quinta-feira, 20 de abril de 2023

O Dinizismo em alta



Se você ainda não se convenceu de que Fernando Diniz é um treinador que merece reconhecimento vou tentar lhe dar uma outra razão para vê-lo com bons olhos. Depois do título conquistado com louvor sobre o Flamengo que fez dele - de longe - o mais decantado personagem do futebol brasileiro notei que o jeito de ser do treinador do Flu de tão singular nos faz perceber algo mais profundo do que gostar ou não gostar dos esquemas dele. Os valores propostos por Diniz vão além, são capazes de evidenciar as fronteiras do modo que cada um tem de enxergar o jogo. Ou enxergar a vida, arrisco dizer. Explico. Entre os meus colegas de profissão há um com quem me afino muito, mas com o qual sempre mantive opiniões divergentes quando o assunto era o treinador.  É fato que o título carioca ao tornar evidente a evolução de Diniz na profissão aproximou um tanto nossos pontos de vista. 

Mas ao contrário do que eu pensava a entrevista concedida por Diniz na segunda-feira pós título que tanto me impactou foi vista por ele com muitas ressalvas. A mim, por outro lado, soou valorosa. E se escolho esse adjetivo é porque no cerne de tudo ali estavam valores. Valores que Diniz faz questão de colocar à frente da vitória, do título. O que para muitos soa como uma heresia. Mesmo que ele tenha reconhecido que ficava devendo no que diz respeito à parte defensiva. Ou que tenha tratado com elegância a brutalidade que Felipe Melo sempre trouxe embutida em seu futebol. E que Diniz chamou de imposição, fazendo questão de dizer que é algo que não despreza no jogo, pelo contrário, considera importante. Uma entrevista que explicitou que talvez a maior contribuição de Diniz ao nosso futebol não tenha nada a ver com resultados, ainda que com eles passe a ser muito mais ouvido, a ter mais voz. 

Para ser breve, o que a minha formação intelectual sugere é que pessoas com o tipo de lógica que Diniz faz questão de defender aproxima as pessoas da vitória em qualquer campo. Trago comigo um certo receio com essa coisa de considerar a vitória um grande fim. O caminho a ela me soa infinitamente mais interessante. Enfim, penso que talvez a grande contribuição de Diniz seja nos fazer pensar.  Tire suas conclusões. O que irá aqui depois do ponto final que se aproxima são palavras de Fernando Diniz, não minhas. 

"A minha convicção vem do sofrimento que eu tive quando jogava futebol. Eu sei o que é ser jogador. Se sentir o tempo todo exposto para ser massacrado. Pela imprensa, pela torcida, pela parte interna que não protege. O futebol para mim é um meio de ajudar as pessoas a serem melhores.  Tem que entender quem joga. A gente tem que entender a pessoa por trás do jogador. Esse é o meu objeto de estudo, minha paixão. Eu acho que o Dinizismo é aprofundar mais as discussões para ajudar mais as pessoas. A parte tática, por mais que seja mais visível, não é a parte fundamental. O central de meu trabalho é estabelecer boas relações humanas. Que eles se sintam bem, que possam errar sem ser atacados o tempo todo. O futebol é uma arte, é como pintar ou tocar uma música. Tudo o que você faz com a mão a gente faz com o pé. Os mais talentosos quase sempre são os que ficaram mais longe da escola, tiveram menos acesso a questões cognitivas e de base". 

 

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