quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

O signo da Copa



O arco-íris é o signo dessa Copa. Não o signo oficial. O signo rebelde, o que desafia. Outro dia li, não sei bem onde, que a braçadeira que os capitães das seleções europeias tinham a intenção de usar não ostentavam exatamente as cores do arco irís.  Imprecisões à parte, ficou o símbolo. Pelas notícias que nos chegaram ele andou sendo caçado pelos que estão à serviço dos organizadores da Copa. Sobrou até para a bandeira de Pernambuco, confundida com a da causa LGBTQIA+, como relatado por um jornalista brasileiro dias atrás. Tudo começou meses antes com o lançamento de um movimento chamado "One Love" que fez da braçadeira colorida seu protesto contra as leis discriminatórias do país anfitrião.

A FIFA ao se ver contra a parede lançou na véspera do Mundial uma parceria com a ONU com a brilhante ideia de estampar mensagens humanitárias nas faixas que seriam usadas pelos capitães, com o descaramento de estampar nelas um coração também. Seria o caso de perguntar se a ONU, que aceitou entrar na jogada, sabia de tudo o que estava se passando. Deveria. Vale ressaltar que a Federação alemã foi muito bem na nota que divulgou lembrando que não se tratava de uma questão envolvendo posicionamentos políticos e que considerava direitos humanos algo inalienável. O regulamento da Copa do Mundo diz que as braçadeiras são parte do equipamento fornecido pela FIFA às seleções. Ok. Mas sabemos todos que a condição maior da boa rebeldia é ter disposição para enfrentar certas regras. 


Seria o caso de perguntar até que ponto a entidade máxima do futebol está disposta a ir quando diz que joga a favor de questões humanitárias.  Outra coisa precisa ser dita: o Qatar , por vias tortas, parece não ter se dobrado ao poder da grana como quase todos. A questão envolvendo bebida alcóolica foi prova disso. O país fez valer a vontade dele sobre a de um patrocinador Master do evento.  Fez valer seus costumes. Não custa lembrar que aqui no Brasil, por exemplo, nossas autoridades trataram de fazer tudo o que seu mestre mandasse. Leis foram alteradas e a cerveja liberada. Enfim, não deixa de ser uma lição. Por mais que exista algo de surreal nessa realidade exposta, já que quando a grana verdadeiramente não falou mais alto foi justamente diante de alguém que tinha muita grana. 


Mas voltando ao primeiro tema, esse tipo de atitude e perseguição esvaziou até o discurso feito pela autoridade do país na abertura do Mundial, quando as palavras sugeriram respeito  à diversidade. Estranho que justamente um símbolo venerado pelas maiores e mais importantes religiões do mundo acabe por ser perseguido. Diante de tudo o que foi gasto nesse imenso teatro do jogo de bola é bem possível que o viajante que por ventura consiga chegar até a extremidade de um arco-íris - onde diz lenda se encontra um pote de ouro - dê de cara com ele vazio. Ainda na terça, um torcedor dos Estados Unidos acabou detido por usar uma braçadeira com as tais cores. E nem era a do "One Love", era uma qualquer.


Enfim, digo a vocês que um arco-íris é a mais bela expressão da luz. Por essência transcendente, de ar divino e, por isso mesmo, tão expressivo. Uma escolha perfeita por parte de quem decidiu fazer dele o símbolo de um movimento que pretende o mundo, não do jeito que é, mas do jeito que deveria ser.  Nem sempre a história se revela justa. Nossa insignificância nos impede de saber como o Mundial do Catar será lembrado daqui a um século. Mas não seria injusto se entrasse para a história como o Mundial que proibiu o arco-íris. Seria metaforicamente perfeito.     

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