quinta-feira, 6 de abril de 2023

Resultado não importa



Pode , num primeiro momento, soar como heresia dizer que é possível questionar o esporte profissional do ponto de vista moral. E talvez essa investida faça mais sentido quando se trata de futebol e não de outros esportes. Não é por acaso que quando o assunto são os outros esportes em suas versões mais competitivas se cunhou o termo esporte de alto rendimento. Os mais cínicos dirão que em se tratando de futebol profissional em seu mais alto nível falar de alto rendimento seria redundância. No que estariam muito certos. Mas rendimento aqui, claro, tem duplo sentido. Quando questiono o valor moral do esporte profissional, digo dos infinitos casos de doping, por exemplo. Ou de comportamentos inapropriados que nascem quando um esportista passa a aceitar a vitória a qualquer preço. E no futebol mais do que em qualquer outro , até pela imensa exposição, essa realidade do vale tudo é infinitamente mais vista. 

Digo tudo isso para não deixar passar em branco uma notícia, que mesmo sendo de dias atrás, valeria a qualquer tempo, já que o que traz com ela não se dissolve com o tempo. E talvez o fato de tal acontecimento ter virado notícia mostre muito bem a realidade meio atravessada em que vivemos. A coisa se deu quando a meninada da Escola Municipal Maurício Rolim, da cidade de Dormentes , no sertão de Pernambuco, disputava uma partida de Futsal. O time em questão perdia por nove  a zero quando o professor Ezequiel Reis pediu para parar o jogo. O que se viu a partir dali foi uma sequência de declarações que poderiam muito bem servir a uma quantidade infinita de marmanjos e marmanjas que no anseio da glória atropelam sem o menor pudor o ético. Farei questão de listá-las a seguir.  Mas antes quero dizer que posso imaginar uma multidão fazendo questão de me jogar na cara que o ambiente de uma competição sub-14 nada tem a ver com o de uma profissional envolvendo cifras imensas e alcance planetário. E eu vos digo que realmente não tem. Mas que se todos os ditos professores em todas as escolinhas se prestassem a dar ao esporte esse viés nobre, tudo poderia ser diferente. Ezequiel, esse singular professor, tratou de fazer seus comandados tomarem consciência da condição deles. 

Disse aos atletas que era a primeira competição de que estavam fazendo parte, que jamais tinham jogado um amistoso nem nada. Vamos fazer um gol, dois se der, mas que se não desse eles seguiriam sendo uma equipe. Não apelou para irrealidades. Assumiu que o placar a favor do time adversário era amplo, mas que ainda assim era possível terminar tudo aquilo de maneira mais bonita. Atentem para a palavra: bonita. Mas talvez mais edificante que as palavras que fez questão de usar tenha sido a ausência de broncas.  Algo praticamente impensável no mundo do esporte profissional, onde o destempero dos treinadores virou algo trivial. E aí não falo só dos futebol, não. Lembrem-se do que já viram protagonizar na beira das quadras treinadores de voleibol, técnicos de ginastas. Imaginem o ambiente tóxico tomado de cobranças tão comum mesmo em categorias menores e  será inevitável admitir que ouvir alguém lhe dizer  que o resultado não importa, que importa é dar ali naquela situação o melhor de si, é algo raro, muito raro. E não deveria ser.        

 

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