Acho que nunca conseguirei assistir a uma partida de
futebol e ao dar de cara com alguém envergando a camisa 10 olhá-lo como se fosse
um qualquer. Como não imaginamos estar de cara com um qualquer quando damos
de cara com alguém vestindo traje visivelmente nobre. Há mais de dez anos
escrevi com o amigo, André Ribeiro, grande pesquisador e jornalista, um livro
sobre o tema intitulado " A magia da camisa 10". A obra acabou publicada
também em Portugal, na Polônia, na Hungria e até no Japão. Ninguém compra os
direitos de um livro por acaso. O que me faz crer que a simbologia da 10 se
tornou realmente universal. Não era pra menos.
O livro fala das coincidências
que uniram a camisa 10 e o Rei do Futebol, volta no tempo num exercício
imaginativo que tenta mostrar quais teriam sido os prováveis donos da 10 na
época em que os uniformes nem numerados eram. Mas na semana que passou fiquei
com a impressão de que a nobre camisa recebeu um golpe de misericórdia. O que
não deveria causar surpresa dado o tratamento que tem sido dispensado a ela nos
últimos anos. Ao encontrar na internet uma manchete que avisava que a seleção
tinha divulgado a numeração das camisas para os amistosos contra Rússia e
Alemanha fui correndo conferir com quem tinha ficado a 10, já que Neymar estava
fora. Imaginei um Willian, um Philippe Coutinho. Mas que nada!
A 10 tinha sido
dada ao meia Fred, do Shakhtar. Nada contra o rapaz, que aliás foi muito
elogiado. O que me causou certa tristeza foi a possibilidade de que nem Willian,
nem Coutinho, podem ter feito questão de ficar com ela. Queriam ficar com as suas, afirmou categoricamente
um amigo. Voltei a lembrar desse detalhe quando aos trinta e pouco do segundo
tempo do jogo contra os russos vi Fred com a 10 esperando na beira do campo para
entrar no lugar de Coutinho. Um preciosismo de minha parte dirão alguns. Talvez,
se não fossemos nós brasileiros como Pelé, o homem que definitivamente deu à
camisa 10 um outro status.
Os pormenores de como a coisas se deram infelizmente
desconheço. E duvido que alguém se prestasse ao trabalho de me esclarecer
questões de um assunto que pode ser tido como menor. Tenho, no entanto, uma
ponta de esperança de que os credenciados para recebe-la acabaram declinando
porque não a enxergam como uma camisa qualquer. Sem contar que sem ela, estão
cientes, evitariam comparações com seu dono atual. Vai saber. Mas fato é que se
de algum modo ela ainda pesa é porque está viva. E se for assim fico até feliz
de ter empregado imprecisamente o título acima. No fundo não quero crer que a
camisa 10 já era.
3 comentários:
É Vladir, a medida que envelhecemos, vemos os nossos conceitos enraizados se perdendo na modernidade e na perda de sentido das coisas hoje, inúmeras vezes por desconhecimento da sua origem, nos tornamos ultrapassados e chatos para quem não está interessado na historia.
Tenhamos fé que as coisas hão de mudar!!
Tico, é exatamente isso.
As coisas vão se perdendo na modernidade...
Depende se vc fala como o 10 de função nunca houve posição fixa. O Pelé não era articulador nem meia armador era mais um segundo atacante/meia que vinha do meio para o ataque como surpresa e foi um jogador a frente do tempo dele que entendia que vindo de trás infiltrando tinha menos marcação e assim se tornou um goleador, posição similar ao Maradona, Messi e Zico que tbm fizeram muitos gols. Existem aqueles 10 armadores cerebrais/articuladores, como Rivellino, A. Da Guia, Sócrates, Djalminha, Marcelinho, Platini, Pirlo, Kroos, Gerrard, Alex e outros tantos... Que geralmente viram armadores até por serem lentos. O cruyff por exemplo nunca jogou de dez...
Postar um comentário