quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Nossos carnavais



Estamos à beira da folia como vocês sabem. Folia, em tempos passados era uma maneira carinhosa de se referir ao carnaval. Este por sua vez, lembro muito bem também, era palavra usada no mau sentido quando se queria dizer que algo estava uma bagunça, uma esculhambação. De onde concluo que o que estamos vivendo mais ou menos desde 1500 não passa de um longo carnaval. É ou não é? Nunca tive vocação pra folião mas confesso na juventude ter me entregado aos prazeres de um ou outro reinado de Momo. Hoje em dia no máximo arrisco colocar um dedo e outro pra cima em cadência num domingo de carnaval ali na barraca de praia do Aurélio. 

Lamento toda a descaracterização dessa nossa grande festa popular e o fato de termos de lidar cada vez mais com as mazelas nascidas da promiscua mistura entre carnaval e futebol. Uma mostra já nos foi dada dias atrás quando foliões são paulinos e palmeirenses se encontraram num trem da CPTM em São Paulo levando pânico aos que lá estavam. E como deve ser do conhecimento de vocês, os grandes times da capital paulista têm escolas de samba a lhes representar no grande desfile. Logo, os organizadores precisaram pensar estratégias no intuito de evitar que rivais se encontrem numa mesma noite, sob pena de ter na avenida um espetáculo indesejado. É nisso que temos nos tornado, um povo com certa dificuldade para lidar com quem gosta de um time que não é o nosso, um partido que não é o nosso, uma escola que não é a nossa. 

As eleições dos clubes estão aí pra provar. Se alguém duvida é só lembrar que no último sábado, depois de eleito, o novo presidente do Corinthians precisou se esconder num banheiro feminino para não apanhar. Situação, claro, que está longe de ser privilégio corintiano. Perverso é que sem poder contar com um bom esconderijo e com uma turma devotada de seguranças repórteres acabaram agredidos. O eleito, Andrés Sanchez, deputado federal, personifica muito bem outra mistura que em nada nos tem enobrecido: a do futebol com a política. 

E por falar em carnaval, a palavra também já foi muito usada pra falar de algo - ou alguém - que quer aparecer, ficar em evidência. Qualquer semelhança com socialites é mera coincidência. Lembrei disso por causa de todo o carnaval que andam fazendo com essa questão do árbitro de vídeo. Resolver que é bom, nada. O carnaval seguirá. E triste dos que pensam que bastará um recurso eletrônico pra nos livrar de sair de certos jogos nos sentindo como se estivéssemos vivendo a ressaca de uma quarta-feira de cinzas.    

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