quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O futebol e os homens


Desde aquele dia em que, em pleno jogo decisivo da Libertadores entre Santos e Corinthians, o bandeirinha Altemir Hausman não segurou a onda e gastou boa parte do seu spray desenhando um imenso círculo no gramado com modos festivos para apontar a distância que os jogadores deviam manter da bola, tenho olhado os árbitros e seus auxiliares com mais atenção. Isso porque dos gandulas já abri mão, boa parte deles parece ser caso perdido.

Mas voltemos ao tema principal. Levando adiante esse meu "treinamento do olhar" um outro comportamento me chamou a atenção dias atrás. E pelo visto passou desapercebido pela maioria. Foi na partida entre Botafogo e Atlético Mineiro, no Independência. Diga-se de passagem um bom jogo. Lá pelas tantas o senhor Anderson Daronco, o dono do apito, apontou uma falta bem perto da linha de meio de campo.

Logo formou-se um pequeno tumulto com jogadores se peitando, bate-boca, enfim, um verdadeiro bafafá. E para a minha surpresa o árbitro, ao invés de usar da autoridade para - como dizem por aí - colocar ordem no barraco, optou por um método bem menos indicado. Saiu empurrando os jogadores mais exaltados para evitar que chegassem perto uns dos outros. Não contei, pois espantado que me encontrava acabei deixando passar esse detalhe. Mas estou certo de ter visto qualquer coisa entre quatro e meia dúzia. Empurrões, pra valer.

Ainda que tenha dúvidas com relação a esse clamor que se faz cada vez mais forte por aí, pedindo para que as punições aos árbitros sejam públicas, morri de vontade de saber se a nossa nobre comissão de arbitragem teria, ao menos, notado o fato, já que alimentar esperança de que o ocorrido redundaria em advertência seria abusar da ingenuidade.

Que vida de juiz não é fácil todo mundo sabe, inclusive eles. Ou alguém aí é capaz de imaginar um juiz ou bandeirinha falando que se soubesse que a realidade da profissão era essa teria ido fazer outra coisa? Se tem uma coisa que o futebol não é é inocente. Ficar pedindo pra que jogador não simule, que não tente enrolar o juiz beira a piada. Que atire a primeira pedra o sujeito que, uma vez com a bola no pé, não tentou levar o homem do apito no bico.

Desde sempre fez parte das obrigações do árbitro punir os ditos malandros. E malandro em matéria de bola era o Dadá Maravilha, o Chulapa, e não o Kleber gladiador. Faça-me o favor. Pensar que o jogador atual é mais mal intencionado que o de outros tempos pode fazer sentido, mas dizer que eles ficaram mais espertos não dá, não. Nesse caso prefiro defender a tese de que foram os árbitros que hoje andam menos atentos, pra não cometer a indelicadeza de dizer que hoje em dia andam sendo mais facilmente ludibriados. Otários, jamais.

Vejam o caso de Cruzeiro e Atlético Mineiro no final de semana. Será que o time celeste teria alcançado o empate se não tivesse feito do confronto a batalha que fez? Pressionado ao extremo o árbitro pernambucano Nielson Nogueira Dias foi sendo levado ao erro. Por outro lado, o Júnior César depois de fazer toda aquela cena dentro da área, a essa altura, deve ter se convencido de que nem sempre a simulação dá resultado, e que pode sair pela culatra.

O futebol, meus amigos, são os homens, e isso explica quase tudo. Não há como negar a transcendência e o fascínio dos dribles e dos gols. Mas o jogo só é o que é, e virou o que virou, porque ali está estampada toda a nossa dramaticidade, a nossa paixão, as nossas carências, o nosso lado sacana e a nossa imensa riqueza.










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