Não, jamais ouvi alguém chamá-lo assim. É possível que seja algo um tanto íntimo ou que se dê só para o seleto grupo que costuma frequentar alguns dos maiores elencos europeus. Ou algo reservado aos que o cercam, aos parças, como nos habituamos a ouvir. A nós, os mortais, creio caber chamá-lo mesmo de Carlo Ancelotti. E mal sabe ele o papel que terá se realmente vier a aceitar o comando da Seleção Brasileira. Em primeiro lugar será o homem que desafiará, mesmo sem ter tal intenção, todos aqueles que que consideram uma afronta entregar o escrete brasileiro a um estrangeiro. E não são poucos.
E, depois disso, encarnará uma ruptura da qual muita gente duvidava, ou duvida, eu inclusive. E considero a coragem ora apresentada pelo presidente da nossa Confederação para a empreitada efeito colateral de um misto de falta de opções caseiras com a necessidade de um escudo cada vez mais forte, diante do insucesso nos gramados e da condução administrativa contestável e falsamente democrática. Quero crer que ainda chegará o dia em que um patrimônio como a seleção de futebol de um país ter dono virá a ser algo questionado nos tribunais. Não à toa trataram de tentar convencer o mundo de que o futebol e seus mandatários precisam de uma justiça própria, que não lhes cabe a dos comuns.
Nessa toada, Don Carlo, que em matéria de futebol considera que já tenha visto de quase tudo, sem querer ainda por cima se descobrirá inserido num lugar e em uma realidade que nunca frequentou. Que não tenha dúvida a respeito. E quero crer que poderá existir algum viés louvável escondido nisso. Nem que seja sentir de longe o que representa a Seleção no nosso imaginário. Mas é preciso levar em conta também que até nesse ponto poderá vir a ser surpreendido. Digamos que esteja um dia na padaria tomando um café, tentando ser normal, e se dê a entabular uma conversa com aquele que lhe serve. Eis que no meio do papo o sujeito lhe confessa que perdeu o interesse pelo time nacional faz tempo, que hoje ele quer saber mesmo é do time para o qual torce, e olhe lá.
Digo mais, sabemos todos que o desgosto com a seleção é tamanho que se Don Carlo pegar pela frente um sincerão é capaz de secretamente se perguntar o que tinha na cabeça quando aceitou o convite. No mais, foram tantas idas e vindas que eu aqui já nem sei qual verbo usar. Se tudo isso seria ou será. Se é caso de passado ou de futuro. Fato é que há aí em curso um segundo renascimento de Don Carlo como possível treinador brasileiro. O que já virou notícia até no The New York Times. Notícia sustentada pelo fato de que tudo já estaria alinhado com o Real Madrid com quem Don Carlo ainda tem contrato.
Dizem que a coisa se resolve em poucos dias, pra alívio dos palmeirenses que não gostaram nenhum um pouco de ver Ednaldo com "zóio de lula" pra cima de Abel Ferreira. Questão de tempo, pouco tempo, dizem os jornais espanhóis. Então, o palmeirense talvez não tenha mais motivo pra se preocupar ainda que o tal acordo com a direção madridista seja verbal. E nessa novela desde sempre esse foi o x da questão.
Olha, que me perdoem aqui os que, por ventura ou descuido, pensam diferente. Mas Don Carlo, não se enganem, é outra categoria. Mesmo Jorge Jesus com seu ar divino não lhe chega aos pés. Don Carlo, ao contrário de muitos treinadores, foi também um grande jogador. Como técnico é apontado entre os dez melhores de toda a história. Mas continuo com minha desconfiança crônica e só vou acreditar na hora que der de cara com o homem vestido de agasalho passando um friozinho lá na Granja Comary.
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