quarta-feira, 4 de julho de 2018

Futebol moleque


Teve gente que se incomodou quando em um dos gols do Brasil o lateral Marcelo chegou no autor do mesmo, Philippe Coutinho, dando um tapinha seco no pescoço dele.  Eu me lembrei dos meus tempos de menino. Achei interessante. Tudo que o futebol tem mostrado é que não permite pontes com o tempo em que o jogo de bola era só uma diversão. Coisa que em algum momento, ainda que breve, ele foi pra muitos de nós e para qualquer um dos que defendem a camisa do Brasil na Rússia neste momento. Poderia ter sido coincidência, mas não. 

Eis que no jogo entre Dinamarca e França vejo uma verdadeira roda em volta do garoto Mbappé lhe enchendo de petelecos. A imagem recuperada em câmera lenta escancarava a brincadeira. Mostrava que eram petelecos daqueles pra valer. A orelha do camisa dez francês ia se dobrando ao toque de cada dedo. O peteleco talvez seja a maior prova de que um time anda bom de astral. É um ato que exige cumplicidade. Intimidade. De outro modo vira briga. Ou virava na minha época. 

Mas a fase de grupos se foi. Os jogos foram ficando cada vez mais sérios, pesados. De modo que não voltei a ver nada nessa linha de lá pra cá, nenhum sinal que pudesse me fazer manter a crença de que no fundo, existe sim, algo que liga o mundo do futebol endinheirado à sua versão mais simples. Algo que sugerisse que de alguma forma o futebol moleque resiste, apesar de tudo.  Interessante destacar que que esses lances foram protagonizados por duas seleções que podem vir a se encontrar em uma das semifinais e não deve ter sido por acaso. 

Rápido e leve o time francês envolveu os argentinos tendo como alma as disparadas de Mbappe que, de certo modo, não deixam de ser um tipo de travessura. E o cascudo time brasileiro, se bem observado, deixa transparecer também certa meninice, especialmente na ginga insistente de outro camisa dez, Neymar.  Um Brasil e França, portanto, me faz crer que teria muito mais a oferecer do que um encontro com os uruguaios, de onde é bem provável veríamos ( ou veremos) brotar um jogo mais bruto, repleto de cenas, verdadeiros teste para a verve dramática e teatral de jogadores como Suárez e Neymar. 

Mas pra chegar lá será preciso amanhã à tarde tirar de cena o time belga. Apesar do rosto de menino do talentoso De Bruyne, a quem tempos atrás dediquei todo este espaço, há ali algo de pragmático. O que faz o jeitão de Bruyne parecer mais um disfarce. Até porque ele tem vinte e sete anos e um futebol de gente grande, muito grande. Detalhes técnicos e táticos à parte, a Bélgica tem alma inglesa. E no futebol inglês como é possível notar, muitas vezes até os mais jovens tem ares de senhores. Uma da provas é o outrora cortejado Wayne Rooney.  E não é por acaso. 

Roberto Martínez o espanhol que comanda a seleção belga jogou e consolidou a carreira como treinador na terra da rainha. Além disso, é lá que atua a maioria absoluta de seus titulares. Martinez assumiu o cargo três dias depois de Tite e como ele sofreu até aqui apenas uma derrota. Não fosse essa Copa tão surpreendente diria com mais convicção que o Brasil carrega certo favoritismo, como não é digo que o desafio de Tite para seguir adiante será provar que foi capaz de encontrar a medida ideal de racionalidade para um futebol que sempre teve alma de moleque.  

Um comentário:

Tico Pers disse...

Acho q essa seleção é a mais jovem que eu vi jogar, poucos caras bem velhos... Tomara que jogue um futebol, moleque, irresponsável mas inteligente, experiente.