sexta-feira, 25 de maio de 2012

Futebol não é só paixão

O Chelsea gastou em contratações a ninharia de novecentos milhões de euros, e triunfou. Não que o futebol só por suas cifras possa se fazer bonito ou respeitado, por suas cifras jamais. Mas achei interessante notar que a nobre decisão do campeonato europeu de clubes foi capaz de evidenciar um abismo silencioso que existe entre torcedores.
 
Um abismo que separa os que se entregam ao jogo de corpo e alma aceitando praticamente tudo em nome dele - de retrancas insanas a ataques enervantemente comedidos -  e aqueles que não conseguem encarar o futebol sem emprestar a ele, digamos, um viés sócio-ideológico.
 
Embora confesse maior afinidade com o segundo tipo, a mim bastava/bastou o futebol mais vistoso do Bayer para torcer por ele, ainda que me fosse impossível ver aquele time de azul e não pensar na máfia russa, nos bilhões de uma privataria despudorada, no futebol inglês tão organizado, tido sempre como exemplo, virando a cara, sem querer saber de onde vem o dinheiro que lhe garante a pompa.
 
Trata-se de uma preocupação inglória, como se houvesse no mundo um time de primeira linha construído só com dinheiro inocente. Que dinheiro é capaz de trazer felicidade não resta dúvida, o detalhe é outro, a impossibilidade nesse caso sempre residiu no fato de que há um certo tipo de felicidade que não se compra. Talvez por isso o Chlesea seja o Chelsea e o Barcelona o Barcelona. Ao menos até que um sheik decida arrematar o Camp Nou.
 
O dinheiro, no entanto, não deve receber todas as culpas. O cultuado futebol europeu tem nos mostrado mais do que qualquer outro que em determinado momento, com tanta coisa em jogo, um time mais limitado pode acabar sendo visto como exemplo de inteligência por se mostrar ciente de seus limites. Olha, não é de hoje que jogos desse quilate correm esse perigo. 
 
Na ausência de um time que nos encha os olhos em finais da Copa dos Campeões da Europa o enredo, muitas vezes, é tão igual que a emoção gerada pela partida pode quase ser intuida. Mas o glamour é tamanho, o nosso respeito de colonizados tão grande, que alguns gols raros marcados em tempos de jogo quase findos acabam sendo encarados como o supra-sumo da arte de jogar bola, coisa que não serão nunca.
 
 A Didier Drogba dispenso o mesmo reconhecimento que faço questão de dar ao trabalhador que em seu ofício se exaure em suor, mas que não está livre de dar de cara com a foto de seu patrão estampada nas páginas polícias de um jornal no dia seguinte. Drogba, que agora já se sabe, deixará o time do magnata russo Roman Abramovich. 
 
O dinheiro, senhores, montou um belo time não há como negar. Quem ousará dizer que um goleiro como o tcheco Petr Cech não merecia um título dessa envergadura? Ou um Lampard? Não é de hoje que o futebol tem o poder de cravar o nome de certos homens na história, mas também não é de hoje que muitos times poderiam ser derrotados por sua própria história.
 
Antes de se posicionar sobre essa questão, de dizer o quanto seu futebol tem de sociologia, de ideologia, pense primeiro quantas coisas já o fizeram torcer contra um determinado time que não eram exatamente ligadas ao futebol. Creio que não tenham sido poucas. Do Real Madrid afinado com a ditadura de Francisco Franco, até aquele jogador ou técnico que você nunca foi com a cara. 
 
O que és afinal ? Um idealista ou um passional da bola?  

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