quinta-feira, 29 de março de 2018

A camisa 10 já era ?






Acho que nunca conseguirei assistir a uma partida de futebol e ao dar de cara com alguém envergando a camisa 10 olhá-lo como se fosse um qualquer. Como não imaginamos estar de cara com um qualquer quando damos de cara com alguém vestindo traje visivelmente nobre. Há mais de dez anos escrevi com o amigo, André Ribeiro, grande pesquisador e jornalista, um livro sobre o tema intitulado " A magia da camisa 10". A obra acabou publicada também em Portugal, na Polônia, na Hungria e até no Japão. Ninguém compra os direitos de um livro por acaso. O que me faz crer que a simbologia da 10 se tornou realmente universal. Não era pra menos. 

O livro fala das coincidências que uniram a camisa 10 e o Rei do Futebol, volta no tempo num exercício imaginativo que tenta mostrar quais teriam sido os prováveis donos da 10 na época em que os uniformes nem numerados eram. Mas na semana que passou fiquei com a impressão de que a nobre camisa recebeu um golpe de misericórdia. O que não deveria causar surpresa dado o tratamento que tem sido dispensado a ela nos últimos anos. Ao encontrar na internet uma manchete que avisava que a seleção tinha divulgado a numeração das camisas para os amistosos contra Rússia e Alemanha fui correndo conferir com quem tinha ficado a 10, já que Neymar estava fora. Imaginei um Willian, um Philippe Coutinho. Mas que nada!

A 10 tinha sido dada ao meia Fred, do Shakhtar. Nada contra o rapaz, que aliás foi muito elogiado. O que me causou certa tristeza foi a possibilidade de que nem Willian, nem Coutinho, podem ter feito questão de ficar com ela. Queriam ficar com as suas, afirmou categoricamente um amigo. Voltei a lembrar desse detalhe quando aos trinta e pouco do segundo tempo do jogo contra os russos vi Fred com a 10 esperando na beira do campo para entrar no lugar de Coutinho. Um preciosismo de minha parte dirão alguns. Talvez, se não fossemos nós brasileiros como Pelé, o homem que definitivamente deu à camisa 10 um outro status. 

Os pormenores de como a coisas se deram infelizmente desconheço. E duvido que alguém se prestasse ao trabalho de me esclarecer questões de um assunto que pode ser tido como menor. Tenho, no entanto, uma ponta de esperança de que os credenciados para recebe-la acabaram declinando porque não a enxergam como uma camisa qualquer. Sem contar que sem ela, estão cientes, evitariam comparações com seu dono atual.  Vai saber. Mas fato é que se de algum modo ela ainda pesa é porque está viva. E se for assim fico até feliz de ter empregado imprecisamente o título acima. No fundo não quero crer que a camisa 10 já era.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Alemanha x Brasil: o próximo capítulo


Amanhã a Seleção Brasileira ficará frente a frente com a Alemanha. Será a primeira vez desde o fatídico 08 de julho de 2014 quando eles nos impuseram a mais retumbante das derrotas. Em matéria de dor pode até ser que a sofrida para a Itália nos idos de 1982 lhe seja páreo. Mas quando consulto meu coração a respeito ele diz que quando caímos na Espanha era como se alguém tivesse pedido licença para sentar no trono que nos pertencia. E que quando caímos naquele dia no Mineirão foi como se tivéssemos recebido uma ordem de despejo do mesmo. 

Depois de um sem fim de mesas redondas a conclusão mais óbvia do acontecido é a de que teria sido provocado por uma mistura fatal, cujos ingredientes principais foram uma tática suicida brasileira e um planejamento alemão exemplar. Interessante notar nessa véspera o tom das declarações dos alemães. Pode até ser que no íntimo estejam rindo, mas dizem em uníssono que mais importante do que a histórica goleada foi ter conquistado a Copa do Mundo. E não dão a mínima impressão de falarem nesse tom para não atropelar o senso do politicamente correto. 

Os caras pensam diferente. E acho que seguimos tendo muito a aprender com eles. Prova dessa minha teoria é o zagueiro Ginter ter dito, depois de muito elogiar Neymar, que ninguém vale o valor que pagaram pelo craque brasileiro, nem mesmo ele, vendido pelo Dortmund por "meros" dezessete milhões de euros. Não vou aqui ficar desfiando um rosário técnico e tático, que isso é coisa pra especialista. Se ficou mesmo uma lição de tudo o que vimos acontecer é a de que contra um adversário maduro e bem preparado todo o cuidado é pouco. E que apesar de Tite e de todo o talento que ainda se vê nos jogadores brasileiros, pouco mudamos a nossa maneira de tratar o futebol como um todo. Ou seja, goleando, ou não, os alemães seguem tendo muito a nos ensinar. 

quinta-feira, 22 de março de 2018

A Briosa e o Peixe

Alberto Ferreira/ Agência Briosa



No domingo a tarde já ia bem avançada quando numa conversa de família fiquei sabendo que a Briosa tinha vencido mais uma. Lamentei não ter me programado pra ir até Ulrico Mursa desfrutar desse momento, dessa fase, o que me fez sentir uma ponta de inveja do amigo Monteiro que me disseram, como bom português, fez questão de marcar presença no embate. Fosse supersticioso diria que o homem anda se revelando um tremendo pé quente. Mas acho mais justo creditar tudo ao bom futebol do time comandado por Sergio Guedes. 

Agora, se se o torcedor da Briosa anda que é só alegria o do Santos anda é com a pulga atrás da orelha. E não é pra menos depois de tudo o que se viu - ou não se viu - nos jogos contra o Botafogo pelas quartas de final do Paulista. Volto aqui a reforçar meu respeito e admiração pelo trabalho de  Jair Ventura mas me pareceu um tanto dissonante  depois do primeiro jogo ouvir o técnico creditar a falta de brilho do time santista ao cansaço ocasionado pelo fato de ter sido obrigado a jogar um bom tempo no onze contra dez diante do Nacional pela Libertadores dias antes, e ainda ter colocado na sacola dos argumentos o desgaste da viagem aos confins de Ribeirão Preto, o gramado diferente daquele que o time supostamente estaria acostumado e até a coitada da iluminação do Estádio Santa Cruz.

Não duvido da veracidade dos argumentos mas acho que é o tipo de fala que costuma descontentar o torcedor. Diante de tantas interpretações interessantes que já ouvi Jair fazer sobre um jogo de futebol quero acreditar que no calor da hora acabou caindo na cilada de um discurso fácil. Pouca gente percebe e pouco se fala nisso, mas há um sem fim de casos nos quais o discurso do técnico acabou por minar o trabalho do mesmo. Em geral, o pecado capital deles é estar totalmente dissociado da realidade.

Como se não bastasse o futebol apresentado ainda pesa sobre o jovem Jair Ventura uma expectativa imensa. O trabalho dele à frente do Botafogo no ano passado foi incrível. Mas isso tem um preço. E além desse preço há no ar um consenso de que se ele fez o que fez com o Botafogo com o Santos, terceiro colocado do último Brasileirão, poderia ir ainda mais longe. Acontece que o futebol tem lá seus caprichos e costuma desdenhar dessas conclusões. Pouca gente nota também que mesmo com o elenco do time carioca lhe impondo limitações Jair teve a seu favor no Botafogo dois detalhes que fazem toda a diferença nesse ramo: um time, no todo, dar aquela liga, e ainda se ter nele jogadores atravessando fases de se tirar o chapéu.

terça-feira, 20 de março de 2018

Conhece o Ismaily ?

Sergei Supinsky/AFP



No link abaixo mais detalhes da história do sul-mato-grossense que era atacante, virou lateral, chegou à Seleção Brasileira - em plena era da tecnologia - e quase ninguém conhecia.

Quem é Ismaily...

sexta-feira, 16 de março de 2018

quinta-feira, 15 de março de 2018

Um voto para Tite

Dizem que sem sorte não se deve ir nem mesmo até a esquina. O que faz muito sentido. E sorte é uma das primeiras coisas que me tomam o pensamento quando o assunto é o técnico Tite. Vejam bem, sorte do futebol brasileiro, não do treinador. Afinal, estamos todos cansados de saber que o cargo é ingrato e de uma hora pra outra pode transformar em calvário o que parecia ser o paraíso. E se digo sorte é porque imaginem vocês se depois do fatídico sete a um não existisse no cenário do nosso futebol alguém vivendo o momento que Tite vivia. E nesse sentido o destino foi caprichoso, como muitas vezes é. Todo mundo sabe que Tite poderia ter ido parar lá mais precocemente. O próprio treinador nunca escondeu que não ter sido escolhido antes mexeu com ele. 

Mas o tempo passou e o que  ele construiu de lá pra cá não deixa dúvida sobre o acerto da escolha. Mas como tudo tem seu preço esse entrar nos trilhos da seleção se fez também escudo e argumento para quem conduziu o futebol brasileiro até aquela nada página nada honrosa. No início desta semana Tite foi assunto das principais manchetes esportivas ao fazer a última convocação antes daquela em que anunciará os escolhidos por ele para defender o Brasil na Copa da Rússia. Como era de se esperar os questionamentos a respeito das escolhas feitas por ele aumentou. E só não fizeram mais eco porque os resultados não dão quase nenhuma margem pra isso. 

Pelo que li Tite goza neste momento de uma aprovação de sessenta e dois por cento. Número que deve mexer com o imaginário de boa parte dos nossos políticos e que é ao mesmo tempo a medida exata do abismo que separa a bolinha que eles andam batendo do promissor futebol apresentado pela nossa seleção nas mãos de Tite. Considero muito justa a convocação do zagueiro Geromel. E estranho, como muita gente, a aparição de Talisca e Willian José na lista. Como estranho a não aparição de Luan. 

Muitas das críticas, no entanto, me pareceriam mais cabíveis se estivéssemos diante de uma convocação final. Com Tite surfando essa onda fizeram questão de lembrar também esta semana que ele no final do ano passado disse não se sentir à vontade com nenhum político. Deve se preparar. Não vai faltar gente querendo tirar uma casquinha desse sucesso. Gente que joga duro. Depois de construir tudo o que construiu Tite não deve se contentar em vencer, possibilidade que muitas vezes dribla até os gigantes, deve ter em mente que todos esses votos de confiança escondem uma vontade imensa de algo diferente, de um Brasil diferente.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Para quem gosta de música



Solano Ribeiro está de site novo. E, como sempre, de olho no novo. Talvez fosse o caso de dizer "de ouvidos" no novo. A lista, em especial, é um espaço muito bacana pra quem procura espaço na cena independente.

www.solanoribeiro.com.br

quinta-feira, 8 de março de 2018

Futebol, naturalmente


O bigodinho bem cuidado e o cabelo brilhando de vaselina não deixavam dúvida. Mário Ninguém era um saudosista. O Ninguém, que passou a acompanhar seu nome como se sobrenome fosse, era outra prova disso. Foi brindado com ele depois que o pessoal do Bar do Zé Ladrão cansou de ouvir o sujeito dizer nas rodas de conversa que tinha era uma saudade danada do Pelé, do Didi, e que hoje ninguém seria páreo pra eles. 

E Mário nem se importou quando o Lorico lhe avisou que aquele papo sobre grama artificial só serviria pra galera lhe aumentar o sarro. Além de saudosista seria chamado de purista. Mas ele não estava nem aí. Achava que só os insensíveis com o jogo não conseguiam ver que tratar a grama artificial como um detalhe beirava a burrice. E, de repente, sacou um argumento dos bons. Tanto que o Lorico que até ali alimentava o papo só na intenção de tirar uma onda e ao mesmo tempo dava uma conferida no resultado do jogo do bicho, baixou o papel que tinha nas mãos e arregalou os olhos. 

Para Mário Ninguém a grande prova de que a coisa deveria ter tratamento diferente estava no jogo de tênis, porque em se tratando dele quando se altera o piso a coisa muda de figura. Joãozinho Boca Torta ao ouvir a explicação não perdoou. Gritou - pra todo mundo ouvir - que aqueles que tinham o time do coração disputando campeonato importante  deveriam se preparar porque a partir da próxima temporada o time deles iria é disputar uns Grand Slam. O riso foi geral. 

Mas Mário não se intimidou. Perguntou em voz alta se alguém ali já tinha visto uma quadra de grama. Diante do silêncio que se fez soltou um pois é. E na sequência garantiu que do jeito que vão as coisas não tardará o tempo em que campos de futebol de grama natural serão uma raridade. Serão como as quadras de Wimbledon. Tão raras, tão apartadas da realidade. Se um piso altera o pingar da bola, a velocidade dela, se exige outro tipo de movimento do corpo, como pode ser tratado como mero detalhe? E ainda fez no fim uma previsão assustadora. 

Avisou que a grama sintética deixa o futebol mais arisco e com esse monte de cabeça de bagre por aí, sofrendo pra dominar a bola mesmo quando ela chega no pé devagarinho, o espetáculo que nos aguarda tem tudo pra ficar ainda mais bizarro. E foi além, se mostrou indignado com essa coisa dos times encharcarem o gramado antes dos jogos. Outra aberração. Onde já se viu? Alguém precisa ver isso, estabelecer um padrão. Diante do que se deu, eu, que tava ali só analisando tudo pensei comigo: esse Mário Ninguém pode ser saudosista, mas não é louco não. 

terça-feira, 6 de março de 2018

Futebol, política ...e uma bola fora de Tevez !

Foto: LatinContent/Getty images

"Acho um absurdo insultarem Mauricio num estádio.
Futebol é futebol, não é espaço para trazer algo que te incomode nas ruas"


A frase infeliz de Carlitos Tevez está na matéria abaixo sobre os cânticos que andam
sendo ouvidos nos estádios argentinos, mas não só neles.





Torcidas organizadas da Argentina entoam cânticos contra Macri


segunda-feira, 5 de março de 2018

Na FOLHA, na Mosca !



Charge: João Montanaro

sexta-feira, 2 de março de 2018

Craque é craque, sempre !


Pensando assim - e fazendo pouco caso do tempo - resgato aí  "Bola murcha", de Otto Lara Resende. O texto está no livro "Bom dia para nascer", da Cia das Letras, que reúne crônicas dele publicadas na Folha de São Paulo. 


Bola murcha

Em matéria de futebol, costumo dizer que sou Botafogo desativado. Suspeito que estou assim antes de se desativar o próprio Botafogo. Aliás, hoje ninguém me pergunta qual é o meu time. Me perguntam qual o meu signo. Touro. Sou de Touro e logo sabem que sou. Nos dias que correm, e agora correm que nem o Senna, brasileiro acredita mais em horóscopo do que em carteira de identidade.
Quando o Maurinho Branco assaltou minha casa e não roubou muito, mas roubou tudo, esquecemos de lhe perguntar qual era o seu signo. Se ele fosse de Touro, ia começar um diálogo assim: “Ô meu irmão, desculpe, também sou Touro”. E daí acabávamos descobrindo que temos um mesmo ascendente (astrológico, claro), ele tomava um cafezinho e se despedia como um cavalheiro. Iria assaltar alguém de Áries.

O Nelson Rodrigues, que sabia, mas não enxergava quem era a bola, dependurou as chuteiras no céu. As chuteiras já não são imortais. O João Saldanha foi cobrir a Copa na Itália e de lá tomou rumo ignorado. Gosta muito de viagem e de aventura, o João. Nem sequer almoçou comigo no Final do Leblon, como tinha prometido. O Sandro Moreyra entrou vivo num hospital e saiu morto. Estou sempre me perguntando por que diabo chamam hospital de casa de saúde. Há anos que o Armando Nogueira parou de escrever “Na grande área”. A coluna do Cláudio Mello e Souza sumiu.

Aí é que desanimei de vez. O meu futebol era muito mais lido do que assistido. Em 1958 eu morava em Bruxelas e vi o delírio que o Brasil despertava. Pelé e Garrincha eram a dupla de mais cartaz no mundo. Nem os Beatles, que eram quatro e tiveram o cuidado de aparecer depois, lhes chegavam aos pés. No polo Norte, em 1965, vendo o sol da meia-noite, um esquimó me pulou no pescoço na maior alegria e agitação.

Só depois vim a saber a razão. Porque eu era brasileiro. “Pelé! Pelé!” — gritava ele, eufórico. O esquimó fedia um pouco a peixe, mas tudo bem. Dava gosto ser brasileiro. O futebol unia todo mundo num só grito. Rico e pobre, branco e negro, analfabeto e intelectual. Até o Kissinger gostava. Agora, escreve o Villas-Bôas Corrêa: “Para mim, chega”. Despediu-se do futebol. Um alucinado que não perdia jogo. Com o Brasil ruim de bola como anda, precisa

quinta-feira, 1 de março de 2018

Ah, a Libertadores !


A Libertadores virou a vedete do futebol deste nosso continente. Não há como brigar com essa constatação. Só ela é capaz de oferecer aos apaixonados pelo jogo de bola horizontes realmente largos, e fazer o nosso maltratado torcedor sonhar com momentos grandiosos além das nossas fronteiras. Mas notem: é uma pompa mais amparada em cifras e possibilidades do que propriamente nos tratos à bola. Tecnicamente o torneio segue pobre. E não se iludam com o fato de que nos últimos tempos as premiações aumentaram, pois se algum avanço houve nesse sentido foi apenas como efeito colateral do que os cartolas se viram obrigados a fazer depois de toda a imundície trazida à tona. 

Por mais que os clássicos tenham sido até agora a única possibilidade de algum prazer mais consistente com o jogo de bola a chegada da fase de grupos da Libertadores neste meio de semana de alguma forma inaugura a temporada. Ou, ao menos, deixa no ar um quê de agora é pra valer. Certa vez ouvi alguém dizer que devemos tomar cuidado com o que pedimos porque podemos ser atendidos. Ou seja, você torcedor que a essa altura está convencido de que só o troféu da Libertadores lhe fará verdadeiramente feliz, lembre - ainda que por cautela - que nos últimos tempos ter de medir forças com o futebol do resto do mundo e, em especial o do velho continente, tem sido motivo de profundo desgosto. Como disse o português Cristiano Ronaldo esta semana, se eles jogam no nível deles conseguem ganhar. Uma maneira elegante de dizer que em condições normais não somos páreos pra eles.