quarta-feira, 20 de março de 2019

Lucros e dividendos



Os ditos pequenos que garantiram um lugar nas quartas de final do Campeonato Paulista tiveram aproveitamento considerável. Vale lembrar que houve um momento, inclusive, que nenhum grupo tinha um grande na liderança.  Volto ao assunto pra reforçar a impressão de que se escondem nessa realidade não só questões técnicas e de preparação mas, principalmente, um certo doping emocional já que o torneio  faz muito mais sentido e é infinitamente mais vital para times como Ituano, Novorizontino, Red Bull e afins. 

A realidade esconde também certa soberba dos barões do futebol paulista uma vez que, exceção feita ao Palmeiras, o Estadual se apresenta pra eles como a mais real possibilidade de título ao longo de toda a temporada. E já aviso que dos incomodados pela crueldade da análise talvez só os corintianos tenham direito de considerá-la exagerada. Sobre os outros afirmo que se ocorrer o contrário o sucesso terá um quê de zebra. Acho ainda a contribuição dos pequenos muito mais à altura do que é oferecido pelo Campeonato Paulista. 

Digo isso amparado no nível de competitividade que mostram, consideravelmente melhor do que os dos times ditos menores dos outros estaduais. Para que tenham uma ideia o time que ganha menos por direitos de transmissão no Paulista fatura quase o mesmo de toda a premiação do Campeonato Pernambucano. E em matéria de grana quem mais se aproxima do Paulista é o Carioca, mesmo assim o valor total das cotas do Paulista é trinta e um milhões de reais maior. Não custa dizer também que os quatro grandes de São Paulo colocam no bolso dezessete milhões que, em caso de triunfo, viram vinte e dois.  

Dito de outra forma, significa que o quarteto abocanha pouco mais de sessenta por cento de toda a verba da TV. E tendo em vista o futebol apresentado pelos chamados pequenos sou levado a crer que se o dinheiro fosse dividido de forma mais igual iriam complicar as coisas de vez. Diante desses números aquela velha imagem de um futebol paulista decadente, com os times do interior flertando sempre com a falência, não parece fazer tanto sentido assim. Mas a economia do jogo de bola tem uma lógica toda própria.  Claro, seria muito bom que um dia fosse atrelada à nossa.  

Vejam, nos últimos quatro anos a pobreza extrema no nosso país cresceu trinta e três por cento.  No entanto, no mesmo período, pasmem, os clubes brasileiros dobraram a arrecadação com a venda de jogadores. Quase três mil transações geraram acordos de três bilhões e setecentos milhões de reais. Não, não estou louco.  Somente na temporada passada, ano em que  se registrou o maior movimento desse período, setecentos e noventa e dois jogadores profissionais deixaram o Brasil rumo ao exterior, o que significou um faturamento total de um bilhão e quatrocentos milhões. 

Não é de hoje que os números do futebol brasileiro trazem consigo um ar surreal. Mas o que deve espantar é que tenhamos diante dos olhos toda essa pobreza, não só entre as quatro linhas mas para muito além delas. Um descolamento perverso onde quem fatura pra valer são sempre os mesmos, enquanto quem verdadeiramente merece ser reconhecido são os que conseguem fazer alguma diferença recebendo migalhas. Pelo visto é só aí que o  futebol brasileiro se faz um retrato fiel da nossa realidade.

Nenhum comentário: