Pra começo de conversa vos digo que não sei se foi o futebol que mudou ou se fui eu. E a única coisa que pode atenuar esse dilema é chegar à conclusão de que mudamos os dois. O que é muito provável. E aí eu poderia fazer uma média e dizer que mudei pra pior e o futebol para melhor. O que pode até ser o caso falando de mim, mas não consigo acreditar que seja evolução o que vai me colocando em desacordo com o jogo de bola. Os analistas de desempenho certamente têm todos os dados disponíveis para me convencer de que o futebol virou outra coisa. Eu sei disso. E lhes digo que o homem que se ampara nos números, e só neles, terá sempre um quê daqueles que Nelson Rodrigues definiu perfeitamente como idiotas da objetividade.
Mas não estou aqui pra maldizer o ofício de ninguém. O que eu tô fazendo é quase uma autoanálise, querendo entender porque me parece cada vez mais difícil encontrar algum encanto no que vejo se desenrolar entre as quatro linhas. Não duvido que olhando o jogo cientificamente ele possa ter dado um salto, mas daí a dizer que isso o tornou mais bonito me soa totalmente descabido. Poderia elencar aqui um sem fim de motivos para tentar explicar esse caldo insosso que os times andam derramando sobre os gramados e mexendo com o meu humor. Com o nosso humor imagino. Pois não seria tão egoísta de levar essa pensata adiante se não acreditasse que esse descontentamento nos aproxima. E, veja, quando falo de futebol falo do nosso aqui. Porque quando vejo o jogo que se pratica por aí o papo é outro.
Em primeiro lugar o que acho é que os nossos times, seja lá qual for o tamanho deles, andam se contentando com pouco. Com muito pouco. Os passes de lado que que se propagam como praga nem precisam de dois gols, basta um e já brotam como erva daninha. E aí, fico imaginando, impera aquela maneira de pensar que desde sempre questionou a razão de se correr quando o time está ganhando. E não estou pedindo pra ver viradas de jogo daquelas que paralisam o adversário, nem lançamentos longos primorosos, coisas que não tardarão se farão tão raras quanto os gols de falta. Existem coisas no futebol moderno que me escapam. Dias atrás, confesso, fiquei surpreso ao ouvir o técnico do Flamengo definir o papel do ex-jogador Rodrigo Caio na comissão técnica do Flamengo. Disse ele que a designação é: analista de bola parada. Tenho o maior respeito pelo Rodrigo, que sempre foi um cara de fino trato. O que não entendo é como nesse futebol em que se cuida de cada detalhe os jogadores têm dificuldade pra acertar a bola no gol e, em campo, insistentemente, optam por ações tão pouco arrojadas, tão pouco corajosas.
Notem como é raro nos dias de hoje ver um time construindo uma jogada de ataque pela zona central do campo. Não duvido que o meio ande congestionado, que o jogo se tornou mais físico. Mas quero acreditar que o talento ainda segue sendo capaz de nos surpreender. Pense em alguns dos times mais afinados que vimos nos últimos tempos, não são muitos, e talvez lhe venha a cabeça alguns lances bem construídos nessa zona proibida. Enfim, não estou aqui para elaborar receitas. Admiro a alma malandra do futebol, que afinal veio da rua. Mas não essa malandragem de mão no rosto fingindo ter levado um tiro de canhão. Isso não deixa de ser um desaforo pro torcedor, que acostumou a engolir essas e outras. E se continuo me dando ao jogo e ao ofício é porque ainda acredito que seja possível lapidar essas peladas profissionais que temos visto.
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