sexta-feira, 7 de março de 2008

Rainhas e escravas

Nesse clima de descompromisso que a chegada do final de semana sugere você, talvez, ainda não tenha se dado conta de que amanhã não será um sábado qualquer. Meu amigo - aproveite a deixa - amanhã será o Dia Internacional da Mulher. E isso por si só já é um sinal de que os tempos são outros. Mas nem tudo mudou.

O futebol, por exemplo, continua negando a elas um espaço que o mundo já deu. A olimpíada de Pequim vem aí e as “meninas do Brasil” voltarão a ter seus quinze minutos de fama. Locutores empolgados vão tirar proveito do suor ludibriado daquelas a quem os dirigentes não cansam de prometer um futuro digno, ou uma simples oportunidade de viver da bola no país do futebol.

Lembremos, então, de Maria Lenk, paulistana, filha de alemães que se entregou à vida de braçadas, e não titubeou. Para se tornar a primeira brasileira, na verdade mais do que isso, a primeira sul-americana a participar de uma olimpíada, nossa nadadora encarou uma viagem de navio de seis semanas, até Los Angeles, sendo a única mulher da delegação. Isso em 1932.

Naquela época os jornais chegavam a afirmar que as mulheres que praticassem esporte não teriam filhos. Quem diria. Algumas décadas depois, a jogadora de vôlei Isabel, ícone da minha geração, deixava muita gente de cabelo em pé ao permanecer em quadra aos seis meses de gravidez. Dizem também que, certa vez, quinze dias depois de parir já estava de volta aos treinos. A personalidade de Isabel marcou época. Sua bravura não se limitava às quadras, escreveu Ruy Castro antes de registrar uma história saborosa.

Nos anos 80, Isabel, em Ipanema, ao ver um PM maltratando um mendigo, saltou do carro com uma barriga de sete meses para defender o velho. A coisa esquentou, outras mulheres compraram a briga, e mesmo intimidadas por metralhadoras, garantiram a liberdade do homem.

Mas as mulheres não conquistam apenas com fibra, conquistam com a alma. A inesquecível cena de Fidel Castro, totalmente seduzido por Paula e Hortência na hora de entregar as medalhas de ouro às brasileiras no Pan-americano de Cuba, em 1991, é prova dessa teoria. Se naquele instante Paula tivesse dito ao comandante:

_ Deixe essa coisa de regime pra lá. Instale nessa tua ilha a democracia!

Fidel, claro, não teria aceitado, mas teria sofrido demais para dizer não. A força da mulher funciona assim. Bom, pra encerrar, fui buscar uma frase do romancista francês, Honoré de Balzac, que explica em parte tudo que elas conseguiram:

“ A mulher é a rainha do mundo e a escrava de um desejo”

Está posto. Minha sugestão para o sábado que está chegando... é reverenciá-las.

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto. Inteligência e sensibilidade. Um abraço, Glauco Braga

Vladir Lemos, jornalista disse...

Glauco,

o João Gilberto já disse que vaia de bêbado não vale. Eu acrescento que elogio de amigo também não!

Mas confesso que foi muito bom te ver por aqui.

Abraço