazer uma outra confissão. A de que essas linhas aliviaram parte dessa insistente sensação que me faz achar que faltou falar alguma coisa.
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