Esta noite, quando Corinthians e Palmeiras entrarem em campo para decidir o título paulista, o momento só não será maior porque a nossa realidade em dado momento amputou parte da magia do jogo ao decretar que ele tem de se dar com torcida única. Muito pode ser dito a respeito disso. Muito precisa ser feito. Já que por trás dessa questão há escondida uma derrota que é de todos nós. Pode-se até chegar à conclusão, em muitos momentos óbvia, de que o nosso nível de civilidade já não dá margem a revisões. Mas não se descobre isso sem tentar. E não tentar é cômodo. Mas é, ao mesmo tempo, um desrespeito com a história e a importância do futebol paulista e de todos os que estão nessa condição.
A proibição em questão caminha para completar uma década. A decisão foi tomada numa segunda-feira, 04 de abril de 2016, motivada justamente por um clássico entre Corinthians e Palmeiras, disputado no Pacaembu, e marcado por vários confrontos antes e depois da bola rolar. Confrontos que se deram nas ruas e deixaram, entre outros saldos, uma vítima fatal. Um dia depois dos acontecimentos, a pedido do Ministério Público, a Federação Paulista determinou que os jogos entre os chamados grandes times paulistas fossem realizados apenas com a torcida mandante presente nos estádios. A decisão foi anunciada pelo então promotor do Ministério Público, Paulo Castilho, e pelo Secretário de Segurança Pública na época, Alexandre de Moraes, que todos sabemos segue em cena encarando históricas divididas.
Não quero justificar o que vai aqui com aquele argumento tão ouvido por aí de que há tempos os confrontos têm se dado longe dos estádios e não neles. O que quero é aproveitar a data e perguntar: será pra sempre? Estamos condenados a ver os clássicos paulistas até o fim dos tempos assim? Amputados? Seja como for, diante dessa realidade de alegrias repartidas o Palmeiras já teve direito ao seu quinhão. Saiu de campo derrotado pelo placar mínimo. E agora terá de encarar o grande rival sem poder pensar em empate, enredado por uma festa que promete ser grande e turbinada por uma vantagem trazida da casa adversária. Muito se fala na volta de Rodrigo Garro. Arrisco dizer que o Corinthians diante do quadro que se desenha seria capaz de competir mesmo se não pudesse contar com ele. Mas não dá pra não reconhecer o requinte que o argentino empresta ao jogo do Timão.
Mas o corintiano deve mesmo é torcer para Menphis ter voltado inteiro e no embalo de ter marcado mais um gol pela seleção da Holanda. Gol que o deixou agora apenas três atrás do maior goleador que os laranjas já tiveram. Um tal de Van Persie que, eu digo, quem viu não esquece. Já os palmeirenses são instados pelas manchetes a se empolgar com a volta do meio-campista Maurício. Diante disso, minha inocência manda escrever que há sempre um preço a se pagar pela ausência dos gramados. O que vale para Garro também. Quando se trata do jogo de bola lesões nunca são apenas dor e tratamentos. Por essas e outras, se tivesse que apostar em alguém no Palmeiras capaz de fazer a diferença no caldeirão alvinegro apostaria na juventude e, acima de tudo, no futebol assanhado do garoto Estevão. Dirão os pragmáticos que o título se faz mais indispensável para o Corinthians do que para o Palmeiras. Esse raciocínio pode fazer algum sentido, mas que quase se apaga diante de tamanha rivalidade. E mais, não dá pra dizer que o time de Abel Braga tem pouco a perder quando um triunfo corintiano colocará por terra a possibilidade de um tetra campeonato estadual que nem o Santos de Pelé alcançou.
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