O bom senso manda relevar aquele futebol nada
empolgante que seu time possivelmente andou mostrando até agora. Não
seria justo, e muito menos proveitoso, exigir algo que saltasse aos olhos quando
a temporada nem bem começou. Concordo com o raciocínio, mas não me furto a
observar que ele seria bem mais consistente se ao longo dos últimos anos depois
de algum tempo nossos times de elite tivessem exibido uma melhora significativa.
O que não tem sido o caso.
Um argumento pode até não justificar o outro mas
pedir que o torcedor deixe de ser passional, imediatista até, seria a última
fronteira para fazer do jogo de bola algo frio. Ainda bem que tá pra
nascer tecnologia capaz de substituir o ranger dos dentes, os dedos cruzados, as
figas, os socos no ar, os palavrões repentinos, aquela superstição de lógica
esquisita. Estamos nesse aspecto na contramão do que anda ocorrendo com o jogo
propriamente dito. É incrível. No ato de torcer continuamos sendo quase demodês,
pré-modernos. O que é de uma beleza redentora.
Digo isso pois li outro dia uma
manchete que dizia que o técnico Roger Machado anda vivendo dias de Disney no
Palmeiras. Acabara de convencer o clube a comprar uma nova ferramenta para seu
Centro de Inteligência. Com ela será possível, dizem os entendidos, calcular
métricas e variáveis relativas ao tempo de recuperação da bola. Munido do
aparato o treinador saberá quanto tempo o atleta comandado por ele leva para
combater o adversário, quanto tempo o time fica com a bola em cada setor do
campo e, detalhe interessante: quanto tempo cada jogador fica com a bola.
É
a tecnologia desmascarando um dos tipos mais famosos entre a boleirada, aquele
que costuma se esconder do jogo. Isso sem falar no monitoramento por GPS, no uso
de drones - para olhar o próprio time e não o dos outros é bom que se deixe
claro. Detalhes que vão dando à imprensa munição para fazer de Roger
Machado uma figura simbólica desse futebol tecnológico. Mas eu, aqui do meu
canto, gostei mesmo foi de ler que depois de tudo isso o técnico palmeirense pra
poder mostrar aos atletas todas as descobertas e conclusões pega mesmo é a velha lousa
e leva pro meio do campo.
E aí a ciência e a tecnologia, creio, são devidamente
traduzidas para o boleirês. Que me perdoem os mais modernos. Da ciência sempre
fui um admirador, sempre achei que bateu um bolão. Mas com a tecnologia o papo é
outro, olho pra ela desconfiado, como quem está de cara com alguém, ou algo, que
pode num instante lhe colocar a bola entre as pernas, entende?
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