sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Os meninos


O que vai aqui escrito não tem nada de científico. É fruto de minha vivência e capacidade de observação que sempre gostei de exercitar. Uma coisa que lembro bem que me impressionava quando iniciei a carreira de repórter era como vira e mexe me pegava surpreendido pelo ar maduro que se estampava no rosto de jovens jogadores. Como se tratava de um tempo em que não raro ficávamos sabendo de datas de nascimento adulteradas pode até ser que isso explicasse um ou outro caso. Não duvido. Mas a questão ia - e vai - além disso. Não é preciso ser um profundo conhecedor desse universo para perceber que ele força mesmo o amadurecimento. A começar pelas exigências físicas impostas a quem desde cedo resolveu aceitar o desafio de se tornar um craque. As dietas ricas em suplementos. Até mesmo a realidade exploratória do nosso futebol acaba por contribuir com esse amadurecimento já que vender jovens atletas é a veia mais rentável do nosso futebol tupiniquim. 

E muitas vezes são eles também, os meninos, que times financeiramente fraturados acabam por colocar precocemente em campo para carregar o piano. O bom disso tudo é que se tem uma coisa que pode dar frescor ao jogo de bola é um garoto cheio de talento. O nome da hora é prova disso. Endrick, a joia palmeirense, do alto de seus pouco mais de dezesseis anos tem arrancado suspiros da crônica esportiva. Não à toa, diga-se. Mais do que acumular marcas , como a de ter se tornado o mais jovem a fazer um gol com a camisa do time profissional, esbanja em campo um poder de finalização e uma força física de impressionar. Um nascimento desse tipo nos gramados é algo tão forte que a gente não esquece. Os mais novos certamente lembram do desabrochar de um Neymar. Ou mais recentemente o de nomes como Vinicius Júnior e Rodrygo. Dois casos em que a engrenagem nos abrigou, como em tantos outros casos, a testemunhar o amadurecimento e o lapidar de seus talentos de longe. 

Os mais velhos como eu certamente não esqueceram os queixos caídos quando nomes como Ronaldo Fenômeno, ou Ronaldinho Gaúcho, passaram a roubar a cena e aprontar tudo o que aprontaram. E para o bem do futebol eu espero é que Endrick seja dessa estirpe. O testemunho do pai dele depois de ter visto o filho sair de campo ovacionado e cercado pela euforia do título brasileiro dias atrás é realmente emocionante. O vagar pelos clubes tentando achar alguém que reconhecesse e, mais do que isso, amparasse o talento do filho. A consciência de ver o menino assinar o primeiro contrato como profissional na sala em que ele muitas vezes trabalhou fazendo a faxina. Tudo isso é mais do que qualquer outra coisa um retrato social. 

apesar dele, de sua brutalidade, os meninos, quero crer, vão continuar brotando. Meio que nos redimindo dessa notada falta de brilho . Mesmo partindo rápido, mesmo amadurecendo antes da hora. Fazendo-nos assim perceber que há uma parte muito nobre do dito nosso futebol que de certa forma não nos pertence, ou que quando a gente começa a curtir nos escapa.  

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