quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Carta ao deus do futebol II


Tu bem sabes que não sou de pedir. Na maior parte das vezes contento-me em dividir contigo, em silêncio, minhas aflições ludopédicas. Aflições que, reconheço, são muitas. Mas és a mais venerável das testemunhas que em todos esses anos por aqui uma única vez ousei transformar estas linhas numa espécie de súplica. E já não estou certo de ter tomado a atitude correta uma vez que urgente mesmo me parece que é essa causa que te trago agora.

Entendo que à luz dos dias passados aquele meu outro pedido se revela até carente de sentido. Prometo passar longo tempo sem voltar a lhe pedir prioridade, só não digo que será pra sempre porque nunca se sabe o tamanho da pendenga que o amanhã pode trazer no ventre. Leve em conta o fato de que o que venho lhe pedir nada tem de egoísta. Uma vez atendido, estou convicto, muitos ficarão felizes.

E não precisa ficar aí se ajeitando na cadeira ao ler essa breve carta porque sou um sujeito que não costuma confundir as coisas. Não vou te amolar com questões que envolvem o homem, como aquela selvageria de intimidar uma garotinha e seu pai só porque ela decidiu pedir a camisa do jogador do time adversário, muito menos teria a petulância de te pedir que amansasse os homens que obrigaram um certo escocês desavisado no Pacaembu a tirar da frente deles sua camisa verde e branca, de um time de uma terra distante vale lembrar, só porque ela trazia as cores do maior rival do que time se apresentava ali. Essa questão dos homens devem ser endereçadas a outro Deus, e não a ti. Afinal - estou ciente - esta é uma carta para o deus do futebol.

O que lhe rogo, no entanto, não deixa de ser uma tarefa também hercúlea. E antes, que desista de ler isso aqui, por descobrir entre estas linhas alguém tão hesitante em pedir...lá vai! (E espero que ainda estejas sentado). Aí meu deus ! Bom, eu, em nome de muitos, imploro: nos dê, por clemência, um rodada que seja, sem que os juízes cometam erros. Um rodada, uma só, com os juizes fazendo apenas o seu papel. Uma rodada sem que eles sejam mais analisados do que os jogos.

Claro, não sou louco de te pedir que eles não errem, posto que errar é dos homens. Mas uma rodada em que eles com seus apitos não desviem as pelejas de suas trajetórias, criando vitórias e derrotas claramente injustas. E se o problema formos nós, que nos cure dessa mania ranzinza de ficar procurando pelo em ovo. Mas não é o que me parece. Veja os teipes. O senhor há de concordar, descambamos para o desatino. Estou certo que do alto de vossa sabedoria jamais dirás que a regra é clara. Como disse um amigo outro dia, juiz também precisa ser analista. E, me perdoe a falta de modéstia de vir à ti, descaradamente, pedir um milagre.


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