O anúncio do Brasil como sede da Copa do Mundo teve o enredo esperado. Até o argumento do presidente da FIFA pouco antes de abrir o envelope com o nome Brasil - estampado com Z - não poderia ter sido outro. Joseph Blatter, vivendo a inédita situação de não poder fazer suspense a respeito da nação que iria revelar, foi obrigado a confessar que, diante de um candidato único, restou ao comitê executivo da entidade decidir se considerava, ou não, o Brasil em condição de arcar com tamanha responsabilidade. Muita gente por aqui duvida, mas eles não deixaram transparecer a mínima dúvida.
Com muita pompa permitiram-se colocar a Copa de 2014 no nosso futuro nem tão distante assim. Fico aqui pensando como vamos encarar esse momento quando a hora chegar. Sete anos podem não representar uma eternidade, mas muda muita coisa.
Jogada completa, entrou em cena a delegação brasileira. O microfone era passado de um para o outro como se faz com a bola.
O ponta-pé inicial coube ao Presidente da República. Lula só me pareceu cheio de razão ao dizer que o que pode surpreender os estrangeiros é o povo brasileiro. Perfeito. Até porque todas as nossa mazelas eles estão cansados de conhecer. O povo não, porque o medo impede muitos de ter a coragem necessária para desembarcar por aqui. Romário e Dunga, breves, fizeram o papel que se espera de ex-jogadores em ocasiões como a desta terça-feira. Já Paulo Coelho, me frustrou, pegou carona nas palavras de quem já havia falado. Não proferiu nada profundo. Nada que sugerisse encontrar naquele momento algo transcendente. Já ouvi pessoas dizerem que ele, como Mago, tem até poder para controlar a chuva. E, olha, esse tipo de poder seria muito apropriado para uma final de Copa do Mundo.
Mas bastou chegar a hora da "coletiva", minutos depois do meu país ter sido anunciado como sede de uma Copa futura e eu já estava passando vergonha. Ao ouvir a primeira pergunta, incômoda, o Sr Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, sem um pingo de gentileza quis saber de quem se tratava. Disse ele: De onde você é?
Isso como se a sede da FIFA fosse um lugar aberto, uma mercearia onde teria sido possível qualquer um entrar só para estragar a festa dos outros. A identificação não demorou. Se tratava de um profissional da agência Associated Press, que eu duvido que Ricardo Teixeira conheça, e se por acaso já ouviu falar, não faz a mínima idéia do que representa. A resposta do dirigente brasileiro não mereceria nem comentário, mas eu não resisto. Ricardo Teixeira questionado sobre o problema da violência, disse que se trata de algo que existe em todo o mundo. E, desenvolvendo um raciocínio daqueles, afirmou que até os Estados Unidos têm aluno matando alunos em escolas, e isso o Brasil não tem.
Mas a briga para saber quem faria o papel mais ridículo estava quente. O "mestre de cerimonia", ao testemunhar o fato, pediu mais respeito ao futebol, como se falar verdades ali fosse uma espécie de heresia. E talvez fosse exatamente isso.
Se você perdeu a chance de ver ao vivo tal espetáculo, vai ficar ainda mais chateado.
A pergunta seguinte partiu de um jornalista brasileiro, de quem mais se esperava algo pertinente.
O que se ouviu pouco depois, foi uma sequência de elogios, que teve como ponto final uma pergunta que mais pareceu uma sugestão.
"Será a Copa do povo?". Brilhante, não?. A coisa foi tão forte, que o próprio Ricardo Teixeira se mostrou constrangido e preferiu dizer que será a "Copa do Brasil"
A palavra voltou a ficar com um estrangeiro, de outra agência de notícias renomada, a Reuters. A resposta que ele provocou provavelmente era esperada pela maior parte daqueles que acompanham o futebol.
"Onde estava Pelé?"
Teixeira nunca foi camisa 10, mas ao que tudo indica já havia treinado essa resposta. Apontou Dunga e Romário como os grandes nomes da sua era à frente da CBF.
Por fim, um novo acontecimento me chamou a atenção. O número mínimo de aplausos no momento em que o nome de Pelé, o maior jogador do mundo foi proferido.
Conclusão, a FIFA é uma coisa, o futebol é outra.
E, veja, você não precisa concordar comigo, não precisa ser "igual eu", como disse o Lula durante o discurso lá nessa entidade honrada, com sede na Suiça e tudo.
terça-feira, 30 de outubro de 2007
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2 comentários:
É Vladir... Acho que esse evento, muito bem relatado por você, é apenas o reflexo fiel do que será a organização da "nossa" Copa.
Mas enfim, agora ela já está aí e eu só discordo de você em um ponto: "Fico aqui pensando como vamos encarar esse momento quando a hora chegar": A hora já chegou, meu caro...
Será como o cachorro que corre atrás do carro e quando o carro pára, ele não sabe o que fazer...
Acho que já vimos essa história antes.
Forte abraço.
Ton
Eu falava da Copa, propriamente dita. Não da preparação pra ela, dos projetos, da retórica.
Abraço!
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