sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A seleção é o país

A passagem da seleção brasileira por São Paulo revelou uma vibração diferente entre o escrete nacional e a torcida. Havia no ar um “que” de reivindicação. Uma cobrança. Em outros tempos o time era a arma para manipular o povo. Nos últimos dias, em muitos momentos tive a impressão de que dessa vez era o povo que estava querendo usar a seleção pra mandar recado. Entrou em campo um descontentamento. Todo mundo exigindo mudanças.


E já que a seleção e o país parecem cada vez mais uma coisa só, imagine se na hora do jogo, tomado por essa emoção das coisas que não andam, pela angústia desse futebol que não diverte, todos decidissem levar ao estádio uma faixa. Nada de “beijos pra tia” ou “Olha eu aqui Galvão”.
Em papéis, tecidos, frases como “Eu não aguento mais a CPMF”...
“O hospital da minha cidade tá caindo aos pedaços, não dá! ”...
“Chega de impostos”
“ Nós somos de “não sei onde” e só temos 20 por cento de saneamento básico”.


Ah! Era bem capaz da “ cartolagem” baixar uma norma dizendo que cartazes são proibidos. Ou talvez, destacar um funcionário pra falar o que pode e o que não pode ser escrito.
Uma espécie de censura, como em outros tempos.
O futebol e a Nação têm mesmo muito um do outro. Levam embora nosso minério, nossas riquezas, como levam embora nossos craques. No comando do país, assim como no comando do time, a possibilidade da vaia pode aterrorizar. Pode fazer repensar agendas.
Um momento agudo em que todos os artifícios param de funcionar.


Há algo na engrenagem, no entanto, que impede a total imobilidade.
E tudo vai andando, mesmo com Wagner Love, mesmo com CPMF.
Tudo vai sendo salvo. Dunga tem a sorte de ter Kaká ... Robinho...Ronaldinho, e agora Luis Fabiano .Lula tem a sorte de encontrar o mundo num tremendo vento à favor. Tudo segue. Temos a jazida de Tupi, com seus bilhôes de barris de petróleo e gás, temos milhares de garotos sendo preparados em “escolinhas” para mais tarde adornar os grandes clubes de futebol da Europa.
Apesar de toda essa possibilidade, apesar dessa insatisfação, tanto com o futebol quanto com o país, o que se tem dos dois é o mínimo. E não me venha pedir escolas...hospitais...e ainda mais segurança.


Com relação ao mundo da bola a constatação também é cruel. Até o direito de ver nossa seleção nos é tirado. Treinos secretos, veja só! Será que o torcedor não merecia ser recebido de “portões abertos” já que a seleção se denomina do Brasil? Nada disso.
Como se não bastasse, demora muito pra voltar, só faz amistosos no exterior.


Para aqueles que apreciam as táticas, os esquemas de jogo, a maneira de tratar cada adversário, para aqueles que sempre pensam que têm razão, que poderiam mudar tudo tirando um daqui, colocando outro ali, pra esses eu digo, sem querer “secar”, que tenho a mais pura convicção de que não há como mudar a seleção, sem mudar o país.


De minha parte, entre as tantas placas que levaria ao estádio, vocês sabem, não esqueceria de incluir uma mais amena, onde traria escrito:
“Aproveite sempre da melhor forma as sextas-feiras”

4 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns poeta parceiro. O texto tá afinadíssimo, como sempre...
Já que estou atrasado e só entrando pela primeira vez no seu blog, agradeço os comentários feitos sobre o livrinho da imprensa, no dia 23. Prometo acompanhar de perto suas reflexões daqui para frente.

grande abraço

André Ribeiro

Anônimo disse...

Glup... Primeiro nó na garganta causado por ti...
Vai começar uma competição com o Torero pra saber que dá mais nós nas gargantas alheias, dos leitores do blog.

Parabéns e um grande abraço.

Ton
waguaru@hotmail.com

Vladir Lemos, jornalista disse...

Caro André Ribeiro, é um prazer te ver por aqui. A "modernidade" tem dessas... abre um tremendo espaço pra gente experimentar e treinar.
Abraço!

Vladir Lemos, jornalista disse...

Ô Ton,
aproveito essa tua referência ao Torero pra dizer que se trata de uma "figura" que eu admiro também.
Abraço!