quinta-feira, 27 de março de 2025

Dia de decisão



Esta noite, quando Corinthians e Palmeiras entrarem em campo para decidir o título paulista, o momento só não será maior porque a nossa realidade em dado momento amputou parte da magia do jogo ao decretar que ele tem de se dar com torcida única. Muito pode ser dito a respeito disso. Muito precisa ser feito. Já que por trás dessa questão há escondida uma derrota que é de todos nós. Pode-se até chegar à conclusão, em muitos momentos óbvia, de que o nosso nível de civilidade já não dá margem a revisões. Mas não se descobre isso sem tentar. E não tentar é cômodo. Mas é, ao mesmo tempo, um desrespeito com a história e a importância do futebol paulista e de todos os que estão nessa condição. 

A proibição em questão caminha para completar uma década. A decisão foi tomada numa segunda-feira, 04 de abril de 2016, motivada justamente por um clássico entre Corinthians e Palmeiras, disputado no Pacaembu, e marcado por vários confrontos antes e depois da bola rolar. Confrontos que se deram nas ruas e deixaram, entre outros saldos, uma vítima fatal.  Um dia depois dos acontecimentos, a pedido do Ministério Público, a Federação Paulista determinou que os jogos entre os chamados grandes times paulistas fossem realizados apenas com a torcida mandante presente nos estádios. A decisão foi anunciada pelo então promotor do Ministério Público, Paulo Castilho, e pelo Secretário de Segurança Pública na época, Alexandre de Moraes, que todos sabemos segue em cena encarando históricas divididas. 

Não quero justificar o que vai aqui com aquele argumento tão ouvido por aí de que há tempos os confrontos têm se dado longe dos estádios e não neles. O que quero é aproveitar a data e perguntar: será pra sempre? Estamos condenados a ver os clássicos paulistas até o fim dos tempos assim? Amputados? Seja como for, diante dessa realidade de alegrias repartidas o Palmeiras já teve direito ao seu quinhão. Saiu de campo derrotado pelo placar mínimo. E agora terá de encarar o grande rival sem poder pensar em empate, enredado por uma festa que promete ser grande e turbinada por uma vantagem trazida da casa adversária. Muito se fala na volta de Rodrigo Garro. Arrisco dizer que o Corinthians diante do quadro que se desenha seria capaz de competir mesmo se não pudesse contar com ele. Mas não dá pra não reconhecer o requinte que o argentino empresta ao jogo do Timão.  

Mas o corintiano deve mesmo é torcer para Menphis ter voltado inteiro e no embalo de ter marcado mais um gol pela seleção da Holanda. Gol que o deixou agora apenas três atrás do maior goleador que os laranjas já tiveram. Um tal de Van Persie que, eu digo, quem viu não esquece.  Já os palmeirenses são instados pelas manchetes a se empolgar com a volta do meio-campista Maurício. Diante disso, minha inocência manda escrever que há sempre um preço a se pagar pela ausência dos gramados. O que vale para Garro também. Quando se trata do jogo de bola lesões nunca são apenas dor e tratamentos. Por essas e outras, se tivesse que apostar em alguém no Palmeiras capaz de fazer a diferença no caldeirão alvinegro apostaria na juventude e, acima de tudo, no futebol assanhado do garoto Estevão. Dirão os pragmáticos que o título se faz mais indispensável para o Corinthians do que para o Palmeiras. Esse raciocínio pode fazer algum sentido, mas que quase se apaga diante de tamanha rivalidade. E mais, não dá pra dizer que o time de Abel Braga tem pouco a perder quando um triunfo corintiano colocará por terra a possibilidade de um tetra campeonato estadual que nem o Santos de Pelé alcançou.

quinta-feira, 20 de março de 2025

Wlamir, um herói



Houve um tempo em que o esporte produzia heróis. Digo houve porque não é exatamente assim que a coisa se dá hoje em dia. Hoje as vitórias e as marcas costumam fazer nascer celebridades, o que é infinitamente diferente. Pode ser uma visão subjetiva, pois que seja. Falo isso porque quando me pego a imaginar os campeões de outros tempos vejo neles uma humanidade que os dias atuais se não extinguiram, no mínimo, tornaram difusa. E quando falo desses heróis nascidos de um mundo antes do dito moderno os concebo ainda com um quê de desbravadores. E estou convencido de que não é à toa. E se falo desses homens hoje é porque Wlamir Marques se foi. E ele, sem sombra de dúvida, era um deles. Ou ter sido campeão mundial de basquete nos idos dos anos cinquenta do século passado não era de algum modo trilhar um caminho totalmente desconhecido para um brasileiro? 

Não, não se trata de uma sensação que nasceu com essa evidência da perda. Foram vários os momentos ao longo da minha trajetória profissional em que essa maneira de interpretar tamanhas façanhas foi se solidificando. Por exemplo, como quando certa vez conversei com outro grande herói do nosso esporte, um campeão do quilate de Wlamir Marques. O campeão era o também desbravador, Ademar Ferreira da Silva, primeiro bi-campeão olímpico do nosso país, que me contou com requinte como pareceu uma aventura por mares nunca navegados a ida e a chegada dele à Helsinque, na Finlândia. Isso sete anos antes do título mundial de Wlamir. Helsinque em que Ademar subiria ao lugar mais alto do pódio pela primeira vez. 

A envergadura desses feitos poderia fazer com que essas nobres figuras tivessem pra nós um quê de inalcançáveis. Poderia. Mas heróis são diferentes de celebridades. Wlamir, em especial, foi um tipo de herói do qual sempre me senti um pouco íntimo. Não bastasse ele ter nascido em São Vicente, cidade onde fui criado, ter jogado no Tumiaru, clube onde tentei de várias formas encontrar algum traço de campeão em mim - fosse nadando, remando ou jogando basquete - há ainda uma história curiosa que sempre fez Wlamir, e o nome dele, parecerem coisa de casa. Como filho mais velho quando nasci ganhei o nome de um grande amigo de meu pai que ele queria homenagear e se chamava, Vladir. 

Tempos depois, mais exatamente no ano de 1969, nasceu meu irmão. Então, pairou no ar a dúvida sobre que nome dar ao menino que chegava. Imperativo, segundo meu pai, era que se tratasse de um nome que fosse parecido. A partir daí ficou fácil. Wlamir, coincidentemente nascido no mesmo ano de meu pai, ainda brilhava nas quadras. Muitos anos depois, em minha segunda passagem pela ESPN, fomos colegas de emissora. Certa tarde ao encontrá-lo pelos corredores fiz questão de contar a história que, afinal, lhe era um tributo. Wlamir a ouviu e a recebeu com a elegância e a simpatia de sempre. Naquele dia fui embora feliz trazendo em mim a sensação de quem lhe tinha feito uma reverência. 

Agora, em casa, quando lembravam dessa história a gente caçoava do meu pai dizendo que ele tinha criado mesmo era uma dupla caipira dada a sonoridade que acabou derramando sobre o nome dos filhos: Vladir e Vlamir. Mas interessante mesmo, ao longo do tempo, foi notar também a legitimidade que costuma envolver esse tipo de campeão. Lembro de ouvir Wlamir falar de basquete em certa ocasião e notar as pessoas ao redor totalmente atentas, como que sem poder por um instante sequer deixar de lembrar que estavam diante de um herói. O ouviam como se fosse um oráculo. Compreensível, fruto de uma geração tida como de ouro era considerado por muitos o maior. Ontem Wlamir Marques partiu, mas a história que ele deixa, ensina.    

quinta-feira, 13 de março de 2025

A Copa de Trump


Imagem: Divulgação FIFA


Já não sei ao certo que lugar a Copa do Mundo guarda no imaginário das pessoas. Que peso tem para as novas gerações. Uma cena que se fez muito presente no meu cotidiano ao longo dos anos é aquela que, vez ou outra, nos faz topar com alguém que confessa seu desinteresse pelo futebol mas se apressa em se definir como um torcedor de Copas. É compreensível. Mas o que talvez as pessoas ainda não tenham se dado conta é que o modelo de Copa que conhecíamos já era. É passado. Como também não devem ter se dado conta, tamanho se faz o frenesi cotidiano, do quanto estamos perto da próxima. Será a primeira edição com quarenta e oito seleções. Donde se conclui que, se nas últimas a qualidade técnica não foi um primor, se o novo modelo vier a nos seduzir não será nesse quesito. Desculpe o termo. É esse carnaval que não sai de mim. 

E talvez seja pensando nisso que a FIFA tratou de dias atrás anunciar que pela primeira vez na história o torneio mundial de futebol terá no intervalo da final um espetáculo musical. E foi logo convocando o Cold Play. Afinal, alguém precisa garantir o show. Copa que terá também um quê de volta ao Mundo já que será disputada em dezesseis cidades de três países. Estados Unidos, México e Canadá, este último um verdadeiro debutante em matéria de Mundiais. E é essa combinação de nações que a essa altura me faz coçar a cabeça. Já que o recém eleito presidente americano vem jogando duro, inclusive, com os parceiros dessa empreitada. Num primeiro momento pensei que Gianni Infantino, o presidente da FIFA, não deveria estar dormindo. Mas talvez ainda esteja já que foi justamente quando Donald Trump exercia seu primeiro mandato que tudo foi tramado. 

E vale lembrar que na ocasião o presidente americano não fugiu das divididas para derrotar a candidatura de Marrocos. Lances que se não teriam feito de Infantino e Trump amigos íntimos certamente serviram para torná-los mais próximos. Na época o mandatário da FIFA esteve na Casa Branca. E pouco mais tarde não só esteve na posse como foi um dos primeiros líderes de entidades com peso mundial a felicitar Trump pela vitória nas eleições. É fato que a FIFA está mais do que escaldada com relação a situações desconfortáveis. Basta lembrar que precisou lidar - talvez o certo fosse dizer driblar - com um sem fim de denuncias sobre direitos humanos. E minimizar declarações escabrosas feitas por entidades e veículos de imprensa que acusavam o Qatar, último país sede, pela morte de milhares de trabalhadores, vitimados pelas condições inadequadas e as altas temperaturas do país.

Não havendo mudanças nas táticas impactantes de Trump é de se imaginar que Infantino terá de se revelar um verdadeiro craque nas costuras políticas. A abertura no estádio Azteca, na capital do México, deverá soar um tanto nostálgica para muitos de nós, mas tem tudo pra se dar envolta numa realidade que já não nos permite sonhar tanto. Podemos duvidar que Dorival nos faça chegar ao Mundial prontos a encenar um papel digo da história que o nosso país construiu nesse que é um dos maiores eventos do planeta. Como podemos a essa altura, também, duvidar que Dorival lá chegue a depender do que se dará nos jogos contra a Colômbia e a Argentina nos próximos dias. Dois adversários de respeito. Só não dá pra duvidar que o presidente americano não fará questão de explorar bem ao estilo dele tão midiático acontecimento. Na última sexta anunciou a criação de uma força tarefa pra cuidar da Copa que será, claro, presidida por ele, Trump. É por essas e outras que me despeço dizendo: te cuida Infantino.   

sexta-feira, 7 de março de 2025

FOTOGRAFIA: ANSEL ADAMS

 Autumn Moon, The High Sierra from Glacier Point1948








quinta-feira, 6 de março de 2025

Eu quero ver gol



Mesmo correndo sério risco de ser tomado por um descontente incorrigível não resisti e vou dividir com vocês algumas reflexões sobre a proposta feita pelo ex-zagueiro do Barcelona, Gerard Piqué, dias atrás, propondo uma alteração não exatamente para acabar com os jogos sem gol mas para adequar as regras de modo a, digamos, condenar um jogo que termina sem bola na rede. À primeira vista pode soar extravagante mas, depois de ter pensado um tanto a respeito, estou convencido de que seria uma boa atitude em prol do futebol. Mirem-se no exemplo do refrão daquela música que muitos de vocês já podem ter cantado algumas vezes. Falo daquele que brada: eu quero ver gol/ eu quero ver gol/ não precisa ser de placa eu quero ver gol.  

Não é à toa. O gol condensa o que o futebol tem de melhor.  A ausência dele empobrece o jogo de bola. Sou capaz de entender quando dizem que há jogos que terminam com o placar em zero a zero e que são elogiáveis. Mas talvez o sejam por terem desenhado em campo insistentemente uma infinidade de lances daqueles nos quais, não havendo a influência de um acaso qualquer, teriam terminado com várias bolas no fundo da rede. A boa sugestão de Piqué prega que os empates sem gols passassem a não dar aos times ponto algum. Segundo ele, essa pequena mudança seria capaz de mudar radicalmente as partidas nas quais o placar não tivesse sido movimentado até a metade da etapa final. Nesse momento os jogos iriam se abrir, aposta Piqué. Não duvido. 

E fiquei a imaginar ainda que uma resolução desse tipo seria uma espécie de xeque-mate nas retrancas. Talvez as fizessem menos eficazes diante do ímpeto de quem não vê com bons olhos sair de campo sem ter conquistado ponto algum. Também não  deixo de considerar que a imensa valentia de certos treinadores tentasse em pouco tempo nos convencer de que em determinado momento não deixar o adversário pontuar seria algo pelo qual valeria lutar. Não custa lembrar que foram desejos parecidos que levaram os homens que cuidam do futebol a passar a premiar a vitória com três pontos e não dois como, agora podemos dizer, antigamente.  

O discurso à época era de que isso tiraria mais dos times. Mas temos visto muitos deles deixarem de fazer questão da vitória. E talvez não seja apenas o instinto de preservação dos nossos treinadores que esteja por trás dessa conduta. No mínimo, atendido o desejo do ex-zagueiro espanhol, não seria diante de qualquer empate que nossos comandantes poderiam dizer que conquistaram um suado pontinho. Pra isso teriam de orientar seus jogadores a tramar em campo um jeito de vazar a defesa adversária, nem que fosse uma mísera vez. 

Já ouço aqui o locutor afirmando com o entusiasmo de quem está convencido de que encontrou uma verdade: "senhoras e senhores, o que se vê é que o time roxo amarelo e marrom, depois de ter marcado o gol de empate, simplesmente abriu mão do ataque". Mas o que me encantou na sugestão é sua eficácia. Uma vez decretada não há drible possível. Não é como aquela história de fazer o goleiro repor a bola em seis segundos, coisa que nunca aconteceu. Só serviu para espelhar a nossa realidade cotidiana em que leis não costumam pegar. Não permitir que um jogo sem gols se traduza em algum ganho seria como aumentar a exigência do jogo por aquilo que lhe define, o gol. Esse detalhe, detalhe tão nobre.

quarta-feira, 5 de março de 2025

Hoje tem Cartão Verde , ao vivo, na TV Cultura !

 



 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Pisando em ovos

Ainda que pisando em ovos faço questão de registrar aqui  o que penso a respeito do debate instaurado sobre o uso de grama sintética pelo futebol brasileiro. Olhando como o tema tem sido tratado pelas principais Ligas do planeta já daria pra ter uma ideia de que andamos na contramão do mundo. O que geralmente serve como prova de nosso atraso. E atraso num país como o nosso é coisa que já não deveria espantar ninguém. Imaginar que no estrangeiro o sintético é posto de lado por puro capricho não parece fazer sentido algum. Sei que pode soar oportunista mas há tempos vinha falando que essa se impunha como a grande pauta do futebol brasileiro. Algumas das pessoas que exercem o ofício comigo podem provar.  

Ocorre que o assunto infelizmente só virou pauta pra valer quando os atletas decidiram tomar posição. E seria bom que diante disso eles tomassem consciência da voz que têm, pois o que não falta é boa causa pra ser defendida, dentro e fora dos gramados, diga-se. E confesso que foi além do que imaginava a veia clubística dos torcedores na hora de tratar do tema. Pra falar a verdade me causou espanto a incapacidade de tantos em driblar interesses. Mas o torcedor terá sempre o direito de se apresentar no papo cego pela paixão. E se digo que não é de hoje que tinha pra mim de que se tratava de algo que merecia atenção é porque, por mais que se evidenciem outros detalhes, se trata de um tema ligado à saúde dos atletas. 

Quem acompanha de perto o futebol já tinha sacado que alguns jogadores andavam evitando encontros com o piso sintético. Mau sinal. Não creio que seja preciso grandes conhecimentos de superfícies e materiais para se chegar a conclusão de que o impacto num piso de grama natural seja diferente do que se tem quando se usa um piso sintético. Por mais que a tecnologia nos surpreenda a cada dia. É uma visão minha. E creio que o melhor disso tudo ter vindo à tona é provocar estudos  mais profundos a respeito do tema.  Algo que produza provas de alta patente. 

Tenho dificuldade para entender como cultivar grama num país tropical pôde se tornar um desafio dessa monta. Estariam as Arenas bem projetadas para usar a luz do sol ? Estariam os nossos clubes e cartolas dispostos a gastar com tecnologias que garantiriam a qualidade do gramado e, por tabela, do espetáculo? Por que razão a FIFA avaliza gramados sintéticos pelo mundo afora mas não os quer quando se trata de uma Copa do Mundo? Situação que me leva às declarações importantes que foram dadas uma vez que o descontentamento dos atletas tinha entrado em campo. Falo de afirmações como as feitas por Lucas Moura, atleta do São Paulo, que foi categórico ao afirmar que jogar em um campo sintético é totalmente diferente. É diferente o giro, é diferente o domínio. 

E disse mais, que muda totalmente a qualidade do jogo. Agora que venham os especialistas da tal grama sintética e digam que ele está exagerando, que não é bem assim. O futebol é um exercício motor de uma complexidade espantosa. A mínima mudança na velocidade da bola, no rolar ou quicar dela, altera tudo. Algo tão fino e sensível que talvez ainda não tenha sido criada máquina capaz de detectar.  E aí eu fico me perguntando, então, se o tal sintético também não vem aos poucos contribuindo para a perda de encanto do nosso futebol. Já que ajudar a melhorar, pelo visto, ele definitivamente não ajudou. E estamos cansados de saber que muito ajuda quem não atrapalha. 


terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Viva o Seo Macia !

 


                                                                              90 anos !

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Ensaio sobre a modernidade



A modernidade é um conceito fugidio. No imaginário das pessoas talvez nem não combine com o adjetivo que usei, que soa ultrapassado. E do jeito que tudo se atualiza nos dias de hoje tenho a impressão de que ela seja algo tão inalcançável quanto a verdade. Perdoe certo ar filosófico. Comprometo-me a dissolvê-lo ao longo das próximas linhas. Mas é por causa desse seu aspecto indomável que nunca me ocupei dela. O que não é o caso do futebol. O jogo e sua entourage vivem deixando claro que é preciso estar sempre em sintonia com as últimas tendências. Mesmo que notadamente alguns conceitos tenham beirado a obsolescência ao serem abraçados pelos que pensam e tratam do jogo. Às vezes, em certas partidas, por exemplo, tenho a impressão de estar vendo o futebol europeu... dos anos noventa! 

Mas esta semana tive a prova cabal de que estamos parados no tempo. Ainda que o tempo não passe de ilusão, possivelmente como a modernidade. E essa descoberta se revestiu de um sentido ainda maior por estarmos às voltas com essa debacle dos torneios estaduais. E olha que o Paulistão ainda têm um fôlego de dar inveja a muita gente. Em nome de preservar elencos para uma temporada que promete não ser páreo nem para o mais bem preparado dos craques os times vão cumprindo a tabela como podem. Escalando garotos, recorrendo a recém chegados emprestados na temporada que se foi. Tudo para tentar reservar aos seus principais protagonistas um número de partidas que a comissão técnica e a ciência sugiram menos danoso.  

A essa hora vocês já devem estar se perguntando: e a prova citada? 

Bem, meus amigos, estava eu dia desses arrumando meus livros em casa quando dei de cara com um exemplar que trazia uma centena de crônicas de João Saldanha. Um entre tantos valiosos títulos já lançados pela editora "Livros de Futebol". Eis que abro a obra numa página qualquer. Segundos depois estou totalmente envolto e seduzido pela visão singular de um dos personagens mais interessantes que o futebol brasileiro já teve. E adivinhem vocês sobre o que versava? Sobre o número excessivo de jogos a que vinham expondo nossos jogadores. Profundo conhecedor do tema e, pelo que pude sentir, sendo ponderado ao estabelecer o que seria aceitável, João Saldanha defendia um máximo de cinquenta e duas partidas por temporada. 

E pensar que nos dias atuais esse número já gira, em situações normais, praticamente cinquenta por cento acima disso. Mas o que me espantou pra valer foi ter visto a data do artigo. De quando acham que seria? Imaginem aí um ano qualquer. Chutem. Há quanto tempo acham que um tema urgente desses poderia ter se colocado tão fortemente a ponto de causar grande indignação? Mil novecentos e sessenta e um, caro leitor. Isso mesmo! Há quase seis décadas e meia - bem mais do que meio século - os entendidos bradam que é jogo demais. Enquanto isso os estaduais tão valorosos no passado vão nos dando a impressão de que são apenas um ensaio de futebol.   

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Ô raios!



Só se fala de Neymar. Mas falar de Neymar neste momento não é algo simples. Exige cuidado se a gente não quiser ser injusto, leviano. E se não quiser, claro, simplesmente abraçar o clima de oba-oba. Entendo a empolgação do torcedor como entendo também aquele que ainda não está totalmente convencido de que essa volta não é o sonho que se pinta. As dúvidas poderiam muito bem ser embasadas com perguntas simples. Até quando? A que custo? E quando se diz custo pode não significar exatamente dinheiro. E não soa descabido imaginar ainda que o torcedor mais ressabiado poderá se perguntar também: com que comportamento? 

Só os mal intencionados, ou mal informados, negariam o papel de Neymar no futebol brasileiro. Há bem mais de uma década ele se fez seu principal nome em atividade. Vinicius Júnior que me desculpe. E eu sei que muita gente ao ler "em atividade" poderá aproveitar a deixa para esboçar um risinho irônico. A crônica esportiva tem se encarregado de mostrar os números do jogador em sua passagem pela Al Hilal. E eles são realmente de minar empolgações e enfraquecer argumentos no sentido contrário. Mas correto é analisar o todo.  E ao analisar o todo não só colocamos Neymar no lugar em que ele merece estar como tornamos evidente o papel que as lesões tiveram na carreira dele. 

E aí não há o que dizer. Só um atleta sabe o tamanho da dor, do desafio que elas representam e o quanto limitam a capacidade de competir. Até já ouvi jogadores muito experientes dizerem que o estilo de jogo de Neymar acaba por lhe expor a esse grau de contato. Se tivesse outra leitura de quando estar e não estar com a bola sofreria menos. Mas como sugerir a um atleta como ele a maneira de jogar seria a mais absoluta prepotência, deixo esse tipo de reflexão para quem tem patente para tal. Agora se cito isso é porque ao longo do tempo muitas vezes critiquei Neymar por reter demais a bola, por querer resolver o jogo sozinho, como se diz. 

Acontece que faz tempo que ele passou a ser a referência. Normal que o time queira jogar para ele. Que ele queira resolver a partida. Cabe ao treinador impor esse equilíbrio. Mas, tendo em vista o contexto, esse aceitar o embate com os adversários também pode ser visto como uma prova de que Neymar nunca se escondeu, sempre exerceu o papel que sua envergadura pedia. De qualquer forma a história parece ter jogado a favor do Santos. Prefiro enxergar a coisa mais por esse vértice, do que enveredar por um discurso que recorra a um certo sentimentalismo para explicar o que está se dando. Que as partes têm uma forte ligação sentimental é óbvio. Mas se o mercado da bola estivesse sorrindo para Neymar o caminho seria traçado, creio, de um jeito bem diferente. O que não significa dizer que se não viesse para o Santos não teria onde jogar, por favor. Neymar se fez o jogador mais caro do mundo, um fenômeno nas redes digitais que tanto amplificam celebridades. Mas no campo, esse lugar tão sagrado, o apogeu de alguma forma parece lhe escapar. Seja como for,  o raio voltou a cair na Vila Belmiro ainda que dessa vez conduzido não pela natureza, mas pelas loucas tramas do destino. 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Pra dar o que falar



Se tem uma questão com a qual podemos concordar é que não é por falta de reflexão que o futebol não anda. Sou levado a crer que não há assunto neste país tão debatido, tão interpretado... tão falado. O que por outro lado talvez explique porque as coisas não andam dando certo nestas plagas. Há muito tema para além das quatro linhas que mereciam tamanha atenção. E que por tabela possivelmente fizessem nosso futebol prosperar. Pois olha, está arriscado a levar uma bola nas costas quem desacredita que o jogo de bola não é, ainda que por vias tortas, um reflexo da sociedade em que está inserido. 

Vejo inclusive no cenário da crônica em geral um viés muito obvio - mas que deveria causar preocupação - que é o fato de que as pessoas hoje em dia parecem se importar mais com a opinião do que com a informação propriamente dita. Busca-se, antes de tudo, um ponto de vista para a partir dele travar um embate mental com o que foi posto. Ocorre que como ressaltava uma velha propaganda de jornal : é possível dizer muitas mentiras partindo de verdades. Minha avó Lucila, mulher sábia, professora, violinista, observadora pra lá de atenta, toda vez que ouvia uma bobagem se apressava a dizer que a fala nos devia ser dada em metros, que era pra se pensar muito antes de usá-la. E eu, garoto novo, demorei um pouco para sacar a inteireza do que ela propunha. 

Mas a velha senhora, taxativa, tratou de esmiuçar o raciocínio dizendo, por exemplo, que era só eu imaginar que cada um teria dois metros de fala por dia. Aí se saísse gastando como  louco acabaria ficando sem depressa. A limitação seria remédio eficaz para provocar o bom uso, essa era a teoria na qual vovó acreditava com fervor. E se coloco esse tema na mesa quando mal está terminada a vossa ceia é porque o que anda sendo dito espanta. Vocês devem lembrar o caso do Dorival Júnior que fez nascer manchetes. Disse o treinador da Seleção Brasileira, enquanto o futebol apresentado por ela não vingava, que estaremos na final da Copa do Mundo de 2026. 

Eis aí um caso em que se a fala tivesse sido dada em metros talvez não tivesse sido ouvido. Dorival em outro momento, e não deve ter sido por acaso, disse com todas as letras que os que falam muito - vejam bem, os que falam muito! - daqui há dois anos terão de engolir uma grande conquista. A ver. Também poderia citar Renato Gaúcho, que semanas atrás num acesso de modéstia disse: eu sou muito bom. Gostaria de acreditar nele, mas pouco depois ouvi Pep Guardiola afirmar que não era bom o bastante. E se o gênio não é bom o bastante que dirá Renato Gaúcho. 

Vovó a essa altura, estivesse entre nós, iria sugerir que os dois metros fossem reduzidos a quinze centímetros.  Ah, e a mais nova pérola nessa linha foi obra do treinador de Luís Zubeldía. O emotivo treinador são-paulino cravou um: seremos campeões da América. O que me faz concluir que não foi à toa que o " Fala muito" de Tite fez tamanho sucesso. Fato é que na ausência de limites cada um segue falando o que bem entender. Já no caso da escrita, fiquem tranquilo, pois em geral não passo de comedidos dois mil e novecentos toques por semana. E que o novo ano que chega seja o melhor de todos!  

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Nosso lugar no mundo da bola



O capítulo final do que pode ser interpretado como a nossa temporada se deu com o Botafogo levando três do Pachuca, o que fez do embate citado ao mesmo tempo a estreia e o adeus do time carioca na Copa Intercontinental. Essa mesmo que, segundo um amigo, dependendo da empolgação de quem a nomina é chamada de Mundial. Fez bem a torcida do Bota ao fazer festa na volta porque apesar da derrota o ano já estava ganho. E bem, faço questão de acrescentar. Tenho notado apreço por este momento do ano por algumas razões. Mas a principal delas é o fato de tal capítulo nos obrigar a refletir sobre o lugar que o Brasil ocupa no mundo da bola. 

Não que ao longo dos últimos anos ao insistir no exercício tenhamos chegado a alguma conclusão notável. Longe disso. Mas sinto que as ditas mesas redondas nessa hora ganham um tom mais filosófico. O que desde sempre me agradou.  Gostaria muito de poder dizer a vocês que tenho algo de valioso a acrescentar nesse emaranhado de opiniões. Mas tendo em vista os trancos levados nos últimos tempos relego minha contribuição a uma humilde sugestão: deixemos de lado as comparações com o sabidamente nobre futebol europeu - com quem todos os mais mal vestidos sonham fazer par - e passemos a nos medir com o futebol mexicano que se encarregou de nos dar o mais novo choque de realidade. 

E, olha,  vou poupá-los de comparações que soariam mais cruéis. Como sugerir um comparativo com o futebol do Congo. Imagino que os mais íntimos do jogo não tenham esquecido o castigo que nos impôs um certo time chamado Mazembe. E pra quem acha que foi em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, que o futebol brasileiro teve bons motivos para crer que já não era mais aquele, vos digo, como quem lustra memórias,  que houve um outro momento em que, mesmo com todo mundo sabendo que as vezes estar pra lá de Marrakesh pode ser uma boa, o futebol brasileiro foi incapaz de ultrapassar essa bendita fronteira se vendo derrotado por um certo Raja Casablanca. 

E talvez esse seja um bom capítulo para elucidar o lugar que cabe a cada futebol nos dias de hoje. Lembrem-se de tudo que andou fazendo o futebol marroquino depois daquilo. E soa até místico que essa última lição nos tenha sido dada pelo Pachuca, pois eis um time do México onde um dia fizemos o mundo deixar de duvidar que éramos o padrão da excelência em matéria de futebol. E esse mesmo México talvez possa nos balizar em outro sentido. Pois andamos vivendo um tempo em que tentam nos convencer da evolução do nosso jogo nos mostrando cifras. E elas andam mesmo gordas. Eu sei que as coisas podem ter mudado. Mas alguns anos atrás o futebol brasileiro já faturava mais do que o dobro do mexicano. Graças, especialmente, aos direitos de transmissão. E talvez resida nisso a parte mais dolorosa do castigo a que esses tira-teimas nos condenam, que é mostrar que faturar mais não te faz necessariamente um vencedor.  

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

O fim da cera



Há muita coisa além do VAR que tem contribuído deveras para azedar nosso divertimento com o futebol. É fato que, inventado o jogo, ficou óbvio que a humanidade foi pródiga em produzir sujeitos que se acham mais espertos do que os outros. E disso sabe bem não só o mega craque cujo destino lhe deu a ventura de encher as burras jogando no velho continente ou nas Arábias, como sabe também o mais mortal dos peladeiros que desfilam por aí. Mas talvez em matéria de brincar com a nossa paciência só a cera praticada pelos goleiros soe como páreo para o árbitro de vídeo. Não que a cera seja exclusividade dos arqueiros. Não se trata disso. 

Acontece que com o jogador de linha ela passa a ter um sem fim de artifícios para dissimula-la. Seja encenando dores lancinantes em virtude de uma ponta de pé que mal lhe tocou o tornozelo ou esticando os braços para que o adversário o ajude a lidar com uma câimbra virtual. Não que os goleiros não façam uso dessas artimanhas. Mas boa parte das vezes, na hora da reiniciar a peleja, estão ali apenas eles e a bola. E quanto mais importante for o jogo mais a cera se faz proveitosa. Diria que a partir daí tudo passa a se resumir a um embate entre a cara de pau do outrora camisa um e a capacidade do árbitro em lidar com ela. Mas nem tudo está perdido meus amigos. 

Leio aqui que a FIFA já testa em campeonatos da base inglesa uma regra que puniria com escanteio o arqueiro malandrinho que não vier a soltar a pelota em oito segundos. É fato que já existe a regra que pune esse tipo de engraçadinho com um tiro livre indireto. Mas ela é raramente usada. Senti um leve alívio ao ler isso. Quem sabe o Brasil não seja o único no planeta em que certas não leis não pegam. E quem diria que isso nos seria revelado ao versar sobre os que têm a missão de pegar e teimam em não soltar. 

Mais alvissareiro foi saber que uma vez implantada a tal contagem regressiva os dados mostraram que nas setecentas e noventa e seis vezes em que a bola foi parar nas mãos de um goleiro eles nunca ultrapassaram os oito segundos. Ora, essa meninada fina assim só pode estar querendo acabar com a alma das peladas. A regra agora irá agora ser testada na Itália. E lá trocarão o tipo de punição. Ela não será feita com escanteios mas com laterais. O que significa que o nobre leitor talvez tenha de seguir tomando um lexotam para continuar aturando a cera que todo mundo sabe que mexe com nossos nervos. 

Seja como for achei a ideia muito bacana. Afinal, já temos telões em boa parte dos estádios mostrando pra torcida as cenas de terror produzidas naquela bendita cabine do VAR. Colocar um cronômetro ali com um sinal sonoro potente não implicaria grandes esforços. Sugiro inclusive um sinal bem estridente daqueles que o goleiro que o fizesse soar acabaria vaiado pelas duas torcidas. Tem de ser por aí.    

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Dorival tem razão !



O tempo muda tudo meus amigos.  E se tem algo que mudou demais é a condição de treinador da Seleção. A tal turma do amendoim sempre existiu. Ainda que chamada por outro nome. Os resultados, ou a falta deles, mais do que arranhar profundamente nosso orgulho dissolveram a aura de respeito que em outros tempos banhava o cargo. Mesmo para aqueles que chegaram lá flertando com certa unanimidade. Como arrisco dizer que foi o caso de Tite. E isso é tão flagrante que me fez escrever aqui outro dia que a Seleção tem tido o nefasto poder de diminuir treinadores. Imagino que mesmo o título que escolhi pra esse artigo cause espanto tão raro se tornou levantar a bola do técnico do escrete nacional. Enfim, eles chegam lá grandes e ao sair parecem despidos dessa grandeza. 

E a gravidade dessa situação se torna explícita quando passo a não conseguir imaginar um único treinador brasileiro realmente preparado para encarar essa dividida. E, vejam, isso pode não ser prova de limitação por parte deles. É resultado de tudo o que o nosso futebol anda vivendo. Como é fato que o desembarque em massa de treinadores estrangeiros no futebol brasileiro reduziu drasticamente o espaço dos nossos. E foi ao falar sobre a abertura aos estrangeiros que, na minha opinião, o atual técnico da Seleção Brasileira, Dorival Júnior, fez uma afirmação louvável. 

Semana passada em um evento que reúne dirigentes, treinadores e profissionais que atuam na área disse em alto e bom som que iremos pagar um preço alto pelo modo como o futebol brasileiro vem tratando o limite de jogadores estrangeiros em cada clube. Número que no início deste ano subiu de sete para nove. Citou um levantamento interno feito pela comissão técnica dele que apontou que entre os vinte clubes da Série A doze tinham centroavantes estrangeiros. Coincidentemente a posição que tinha citado aqui ao escrever um artigo sobre o tema semanas atrás. Apuração fácil. E um detalhe importante nisso tudo é que o ritmo com que essa abertura se deu nos últimos anos se acelerou demais. 

Entre 2019 e este ano as contratações de jogadores pelos clubes da Série A cresceram cento e cinquenta por cento. Dorival usou como exemplo do perigo que nos ronda a Itália. O país de Roberto Baggio permitiu que onze jogadores da comunidade  europeia pudessem transitar nos clubes. E o que se viu foram clubes italianos em campo sem um único jogador formado por lá. O que, segundo Dorival, pode explicar o fato de a Itália ter ficado fora de duas Copas do Mundo. Olha, sou do tempo em que a Itália, em matéria de futebol, queria ser o Brasil. E não o Brasil virar Itália. Como disse no início, o tempo muda tudo meus amigos.          

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

A glória eterna



O sábado promete ser de gala. A Libertadores, não é de hoje, seduziu todo mundo. Diria que até o mais radical nacionalista ludopédico, se é que eles existem, olham a tal Copa com aquele jeitão de quem às três da manhã procura alguém para ir dormir, como diria o rebelde Cazuza. E isso me faz lembrar que a malandragem promete ter uma papel importante no embate final entre Atlético Mineiro e Botafogo. Está aí um componente que desde sempre decidiu jogos. Não teria muita dificuldade em apontar o time carioca como dono do melhor futebol. Ocorre que há um sem fim de coisas que contribuem para o resultado final de um jogo. E em alguns quesitos os mineiros podem levar vantagem. A catimba é um deles. E não deixa de ser sintomática. O uso dela me faz crer que os comandados de Gabriel Milito, e ele  consequentemente, já sacaram que só na bola talvez corram risco maior de deixar o nobre título escapar.  

Também é fato que o Botafogo dá a impressão de ter vivido o apogeu nesta temporada mais ou menos no meio do segundo turno do Brasileirão, apesar do triunfo imenso no Allianz Parque. E ainda que um triunfo no Monumental de Núñez possa desdizer totalmente essa versão. É claro que é preciso deitar o olhar também sobre o Atlético, que desde a vitória sobre o River Plate não voltou a jogar a mesma bola. E o fato de ser no Monumental é outro viés que me faz pensar. Tenho gana de saber como é que nossos hermanos encaram essa hegemonia brasileira que anda se desenhando. Se a encaram como uma realidade com a qual é impossível brigar. Se a reduzem a um nefasto sintoma que faz brilhar quem pode gastar mais. Ou se na intimidade acabam por achar que são melhores e que dessa vez só não estão lá por obra desses infortúnios que muitas vezes fazem o futebol ser uma questão de sorte ou uma monumental obra do acaso. 

Mas entre todas as teorias que essa final vem desenhando talvez aquela que diz que no embate entre os dois pelo Brasileirão a grande tática foi esconder o jogo seja a mais verdadeira. E aí com um pouco de malícia seria possível dizer que o Galo se esmerou na tarefa. Mas é impossível dizer que o time mineiro não foi bem sucedido porque na ocasião o resultado complicou um tanto a vida do líder do Brasileirão. E nada melhor para o Galo do que desestabilizar um time que sempre teve sobre si o peso de ter de se provar. Eu tento imaginar o tamanho do desconforto que o botafoguense sente quando o papo toma esse rumo. Mas é preciso entender que é coisa que não dá pra driblar. Não quando o título brasileiro do ano passado lhe escorreu pelas mãos. 

O Botafogo infinitamente mais do que o Atlético tiraria proveito de uma final em dois jogos. O que temos visto nos leva a essa conclusão. Mas não é o caso. Quando se trata de decidir o título em noventa minutos perder a mão do jogo nem que seja por um minuto pode ser fatal. Mas pra lá de tudo o que foi dito aqui fica o gosto amargo da derrota mineira para o Juventude que fez o galo alcançar a marca de dez jogos sem vencer. E a vitória magistral do Botafogo sobre o Palmeiras na casa do rival, atual bicampeão do torneio. Mas talvez vença aquele que consiga compreender que o Brasileirão é uma coisa, a Libertadores outra.             

 

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Todas as fichas em El Emperador



Eis que a Série B estava começando quando me pus a conversar com um amigo santista sobre o Peixe. Naquele momento a campanha do Santos no Campeonato Paulista deveria servir para abrandar o pessimismo, mas estava longe de produzir esse efeito. O futuro se apresentava como uma grande interrogação. Estavam os santistas todos perdidos na aridez da segunda divisão. O amigo, homem de televisão, editor de imagens dos bons, sempre tratou as coisas do futebol com passionalidade. Foi fazendo juízo do elenco. Dizendo o que achava de cada um. Mas quando a conversa desaguou no camisa nove Júlio Furch a discordância passou a dar o tom. E começou quando eu disse ter simpatia pelo atacante, apelidado El Emperador, que eu considerava brigador e, portanto, sob medida para o campeonato que estava pra começar. 

Meio sorrindo, meio desafiador, aquele que divergia de mim passou a elencar com entusiasmo tudo o que ele considerava desabonar o atacante. Temo que movido pelo desgosto de estar alijado da elite do esporte bretão. Tentei elegantemente mostrar que mesmo que ele não fosse um Serginho Chulapa seria de grande utilidade pro time. Nunca fui do tipo que tenta convencer ninguém, coisa muito comum no meio em que transito. Compreendo que avaliações do tipo carregam muito do gosto pessoal mas também sou levado a crer que é preciso ter um mínimo de parâmetros para estabelecer se um jogador dá ou não dá caldo. Para minha surpresa, mais confiante do que nunca na retórica que ia construindo, o amigo propôs uma aposta. 

Fiz de conta que não tinha ouvido, tratei de deixar no ar a impressão de que não tinha entendido. Mas ele insistiu ainda mais veementemente e bradou que se Furch fizesse mais do que três gols no torneio ele me dava uma garrafa de whisky. Vejam vocês. E ele, talvez, seja um sujeito tão pouco íntimo de apostas quanto eu. Bom, tratei de brincar dizendo que se ele queria me dar uma garrafa de whisky eu a aceitaria de bom grado. Aí ele rindo reiterou: o cara é grosso, não faz, mais do que três não faz. Movido mais pela amizade do que pela possibilidade de me dar bem o fiz notar que seriam longas trinta e oito rodadas. Era muita descrença. Já tinha entendido que o camisa nove não lhe inspirava a mínima confiança mas a proposta seguia sendo descabida. 

O que seu sei é que no fim de mais algumas risadas e cornetadas a aposta tinha sido aceita. Furch teve seus desafios durante a temporada. Ainda no Paulista lidava com uma lesão. Ficou afastado. Viu Wendell chegar e tomar um espaço que era dele. Amarga o maior jejum desde que passou a vestir o manto santista. E chega à ultima rodada da Série B com apenas três gols marcados. O que tem sido motivo de muito sarro, vocês podem imaginar.  Eu já aceitei o fato de que tenho uma garrafa de whisky pra pagar. Nessa história estou mais de Carille - que confiou no camisa nove como pôde - e menos como a direção santista que pelo que tem sido noticiado não conta com Furch para a temporada do ano que vem. 

Mas ainda não estou convencido de que apostei mal. Foram as circunstâncias. Disputasse o Santos mais dez temporadas da Série B com Furch ele daria conta da marca que me faria um vencedor em nove. Vá lá, em oito. Quem sabe ele não me vinga nessa rodada derradeira. Seria engraçado. O que me consola é que isso tudo tem servido pra eu lembrar muito de uma lição que aprendi com meu pai. E ele, por sua vez, com o pai dele. A lição é a seguinte: Filho, teima, mas não aposta.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

O calendário é inocente



Faz tempo que o calendário se impôs como um grande tema do futebol brasileiro. Mas é bom não confundir as coisas. Nem por isso se fez  popular. Talvez devido a complexidade que o cerca. Não lembro de vê-lo pintar na área em resenhas entre amigos ou algo do tipo. E isso não quer dizer que o jornalismo esportivo erra ao focar nele. Mas se trata de uma equação sem solução na minha opinião. A menos que os que cuidam do futebol resolvam cortar a própria carne, já que a única medida eficaz seria aliviá-lo, enxugar torneios ou extingui-los. E não é de hoje que toda vez que essa conversa se dá a mira fica nos campeonatos estaduais, que ao longo do tempo já sofreram transformações mas nunca na medida que solucionaria o problema. 

Tanto é assim que a CBF acaba de anunciar mudanças para a temporada de 2025. Em linhas gerais os Estaduais serão antecipados e, por tabela, o Brasileirão também. Iniciará em março. Todo esse movimento tem por trás a necessidade de lidar com o novo formato do Mundial de Clubes da FIFA que na temporada que vem será disputado entre 15 de junho e 13 de julho. Ou seja, consumirá um mês. Quatro times brasileiros estarão lá. Palmeiras, Flamengo, Fluminense e o campeão da Libertadores deste ano. A CBF faz contorcionismo para que o Mundial não tenha efeitos colaterais no futebol brasileiro. Por efeitos colaterais entenda-se um choque total com nosso futebol. Os times brasileiros envolvidos com ele teriam de jogar nas janelas internacionais, reservadas aos jogos de Eliminatórias , por exemplo. E certamente o fariam seriamente desfalcados. 

Mas note-se que se trata só de antecipação, diminuição de datas, nunca! Não digo desde que começou a ser jogado, mas desde que o futebol passou a ser sinônimo de grandes lucros foi condenado à expansão para saciar o mercado. Cria-se o que eles chamam de outras entregas. Aumenta-se o número de jogos e cria-se assim um facilitador para a hora de negociar contratos. Ainda não inventaram jeito mais eficaz de turbinar os valores do que dizer que se passará a oferecer mais do que o cliente já tem. O que torna muito justo o descontentamento e as ameaças de greve feitas por certos astros do futebol europeu, que deveriam passar a pensar em fazer contratos que estipulassem um teto de partidas disputadas. Mas isso é um devaneio meu. 

Foi esse mecanismo que transformou o novo formato da Liga dos Campeões em algo esdrúxulo. A maneira antiga com os times divididos em grupos e com alguns disputando um play off com as equipes oriundas da competição que está um nível abaixo, ainda que tenha sido manipulada, soava perfeita. Mas muda-se a forma, e com ela a dinâmica do campeonato também. Ver o Real Madrid ocupar o décimo sétimo lugar de uma tabela elucida bem o que esse tipo de transformação provoca. E isso não quer dizer que ele não venha a ser novamente campeão. Acompanhar uma competição de trinta e seis participantes na qual vinte e quatro deles terminarão a fase classificados, ainda que em situações um tanto distintas, não é algo estimulante. E como copiamos tudo que vem de lá - e desse modo a Conmebol poderia turbinar suas entregas - é só uma questão de tempo para que a Libertadores  venha a ter esse formato também. É por isso que eu digo: podemos discutir o calendário, mas o calendário é inocente.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Um treinador raro

 


O time do Botafogo vem jogando muito. E falar de jogadores como Luiz Henrique e Igor Jesus seria chover no molhado. Ainda que tenha a impressão de que soando tão maduros em campo a juventude dos dois passe despercebida. Os dois têm vinte três anos. São garotos. Júnior Santos, que está voltando, trem trinta. Mas eu gostaria de falar é sobre o treinador do time da estrela solitária. Sob a ótica do tempo e do futebol Artur Jorge desembarcou outro dia por aqui. Mais precisamente em abril. Houve um momento em que até andou falado, mas em linhas gerais não tem provocado grandes análises sobre sua figura. Não virou estrela. O que não é comum. Os técnicos, faz tempo, estão sempre em evidência. E isso se deve, na minha opinião a um comportamento moderado. 

Acho louvável essa discrição. Pode ser, inclusive, o que explica parte do sucesso dele. Estar na liderança de um campeonato como o Brasileiro e na final da Libertadores é pra poucos e  tão representativo que faz ter um quê de chover no molhado também a frase inicial dessa minha reflexão. Mas vou lhes dizer porque a mantive: porque estou convencido disso, mas não de que isso faça do Botafogo favorito a ficar com o mais desejado título do futebol do nosso continente. Vejo no Atlético Mineiro, como bem definiu um companheiro de profissão, um time cascudo. E essa é uma qualidade que não se deve desprezar em decisões do tipo que irão enfrentar. 

Mas voltando a Artur Jorge, ele chegou aqui, como outro portugueses, sem que seu currículo ostentasse conquistas dessas que costumam render por muito tempo, mesmo que seu dono nunca volte a viver glórias parecidas. Artur foi um beque central desses que se ligam a um clube de maneira singular. Dá pra dizer que passou toda a carreira de jogador defendendo o Braga. E sempre me intrigou esse caminho desenhado pelos portugueses no futebol brasileiro nos últimos anos. Não consigo crer que não houve algo de supersticioso nas contratações que se seguiram à de Jorge Jesus e sua triunfante passagem pela terra onde cantam os sabiás. Cada vez mais cercados de prédios, infelizmente. Tanto é assim que, vira e mexe, alguém diz que Jesus irá voltar.  

Pelo que lembro agora, Artur Jorge só pisou na bola quando depois de classificar o Botafogo para as semifinais da Libertadores ralhou com um repórter que havia questionado um de seus comandados sobre o fato de o time ter deixado escapar o título brasileiro na temporada passada. Foi tão mal que impediu o jogador de responder a questão. E se lembro o episódio é porque mesmo com toda a minha admiração pela figura e trabalho imaginava que as próximas semanas poderiam colocar a polidez de Artur Jorge à prova, não na Libertadores, que será decidida em jogo único e na qual um insucesso fará parte do jogo, mas no Brasileirão a história poderia ser outra. Um revés desses com viés surreal despertaria questionamentos indigestos. Que seriam injustos, mas também inevitáveis. 

Agora, depois da derrocada do Palmeiras na arena corintiana e a vitória incontestável do Bota no clássico contra o Vasco tudo se abrandou demais. Ainda que o caminho lhe reserve um confronto com o Palmeiras seu principal perseguidor, quatro dias antes da decisão continental. De qualquer forma, o Botafogo pode se tornar um vencedor desses raro e Artur Jorge tem tudo pra fazer ele chegar lá com uma discrição também rara entre os treinadores. Não que o clube esteja sem alguém que semeie declarações contestáveis na crônica esportiva. O manda-chuva, John textor, tem se encarregado desse papel com afinco.

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Longe do jet set



Duvido que com o apelo plástico atual, com seu deserto de dribles, chapéus e gols de falta o futebol conseguisse conquistar em nossa cultura o lugar nobre que foi seu um dia. E nem vou levar em conta o processo que elegeu aptos a frequentar estádios aqueles com um certo poder aquisitivo. Temos todos nestes dias um sem fim de argumentos para mal dizer o jogo. Mas há, ao mesmo tempo, um outro viés que tenta nos convencer de que ele vai bem, obrigado. Mais nítida do que essa visão antagônica é a sensação que tenho - e que já partilhei aqui - de que  a receita em prática pode desandar. E lhes digo a razão. 

É inocência achar que essa abertura ampla, geral e quase irrestrita aos estrangeiros não vá cobrar um preço. Ela não só está tirando o espaço de jovens talentos formados por aqui como está deixando muito claro também que influi nas oportunidades dos nem assim tão jovens. Pense, por exemplo, num atacante desses meio à moda antiga. Um centroavante pra ser mais exato. Quantos brasileiros temos na primeira divisão brilhando nessa posição? Poucos. A maior parte deles veio de fora. E o futebol pode ter mudado, os esquemas também mas um centroavante sempre será de grande serventia. Deyverson prova essa teoria. 

Por outro lado nosso futebol cresce economicamente a olhos vistos. A qualidade do jogo não. Mas talvez nada torne essa nossa hegemonia tão visível quanto a Libertadores, e não falo dos placares dilatados que Atlético Mineiro e Botafogo tatuaram na pele de seus adversários na rodada de abertura das semifinais do torneio, falo do domínio que os times brasileiros construíram na última meia década. Aos olhos sul-americanos podemos parecer integrantes do grand monde da bola, mas sabemos todos que não é bem assim. Estamos a anos de luz do que pode ser considerado o jet set, pra usar uma expressão que vem lá dos anos 1950 cunhada nos Estados Unidos por um cara chamado Igor Cassini, considerado o rei das fofocas sociais naqueles tempos idos. E o termo cai muito bem pois sabemos que jatinhos seduzem os grandes astros do futebol e não só eles. 

Semana passada Vini Junior pelo Real Madrid e Raphinha pelo Barcelona roubaram a cena no principal torneio de clubes da Europa. Brilharam tanto que um dos  jornais por lá ao dar de cara com o futebol praticado por Vini o considerou o melhor do mundo. E aquela altura todos pareciam acreditar que ele iria ficar com a bola de Bola de Ouro. Talvez seja o caso de seguir as principais Ligas do continente europeu que não se preocupam com o limite de estrangeiros mas determinam que os times tenham um certo números de atletas formados no país e, em alguns casos, nos próprios clubes. Dirão que tudo é uma questão de grana. E é, não dá pra negar.  As SAFs estão aí colocando fermento nas nossas cifras. 

Mas o sistema em si nada tem de novo. E ninguém parece se importar como futuro. Os garotos prodígio vendidos aqui continuam rendendo espetacularmente. E eles sempre toparão o negócio porque afinal o glamour está lá. Alguém que olhe as faturas não terá dúvidas do nosso crescimento futebolístico. Mas em campo o futebol jogado está longe de espelhar a excelência que os números sugerem. A fórmula praticada neste momento deveria servir para melhorar a qualidade do jogo, mas ela me deixa cada vez mais convencido de que andamos reinando num universo muito distante do jet set. Não por falta de jatinhos.  

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Me dá um dinheiro aí

A mobilização dos corintianos para pagar a dívida do estádio do time é um caso a ser estudado. O protocolo de intenções foi assinado na última sexta-feira.​ Confesso pra vocês que duvidei que a ideia fosse vingar. Não pela disposição dos fieis em ajudar, mas pela complexidade da operação. Não me passou pela cabeça que uma instituição pública como a Caixa fosse aceitar se envolver com tão singular operação. Mas o desenrolar dos fatos vai me jogando na cara que não deveria duvidar. Afinal, o banco já tinha aceitado entrar no negócio do estádio, cuja arquitetura jurídica desde sempre soou surreal. Mas pensando bem a Gaviões deve gozar de um histórico como pagador que põe no bolso a maioria absoluta dos clubes brasileiros. E ao longo da história já se mostrou capaz de grandes mobilizações. 

Espero que o jornalismo elucide, ainda que por tabela, os bastidores da ideia, suas minúcias. Seria muito salutar para a legitimidade da empreitada que tivesse nascido de maneira espontânea. Mas a estreita relação entre organizadas e clubes me faz crer mais em um trama do que num arroubo de paixão. O que lhe emprestaria legitimidade. E ao ser criada neste momento em que a estrondosa dívida corintiana tem andado na ordem do dia ela ganha um quê de salvadora. Mudará um pouco o foco. Ajudará a acobertar o contra indicado modus operandi dos dirigentes que seguem gastando como se os cofres estivessem cheios e a dívida ameaçadora não passasse de intriga de adversários e opositores. 

Sou do tipo que não daria um centavo para aliviar a barra de cartolas. Mas tenho curiosidade pelo andamento e pelos argumentos que as doações irão revelar.  Ainda que muitos dos doadores, sem dinheiro para bancar a mensalidade de um plano de sócio, sigam alijados das arquibancadas da custosa Arena. A imensa maioria verá no ato de entregar a bufunfa uma prova de paixão. E é uma possibilidade já que ela nunca fez questão de andar de mãos dadas com a razão.  Só acho que isso tudo não deve ser entregue assim, para usar um termo tão antigo quanto vaquinha, de mão beijada. Os corintianos que vão colocar a mão no bolso deveriam exigir que a Gaviões se tornasse credora do clube. E futuras quitações deveriam servir para obras sociais. Seria um modo de engrandecer a torcida que ao longo da história tem se envolvido com boas causas. Outras nem tanto, é fato. 

Estou longe de ser um especialistas no assunto, mas deve existir um modo, se não esse de nominar a Gaviões como credora, de fazer com que a doação não se encerre nela. Que se exija uma contrapartida. Não consigo entender de outra maneira. A moda pode pegar, vai saber. E daria aos clubes uma margem de manobra que embora soe inventiva num primeiro momento pode vir a ser danosa. Nossos dirigentes estão longe de ser uma categoria que anda precisando de ajuda. Tudo o que eles não andam merecendo é ter moleza. O termo vaquinha traz com ele algo de sútil. Imagine se neste momento se falasse em arrecadação. Essa outra palavra possível que suscita tantas coisas. Fisco, entre elas. E se defendi aqui essas posições é porque desde meu tempo de moleque uma vaquinha ou ajudava a todos, ou ajudaria alguém que andava merecendo. E esse não é o caso dos nossos cartolas, insisto. Imagino que a essa hora  alguns deles silenciosamente andam esfregando as mãos e lembrando daquela velha marchinha de carnaval que diz: me dá um dinheiro aí.