quinta-feira, 23 de novembro de 2017

A força da grana


Atentem. O que vai aqui é uma constatação, não um julgamento. A veia mercantilista do nosso futebol está escancarada. Digo isso porque por mais que tenha se transformado num business, pra usar uma palavra da moda, não faz muito tempo ainda era possível notar certo pudor no mundo da bola. Nem que fosse  só pra inglês ver. Lembro bem que há alguns anos vira e mexe era notícia o esforço que o staff da seleção brasileira fazia quando os jogadores estavam reunidos para blindar os tais  do assédio dos empresários. Em época de Copa, então, nem se fala. 

Eis que dia desses passando os olhos pelas notícias leio que "na Europa o diretor de futebol do Palmeiras aproveitou o ambiente da seleção para encontrar empresários e discutir o futuro de seu plantel". Pode ser que o dirigente se justifique dizendo que o repórter carregou na tinta, ou até que o articulista aqui é um romântico, inocente, que insiste em não perceber que a essa altura se faz impossível separar uma coisa da outra. Fato é que dias depois o que virou notícia foi o esforço que o Palmeiras andava fazendo para evitar que o nome de um possível reforço do exterior vazasse, e que as conversas nesse sentido tinham se iniciado em Londres. 

Não estamos em uma Copa, mas estamos perto dela. E, seja como for, imagino que o ideal seria estabelecer regras nesse sentido. Se os empresários querem estar perto de seus atletas, tudo bem. Mas certo rigor durante o pouco tempo em que eles ficam juntos talvez os convencesse de que não seria tão produtivo, nem possível, exercer esse cuidado, esse cerco. Posso até ser inocente, mas não a ponto de achar que exibir certa intimidade com o poder não pese na hora de faturar, de fechar negócios. Aliás, um dia se quiserem mesmo corrigir o rumo do futebol será inevitável que se repense esse poder que a grana passou a ter sobre o jogo de bola. 

Quem duvida deve olhar o que o dito mercado fez com a nossa música, onde a cena - isso é muito fácil notar - foi dominada por verdadeiros pernas de pau. No futebol tá igual, o dinheiro, o lucro, têm falado muito mais alto do que o talento. E tá pra nascer o barão da bola que não se encarregue de fazer essa roda girar. Tudo sso torna óbvio, pra mim, o discurso do francês, Éric Cantona, que disse não entender porque Neymar foi jogar na França no auge dos seus vinte e cinco anos,  tendo um lugar garantido na Seleção e no Barcelona. Ganhar a Champions para Cantona, que sempre pensou muito bem o jogo de bola, é meio como condenar o talento de Neymar a treze jogos. Não é esse o ponto de vista que tenho de futebol e da paixão, disse o francês. E eu concordo totalmente com ele. 

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