quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Os fiéis das arquibancadas


Estamos todos em plena era dos fiéis torcedores. Assimilamos o bendito jargão como se os torcedores de outrora não passassem de uma cambada de infiéis. Mas foram eles, os de outros tempos, que pagaram as maiores penitências. Estou certo de que não há nesse Brasilzão afora um apaixonado pelo jogo que em nome dele não tenha perecido numa fila cujo fim não se avistava ou que não tenha sido extorquido por um cambista. E mesmo debaixo de todo esse destrato o futebol brasileiro se fez grandioso, cultuado. 

Quem hoje chora a beleza das gerais demolidas sob o argumento do progresso e do fino trato, chora um pouco também aquela beleza atravessada onde o dinheiro gasto no mais barato dos ingressos sugeria que mais tarde ele iria fazer falta. Mas isso era coisa pra se pensar só depois de terminado o espetáculo. Sim, a beleza das gerais era um pouco a beleza da entrega.

Não duvido da eficácia comercial dos planos de fidelização. Duvido apenas que sejam compatíveis com a democracia que o futebol sempre pediu. Perceba. Hoje paga-se para se ter direito a comprar um ingresso. É isso, ou o que resta é o purgatório reservado aos comuns. Mais cruel ainda é começar a perceber a necessidade que passamos a ter de salvar o futebol da própria torcida.

Dias atrás enquanto o Rio de Janeiro criava um núcleo para cuidar desse tipo de problema, a Federação Paulista de Futebol readmitia duas das maiores torcidas organizadas de São Paulo nos estádios, como se elas um dia estivessem estado fora. E como se tivesse a capacidade de expurgá-las quando bem entendesse. Diante da notícia a imprensa se apressou em ouvir o Ministério Público, e aí está a parte mais rocambolesca de toda essa história.

O Ministério Público prontamente negou ter dado o aval para que as mesmas fossem reintegradas. O promotor, Thales Cezar de Oliveira, um do envolvidos lembrou que reuniões semanais com a presença de representantes da Polícia, das torcidas e tal, vinham sendo realizadas mas que não tinha sido feito acordo algum. " Isso é uma questão interna da Federação Paulista de Futebol", afirmou de maneira categórica. E diante de tamanho ruído nada mais foi dito.

A pergunta que fica é: quem deverá ser responsabilizado pela próxima ocorrência? Conhecendo a história é difícil acreditar que os clubes não tenham agido nesse sentido. Eles todos, de certa forma, são reféns, são cúmplices, e sem precisar. Não dependem desse amor minado de interesses. Deveriam aproveitar o momento e declarar independência desse tipo de gente. 

A impressão que tenho é a de que os cartolas, que se acham espertos, acreditam estar explorando quando na verdade estão sendo barbaramente explorados. Mas ao fechar os olhos para esse mal estão dando um tiro no pé, pois em algum momento a presença desses dois tipos de fiéis na mesma arquibancada se fará inviável.  

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