quarta-feira, 25 de julho de 2018

O reino do futebol

 
O reino do futebol profissional é impiedoso. Dado a fazer pouco caso da lógica. Cruel com os inocentes. Se é que eles existem por lá. Tudo bem, há alguma verdade escondida nas entrelinhas quando se diz que hoje em dia não tem de essa de amor pela camisa, que o vai e vem de jogadores não deixa nem os torcedores saberem de cor qual a escalação atual do time para o qual torcem. Mas infinitamente mais certeiro, no entanto, seria apontar o dedo para os homens que comandam o jogo. A nenhum deles interessa verdadeiramente que um jogador permaneça durante toda a carreira no mesmo clube, e muito menos que a rotação de atletas sob sua tutela se modifique tão lentamente que permita ao torcedor reviver a sensação de ter seu time titular na ponta da língua. O motivo é simples e vale pra qualquer coisa em que esteja sob os efeitos dessa entidade abstrata e poderosa chamada mercado: a roda tem de girar. 

O desmanche que maltrata o torcedor é o mesmo que enriquece os homens da bola. Até porque quando se desmonta um time é preciso refazê-lo. E a possibilidade de faturar ocupa as duas pontas do negócio. Nos últimos dias, quando se falou muito sobre a saída de Rodriguinho do Corinthians, ouvi gente aqui e ali fazendo questão de lembrar que em boa parte das vezes o próprio jogador tem interesse em sair. Difícil resistir a tamanhas cifras. Mas nesse caso também vale fazer certas ressalvas. A realidade que se impõe no caso é aquela na qual quem pode mais chora menos. Poucos são os atletas com cacife para encarar esse jogo em pé de igualdade. Em linhas gerais a coisa só se decide de maneira boa para a parte dita mais fraca quando se junta a fome com a vontade de comer. Ou seja, quando os interesses do cartola ou do clube coincidem com os do jogador. 

Esta aí o Dudu do Palmeiras pra provar a teoria. Dias atrás o atacante palmeirense confessou que gostaria de ter tomado outro rumo depois de ter recebido uma sedutora proposta do futebol chinês. Tão logo fez a confissão tratou de ressaltar ao repórter que o entrevistava que tinha ficado triste, sim, não que estava. Era coisa pra fazer a vida. É claro que o clube deve ver o lado dele. Notem que estamos aqui falando de dois casos de natureza diferente. Mas se defender posições é do jogo o que quero salientar é que enquanto uns lamentam outros esfregam as mãos. 

E não quero me despedir sem falar da saída de Jair Ventura do Santos. Fosse eu dirigente na época teria feito exatamente o mesmo. O trabalho dele à frente do Botafogo foi de encantar. E era mais do que suficiente para avalizar a contratação. Jair cometeu erros, não deu liga, sei lá, mas também foi prejudicado por essa realidade de mercado. De partida, fez questão de lembrar que do ano passado pra cá vinte e três atletas deixaram o Santos. Outra coisa que pouca gente percebeu é que aquele Botafogo, além de bem dirigido viu certos jogadores, não uns, mas vários deles, vivendo momentos que muito provavelmente foram os melhores que tinham vivido até então. Comparando um elenco com o outro era possível concluir que uma vez na Vila Belmiro o jovem treinador teria tudo para ir mais longe. Ocorre que o momento de alguns jogadores do elenco que ele chegava para comandar viviam um momento totalmente oposto, mostrando  um futebol opaco como jamais tinham mostrado. Por isso achar que o Santos poderá ir muito longe  com o elenco jogando o que jogou até o último final de semana beira a ilusão. 

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