quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Boca no trombone

A falta de brilho do clássico entre Santos e São Paulo foi claramente um sintoma do nosso calendário que rouba - e continuará roubando - nossos jogadores mais brilhantes de seus clubes toda vez que a seleção precisar estar em campo. E, é óbvio, que o Sr Moheyddin kamel, que comprou os direitos de organizar os amistosos do nosso escrete até a eternidade de 2022 irá colocar a boca no trombone se alguém por aqui ousar ter a lucidez de achar que Neymar ou Lucas não precisam estar num jogo qualquer, ainda mais se for contra um adversário inexpressivo, como a China.

Não tenho certeza de que com Neymar, Arouca e Lucas em campo teríamos visto uma partida sensacional mas tenho a convicção de que desse modo teríamos tratado a torcida e o futebol brasileiro de maneira mais respeitosa. A pobreza do confronto também me pareceu decisiva para vitimar o lateral esquerdo Léo. Teria sido bom para todos se a crônica esportiva tivesse um mar de bons lances para analisar. Mas o que restou foi um deserto de acontecimentos. E esse deserto amplificou o discurso indignado do jogador.

Sem querer, Léo incrementou o ar de novela mexicana que ronda a Vila Belmiro. Nesse sentido foi perfeito na análise. Louvável também seria sair em defesa do amigo, não fosse a prepotência de achar que desse jeito ajudaria a fazer a novela chegar ao fim. Tenho o maior respeito pelo lateral, um dos nomes de  destaque na história recente do clube. Diria até mais. Léo tem uma capacidade de se comunicar com a torcida que é impar, e sabe disso. Basta olhá-lo em campo.

Mas acreditaria mais no discurso dele, de pedir respeito, se esse não fosse insistentemente usado para falar de si mesmo. Louvável a atitude que se seguiu de reconhecer que o tom não tinha sido apropriado. E que ele não deixe de falar o que pensa por causa do episódio. É normal que um jogador, vencedor como Léo, se sinta ferido com certas observações, principalmente quando do alto dos seus trinta e sete anos ainda tem a capacidade de entrar em campo e ser decisivo como foi contra o Velez recentemente na Libertadores.

Outra coisa é se incomodar com o fato de que o Santos precisa, sim, pensar em encontrar um jogador capaz de cuidar daquela posição como ele cuidou. Sua experiência segue sendo de grande valia. E tomara que apesar de todos os desafios que o tempo impõe ainda tenha fôlego para dar e viver alegrias com a camisa do peixe. Mas não há como lutar eternamente contra o fato de que os clubes costumam durar mais do que os homens.


* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos

Nenhum comentário: