terça-feira, 14 de novembro de 2017

O "grosso" é um patrimônio do futebol


É só um devaneio. Mas, pense comigo, talvez o grande poder que o futebol tem de nos seduzir resida justamente no fato de que é totalmente inviável desvendá-lo . Em seu universo a palavra improvável carrega dose singular de possibilidade. E aí se esconde nobre curtição. Todos nós já provamos dela em maior ou menor escala. Ao mesmo tempo esse caos permite todo tipo de esperança. Mesmo o Íbis e sua torcida que tiveram a genial sacada de capitalizar em cima do infortúnio e fazer dele uma grande marca em segredo absoluto devem alimentar no mais profundo rincão de suas mentes a esperança de que um dia a eles seja dado o olimpo do ludopédio. 

Minha gente se a essa altura vocês estão olhando torto pra essa minha reflexão atentem para o Brasileirão que estamos testemunhando. Um dos mantras do jogo, pobre mantra aliás, não tem sido dizer que o futebol está nivelado? Não é assim que os entendidos costumam elucidar o triunfo de um pequeno atolado na zona de rebaixamento contra um grande candidatíssimo ao título? Que era uma vez o tempo dos esquadrões imbatíveis. Ora, se é assim alguém poderia me explicar porque é que o Corinthians no primeiro turno reinou com um aproveitamento pra lá dos oitenta por cento? Coisa com a qual nem o mais ególatra dos treinadores seria capaz de sonhar. Mas essa é só uma questão provocadora no meio de tantas. 

E por falar em possibilidade não é que, Kazim, o afro-inglês naturalizado turco (haja globalização), de longe o mais contestado jogador do elenco corintiano, tratou de garantir uma página pra ele na história do hepta brasileiro que o clube está acabando de escrever? Com todo respeito ao atacante. Vejo-me obrigado a dizer que ao marcar contra o Avaí prestou grande serviço. Nos fez lembrar que desde sempre o grosso foi um patrimônio do futebol brasileiro. Alguém a quem, apesar dos pesares, também foi dada a nobreza de enlouquecer a torcida. 

Sugiro, com a melhor das intenções - até pra que ele não entenda mal o que vai escrito aqui - marcar uma cerveja com o velho Dadá Maravilha, que nunca negou sua veia torta, e que é de longe o atacante que melhor conviveu com essa sombra que a ausência de uma técnica refinada costuma projetar sobre um boleiro. Não deve ser por acaso que Kazim é descrito pelos companheiros como um baita boa praça, o que sempre foi dito do velho Dadá também. E mais, se o atacante corintiano tem algum grilo com essa condição, dar de cara com aquele sorriso cativante e ouvir do homem que pairava no ar qual beija-flor que não existe gol feio coisa e tal, pode lhe servir como terapia. E das boas!

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