quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Futebol e intuição

  
Sei que amanhã tem o Santos no Maraca, sexta a seleção encarando o Uruguai.  Mas algo me incomoda. Estar ao lado da maioria. Ao longo da vida sempre me vi defendendo opiniões de minorias. Algo me diz que se trata de uma questão cármica. Mas quando se fala do tal árbitro adicional estou convencido de que não deveriam mesmo existir. E, portanto, desfruto neste momento a rara impressão de pensar como a maior parte dos que acompanham futebol. E não digo isso amparado apenas no que se deu no último clássico entre Corinthians e São Paulo, mas também.  De tanto se esconderem em momentos decisivos cheguei a pensar que tinham sido orientados para agir dessa maneira. Só podia ser. 

O nobre leitor que derrama seus olhar sobre estas linhas, como eu, deve se lembrar de um sem fim de outros lances pra lá de claros em que o adicional , pra usar um termo popular, se fingiu de morto. Ou fez cara de paisagem, que é um outro termo que vem a calhar.  Podemos ainda pensar de outro modo, que de tão expostos, talvez, os que ocupam o cargo estejam levando ao pé da letra uma orientação que sabemos comum quando se trata de apitar um jogo, aquela que diz que na dúvida deve-se deixar a bola rolar. Um tipo de recomendação que dada a velocidade em que se desenrola uma partida de futebol, se cumprida ao pé da letra, obrigará o sujeito a não tomar posição alguma e ficar na dele em nove entre dez lances. 

Diante de tamanha complexidade arrisco dizer que um árbitro de primeira linha precisa ter um nível de intuição descomunal. Quase um dom superior que surpreenda, principalmente, os atores do espetáculo, desde sempre dados a interpretações para confundir. Um dom que faça o maior dos espertos em campo ponderar - por um segundo que seja - que o homem a quem deram o apito é capaz de detectar uma malandragem de modo quase mediúnico. Seguindo essa trilha, não tardará, cairemos inevitavelmente no papel que as intenções ocupam no universo ludopédico. Pode parecer absurdo pedir pra contar com a intuição de um árbitro, mas notem que ao pedir para que um árbitro interprete a carga intencional embutida em um lance,  levando em conta a esperteza contida em cada boleiro, pedem algo muito semelhante em certo sentido. 

O que me faz crer que foi justamente querendo driblar toda essa complexidade que tempos atrás algum esperto optou pela controversa orientação, por exemplo, de que uma bola na mão dentro da área, seja intencional ou não, deveria ser encarada como penalidade. Dirão que não é bem assim. Mas fato é que não tardou e a rigidez de tal determinação foi sendo abrandada, não tinha jeito. Digo mais, até que a poeira assente a arbitragem seguirá na ordem do dia. Intuo até - nunca estive tão intuitivo - que os árbitros estão mais imprecisos do que nunca justamente pela realidade que se apresenta. Pois agora quando não é o Var propriamente dito que os assombra, os fazendo ficar frenéticos a olhos vistos, com a mão apertando nervosamente o fone contra o ouvido é a possibilidade do VAR que faz o serviço. Pra completar, o torcedor anda vendo o fantasma do erro e da má intenção em tudo quanto é canto

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