quinta-feira, 28 de julho de 2022

Aos santistas, resta o Brasileirão



Dias atrás a imprensa ressaltou a coincidência de o Santos Futebol Clube ter chegado à reta final do primeiro turno do Campeonato Brasileiro ostentando campanha idêntica a da temporada passada. Constatação que pode ser interpretada com otimismo, ou não. Alguns podem ter pensado que ter chegado à então décima sétima rodada desse modo era uma resposta pra se jogar na cara daqueles que no início do ano anunciavam o apocalipse. O que é compreensível. Mas não deixa de ser compreensível também que os menos otimistas vejam nisso um bom motivo para continuar pregando que é preciso abrir o olho. 

Erra quem acredita que a temporada passada deva servir de parâmetro. Não só porque seria fechar os olhos para certas fragilidades expostas pelo clube mas, acima de tudo, fazer de conta que o time não viveu o que viveu no Campeonato Paulista deste ano. Algo um tanto desesperador. Sem contar que, como costuma ser do feitio do futebol, a décima colocação ao final do torneio passado  não é uma fiel representação do que foi a campanha santista. É fato, não seria de todo mau repeti-la este ano. Significaria não só continuar na elite do futebol brasileiro como voltar a estar na Copa Sul-Americana. Mas o que passou passou e interessa mesmo é olhar pra frente. 

Quis o destino, ou a bola que o time vem jogando, que o Santos se veja neste momento com seu horizonte reduzido ao Brasileirão. O que diante de tudo que o clube vem vivendo deveria desde sempre, na minha modesta opinião, ser encarado como prioridade absoluta. O futebol brasileiro trata as mudanças de treinadores como remédio, não é novidade. Como não é novidade que administrar um mesmo remédio seguidamente pode ter como consequência a perda do efeito.  Não escrevo isso para contestar a chegada de Lisca ao comando do time. O tema me é caro. Prova disso é que escrevi neste mesmo espaço não faz muito tempo  a respeito da formação dos treinadores. 

Não me entra na cabeça que, diante das dificuldades que esse tipo de cargo impõe, os clubes não pensem em formar treinadores, como formam profissionais de outros cargos e jogadores. Também não vejo muito sentido em se ter uma comissão técnica fixa, se o importante cargo de auxiliar não é visto como uma etapa de um plano de carreira que culminaria com o comando do time.  Alguém dirá que é encarado assim mas que não era o momento. Colocação que eu responderia dizendo que irei considerar no que dia em que a coisa realmente acontecer.

Apesar de toda a grana que representa um torneio como a Copa do Brasil ou a Copa Sul-Americana o contexto geral faz do Brasileirão o grande motor do futebol brasileiro. Sem estar inserido nele o filme é outro, as possibilidades também. Por mais que se veja o Cruzeiro, depois de tudo o que viveu, dar pinta de que o mundo não acaba é que é uma questão de tempo apenas estar de volta à elite. A realidade vivida por cada clube é singular, não há como comparar.  Além do mais, não é preciso chegar a isso para estar exposto da pior forma. O simples fato de ver o time santista frequentemente reduzido à condição de quem briga para não cair é prova de que tudo anda mal. Mas confinado apenas à disputa do Brasileirão o time terá nove semanas seguidas com apenas um jogo. O que em matéria de futebol brasileiro é tido como o paraíso pelos treinadores e comissões técnicas. Mas aos santistas neste momento o paraíso ludopédico deve soar como miragem.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

A defesa e a personalidade coletiva



Há muitos anos quando o futebol passava a ganhar outra roupagem, mais estudiosa, os  privilegiados de memória hão de lembrar que o basquete serviu muito de referência aos treinadores que despontavam com jeitão de pensadores. Arriscaria dizer que é possível buscar nisso até o ponto de partida de tudo que temos visto acontecer. Vou tentar explicar melhor. Os que na época se apressaram a fazer esse tipo de ponte não escondiam que viam nas preocupações com a parte defensiva do jogo a grande inspiração. Lembro de ter ouvido alguém dizer na época, tentando elucidar a teoria aos menos íntimos, que a cesta acabaria saindo. Era uma consequência natural do jogo e que, portanto, o segredo era dar atenção não ao caminho que levava a ela mas aos que a impediam de acontecer.  Não estavam errados. 

De lá pra cá vimos muitos times menos privilegiados tecnicamente executarem esse tipo de tática com sucesso e triunfar. Não quero fazer juízo disso, embora esteja convencido de que não só no esporte, como na vida, sempre será tarefa mais simples destruir do que construir. E, convenhamos, se o mundo ao longo da história deu de cara com muitas maravilhas não terá sido porque seus criadores um dia decidiram fazer o mais fácil. Mas essa é outra história.  Nomes como Pep Guardiola, por exemplo, nunca esconderam suas fontes de inspiração. O catalão já abriu o jogo a respeito citando o xadrez, o vôlei, a matemática como fonte de ideias. E o basquete, obviamente. 



Outro dia, depois de o time de Franca se sagrar campeão brasileiro de basquete batendo o respeitável time do Flamengo, troquei algumas mensagens com o técnico campeão, Helinho Garcia, filho do lendário, Hélio Garcia. Junto com os parabéns dividi com ele minha boa impressão a respeito do time que ele comandou. Eis que  para tentar elucidar o que tinha feito do time francano o campeão Helinho citou um conceito que tinha aprendido com o pai. O de que um time quando matura passa a exibir uma personalidade coletiva.  Imediatamente tentei transportar isso para o universo do futebol com o qual tanto lido. Imediatamente identifiquei times num passado recente que deixaram claro ter essa personalidade coletiva. 



O Santos de Diego e Robinho. O Palmeiras do início dos anos noventa. O Corinthians do final da mesma década. E mais recentemente o Atlético Mineiro campeão brasileiro.  O Flamengo de Jorge Jesus. Imensa personalidade coletiva. Rodadas atrás diria que atualmente só o Palmeiras dava a impressão de possuir esse tipo de virtude. Mas a temporada andou e já dá pra dizer que o Fluminense já a tem. Talvez o São Paulo, que desafiado por um sem fim de desfalques pode ter seus motivos para ainda não a ter maturado de vez. O Corinthians, como não?  Sem contar que o time do Parque São Jorge - desculpe o termo, sou das antigas - pode ser tido também como um exemplo do que pode render o cuidado, o esmero, na hora de cuidar da defesa. Enfim,  há avanços apesar de tudo.