quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Um recorte do Brasil atual

J.Ricardo / Estação Conteúdo

Dois episódios ocorridos nestes últimos dias do ano são exemplos da nossa realidade social refletida no futebol. O primeiro, a selvageria registrada nos arredores e na entrada do Maracanã no dia da final entre Flamengo e Independiente, da Argentina, pela Copa Sul-Americana. Onde vimos um descaso, um despreparo total das autoridades e instituições envolvidas para lidar com a crueldade desses dias que correm. Faz tempo que gente mal intencionada descobriu que invadir o Maracanã à força é possível.  Aliás, até os chilenos sabiam disso. Durante a Copa realizada aqui uns cem se reuniram por ali e simplesmente dispararam estádio a dentro via Sala de Imprensa, levando pânico aos que trabalhavam no local. 

Em agosto, num Flamengo e Botafogo, as cenas foram as mesmas de agora. Torcedores enfrentando a Polícia Militar, invadindo o estádio. Sem contar as confusões geradas por ingressos falsificados, outra constante. Em setembro se deu o mesmo. Na final da Copa do Brasil, antes de Flamengo e Cruzeiro entrarem em campo, balas de borracha, invasão e torcedores dentro do estádio colocando grades abaixo para mudar de setor. No caso mais recente, esse da Copa Sul-Americana, quando o clube rubro-negro e a Polícia discutiam para descobrir o menos culpado, ficamos sabendo que as barreiras montadas para impedir que torcedores sem ingressos chegassem até o estádio estavam fadadas ao fracasso porque era simplesmente impossível saber se os cartões que a multidão ia apresentando estavam, ou não, carregados com os ingressos. 

Tão lamentável quanto a falta de métodos eficazes para evitar que assistir um jogo de futebol não seja um risco de morte é a atitude selvagem de quem se apresenta ali para se aproveitar, para roubar, para brigar, deixando milhares de inocentes com a vida por um fio. Gente que, imagino eu, no cotidiano miúdo vive dizendo que o país precisa mudar. 

E o outro episódio pontual foi a punição imposta pela FIFA ao presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, impedindo o cartola de realizar por noventa dias qualquer atividade ligada ao futebol. Ora, nem o mais inocente dos torcedores é capaz de acreditar que o dirigente não segue mandando em tudo. O jatinho e helicóptero da entidade, como foi noticiado, seguem à disposição dele, replicando o mesmo teatro que se vê encenado em outras áreas. Na política, por exemplo. E assim a violência dos que roubam, dos que causam desordem, vão fazendo do nosso cotidiano algo cada vez mais bizarro. Quando uma sociedade adoece, como adoeceu a nossa, esperar que o futebol melhore beira quase o egoísmo. É preciso, bem antes disso, salvar de um colapso total este país que na próxima Copa será chamado de o mais vencedor da história. 

6 comentários:

Unknown disse...

Olá Vladir! Mesmo sendo um evento privado dado o tamanho seria da segurança pública cuidar e zelar pelo ambiente externo ao jogo, por mais que o futebol seja rico e possa contratar segurança particular não dá conta vigiar 50-70 mil pessoas num espaço tão curto de tempo e com tanta gente mal "intencionada" acho que está na hora dos jornalistas esportivos pararem de passar a mão na cabeça dessa gente... Parar de tratar essa gente como "torcedor" e falar de cidadania/cidadão, infelizmente amigo Vladir vivemos numa sociedade bandida, o culto ao bandidismo impera nas periferias, sou morador e moro em periferia e sempre morei e todos os dias vejo jovens, crianças e centenas de adultos... Exposto um vida cheia de luxo vinda de atividades duvidosas sem qualquer medo de serem pegos... Total ausência de segurança pública, estado completamente ausente falido, foi dado a um poder paralelo que já começa a subir na política pela desorganização do que lá está. Tá na hora de parar de chamar só de torcedor e inseri-los no sob o personagem de cidadão, torcedor é uma mera faceta dentre muitas... pai, filho, eleitor, cidadão... Esses caras vão para os estádios, mas votam tbm, talvez nem ligue para esquemas de corrupção e nem esteja ai para o futuro da nação... Coloca-los só como torcedores é ignorar o que eles fazem quando estão em outros papéis.

Agora falando do Estado, neste fato ele é justo e explico o porquê. Saindo do mundo do futebol e olhando as outras áreas vemos que é a mesma coisa: Hoje dia 22/12 saem 30 mil presos em regime semi-aberto sem tornozeleira eletrônica por que o estado de SP rescindiu o contrato sem colocar qualquer outra empresa no lugar; O Pimenta Neves matou alguém assumidamente e nunca foi preso; O Maluf roubou bilhões e só foi preso depois de 25 anos aprox. e tem gente que chama isso de justiça; Tem juíz no supremo com relações de pessoais com um mafioso dos trânsportes do Rio e cansa de dar habeas corpus e nem a vergonha de se abster por ter relações, fotos mostrando a convivência com acusados e condenados, isso falo da nata estudada do país; Abre um processo devido contra uma empresa, se os valores forem altos... O processo correrá por 30-40 anos pelas ações protelatórias; e os exemplos são inúmeros em outras áreas... Tratar as falências do futebol num mundo a parte é ser injusto já que ele faz parte do contexto falido do estado e falamos desde pobres, ricos, analfabetas e pessoas extremamente cultas então fica claro que é difundido.

Unknown disse...

Olá Vladir, gostaria de falar sobre outro assunto esse mais leve, sou um critico do futebol brasileiro atual que virou um futebol defensivo e venho tentando contato com jornalistas influentes na expectativa que vcs possam mudar isso... Porém o único que consegui contato até agora foi contigo. Infelizmente vcs são inacessíveis para quem quer dar opiniões na esperança de melhorar o futebol brasileiro e resgatar de volta a qualidade do nosso futebol e jogadores.

Infelizmente o pessoal não entende que nosso futebol está no buraco, a mentalidade mudou e afetou completamente a qualidade seja dentro do Brasil e fora. Fiz uma pesquisa que reforça isso: Pesquisa feita no dia 21/12/2017 -

Nas Principais ligas internacionais, as mais fortes atualmente sob os seguintes critérios: Avaliei a performance dos jogadores brasileiros em números efetivos pesquisando por nomes de brasileiro entre os 10 artilheiros, se são o atual artilheiro do campeonato em vigor, se estão entre os 10 líderes de assistências ou se são o atual líder de assistência.

Liga Inglesa:
Artilheiros:
G. Jesus é o oitavo, ele tem 8 gols - o atual artilheiro possui 14. O G.Jesus é o único brasileiro que aparece na lista dos 10 artilheiros. Firmino está 11° e o Coutinho 17°.

Assistências:
P.Coutinho é sexto com 5 - o líder de assistências tem 8. O Coutinho é o único brasileiro que aparece entre os dez líderes de assistências.

Liga Francesa:
Artilheiros:
O Neymar é o quinto com 14 gols - o atual artilheiro tem 19 gols. O Malcom aparece em 11°.

Assistências:
Neymar é o líder de assistências com 9 - D.Alves e o Malcom estão em sétimo. e só.

Liga Italiana:
Artilheiros:
Não há brasileiros entre os dez. - o líder de gols tem 17

Assistências:
Também não há brasileiros entre os 10 líderes de assistências.

Liga Alemã:
Artilheiros:
Um tal de Raffael com seis gols - o artilheiro tem 15.

Assistências:
Jonathas e Wendell têm 3 cada um estão em nono - o Líder de assis. tem 9 somo os dois não dá o que o líder tem!

Liga Espanhola:
Artilheiros:
O Paulinho que nem atacante é, está em décimo segundo, incríveis 6 gols para um volante - o Messi tem 14.

Assistências:
O Andreas Pereira está em 12° com só 3 assis. - o líder tem 9!


continua...

Unknown disse...

Fica claro que o jogador brasileiro, sobretudo de posições á frente do meio de campo sofreram uma perda de espaço nos centros da Europa, muito devido a queda de qualidade, em centros como a Itália e Alemanha fica evidente. Quem gosta do futebol resultadista por uma bota com os onze atrás ou do Cucabol... Devem estarem felizes pois hoje o Brasil apresentar os melhores jogadores do meio de campo para atrás, nunca tivemos tantos goleiros, zagueiros, volantes em destaque mas tão poucos jogadores bons do meio para frente. Vide Fernandinho e Casemiro (nada contra ambos, são bons jogadores*.) elogiadíssimos por seus respectivos treinadores... O futebol brasileiro mudou.

Cabe aos jornalistas serem os guardiões da história do nosso futebol, exercerem pressão para mudar essa mentalidade defensiva que já nos prejudica a anos, nossos clubes sofrem a mais de duas décadas com suscetivas derrotas em torneios sulamericanos, muitos dirão é que por que nosso futebol exporta todos os grandes talentos... Para eles que se apoiam nessa muleta, replico que a Argentina também exporta muitos bons jogadores talvez está mais que o Brasil atualmente e isso não os impediu que dominarem os torneios na Sulamericanos durante essas duas décadas. Nenhum time ganha jogos só por se defender, geralmente jogar por uma bola, significa jogar por uma circunstância, porém nem sempre ou quase nunca ela aparece. Fica claro que isso está nos afetando e vai chegar a hora em que seremos piores que nossos vizinhos, está na hora de dar um basta nisso e começarmos a exigir futebol.

Beleza, deve haver organização defensiva, concordo, mas também deve haver coordenação ofensiva, deve-se treinar em como um time deve atacar, não existe futebol de metade... Só defensivo, deve-se defender sem a bola e atacar quando com a posse de bola de maneira ordenada. No brasil, quase todo mundo joga enfiado no campo defensa sem a bola, e com a bola uma desorganização quase que generalizada para atacar quando não completamente há ausência de pretensão de propor o jogo, isso numa escola que sempre tratou de propor e o pior é jornalista/formador de opinião aplaudindo isso de pé...

Vladir Lemos, jornalista disse...



Meu caro, gostei muito das suas reflexões e também dos pontos de vista. Essa questão do culto ao banditismo que, pelo que vejo, está entranhado na mídia totalmente, inclusive, nas novelas, é um tema que exige muita atenção. Acredite, não é fácil ser jornalista esportivo hoje em dia, a menos que considere a vertente do entretenimento como algo válido. Na medida do possível tento fazer do meu trabalho e também do programa Cartão Verde algo que tenha essa visão de cidadania e também a preocupação de chamar a atenção para temas importantes e, muitas vezes, esquecidos.

saudações

Unknown disse...

Pois é amigo, infelizmente o jornalista esportivo por incrível que pareça é o único que procura debater o tema enquanto quem deveria estar cuidando disso; os cientistas sociais, os órgãos de justiça, ONGs... Ninguém parece está afim, também é difícil falar contra bandido numa época onde tem muita gente os defendendo, mas de qualquer maneira isso é assunto para debater num outro âmbito.

Falando do Jornalismo, considero o jornalismo esportivo uma vertente popular, vocês tem grande circulação entre as diversas classes sociais e vocês têm uma vantagem, sobre as outras formas de fazer jornalismo! Vocês dissolvem muito bem assuntos polêmicos, complicados que provavelmente lidos/ouvidos em outros meios faria o leitor mais impaciente/menos letrado/indiferente parar de ler mas que folhado com bom humor, linguagem adequada a quem ouve e abordado de maneira básica podem fazer o leitor correr atrás e buscar por informações mais completas nas outras formas de jornalismo.

Eu adoro reportes, sobretudo aqueles que trazem professores e estudiosos dos diversos meios para debate-los. Corro atrás de fontes qualificadas e procuro entender melhor os assuntos por meio dos especialistas porém maioria não o faz!

Mesmo nós estando na época da informação, nunca foi tão fácil obter informação qualificada porém os rumores é que estão em alta, curioso, né? Muito dificilmente as pessoas irão tirar dúvidas ouvindo um especialista; Nisso tenho um exemplo concreto, quando a reforma trabalhista estava para ser votada, já havia visto vários programas de TV sobre o tema, vários programas de Rádio, artigos de jornal e blogs de especialistas falando sobre o assunto, na mesma época porém tive mais ou menos uns vinte amigos, vindo com um suposto vídeo de um "especialista", num vídeo bem "fulero" no whatsapp, falando um monte de inverdades. Ai eu fazia o seguinte, perguntava ao amigo que vinha com o vídeo se ele já tinha conhecimento da reforma, e olha o que eu obtive: muitos diziam que não; outros que só superficialmente, tipo assim:
-Ah, eu ouvi falar...

Tipo uma alienação coletiva! Ai vem uma vídeo no celular falando de algo que está acontecendo no exato momento porém que foi amplamente debatido nos diversos meios e aquilo tipo soa com uma bomba, tipo um BOOOMM ("para aqueles que estavam em Plutão" kkkkkkkkk.) que deve ser compartilhada de maneira imediata sem que haja qualquer pré-checagem que quem está falando, sobre o que está falando e da veracidade, nem sequer quem ouve aquelas bobagens procurar uma segunda fonte de informação... Isso até cabe uma analise mais profunda nas ciências comportamentais num artigo que será digno de prêmios e de uma reformulação em como se vincula informações para a massa, sou um leigo sobre o tema mas não tenho vergonha de afirmar que isso poderia ser preguiça!

Esse assunto é riquíssimo, porém paro por aqui. Feliz ano para ti!

Vladir Lemos, jornalista disse...


Opa! Um feliz ano pra ti tb!