quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Um craque simplão



Sei que você já deve ter ouvido alguma piadinha pintar na área quando alguém na roda enaltece o que tempos atrás se convencionou chamar de a "nova geração belga". Os caras, que começaram a despontar no cenário futebolístico no início desta década, realmente não conquistaram um título sequer. Mas esse vazio não  foi problema pro mercado da bola que - como sempre - soube muito bem capitalizar em cima da fama . Pra se ter uma ideia um site especializado apontou que os convocados pela Bélgica em março deste ano formavam uma seleção mais cara até do que a comandada por Tite. É mole? O placar apontava, no mês de março, quinhentos e dez milhões de euros pra eles e quatrocentos e cinquenta e um milhões para a seleção brasileira. Mas o bacana dessa história é saber que um dos sujeitos mais valorizados dessa turma, Kevin De Brunye, segue sendo um cara simplão. 

O garoto vem jogando o fino depois de alguns anos atrás no Chelsea ter sido esnobado pelo técnico José Mourinho, que chegou a se irritar em uma coletiva de imprensa com os questionamentos a respeito da não utilização do belga que tinha à disposição. Se Mourinho fez cara feia, Guardiola, seu técnico atualmente no Manchester City, há tempos enche a bola do rapaz. Chegou a dizer que se trata de um dos melhores jogadores que ele viu na vida. Muito boleiro por aí só de ouvir isso ficaria deslumbrado, nem precisaria da fortuna. E pelo que andei lendo por  De Brunye bem que poderia elaborar uma cartilha para ajudar a boleirada a não cair nas armadilhas que costumam vitimar os elegidos pelo futebol gourmet. 

O belga nunca assina um contrato pensando em dinheiro. O pai, por hora, é quem cuida das finanças pra ele. Quase tudo é investido, só dez por cento do que ganha vai parar nas mãos do rapaz. Comprou o primeiro carro aos vinte e quatro anos. E não escolheu nada de impressionar. Questionado pelo empresário respondeu dizendo que se quisesse uma Lamborghini pediria a dele emprestada. Não pensem por isso que De Bruyne não gosta de aproveitar a vida. Nada disso. Quem o acompanha nas redes sociais vira e mexe dá de cara com ele num destino com ares de paraíso. Vendo o que se vê por aí chega a ser difícil acreditar num astro com um perfil desse. De Bruyne chegou ao City como a maior transação da história do clube e do futebol belga. Sei que dizer que alguém nunca assina um contrato pensando no dinheiro beira a ficção, mas se metade do que andam dizendo do De Bruyne por é verdade ouso dizer que o valor dele pro tosco mundo futebol é inestimável. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Uma Copa pra esquecer?


Há uma verdade implícita no futebol que costuma jogar a favor da cartolagem: o resultado. Isso mesmo, o resultado. Detalhe que os mais críticos costumam dizer que certos comentaristas usam como álibi. Mas o resultado pode ser mais perverso do que isso, embora no fim das contas seja absolutamente inocente. A verdade é que quando um clube triunfa pode ter cometido os maiores absurdos na gestão, pode estar com a corda no pescoço em matéria de finanças que tudo soa azul. E isso me veio à mente ao ficar sabendo que a FIFA decidiu deixar o Brasil fora do roteiro que o troféu da Copa do Mundo faz pelo planeta.

Serão 50 países de seis continentes. Na América do Sul visitará o Chile, a Argentina e a Colômbia. A justificativa oficial é que o nosso país ficou fora por ter sido a última sede. O que me fez pensar que nem na hora da justificativa a entidade fez algum esforço. Afinal, nesse giro planetário o troféu passará pelos últimos sete países-sede. Motivo bem mais plausível é que a CBF e a FIFA têm patrocinadores rivais. Em outros tempos a influência dos brasileiros sobre a cúpula do futebol dificilmente teria permitido que o Brasil fosse excluído. Mas com as entranhas cada vez mais expostas a Copa do Mundo de 2014 é algo que todos os envolvidos querem tornar cada vez menos evidente e a visita teria efeito contrário. 

Foi a Copa que desfigurou de vez o Maracanã e que embora tenha dado aos corintianos o estádio que eles tanto sonhavam não permitiu aos mais sensatos a possibilidade do orgulho pleno. E nem vamos falar da Arena Pantanal visivelmente frágil desde sempre, do estádio erguido em Brasília que não merecia ter pra si o nome de Garrincha. E é aí que faço a costura com o que afirmei no início pois, pra aumentar o desespero dos que tramaram tudo, a Copa de 2014 não trouxe consigo um resultado que pudesse aplacar esse dissabor. 

Ao contrário, carregaremos pra sempre aquele sete a um, que se interpretado pelo viés dos fatos hoje em dia pode muito bem ser encarado como a cristalização de tudo o que se fez de errado em nome do nosso futebol. Tudo saiu às avessas e naquele fatídico julho de 2014 o futebol, como quem impõe um castigo, não nos deu nada. Nem um resultado que os cartolas pudessem usar como escudo, como fazem desde sempre. É certo que a visita do troféu não mudaria muita coisa, mas a ausência dele parece uma pista de que aquela é uma Copa que alguns preferem esquecer, quando na verdade o que precisamos é passa-la a limpo.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O futebol e suas interpretações

Duas narrações ganharam espaço na mídia nos últimos dias. Uma delas feita no jogo em que a Argentina amargou um empate com a Venezuela em pleno Monumental de Nuñez. Nessa o que se ouve é um locutor inconformado com o que testemunha. Até aí pura sintonia com os mais de vinte três mil torcedores que acompanhavam tudo in loco. Mas o que me chamou a atenção foi a quantidade de palavrões que ele precisou usar para expressar o que estava sentindo e que o que se via ali era inconcebível. Fora o fato de uma transmissão recheada de palavrões me soar descabida ( e não digo isso por puritanismo, por favor) achar que o futebol não pode nos pregar certas peças é o fim. Se a tradição do futebol argentino o fizesse imune a esse tipo de mico onde residiria exatamente a graça do futebol ?

A outra narração, menos comentada, foi a do gol de empate da seleção da Síria marcado aos quarenta e oito minutos do segundo tempo e que manteve o time com chances de ir para a Copa da Rússia. Precisará pra isso passar pela Austrália na repescagem. Quem conhece minimamente o que a Síria passou nos últimos seis anos pode ter uma breve ideia do que essa conquista significa. Trata-se de um país dizimado pela guerra, que não fez um jogo em casa por motivos óbvios. Tem jogado suas partidas na Malásia. E com um precioso: é comandada por um técnico sírio, não contratou um estrangeiro com algum currículo. É fato que não entendo a língua dessa narração.  Imagino que  - por motivos culturais até - esteja livre de palavrões ou frases afins. 

Mas é de impressionar o renascimento em campo vai se revelando no tom da voz do locutor. Não era pra menos. A Síria tinha feito um a zero e com o resultado estava garantindo a vaga. Mas o Irã tratou de virar o placar para dois a um. E àquela altura é de se compreender que tudo parecesse perdido. Aí a voz vai se transformando ao dar de cara com o contra ataque que mudaria o destino do time Sírio. O gol se consuma e o narrador vai descrevendo a cena com cada vez mais emoção e quando surge, depois de um tempo considerável vale destacar, não deixa dúvidas de que se trata de um choro que não pôde ser contido. Não há ali um resquício qualquer desse teatro fácil das narrações com o qual nos acostumados. Não tenho nada contra a indignação argentina, ela faz todo sentido. O que não faz sentido é uma narração cheia de palavrões. E não me venham com aquele papo de ter falado o que o povo argentino estava sentindo. Educação é bom, e eu gosto. 

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A volta do Brasileirão

Acho engraçado como trataram de achar novas maneiras de nominar as coisas que se dão entre as tais quatro linhas. Vejam o caso do Neymar no jogo contra o Equador. Os mais indignados foram logo chamando o rapaz de fominha. E eu nem acho que estavam errado. Mas os que preferiram o vocabulário moderno optaram por acusar o camisa dez de falta de senso coletivo. Mas é só uma lembrança. Vamos ao que interessa porque eu sei que a grande curtição da torcida é o Brasileirão. que estará de volta no final de semana com a corda toda.

O Corinthians continua ditando o tom, agora emprestando à competição um certo ar de tudo ou nada. Mas entre os cinco que ocupam o topo da tabela o Palmeiras será o primeiro a entrar em campo. O time comandado por Cuca irá o Independência encarar o Atlético Mineiro, cujo futebol tratou de exilá-lo do grupo dos favoritos ao título. A sequência do time palmeirense tem o Coritiba em casa e um clássico com o Fluminense fora. Quando esteve em campo pela última vez o Palmeira venceu, mas nas três rodadas anteriores tinha acumulado duas derrotas e um empate. 

O vice-líder Grêmio será o segundo a se apresentar. Depois de amanhã, assim que terminar o jogo do Palmeiras, estará no gramado de São Januário para encarar o Vasco, que tem como último ato no torneio uma vitória sobre o Fluminense que terminou com uma incomoda sequência de cinco jogos sem vitória. No domingo será a vez do líder Corinthians ir à Vila Belmiro encarar o Santos, terceiro colocado. Jogo daqueles que pode ser visto como a vedete da rodada. Nem tanto pelo futebol que os dois times estão jogando mas por tudo que encerra. O líder Corinthians ao perder em casa do lanterna Atlético Goianiense deixou seus fiéis torcedores em estado de alerta e torcendo pra que o pior já tenha passado. 

Já o Santos, verdade seja dita, pode se orgulhar mais da posição que ocupa do que do que tem jogado. A longa sequência de empates que vem desenhando o deixa meio parecido com o Corinthians, afinal, alvinegros praianos e corintianos a essa altura se perguntam: o que será que os últimos jogos querem dizer? Vale lembrar que o Corinthians, depois do Santos, receberá o Vasco em Itaquera e depois irá ao Morumbi medir força com o São Paulo. Desafiadora sequência. O último dos cinco primeiros a jogar será o Flamengo, que no domingo às sete da noite irá ao Engenhão enfrentar o Botafogo. E se um quinto lugar está longe de contentar os rubro-negros ao menos lhes dá o direito de sonhar com o lugar onde no momento está o Santos.  Ainda que pra isso tenham de torcer, também, contra o Palmeiras. A ver. A volta do Brasileirão promete.         

terça-feira, 5 de setembro de 2017

De Luigi Pirandelo







"Tem ideia de quanto mal nos fazemos por essa maldita necessidade de falar?"