quinta-feira, 26 de abril de 2018

Que futebol é esse ?


Duas rodadas podem não ser suficientes para saber o que nos reserva o recém iniciado Brasileirão. Mas deu de sobra para os corintianos exercitarem aquele sarrinho que eles vêm tirando da cara dos adversários já faz um bom tempo. Os cem por cento de aproveitamento do time de Carille fez botar manchetes perguntando, por exemplo, se era o caso de os rivais começarem a temer nova arrancada corintiana. Mas como assim? Se não me falha a memória desde meados do ano passado a crônica esportiva dizia em uníssono que o que se viu no primeiro turno do Brasileirão do ano passado não se repetiria. Gostaria de ficar intrigado com esse temor mas infelizmente não tenho inocência pra isso. Adiantar essa possibilidade não deixa de ser uma maneira de se precaver caso o futebol venha - mais uma vez - a ser cruel o suficiente para nos colocar diante de uma realidade pouco provável. O que, não devemos esquecer, é sua maior virtude. A que eu mais aprecio pelo menos. 


E é bonito ver que o jogo não se cansa de jogar na nossa cara de que deveria constar da cartilha de qualquer analista - os que versam sobre política e economia aí incluídos - um certo cuidado para tratar de modo distinto o improvável do impossível. Aliás, o improvável no caso corintiano não está só nisso. Está também no fato de Carille ter feito do Corinthians um time competitivo mesmo depois de ter perdido jogadores essenciais na última conquista nacional do clube. Assim como soava improvável que conseguiria acertar tanto o time a ponto de fazer muito torcedor duvidar de que o recém chegado atacante Roger terá facilidade em encontrar um lugar entre os mais mais do treinador corintiano. E é lindo ver o futebol driblando obviedades. 


Vejam o caso do Barcelona. Invicto no Espanhol e na iminência de ganhar o título registra a pior média de público das últimas dez temporadas. Desconfio que a torcida do time catalão morra de amores mesmo por outra Liga, a dos campeões da UEFA. Um sentimento meio parecido com o que se dá por aqui quando o torcedor faz da Libertadores, e não do Brasileirão, seu grande sonho de conquista. Mas o paraíso do mundo da bola não pertence só aos nobres e abastados e isso é tão bonito quanto essa veia indomável do jogo de bola. Está aí a centenária Portuguesa Santista com seu retorno à segunda divisão do futebol paulista pra provar. Às vezes, olho o mundo de glamour em que o futebol está inserido e não consigo ter certeza de que ele seja garantia de que o futebol sobreviverá, mas quando vejo a arquibancada de Ulrico Mursa sacudir me fogem as dúvidas. Que futebol é esse? 

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Dia Mundial do livro


Stoner, de John Williams, foi o livro mais impactante que li recentemente. Realmente, como diz uma observação que consta da obra, é incrível notar como uma história aparentemente sem grandes apelos pode se agigantar traduzida pela sensibilidade de um autor de respeito. O livro mexeu tanto comigo que depois de encerrada a leitura o deixei um bom tempo à vista acreditando que de algum modo serviria de inspiração. Gostava de dar de cara com ele, renovava o prazer que tinha tido na leitura.    

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Qual é a graça?

Não tenho um diagnóstico. Caso tivesse um solidamente embasado poderia me considerar um iluminado. Não é o caso. Futebol é terreno que costuma ter a densidade da areia movediça para certas conclusões. Qualidade que de tão impiedosa desconfio anda tragando, inclusive, o que tem brotado com ares de ciência exata do mundo tecnológico e científico que ganha cada vez mais espaço e atenção daqueles que tem a missão de estudar o futebol. A única certeza que carrego comigo é que as peladas travadas por aqui com carimbo profissional andam pálidas. A graça do jogo de bola míngua a olhos vistos.  

O que pode ser comprovado empiricamente. Basta pra isso provocar o assunto no meio de um bate papo qualquer com os amigos. Os lamentos nesse sentido não tardarão. Façam o experimento. Pra diminuir a margem de erro e calibrar o resultado da pesquisa procure torcedores cujos times andam um tanto à margem de conquistas de alguma expressão. Não é por nada. É que torcedores que flertam com grandes conquistas tendem a misturar um pouco a emoção de um grande triunfo com a emoção do jogo. Não os culpo. Diante dessa nossa realidade pobre garantir o direito de tirar um sarro com os rivais jamais será pouco. 

Outro dia recebi de um leitor interessado uma teoria que procurava elucidar de onde tem vindo tamanha modorra. Gostei do que li. Em linhas gerais a teoria descrita sugere é que temos uma deficiência absurda na execução do passe. O velho problema dos fundamentos, que realmente parece fazer cada vez mais sentido. Segundo o autor da reflexão, Reinaldo Neto, outra questão é que nossos jogadores estão longe de entender a necessidade da plena movimentação em campo. Sem bons fundamentos e limitados pelas poucas opções de fazer o jogo andar, já que os companheiros se movimentam menos do que o ideal, acabam ficando com a bola quase que o dobro do tempo de um time de ponta europeu. Tudo isso torna o trabalho das defesas infinitamente mais fácil, pois passam a ter um tempo considerável pra se reposicionar. O que não explica tudo. 

Mas acho interessante quando alguém se debruça sobre o que vê tentando entender o que se passa. Não me entendam mal, não sou um pessimista sou um jornalista tentando interpretar o que vejo. Seria muito bom entre uma conversa e outra dar de cara pelo caminho com alguém que afirmasse que hoje em dia gosta mais de futebol do que gostava antigamente. De minha parte, vos digo, isso me deixaria muito surpreso. Enquanto não encontro esse sujeito, concluo que a ausência dele é a grande prova da minha humilde teoria: o futebol brasileiro precisa urgentemente de uma dose de graça.    

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Vestir a camisa



Poucas vezes escrevi com tamanha certeza de provocar melindres. Mas como não há salvação para jornalistas temerosos de melindres que venha a fogueira. De qualquer forma quero crer que o que vai aqui contribua de alguma forma para nos dar a dimensão de certos símbolos e que sirva também como reflexão.Desde que o país começou a arder tem me causado imenso desconforto dar de cara com gente nas ruas pedindo um Brasil diferente desse que herdamos trajando a camisa da nossa seleção de futebol. 


Mas reconheço algo de nobre escondido nessa situação. Ela nos revela também, com clareza absoluta, a dimensão daquilo que a CBF tomou pra si. Sou até capaz de lidar com a constatação de que o futebol tem dono e ponto final. Mas sonho o suficiente para defender que um time que joga em nome de todo um povo seja tratado de maneira mais cuidadosa, pra dizer o mínimo. O que se vê, de qualquer modo, é que ainda que o jogo culturalmente já não tenha o apelo e o alcance que teve em outros tempos segue nos ofertando um signo poderoso, um signo catalisador, que nosso povo transformou em algo tão expressivo quanto nossa bandeira. 



É claro, o amarelo faz todo sentido, como faria o verde e, em última instância, o azul,  sempre menos lembrado. Ah, as instâncias. Mas ao mesmo tempo em que se veste assim, de Brasil, o cidadão acaba por carregar no peito a imagem de uma Confederação que não teria lugar nessa nação que ele sonha. Porque se Tite nos deu algum horizonte e fez o torcedor brasileiro se aproximar da Copa que vem aí se sentindo capaz de encarar o mundo, no avesso nosso futebol ainda espelha um país de coronéis. Mas a cartolagem nunca dormiu no ponto. 



Tratou de cuidar das aparências, do linguajar, de enriquecer também o próprio vocabulário. Hoje em dia o que mais gosta é de alardear aos quatro ventos seu finíssimo compliance. Mas não se enganem, o futebol brasileiro nas entranhas nada tem de novo. Ainda muda as regras do jogo como bem entende, ainda altera o valor do voto dos que compõem seu colégio eleitoral, ainda empodera seu quadro de funcionários empregando políticos, ainda contrata gente na surdina. E mesmo quando a situação de um dos seus poderosos fica insustentável depende da FIFA para lhe dar um cartão vermelho. Não deixo de considerar que esse vestir a camisa  se dê assim quase por instinto. Vá lá. Mas se escrevo sobre isso é porque acredito, depois de matutar um bocado, que muitos acabem concordando comigo. Estou convencido de que exista um sem fim de trajes mais apropriados para a ocasião. 

terça-feira, 10 de abril de 2018

Guardiola, o diferente




"É um prazer treinar esta equipe. Fiquei satisfeito por termos perdido da forma como perdemos. Não gosto de perder e estou triste porque queríamos ser campeões. Mas a forma como jogamos foi incrível. Estou muito feliz. Não posso ter qualquer tipo de reprovação"


Palavras do técnico do Manchester City sobre a virada que o time dele sofreu para o Manchester United. Detalhe: o City vencia por dois a zero e foi derrotado por três a dois.

 

quinta-feira, 5 de abril de 2018

A Academia e o artilheiro


No domingo Palmeiras e Corinthians ficarão frente a frente em derradeiro embate. Em jogo estará o título paulista deste ano. Sem exagerar na milonga - pois desde o momento em que batuco estas linhas muita água passará embaixo da ponte - digo que a situação está complicada pro lado dos corintianos. Como se não bastasse o resultado adverso em casa, ter de jogar a partida de volta fora e encarar um adversário cujo cofre o fez rico de possibilidades para levar a campo, Claison a meu ver fará muito mais falta ao time de Carille do que Felipe Melo ao time comandado por Roger machado. 

A confusão que gerou a expulsão dos dois de tão lamentável nem merece maiores citações. Um tipo de ladainha encenada que só nos mostra com mais clareza o comportamento baixo de alguns. Os de sempre, aliás. Mas para o torcedor, que sempre terá legitimidade ao colocar a paixão acima da razão, nada está decidido. Palmeirenses roerão as unhas esperando que o futebol não os assombre com sua veia sobrenatural, enquanto corintianos estarão mais apegados do que nunca ao dito de que o jogo só termina depois do apito. E nesse sentido andam com a fé renovada depois de terem visto tudo o que viram acontecer nas  semifinais. 

Favas contadas é ver o colombiano Borja, com seus sete gols, a um passo de se tornar artilheiro do torneio. Nada nada entrará em uma galeria onde figuram nomes como Pelé, Toninho Guerreiro, Sócrates, Careca e por aí vai. Só não chegará lá se o zagueiro Balbuena ou o meia Jadson, que têm três gols cada, forem muito além do que pode ser chamado de sobrenatural. Nos últimos dias os números de Borja andaram estampados em vários cadernos de esportes. Comprado por trinta e três milhões de reais depois de só não ter feito chover quando enfrentou o São Paulo nas semifinais da Libertadores em 2016, o atacante esteve longe de mostrar um futebol do tamanho da transação que o trouxe para a Academia do Palmeiras. 

Ano passado foi a campo  quarenta e três vezes e cruzou a fronteira para a temporada atual carregando módicos dez gols. Números que se levados à média não são de empolgar. Mas em 2018 fez essa média triplicar e ainda a temperou com um gol marcado no Júnior Barranquilha na estreia do Palmeiras na Libertadores e outro na terça contra o Alianza. Borja foi uma aposta alta. Quando chegou, tirando o modesto Cortuluá e o Santa Fé, não tinha chegado a trinta partidas por nenhum clube. Na Academia não demora e alcançará a de número sessenta. É claro, se já tivesse se provado não estaria brigando, teria lugar garantido na seleção colombiana. Não é o caso. Mas Borja nunca teve tanto a ver com o time que defende. Ele e o Palmeiras neste momento dão toda pinta de que vão virar. Será? 

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Nada como ser desafiado por um sábio



Aos que seguem encantados com o gol incrível marcado por Cristiano Ronaldo, vai abaixo uma "história" - ou seria "estória"? - dele com o nobre Zidane, seu atual treinador, que pode explicar, ao menos em parte, porque o português nos dá a  impressão de ir cada vez mais longe.

O dia em que o maestro Zidane deu uma lição ao seu melhor aluno

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Vincent van Gogh

A igreja de Auvers