Atentem. O que vai aqui é uma constatação,
não um julgamento. A veia mercantilista do nosso futebol está escancarada. Digo
isso porque por mais que tenha se transformado num business, pra usar uma
palavra da moda, não faz muito tempo ainda era possível notar certo pudor no
mundo da bola. Nem que fosse só pra inglês ver. Lembro bem que há alguns
anos vira e mexe era notícia o esforço que o staff da seleção brasileira fazia quando
os jogadores estavam reunidos para blindar os tais do assédio dos
empresários. Em época de Copa, então, nem se fala.
Eis que dia desses passando
os olhos pelas notícias leio que "na Europa o diretor de futebol do Palmeiras
aproveitou o ambiente da seleção para encontrar empresários e discutir o futuro
de seu plantel". Pode ser que o dirigente se justifique dizendo que o repórter
carregou na tinta, ou até que o articulista aqui é um romântico, inocente, que
insiste em não perceber que a essa altura se faz impossível separar uma coisa da
outra. Fato é que dias depois o que virou notícia foi o esforço que o Palmeiras andava
fazendo para evitar que o nome de um possível reforço do exterior vazasse, e que
as conversas nesse sentido tinham se iniciado em Londres.
Não estamos em uma
Copa, mas estamos perto dela. E, seja como for, imagino que o ideal seria
estabelecer regras nesse sentido. Se os empresários querem estar perto de seus
atletas, tudo bem. Mas certo rigor durante o pouco tempo em que eles ficam
juntos talvez os convencesse de que não seria tão produtivo, nem possível,
exercer esse cuidado, esse cerco. Posso até ser inocente, mas não a ponto de
achar que exibir certa intimidade com o poder não pese na hora de faturar, de
fechar negócios. Aliás, um dia se quiserem mesmo corrigir o rumo do futebol será inevitável que se repense esse poder
que a grana passou a ter sobre o jogo de bola.
Quem duvida deve olhar o que o
dito mercado fez com a nossa música, onde a cena - isso é muito fácil notar - foi dominada por
verdadeiros pernas de pau. No futebol tá igual, o dinheiro, o lucro, têm
falado muito mais alto do que o talento. E tá pra nascer o barão da bola que não
se encarregue de fazer essa roda girar. Tudo sso torna óbvio, pra mim, o
discurso do francês, Éric Cantona, que disse não
entender porque Neymar foi jogar na França no auge dos seus vinte e cinco anos,
tendo um lugar garantido na Seleção e no Barcelona. Ganhar a Champions para
Cantona, que sempre pensou muito bem o jogo de bola, é meio como condenar o
talento de Neymar a treze jogos. Não é esse o ponto de vista que tenho de
futebol e da paixão, disse o francês. E eu concordo totalmente com ele.
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