terça-feira, 28 de novembro de 2017

O futebol como retrato de um país

Photo Premium/ Folha Press

O que dizer de um país em que torcedores inconformados com uma derrota ou um rebaixamento derrubam parte de um alambrado e colocam um time inteiro da primeira divisão pra correr? Confesso que, às vezes, me pego surpreendido por cenas como as que foram vistas no Moisés Lucarelli no último domingo não desaguarem numa tragédia de proporções imensas. Afinal, os atos que provocaram tudo são de uma selvageria inconcebível. De uma inconsequência terrível. E saber que ninguém pagará por colocar tantas vidas em risco é de doer. Ver nas arquibancadas crianças com os olhos ardendo de gás pimenta é triste demais. 
 
A impunidade é como um parasita que vai exaurindo nosso país. Fosse apenas o futebol sua vítima por certo estaríamos bem melhores. Meio otimista, meio realista, vira e mexe me flagro numa descrença monstruosa com o homem e o com o destino que ele vai dando ao mundo. Essas delações, por exemplo. Vão me dando a impressão de que no fundo, no fundo, feitas todas as contas, o crime por aqui compensa. Ora, ladrões não podem ter em juízes algo que se pareça com um padre, um confessor. Diante do qual assumem seus pecados para em seguida ouvir quanto devem pagar. Em espécie ou penitência. Penitência muitas vezes breve como um punhado de orações. 
 
O que estamos vendo é uma sociedade inteira se brutalizar. Não terá sido por acaso que a temporada do nosso futebol, esta que vai chegando ao fim, se revelou farta de casos de torcidas tentando intimidar não apenas jogadores, elencos inteiros. E assim, domingo após domingo, os mais atentos vão percebendo que o jogo de bola é só uma janela que costuma se abrir vez ou outra revelando o teatro absurdo que estamos vivendo. 

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