quinta-feira, 19 de julho de 2012

Os cartolas e os meninos


I


Não é de hoje que os números me causam arrepios e não se trata apenas de resquícios de um trauma por ter sido reprovado em matemática quando cursava a distante quinta série. E isso num tempo em que levar bomba significava ter de refazer todas as matérias novamente, inclusive, aquelas em que sua nota média anual girava em torno de nove ou dez. Não riam, elas existiam. Pior ainda quando lembro que a reprovação veio depois de uma recuperação exaustiva que me deixou a apenas 0,25 de passar. Até hoje desconfio que mais terrível do que a matemática era a professora. Mas...passou, ou quase.

E o problema não é exatamente a matemática, que considero fascinante. Difícil pra mim é enxergar os números como um reflexo da verdade, seja na vida e, principalmente, no futebol. O jogo e o viver são muito mais ricos e complexos do que qualquer estatística. Aí abro o jornal e fico vendo todo o bafafá em torno do sigilo que foi quebrado na Suiça e que deixou João Havelange e Ricardo Teixeira como que de cuecas em praça pública.

Até que ponto as cifras, os números estampados nos jornais refletem o tamanho do delito desses dois cartolas do futebol brasileiro e mundial? Por anos, decisões importantes do futebol aqui e no mundo passaram nas mãos desses dois senhores e a conta ora exposta diz apenas das falcatruas da ISL. E mesmo assim quem acredita que isso é tudo que eles levaram? A vida, além de tudo, sempre é mais expressiva do que os números.

Agora vem o Blatter dizer que "suborno é inaceitável". Ora, acreditar que exista um inocente nesse teatro é para mim tarefa tão árdua quanto acreditar nos tais números. E é tudo tão maluco que já não sei nem de onde vem tamanha indignação se já estávamos cansados de saber o que os jornais só puderam estampar alguns dias trás.

E onde encontrar razão para crer que os bastidores do Comitê Olímpico Internacional são mais íntegros que os da FIFA? Havelange mesmo, até outro dia estava lá e cá. A situação de todos nós que gostamos de esporte acaba sendo um pouco a do cara que não quer aceitar que foi traído. Por amor, ou seja lá o que for, preferimos acreditar que o esporte está a salvo da cobiça dos homens, que através da história o enalteceram e o dilapidaram. Só pode ser porque insistimos em acreditar que há algo de tão puro nele que nenhuma mazela ou maldade irá ferir. Não pode haver outra razão.


Vejo o desembarque do nadador Cesar Cielo no aeroporto de Heathrow, em Londres, citando Walt Disney, dizendo que prefere acreditar no impossível pois é uma maneira eficaz de eliminar vários concorrentes e percebo que ali, de alguma forma, a alma do esporte resiste.

II


Já no caso da nossa jovem seleção a coisa é um pouco diferente. Mano Menezes está certo quando diz que o futebol é um mundo à parte na Olímpíada. É mesmo e, de tão grande, ao longo da história foi colocando à prova a honestidade dos homens. Deu no que deu, no que está dando.

Por falar na nossa jovem seleção que amanhã faz amistoso com a Grã-Bretanha, Mano dá todas as pistas de que está no foco, ciente da chance que tem nas mãos e faz de tudo para aproveitá-la. Terá minha torcida, não que eu tenha entendido tudo que ele quis fazer até aqui, mas o vejo como um profissional desfrutando de um momento que conquistou de maneira legítima.

Por outro lado não deve estar sendo fácil para os meninos. Além das cobranças, ainda houve esse período de treinamento na escola de educação física do exército antes de embarcar e, como se não bastasse, os guris ainda ficarão longe da Vila Olímpica.

Segundo disse o treinador da seleção "não vamos ficar nela por causa dos problemas que pode nos trazer, e não estamos atrás de problemas e sim de benefícios." O treinador brasileiro prometeu apenas uma visita para entrar no clima olímpico.

Mas poxa Mano, logo agora que a molecada já tinha dito que estava louca para conhecer a Sharapova? O que não se faz por causa de uma medalha olímpica que nenhum boleiro brasileiro jamais teve no peito, hein?

Vida de jogador não é fácil. Mas a de cartola pelo visto é.



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