Aconteceu na cidade de Bituin, que fica entre Nossa Senhora do Bom Senso e o Vale dos Pecados, no norte de um imaginário país tropical. Digo país tropical, porque assim fica mais fácil do leitor entrar de vez nessa história, pensada para ser de sucesso, mas que acabou atrapalhando ferozmente seu principal protagonista.
Enquanto ele levou adiante sua tremenda paixão pelo jogo de bola, tudo foi se encaixando de maneira perfeita. Mesmo distante da cidade em que nasceu, o tal não teve dificuldade para encontrar os caminhos para crescer, até porque o futebol nunca conseguiu disfarçar que lhe cai muito bem uma dose acertada de malandragem.
Um dia percebeu que o momento de deixar a bola havia chegado. Pensou ir além, mas sua astúcia não permitiu que ele desobedecesse o sugerido pelo destino.
Passou a jogar com os amigos, só pra se manter.
O próximo capítulo era óbvio. Virar treinador. Ele só não esperava que essa acabasse sendo a sua grande glória. Transformou times pequenos. Encheu elencos humildes de personalidade. Triunfou. Desafiava os críticos com um respeitável número de conquistas.
O que mais um treinador poderia querer?
Comandar a seleção nacional? Pois ele o fez.
Desta feita não concluiu a tarefa como esperava, teve problemas, e naquele seu mundo a ausência de resultados era fatal. Precisou mudar de direção. Passada a tormenta - um tanto espantado - foi mais além.
Atravessou o atlântico, ganhou uma invejável chance no charmoso e sedutor futebol europeu.
Um universo novo que exigia outras habilidades. Lá, escutou pela primeira vez, de modo claro, a tal palavra: “manager”. Percebeu no homem que a carregava um encanto do qual ele não conseguia bem entender a razão. Rodava com sua esquadra pelo velho continente e, em todos os lugares por onde passava, o “manager” era sempre quem dava as cartas.
Era instigante. Na pessoa desse negociante travestido de executivo, o futebol não se resumia a táticas e concentrações. A ele já não interessava só a vitória, interessava vencer com lucro.
Seguiu contornando a curva do destino.
Voltou pra sua terra.
Afinal, o cotidiano podia ter armadilhas, mas sua trajetória era sólida.
Seguia com grandes clubes lhe cortejando. Escolheu um. Nem precisava ser o campeão. Era o mais bem pago. Aquela velha palavra, no entanto, não o havia abandonado. E nem importava que em seu velho país tropical ela soasse imprecisa e vaga.
Nas entrevistas, vez por outra, a palavra, meio sem querer, saltava da sua boca, como se o estivesse rondando os pensamentos. Às vezes, ele a usava para explicar certas situações.
Na cidade de Bituin todos percebiam que para ele, “Manager”, era “o” sinônimo do sucesso profissional.
Quando os jornalistas o queriam adular, iam logo colocando um “Manager” na pergunta. Quando os cartolas o queriam seduzir, revestiam suas lorotas com a tal palavra.
Naqueles dias era assim, estava entre os melhores, sentindo a pressão do ofício, tendo que manter sua esquadra respeitável. Já não era um tempo em que se podia pensar somente no jogo. O futebol lhe colocou pra participar de compras e vendas. Passou a se tratar de um jogo mercantilista. Se tratar de negócios. Não foi pouca coisa o que o destino o ofereceu. Reconhecimento profissional, posição de destaque.
Mas o velho lateral de Bituin jamais conseguiu tirar essa bendita palavra da cabeça: Manager.
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7 comentários:
Fala Vladir!!!
Quero te dar os parabéns pelo programa Cartão Verde, sou de Itabira e aqui da minha cidade da para ver só a segunda parte do programa por causa da programação local, mas mesmo assim assisto todas as segundas.
Aproveite e vote na seleção do brasileirão 2007 no meu blog.
http://amantesdoesporte.blogspot.com/
Vladir, trabalho no Portal www.santistaroxo.com.br
Quero saber se você gostaria de uar um blog SantistaRoxo, como o www.santistaroxo.com.br/blogdoserrano ou www.santistaroxo.com.br/blogdabia
O convite está aí, meu e-mail é brunofern@uol.com.br
Abraços
Lucas, vou votar, sim! Essa coisa de "rede" é complicada, mas agradeço a audiência durante o nosso segundo tempo. Abraço!
Bruno, agradeço o convite, e sua visita por aqui. Entrarei em contato pelo endereço eletrônico que você deixou, ok? Abraço!
Legal, tô no aguardo, abração.
Vladir, não sei ao certo de quem vc está falando, mas essa história cabe como uma luva na história do WL, lá do nosso Peixão...
Enfim, um baita texto, como sempre.
Grande abraço.
Ton
É Ton, esse mistério é o grande barato, se é que existe mistério. Valeu!
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