quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Futebol, quanto mais a gente conhece...

Martin Fernandez/GloboEsporte.com 

Uma coisa é se divertir com futebol. Outra, bem diferente, é tê-lo como matéria de ofício. E a diferença inquietante entre as duas coisas é que no primeiro caso podemos abstrair o todo, no segundo, jamais. Não foram poucas as vezes em que me senti como um perverso desses capaz de tirar um sorvete da boca de uma criança. E isso nunca foi premeditado. O que se dá é que muitas vezes o papo começa despretensioso e na empolgação você vai dividindo com o interlocutor detalhes que costumam ser esquecidos e quando se dá conta o papo já virou meio policial, com enredo que só a máfia sabe emprestar a eles. 

Foi por isso que cunhei a frase, cujo trecho usei acima como título. Frase que é a seguinte: Futebol, quanto mais você conhece mais difícil fica de gostar. Foi o jeito que encontrei pra tentar resumir o sentimento que me assola quando sou obrigado a lidar com esse lado nada nobre do mundo da bola. O que, devo dizer, costuma acontecer com frequência. Ainda mais agora quando temos um ex-presidente da CBF sentado no banco dos réus lá em Nova Iorque gerando manchetes quase diárias com novos detalhes sobre o que vem à tona toda vez que um dos envolvidos no caso é chamado pra se explicar. 

Creiam, nada disso causa espanto em quem está habituado a conviver com os detalhes desse universo. Agora, confesso ter sido surpreendido pelo fato de alguns meliantes terem sido levados para a cadeia por fazerem parte de um esquema de repasses de ingressos de futebol para torcidas organizadas. Pois se os papos sobre propinas milionárias sempre circularam por aí em tom de verdade esse esquema dos ingressos idem. E até hoje absolutamente nada de significativo tinha sido feito. Levada às últimas consequências isso significaria uma limpeza considerável no meio. 

Há muito pra ser feito. Inclusive, despertar em cada torcedor a importância de separar o  futebol da política. Evitar que ele seja usado com esse fim. Até porque está pra nascer um administrador no meio futebolístico com capacidade para melhorar nosso quadro politico. Ao menos entre os que usam o jogo de bola como trampolim. Vejam o caso de Andrés Sanchez, deputado federal e candidato a presidente do Corinthians. Ao ser perguntado se pedirá licença, caso seja eleito, afirmou que o faria no dia seguinte, para em seguida dizer que ficaria no comando do clube quatro, cinco meses e depois veria o que fazer. Um desavisado torcedor corintiano pode achar que de qualquer modo terá seus interesses cuidados. Se não como cidadão, como corintiano. Mas se alguém ainda é capaz de votar pensando no time que torce, como diria um velho amigo, parei.   

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