quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Os treinadores e a arte



No mundo da bola a sucessão de Tite tem sido um dos grandes temas.  Pois justamente por isso digo a vocês o seguinte: pode até ser impressão minha mas a Copa coloca os treinadores em seu devido lugar. Quando digo isso quero dizer que é um momento que destoa da nossa rotina boleira na qual os tais passaram a ter um peso enorme.  Não é difícil explicar. Um Mundial reúne os melhores jogadores do mundo, muitos com ar de celebridade, e boa parte dos técnicos  está longe de ter condições de concorrer com eles no que se refere ao poder de seduzir a  mídia. Não quero com isso dizer que não se dê ouvidos a eles. Ao contrário, vi um sem fim de declarações interessantes partindo dos treinadores. Palavras que me espantaram em dado momento pela simplicidade, pela contundência e pelo que deixavam transparecer de conhecimento. 

A defesa feita pelo técnico espanhol do jogo como espetáculo, como um show, foi notável. Por mais que o time dele em campo tenha nos feito lembrar que muitas vezes a teoria é uma e a prática outra. Gosto dessa coisa de tratar o jogo como arte. Mas estou cada vez mais convencido de que o modo moderno de tratar o futebol impossibilita cada vez mais esse tratamento. Estão aí os jogos da Copa que não me deixam mentir. Está evidente que evitar a derrota, arrastar o jogo, passaram a ser objetivos mais presentes do que querer, no mínimo, jogar bola. Aceitando todos os riscos que isso envolve. Ainda bem que é da natureza do futebol ser terreno fértil para aqueles que não conseguem deixar de lado a possibilidade artística, plástica, o movimento bem traçado. 

Mas é preciso admitir - e a Copa com toda a sua importância trabalha nesse sentido - que o caminho tomado pelo jogo só o distância da condição de arte. E amparo minha teoria no fato de que, no meu modesto ponto de vista, a arte não permite meia entrega. Não é coisa que se deva pensar com comedimento. Avaliando riscos. Ou alguém é capaz de imaginar que seria possível dar de cara com uma obra como Ulysses, de James Joyce, se ele tivesse medo de se arriscar. Ou teríamos tido direito a ver um Picasso se ele tivesse pensado em se entregar só em parte ao modo original como enxergava a pintura ? 

Isso evidencia que sim, é do jogo de bola permitir que se triunfe tentando anular a criatividade alheia. É do jogo e ponto. Como não será negada jamais a condição de virtuoso aqueles que por acaso venham a colocar as mãos na taça tendo tido como plano não exatamente mostrar tudo que seriam capazes de fazer em matéria de criação. Um devoto da retranca pode até se considerar um artista nessa arte. Mas a arte não permite retrancas. De qualquer forma estou convencido de que houve um tempo em que o futebol era - ou foi tratado como - arte. Um tempo em que a maioria dos que entravam em campo queriam ser vistos e se exibir nessa condição. E não deve ter sido por acaso que nesse tempo Pelé estava em campo.  

 

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