Digo a vocês que vejo no tempo uma grande lente. Só ele nos aclara as coisas. Tô chegando filosófico, eu sei. Mas não tarda e a prosa vai desaguar em algo mais terreno. Insista na leitura e verá. É que o cotidiano quase sempre nos dá a impressão de não estarmos saindo do lugar. Mas sempre estamos. O aprendizado de um instrumento é das tarefas que, pra mim, mais corroboram essa sensação. Você morde a língua aqui, estica o dedo pra fazer soar uma nota ali e quase se convence que não nasceu pra isso. Mas Insiste na coisa. Repete, repete, e um dia lá na frente percebe que evoluiu, que aprendeu algo, ainda que não tenha virado nenhum Stravinski.
Vejam, acabamos de testemunhar o debute de Carlo Ancelotti no comando da Seleção. Que de cara o italiano conseguiu acabar com a modorra da Data FIFA é fato. Mas não se trata de verdade absoluta. O próprio lugar que Ancelotti terá na história do nosso futebol só o tempo verdadeiramente revelará. O mesmo tempo que poderá nos mostrar que essa primeira impressão foi só um efeito colateral de algo tão novo, se as datas FIFA seguirão nos assombrando. Mesmo com Ancelotti na área entendo completamente aqueles que perderam a paciência com a Seleção. O que me faz pensar o quanto o escrete nacional terá de jogar para reconquistá-los. A lente do tempo irá nos mostrar.
Mas resta nesta quinta um pouco do nosso cotidiano boleiro. Uma rodada do Brasileirão já sem os que têm compromisso marcado com o Mundial de clubes. No Castelão, o Fortaleza recebe O Santos. Jogo em que uma vitória, dependendo de outros resultados, poderá trazer com ela o simbolismo de sair da zona de rebaixamento. Digo simbolismo porque se trata de uma condição à qual o futebol dos dois dá um certo ar efêmero. Difícil acreditar neste momento que não seguirão às voltas com ela. Se a fase do time cearense é a pior da era Vojvoda, não pense o Santos que está muito longe disso. E que tenha humildade de reconhecer que o tempo fez o adversário de hoje atualmente mais bem sucedido do que ele. O que me faz acreditar que a tal lente do tempo pode também diminuir um clube dito grande.
E por falar em tempo, que chance terá na noite de hoje o Cruzeiro, no Barradão, diante do Vitória. O time celeste dirigido por Leonardo Jardim, que derrotou o Flamengo, que derrotou o Palmeiras, com um triunfo será catapultado à liderança do Brasileirão. Conquista muitas vezes passageira mas que o recesso imposto pelo Mundial de clubes fará durar sem ameaças por um mês. O que não deixaria de soar como um prêmio por toda a graça que emprestou ao Brasileirão nas últimas semanas. E se o Cruzeiro chegar lá terá vencido também uma certa secação porque o Bragantino, dono da mesma pontuação, se vencer o jogo com o Bahia em casa e a raposa tropeçar na capital baiana é quem vai desfrutar dessa liderança temporalmente longa.
No Morumbi, o São Paulo, recordista de empates no torneio e que vem de derrota, enfrenta o Vasco. Não bastasse a proximidade dos dois com a zona do descenso, um resultado adverso terá tanta contundência e longevidade quanto a liderança de que estávamos falando. Estranha alquimia essa em que um Mundial cravado no calendário ganha o poder de tornar um resultado um tanto mais eterno. No mesmo horário o Atlético Mineiro irá receber o Internacional. E a essa altura já estará quase desenhado o enredo da visita do Corinthians ao Grêmio. Corinthians pra quem neste momento o tempo parece ter escancarado todas as mazelas.
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