quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

O futebol é complexo



Tão complexa quanto a lei do impedimento é a fórmula que faz o futebol ser o que é. Acho interessante que, em especial de uns tempos para cá, as táticas para se tentar cumprir a missão de levar a bola até dentro do gol adversário tenham ganhado tanto destaque. Mas não arriscaria dizer que as tais linhas desenhadas pelos times em campo estejam na boca do povo. E chamar a atenção para isso é uma forma de mostrar os tantos vértices que fazem o bendito jogo de bola um sucesso planetário. É possível falar profundamente sobre o futebol passando longe de questões, digamos, científicas. E aí vou aproveitar pra lembrar uma passagem que vivi certa vez ao entrevistar o saudoso jornalista Armando Nogueira. 

Eu já não era um iniciante, um foca como costumam dizer no meio. Mas via que tinha um jeito de ver o jogo que me afastava dessas questões pragmáticas. E, então, enquanto esperava ser chamado pra fazer a entrada ao vivo ia papeando com o sábio que tinha ao meu lado. E uma hora a conversa se encaminhou pra isso. Não sei bem como, mas dividi essa questão com Armando Nogueira que prontamente virou pra mim e disse: não esquente, eu nunca escrevi uma linha sobre tática. Soou como um salvo conduto. Não que eu tivesse a pretensão de ser um Armando Nogueira. Só queria legitimar meu jeito de encarar a coisa. Foi muito bom ouvir aquilo. Prova disso é que nunca esqueci aquele bate papo. E uma Copa , por exemplo, parece amplificar muito todas as possibilidades do jogo. 

Passamos a nos divertir não exatamente com o que se dá entre as quatro linhas mas com o todo. A derrocada de um gigante. A glória de um selecionado tido como simples figurante. Esta aí o Marrocos. Como andei dizendo pra uns amigos, até ver um jogo torcendo pra uma Seleção que não estava em campo rolou.  Foi quando acompanhei a Argentina renascer de vez diante de uma Polônia covarde, sem brilho. Queria mesmo é ver o México ter acabado com a vaga que acabou por ficar com o time do goleador polonês. A Copa , de tão grande,  ludibria nossos sentidos.  Esta semana a coisa pode ter melhorado, a partir de amanhã promete pegar fogo, mas tecnicamente falando os jogos da primeira fase e das oitavas tiveram qualidade discutível. 

Ainda assim nos divertimos. Não exatamente com o jogo. Muitas vezes com o enredo. Por aquilo que um resultado encerrava. Longe de ter sido uma curtição intimamente ligada a arte de jogar bola, que é a grande promessa que um Mundial encerra. Lembro bem que na Copa passada não foi diferente. Os mais pessimistas, talvez fosse  o caso de dizer os mais exigentes, até por isso estão cheios de razão quanto dizem que uma Copa com um número maior de seleções como deve ser a próxima só vai empobrecer ainda mais o torneio no que diz respeito a qualidade das partidas. A Copa anterior teve o mesmo tom, nas surpresas, inclusive.  

A Alemanha, na ocasião fazendo a primeira partida de Mundial  depois de ter se sagrado campeã no Brasil, acabou derrotada pelo México na estreia. Para mais tarde se despedir tão melancolicamente como dessa vez na fase de grupos. A Argentina que ao debutar não passou de um empate contra a Islândia. O Japão, cujas pernas parecem não ter dado conta das cobranças de penaltis contra a Croácia, ao abrir a campanha na Rússia mandou um dois a um na Colômbia, que terminaria a primeira fase como líder do grupo. Por isso eu digo a vocês, futebol é algo complexo, capaz de nos seduzir pela excelência, mas capaz também de nos divertir mesmo na mais evidente falta dela.

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