quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Nem sempre foi assim

Não sei se vocês lembram mas houve um tempo em que o juiz entrava em campo carregando apenas o apito. Depois vieram os cartões, e com eles uma caneta para que o tal não acabasse traído pela memória. Naqueles tempos eles eram chamados de juiz e fim de papo, essa coisa correta de chamá-los de árbitro veio depois. Vestiam-se todos de preto, os trajes amarelos também estavam guardados em algum ponto futuro. Não eram infalíveis, mas não medravam.

Mesmo nas situações mais vexaminosas tinham que decidir no ato, sem titubear, tinham que ser homens, mesmo que o destino tivesse lhes reservado o infortúnio de mandar a bola para dentro do gol com a própria canela. Dirão os puristas: trata-se de um caso previsto na regra. Tudo bem! Mas vá lá assumir a bronca numa hora dessas.

Hoje está tudo mudado, carregam com eles pra dentro de campo uma parafernália sem tamanho. Spray, comunicadores. Exibem até patrocínios na outrora negra vestimenta. Ganharam mais dois auxiliares, um ao lado de cada baliza, e mesmo assim parecem cada vez mais perdidos. Muita facilidade amolece o espírito, ouvi certa vez.

O erro não me assusta, o que me assusta é a nossa pobreza para fugir dele. O que me assusta é ver o árbitro Francisco Carlos do Nascimento no meio do rebuliço sem saber ao certo o que fazer, dando uma bandeira danada de que foi-se o tempo em que cabia a ele decidir. Ligo o rádio do carro e o caso do Beira-Rio está sendo debatido, abro a internet e a manchete do jogo que ficou parado à espera de uma definição me toma o olhar, ligo a televisão e a mesa, subjetivamente redonda, se mostra indignada diante do ocorrido. E lá se vai quase uma semana de discussões sobre o fato.

Tivéssemos dois jogos de primeira pra comentar, teríamos ainda alguma possibilidade de neutralizar essa infecção arbitrária que invadiu o jogo. Mas quem entre nós, ditos modernos, acredita que hoje em dia o juiz - com aquele seu fonezinho descarado colado no ouvido - é quem decide tudo em campo? Imagine um juiz tendo que proferir uma sentença nessas condições, e agora falo de um juiz mesmo! É uma bagunça tamanha que fica difícil dizer o que está certo e o que está errado.

Por exemplo, quando vejo hoje em dia um jogador esticar o braço pra conter a chegada de um adversário fico indignado. Quando me ensinaram a jogar futebol isso era falta e duvido que quem me ensinou, que foi a rua, tenha me ensinado errado. Portanto, não estranhe se dia desses você acordar tomado de saudade de um Romualdo Arpi Filho ou até de um Armando Marques.




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