quinta-feira, 3 de novembro de 2022

A soberania da grana



Um exercício interessante para se fazer neste momento é tentar entender o que é que a atual temporada revela sobre o futebol brasileiro. Não é de hoje que escutamos gente profetizar por aí que estamos a caminho de virar uma Espanha, no sentido de passar a ter dois times desfrutando realidades muito diferentes da de seus adversários. Difícil não aceitar essa possibilidade depois de ver Palmeiras e Flamengo fazendo tudo o que andam fazendo e conquistando. E sabendo que quando alguém conseguiu entrar nessa festa, caso do Atlético Mineiro, também foi amparado por cifras consideráveis. Em linhas gerais o time carioca que ultrapassou a marca do bilhão de reais em faturamento não tem uma vantagem considerável sobre o rival paulista. O placar no quesito finanças é de 1,08 bilhão contra 977 milhões. Números do ano fiscal de 2021.  

Considerável é o degrau que separa os dois primeiros do terceiro colocado, o Atlético Mineiro, que faturou praticamente a metade. Mais exatamente 505 milhões. Nem é preciso ser economista para saber como isso pode se refletir em campo.  E de onde concluo aqueles que têm um fraco por resultados improváveis e uma queda terrível pela tal da zebra, ganham um motivo bom pra sorrir quando por ventura derem de cara com um desses times sendo surpreendidos de algum modo porque não deixará de ser uma prova de que em matéria de futebol o dinheiro ainda não é tudo. Ainda. Mas quem duvidará de que pode vir a ser? Não sei quanto tempo vai levar para que nossos cartolas decidam se debruçar sobre o tema que, admito, é chato demais. 



Os fatos, no entanto, não deixam dúvidas de que o reinado dos dois está em andamento. Veremos se perdurará. Ou alguém aí imagina que possamos  ver na sequência uma temporada em que nem o Flamengo e nem o Palmeiras levantará uma taça? E não estou falando de estaduais não. Também fico imaginando se os torcedores de um e de outro estão plenamente satisfeitos. O Brasileiro desafiava o técnico palmeirense, tão laureado. Coisa fácil de entender. O Brasileirão é, como já disse, a vedete dos torneios. E é preciso reconhecer que se tratou de uma conquista concluída com louvor, sem que se visse o time deixar transparecer fragilidade maior diante de seus adversários. Isso quando muita gente profetizava  que por ter iniciado a temporada antes dos outros o final dela se transformaria num desafio para o time alviverde. Nesse sentido a eliminação dos outros torneios soou providencial para o time de Abel Ferreira. Tivesse desenhado outra trajetória,  tivesse já sido campeão brasileiro, tudo soaria mais desastroso. Mas existia impalpável pairando sobre o time alviverde esse fetiche do Brasileirão. 

O torcedor do Flamengo talvez trocasse a Copa do Brasil pelo torneio nacional. A Libertadores jamais. Até porque a hegemonia palmeirense no torneio continental se fazia desafiadora. Dirão alguns que mesmo com essa lacuna de não ter conquistado um título do principal campeonato do país com Abel chegar a um tri verdadeiro da Libertadores, quem sabe tendo pela frente o Flamengo, para os palmeirenses seria flertar com o paraíso. E realmente seria. De qualquer forma as duas torcidas dão a impressão de estarem muito satisfeitas. Se há algum descontentamento nesta história deve ser desses que costumam ser alimentados pelos desejos insaciáveis de quem tem muito e... sempre quer mais.  

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