sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Detalhes da história

Olho uma vez mais o livro que passou a ocupar um lugar na base da estante nos últimos dias. Acabei de folheá-lo, mas ao colocá-lo novamente em seu lugar tive a ânsia de voltar às histórias ali retratadas. Na capa, uma foto antiga toma a página. O homem estampado nela tem o olhar sério, não dá pistas do senhor bonachão e bem humorado que se tornaria.
Lembro como se fosse hoje o primeiro dia que entrei na Vila Belmiro na condição de repórter. Era uma tarde bonita, clara, os repórteres em pequenos grupos esperavam o treino começar.
Eu e o jornalista Eduardo Silva estávamos mais próximos à saída do túnel. Eis que surge a figura do treinador santista. Risonho, Pepe chegou na altura do gramado, Edu me apresentou a ele e, depois da rápida apresentação, Pepe interrompeu repentinamente a conversa em tom de brincadeira, e disse:
_ Essa é pra você Edu! – e mandou o pé na bola.
E emendou em seguida:
_ Vai parar na linha do meio de campo!
Bons tempos aqueles em que como jornalistas não estávamos confinados em salas de imprensa como hoje. Seguimos a conversa caminhando no gramado, e ao chegarmos na linha divisória vi que o chute tinha sido de uma precisão admirável, a bola havia passado apenas uns três dedos da linha.
Mais incrível do que constatar a precisão foi perceber que Pepe, muitos anos depois de parar de jogar, com outro peso, outra potência, deixava transparecer talvez o grande segredo do sucesso de seus chutes lendários, e famosos pela força. Precisão!
A conversa ainda se estendeu um pouco mais, e fazendo soar o apito, Pepe se despediu e chamou os jogadores. Mas voltou a brincar. Soltou a bola sem pensar e disparou:
_ Essa vai parar na linha do gol.
Como queríamos ficar vendo o treino na trave do fundo - naquele tempo repórter ainda podia escolher onde queria ficar - caminhamos na direção do chute. Não resisti, antes de deixar o campo, olhei na direção da bola e conferi. Dessa vez a distância entre a bola e a linha tinha sido menor. Dois dedos, sei lá! .
Mas, voltando à capa do livro, há nela também uma foto menor no alto do canto direito, é de Pepe prestes a concluir um chute. Nos encontros entre nós nos anos que se seguiram, seus velhos cadernos sempre me encantaram. Pepe foi zeloso com sua memória, escreveu à mão durante anos, informações importantes, escalações e detalhes, embora esses pareçam estar mais na sua cabeça mesmo. Uma tática que ajudou o ponta-esquerda a preservar suas histórias mais ricas.

2 comentários:

Anônimo disse...

De fato, o livro do Pepe é imperdível para qualquer pessoa que goste de futebol e não só pra nós santistas.

Também já tive oportunidade tão pequena quanto rara de estar ao lado do bonachão Canhão da Vila. Sonho meu, ter um contato como esse seu...

Belo texto, Vladir!

Grande abraço

Ton

Vladir Lemos, jornalista disse...

Ton, o Seo Macia é sem dúvida meu personagem santista favorito. Abraço!